Quando eu partir, quando eu partir de novo, A alma e o corpo unidos, Num último e derradeiro esforço de criação; Quando eu partir… Como se um outro ser nascesse De uma crisálida prestes a morrer sobre um muro estéril, E sem que o milagre lhe abrisse As janelas da vida… Então pertencer-me-ei. Na minha solidão, as minhas lágrimas Hão-de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência, E eu serei o senhor da minha própria liberdade. Nada ficará no lugar que eu ocupei. O último adeus virá daquelas mãos abertas Que hão-de abençoar um mundo renegado No silêncio de uma noite em que um navio Me levar para sempre Mas ali Hei-de habitar no coração de certos que me amaram; Ali hei-de ser eu como eles próprios me sonharam; Irremediavelmente… Para sempre. Ruy Cinatti