Manual de sobrevivência IV Saber dominar as emoções, mergulhar nelas por apneia, sem sufocar, medindo o tempo de submersão ao segundo; retirar do fundo a pérola da aprendizagem, permitir que o tempo deixe assentar a areia tumultuosa da insegurança. Ter-se em alta estima, como convém sempre. Nutrir pelo mais fiel companheiro de percurso plena e afectuosa consideração, despida de qualquer posse. Relembrar o que se passou, não como fonte de mágoa, amargura ou ressaibiamento, mas para melhor compreender os outros e poder ser solidário com as suas dores; banir o azedume até ao último grão de poeira negra ter desaparecido dos recantos mais escondidos da alma. Alimentar a sinceridade para consigo próprio, naturalmente completada através da amabilidade adequada para com os outros; permitir-se o supremo luxo da fragilidade. Não ser nunca um peão de si mesmo; saber ter a mobilidade da rainha num imenso xadrez de fim imprevisível. --------