As palavras foram feitas para abafar o grito
As palavras são forma entre outras de fintar o arrepio mais íntimo
e tudo o mais que pode envergonhar qualquer gentio.

Diz-me, preferias ser Sol, ou falar dele?
Comentar uma das mulheres de Modigliani
(Jeanne Hebuterne ou uma prima com os genes, vê se não),
ou beber-lhe o olhar?
Marcar um golo limpo e lindo, ou comentá-lo?
Ser homem de palavra, na circunstância,
ou seduzir plateias com nada?
(esta, uma escolha que dirá muito de ti, não menos que as outras).

As palavras não chegam, não chegam, as palavras não chegam.
Por exemplo, quando queremos falar do amor,
da dor de ser o eterno segundo classificado,
da dor de dentes da filha pequena, da revolução,
da falta de pão, do brinco verde, da puta que os pariu.

Talvez por isso, a pensar nisso, as palavras sejam tão preciosas;
sempre menos que o que pode ir com elas.

Uiva, cão.

Rui A.