Ainda sobre o amor
Ainda sobre o amor
A propósito do filme Lost in translation, escreve João Lopes*: "(...) De onde vem o ódio ao melodrama? De várias origens, mas sempre de um menosprezo profundo pela complexidade do factor humano. Embora correndo o risco de muitos equívocos, apetece dizer que desse modo se favorece a noção segundo a qual o cinema apenas acontece quando algum efeito especial o sustenta. É um pensamento fraco e ressentido ao qual importa contrapor a mais primitiva das verdades de encenação: a de que o ser humano é sempre o mais fascinante dos efeitos especiais, sendo o actor o singularíssimo lugar onde a sua magia se pode inscrever e perdurar.
(...) Aliás, este é um filme tão sentido e tão pensado em todos os seus detalhes que até mesmo o cartaz nos propõe uma frase exemplar, verdadeira fórmula da liberdade do amor. Ou seja: todos queremos ser encontrados. Que é como quem diz: a dádiva do amor não sabe prescindir de algum egoísmo - vejo-te, não me vês?
(...) Lost in translation pertence a toda uma tendência contemporânea do cinema - e, importa não o esquecer, também de algumas formas de ficção televisiva - em que a valorização das emoções humanas se constitui como um valor fundamental. Trata-se de filmar olhares que, como este, nos dizem apenas que o amor existe. E que um ser pertence a outro apenas... porque sim."
* O amor existe, in DN, ed. de 24 de Janeiro 2004.
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Publicado em 31 de Janeiro de 2004