Fui ver e era mesmo uma raposa
como a outra que atravessou a estrada
aguardando deitada na varanda
onde o gato capado dorme os dias
indiferente à vida libertária
em bocejos de carnes enlatadas.

Se a raposa chamava tinha de ir
dei ao gato a ração obrigatória
e a varanda era a selva a rua o mar
a raposa vermelha um autocarro
dos que não chegam nunca ou já passaram
e exigem sempre o pagamento exacto.

Donde parece que a moral da história
ficou suspensa entre raposa e gato
num protesto aos transportes colectivos
quando afinal a rua extravasou
a selva é sem regresso e sem saída
e todo o viajante é solitário.

Hélder Macedo