Temos que lutar todos os dias contra a inércia. Não podemos permitir que a nossa existência pare, nesta assombrosa continuidade dos acontecimentos. E, para isso, precisamos, antes de tudo, reagir contra a invasão das ideias comuns, do comodismo de certas fórmulas, servilmente aceitas, da passividade das atitudes que se ficam repetindo, pela incapacidade de tentar outras melhores, ou pelo temor de enfrentar qualquer risco.
Precisamos resistir à sugestão perigosa, ao erro do exemplo. Não há exemplos. Há experiências, realizadas em certas épocas, por certas criaturas, em certas circunstâncias. Nunca seria possível reproduzir esse exemplo, sem forçarmos a própria natureza, porque o processo da vida não permite repetições. Apenas nos podem valer essas experiências como elemento de cultura, como o histórico da humanidade que nos precedeu, e em que podemos contemplar, na alternativa de todas as variantes, a lei de movimento que imperativamente as determina.

Cecília Meireles