(dedicado ao poeta Rui A., em pousio)
No obscuro as mãos e só as mãos, as puras
extremidades da matéria, as graves
e silenciosas, deambulantes formas,
as flores estranhas que pela noite sobem
com o seu peso de amargura e esperança,
modelando um sopro, um hálito, uma leve
flutuação da luz que é o suporte
da alma gasta pelas horas lentas.
No obscuro as mãos, trémulas, vivas,
asas buscando o corpo e o espaço,
densas flutuando, o reprimido
voo erguendo além dos olhos
até onde um toque subtil desgarre
a fonte oculta, o resplendor de um rosto.
José Terra