São como um cristal, as palavras.
Algumas, um punhal, um incêndio.
Outras, orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam: barcos ou beijos, as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes, leves.
Tecidas são de luz e são a noite.
E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
as palavras
Publicado em 19 de Abril de 2017