A morte não é essa palavra que trazemos
na boca.
Ou no bolso das calças filosóficas
em dias de maior tédio.

A morte puxa por este poema
com a meticulosa energia
de um atleta que nunca falta aos treinos
e sabe dominar a sede
de uma marca.

A morte é desportiva,
é a alma musculada dos sentidos
velozmente dúctil
no acto de amor mais sensual
que o meu corpo já teve nas suas noites
de cama.

Queres um conselho? Entrega-lhe
os teus momentos de glória.
E deixa-a percorrer o estádio em júbilo
até chegar o baile das células
que esperam por ela a vida inteira
como o grande treinador
do universo.

A morte convém que seja masculina
na forma
e feminina no modo de vestir
o disfarce.

Dizes tu, a morte.
E passas os dedos pelo meu corpo
abstracto ao teu desejo.

A morte, fazes tu com a boca.
E dás-me o prazer num prolongamento
líquido.

E a morte não demora.
Dá-me a mão como tu dás o sexo
e entorna sem vergonha
uma vida de festa na sala mortuária
dos meus dias.

Morte não é palavra de morto.
É a estrela caída
do céu irreversível em que deixo de ver-te.

Fala comigo na sua língua pura
e acende em mim a luz do último verso.

Armando Silva Carvalho