Que há vários Gatos já aqui leste,
E agora o eu parecer é este
Não é preciso um tradutor
Pra entender o seu humor.
Já sabes muito e mais que uns pós:
Os Gatos são iguais a nós
E a outros tantos e diferentes
De muitos tipos, muitas mentes.
Pois um é louco e outro é são
E outro é bom e outro não
E um melhor, e um perverso –
Mas qualquer gato cabe em verso.
Em jogo ou em trabalho os viste,
O nome próprio até ouviste
Seus hábitos, seu habitat:
O ponto:
Como chamar um Gato?
E não esquecer esta lição:
UM GATO NÃO É UM CÃO.
Um Cão não luta apenas finge;
Um Cão que ladra não atinge;
Contudo um Cão é, no geral,
Algo simplório e normal.
À excepção do Pequinês
E do canino rafeirês.
O Cão local de toda a parte
É um truão por sua arte,
Não tem orgulho, o Cão, nenhum,
E é tratado abaixo de um.
É fácil ser levado, o tonto –
Uns mimos sobre o queixo e pronto,
Um dá cá a patinha dá,
E pula e põe-se a rir, já está.
O lorpa a qualquer um se entrega,
Responde a deita, a senta, a pega.
É bom lembrá-lo, e isto é exacto:
Um Cão é um Cão – UM GATO É UM GATO.
Com Gatos, diz-se, a regra vale:
Não fales antes que te fale.
Eu não concordo co’o ditado –
Um Gato pode ser chamado.
Mas tem em vista uma verdade:
Que não lhe apraz intimidade.
Eu tiro-lhe o chapéu, cordato,
E chamo o Gato assim: Ó GATO!
Mas se ele for da porta ao lado
Um gato visto no passado
(Vem visitar-me ao meu recato)
Saúdo-o com um EI! UM GATO!
Ouvi chamar um James Buz-James –
Mas não o chames, não te queimes.
Um Gato só te chama amigo
E só te deixa estar consigo
Provando tu quão bem o tratas,
Se lhe mostrares um pires de natas;
E torta de Estrasburgo, até,
Não fica mal, caviar, paté
De Ganso, um bom salmão em pasta –
Tem gosto, bacalhau não basta.
(Conheço um com gosto velho,
À refeição só quer coelho
E, satisfeito, as patas cola
Só pelo molho da cebola.)
Um Gato leva muito a peito
E exige mostras de respeito.
E com o tempo chegas lá,
E pelo NOME ele vem cá.
É este o trato do contrato:
Assim, tal qual, SE CHAMA UM GATO.

T.S. Eliot, trad. Daniel Jonas