De facto "(...) cansava-se para
De facto
"(...) cansava-se para salvar aquela união, obstinando-se num erro clássico: esperava que ele mudasse, que deixasse aquele tom de permanente troça, (...) que um belo dia ele baixasse as armas e que pudessem então ter uma verdadeira relação terna e sincera. Ora ele nunca se cansou de troçar de tudo, e dela em particular. A simplicidade sem defesas é um luxo que não se pode esperar de toda a gente."
Anny Duperey, in Allons voir plus loin, veux -tu?, Ed. Seuil, 2002 (há uma tradução portuguesa, ed. Asa, 2003).
Esta "simplicidade", bem muito escasso no domínio dos afectos entre seres adultos, com um passado por lastro e medos vários a servirem de espartilho indesejável capaz de impor uma rigidez aflitiva, é de uma beleza inesperada. Surpreende, pode até assustar pelo desconhecimento, sempre perturbante, gerar reacções de recusa, mas ilumina. Basta abrir os olhos, respirar fundo e sair da cela de grades poderosas forjadas pelo nosso descontentamento. Devagar.
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Publicado em 9 de Março de 2004