Graus de pureza Não macula a língua mãe o nascimento das novilínguas - é o movimento do mundo; não retira pureza ao pensamento dos clássicos não sabermos todos grego, ou latim, ou árabe, ou urdu; para isso há os tradutores, há as escolas de pensamento, há os glosadores e há, acima de tudo, a nossa abertura de espírito. Contra o fechamento ditatorial, contra os donos da verdade, contra os detentores da linha justa. A pureza está dentro, não fora; não é um artíficio de sofistas bem treinados na retórica, é uma simples chama, um estar atento a uma verdade maior do que nós que brilha desde que a procuremos sem desistências por medo ou saudade de tempos de servidão em que pusemos toda a nossa esperança. Ser livre é mais difícil do que ser escravo. Estar só é mais árido do que estar acompanhado por quem amamos, mesmo se somos singulares nessa devoção, mesmo se a presença do outro não é frequente nem duradoura. Respeitar-se e procurar ser respeitado é mais complicado do que ceder até ao limite da vertigem para ser gostado. Mas suspeito que vale a pena o esforço. Depois conto. Cada um sabe de si. Ana Roque --------