Num tempo já longínquo, o rico em estado superlativo era o milionário. Depois surgiram os bilionários, de modo que os milionários, mesmo mantendo ou até aumentando o capital real, viram encolher consideravelmente o seu capital simbólico, foram remetidos para a riqueza banal. Na escalada para o mais alto — aí, onde se chega a um píncaro e começa a faltar o ar — triunfam agora os “ultra-ricos”, uma classificação provisória, que faz lembrar um anúncio de detergente, enquanto não se inventa uma palavra mais rigorosa para esta classe que exaspera a ideia de riqueza até um limite tão elevado que não conseguimos pensar nela sem cairmos num conflito entre a razão e a imaginação. Dito de outra maneira: os ultra-ricos são a classe que nos proporciona hoje o sentimento do irrepresentável, isto é, do sublime. Ou será do grotesco?

António Guerreiro