que eu não esqueça nunca
a luz que me ensinaste
a que ascendia do fundo
da tua antiga inocência
e transbordava
o espaço colocado
entre tuas coisas e as minhas
que nunca esqueça
certas palavras tuas
que falavam da tua gente
dos dias de cinema
do pai
da guerra
de duas mulheres sozinhas tanto tempo
é essa zona intacta da tua voz
onde não chego
tua presença e a minha
o mundo que respiras
o desse menino
sentado entre as pedras
atentos os seus olhos
ao brilho dos teus olhos
hoje a tua voz contida
une-me mais
às palavras que não percebo
a leve passagem da tua voz
fura o ar e vibra
expande-se
mais aquém da luz que antecede
o rosto dessa infância sem testemunhas
emudecia sempre quando menino
porém se tu falavas nascia outro silêncio
Ángel Campos Pámpano, trad. António Cândido Franco
outro silêncio
Publicado em 17 de Agosto de 2016