Primeiro round Pronto, o primeiro período de corte com a rotina já está concluído (esta é outra rotina, como é óbvio, só que mais espaçada no calendário e menos benquista por mim do que a dominante, a das semanas pontuadas de coisas que gosto de fazer, sombreadas de conversas com as pessoas que gosto de ter perto): uma curta semana à beira do mar calmo, a sul, num areal vasto e com pouca gente, mal sejam dados os necessários passos. Calor moderado e pequenas amplitudes térmicas diárias, tempo para dormir de modo a compensar o (muito) que estava em falta, jornais em dia (a prestação de Pedro Mexia no DN pareceu-me interessante; já Miguel Maduro, no dia seguinte, trouxe um texto pouco motivador e apologético da futura (?) Constituição europeia, como é próprio de alguém nado e criado no direito comunitário, um "produto" do direito visto a partir do Instituto Universitário Europeu, de Florença, em todo o seu esplendor). E mais um livro lido, sem lamentar o tempo que foi roubado a outros (sempre tantos!): Carruagem para mulheres, da indiana Anita Nair, editado pela Dom Quixote (que tinha já editado uma pequena colectânea de contos muitíssimo bem arquitectados da autoria de Jumpa Lahiri, Intérprete de Enfermidades). A escrita de Nair é escorreita e o assunto escolhido bem actual, ainda hoje: o sentido da vida de uma mulher indiana independente (isto é, solteira) na Índia, onde o casamento ainda é um caminho quase inquestionável para o destino feminino. E há observações que são bem mais universais, como esta:"Akhila é esse tipo de mulher: faz o que esperam dela; sonha com o resto. É por isso que colecciona epítetos de esperança, como as crianças coleccionam talões de bilhetes. Para ela, a esperança confunde-se com desejos não realizados". Ainda uma nota: no condomínio onde fico há quinze anos, sempre que vou para sul, tive a surpresa de saber que os recepcionistas lêem alguns blogues: são quatro jovens, dois rapazes e duas raparigas, com idades entre os vinte e cinco e ostrinta anos, estudam à noite, não compram jornais, vêem a Sic Radicale lêem-nos. Quais de nós? Se a modéstia fosse o meu forte, não referia o modus, mas a verdade é que o conheciam (e ficaram espantados por ser meu - sou de um low profile naquelas bandas quase inimaginável , hélas!); mas também gostam da Bomba, do Pipi e do Gato; e de outros, alguns que nem conheço. Fiquei surpreendida com o entusiasmo deles. E vaidosa, pela parte que me toca, claro está! Ana Roque --------