Amamo-nos e desligamos a televisão
como que negando a realidade. Mas o mundo
insiste nas suas convicções ou procura-as
por motivos que ignoramos ou talvez
porque o crime deva continuar seu percurso.
Chegadas de fora, suas insones figuras
pressionam as paredes onde nos refugiámos.
Encarnam no vento, uivos
de pneumáticos e, nas imediações
de todas as coisas, tiroteios
que não resolvem a discórdia universal.
Agora folhas secas acumulam-se
ao pé das janelas e uma carta
de origem desconhecida desliza
por debaixo da porta.
Mas nós florescemos nus a meio da noite
que o amor por sua própria vontade decide
e por ele sabemos como fazer da história
um clamoroso escândalo a que somos alheios.

Joaquín O. Giannuzzi