- Conscientemente escrevo e, consciente,medito o meu destino.deslizam como a água, até que um diaum possível leitor pega num livroe lê,lê displicentemente,por mero acaso, sem saber porquê.Lê, e sorri.Sorri da construção do verso que destoano seu diferente ouvido;sorri dos termos que o poeta usouonde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;e sorri, quase ri, do íntimo sentido,do latejar antigodaquele corpo imóvel, exhumadoda vala do poema.Na História Natural dos sentimentostudo se transformou.O amor tem outras falas,a dor outras arestas,a esperança outros disfarces,a raiva outros esgares.Estendido sobre a página, exposto e descoberto,exemplar curioso de um mundo ultrapassado,é tudo quanto fica,é tudo quanto restade um ser que entre outros seresvagueou sobre a Terra.António Gedeão
poema do futuro
Publicado em 10 de Novembro de 2022