Cartas Há um pequeno livro, editado pela ASA, que contém dez cartas escritas por R.M. Rilke a um poeta em início de vida literária, em resposta a outros tantos pedidos de aconselhamento por parte deste, atormentado com dúvidas diversas (mais substantivas do que formais, pelo que decorre das palavras de Rilke). A tradução é de VGM (sendo para mim um autêntico mistério como é que o homem consegue voar constantemente para Bruxelas e Estrasburgo, traduzir Dante, Shakespeare, dirigir colecções de clássicos portugueses, traduzir Ronsard, escrever em revistas como Os meus livros, debitar pontuais laudas ao seu partido e a quem quer que seja que o lidere nas páginas do DN, produzir poesia e prosa ficcional, e, ainda por cima, viver a sua vida!). Os textos são, na sua maioria, interessantes, sobretudo, naturalmente, para quem gosta de Rilke. A delicadeza formal e os pontos de vista que expende são demonstrações da sua reflexão profunda sobre o que é e como se corporiza a condição do poeta. Aqui fica um pequeno excerto de uma das cartas, datada de 23 de Dezembro de 1903 e enviada de Roma, em que Rilke fala do modus vivendi do criador literário: "(...)Só há uma solidão e essa é sempre grande e difícil de viver e quase todos têm horas em que bem gostariam de trocá-la por qualquer companhia, ainda que banal e bem barata, pela aparência de uma consonância mínima com quem quer que apareça, até com o mais indigno...Mas talvez já sejam essas, exactamente, as horas em que a solidão cresce; que o seu crescimento é doloroso como o crescer dos meninos e triste como o princípio das primaveras". Esta solidão de que fala Rilke parace-se extraordinariamente com a coragem em que radica a liberdade. Lá iremos. AmAtA --------