Se não a conhecesse tão bem certamente haveria de ler os livros dela. Mas, como a conhecia muito bem, receava ler o que ela escrevia. Talvez até pudesse encontrar-me a mim mesma, descrita nos seus livros de maneira incompreensível para mim. Ou os lugares que me são caros e que para ela podem ser uma coisa completamente diferente daquilo que são para mim. Em certo sentido, pessoas como ela, que usam a pena, podem ser perigosas. A primeira coisa que nos ocorre é a suspeita de falsidade - uma pessoa assim não é genuína, mas sim um olho em constante observação, e tudo aquilo que vê transforma em frases, e, desta maneira, priva a realidade daquilo que é a sua característica mais importante - o inexprimível.
Olga Tokarczuk, in Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos, trad. Teresa Fernandes Swiatkiewicz