Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de setembro 2003


21 de Setembro de 2003

Presente de despedida Las doce

Presente de despedida Las doce en el reloj Dije: Todo ya pleno. Un álamo vibró. Las hojas plateadas Sonaron con amor. Los verdes eran grises, El amor era sol. Entonces, mediodía, Un pájaro sumió Su cantar en al viento Con tal doración Que se sintió cantada Bajo el viento la flor Crescida entre las mieses Más altas. Era yo, Centro en aquel instante De tanto alrededor, Quien lo veía todo Completo para un dios. Dije: Todo, completo. Las doce en el reloj! Jorge Guilllén, in Poetas del 27, ed. Colección Austral --------


21 de Setembro de 2003

Curiosidade Quando escrevi o

Curiosidade Quando escrevi o post Fading away, recebi uma vintena de mails sobre o fim do modus; respondi a cada um individualmente, agradecendo a amabilidade das palavras que me enviaram. Com o apelo da Bomba, houve um surto de correio (mais do triplo do que tinha recebido inicialmente) a que não posso, por razões práticas, responder da mesma forma; contudo, entendo dever uma explicação a quem se interessou pelos meus motivos e me fez saber o quanto algumas das minhas reflexões foram apreciadas por quem as leu (como nunca tive contador de visitas, nada sei sobre o volume de "passantes" por aqui, ao longo destes quatro meses). Respondendo à pergunta mais constante: se gosto de escrever, se os assuntos que abordava me interessavam (e a outros...), porquê pôr o tal "ponto final"? A questão prende-se com a liberdade de expressão: sendo muitos dos meus posts (a maioria, creio) sobre estados de alma, sentimentos, modus de vida, valores, princípios, facilmente se pode considerar este espaço como um blog com marca "autobiográfica"; ora a nossa vida nunca é só nossa, a não ser que sejamos eremitas, o que não é, de todo, o meu caso. Por isso, a minha expressão acabava por ser censurada, na medida em que podia (?) devassar outras vidas, deixar adivinhar outras vivências conexas, mesmo que remotamente; e avaliar tudo isso, evitar essas eventuais e ténues sequelas, tornou-se um fardo desgastante e inútil. A autocensura é contrária à minha natureza, porque tenho o hábito antigo de assumir as minhas escolhas e de não me preocupar demasiado com o juízo alheio (muitos anos de vida independente, a par do próprio carácter, alimentam estas coisas...); e a heterocensura é-me insuportável (tive a sorte de ser muito jovem quando a liberdade de expressão se instalou em Portugal, pelo que nunca tive que conviver com a rarefacção desse direito fundamental...e agora é muito tarde para me habituar). Assim sendo, em vez do desgaste das limitações quotidianas, preferi o silêncio. Sei que sou "radical", que não gosto de settle for less;mas acho que a liberdade ou é plena, ou não existe. Não se doseia nem se pode negociar. Se um dia as condições se alterarem, volto. Obrigada por todas as palavras de apreço. Ana Roque --------


20 de Setembro de 2003

Eco remoto O apelo

Eco remoto O apelo da Charlotte, que conheço e de quem gosto muito, leva-me a deixar uma frase mais: obrigada pelo acolhimento na primeira hora e pela gentileza todo o tempo. O prazer sem liberdade é rarefeito. Ana Roque --------


15 de Setembro de 2003

Fading away O recurso periódico

Fading away O recurso periódico à operação "check and balance" é inevitável, desejável e até necessário. Não deixar nunca de lado a sentença do Eclesiastes. Saber pôr pontos finais. Ana Roque --------


15 de Setembro de 2003

Mudanças A transição é tão

Mudanças A transição é tão brusca que provoca estremecimento. Estar fora dias a fio, seja a descobrir outras formas de estar, outras referências, seja a trabalhar em níveis bem diferentes de acutilância, informação e dinâmica (e não só intelectual, reflexiva, mas também aferida em termos práticos, de procura de guias para a acção política), deixa uma certa dificuldade para reentrar no "modelo interno"; não apetece a frisson menor pelas mais elementares regras de consideração dentro do que devia ser o plano da dignidade institucional, falta a paciência para a necessidade de estar sempre à defesa face ao arbítrio de entidades que dominam sem ser por mérito. Mas as coisas são o que são, e a distância entre Lisboae outras capitais europeias, como Bruxelas ou mesmo Madrid, é ainda bem marcada, apesar de tudo o que melhorou desde 1986. E, vendo bem, essa constatação deve constituir um estímulo para tentarmos avançar, melhorar atitudes e incentivar as gerações maisjovens nesse sentido. É imprescindível que cada um faça a sua parte. Ana Roque --------


14 de Setembro de 2003

Luz As palavras que iluminam,

Luz As palavras que iluminam, as dos poetas, só empalidecem por comparação com as de quem amamos. Muitas vezes, só brilham até nós porque são a propagação destas, ouvidas ou sonhadas. Yo soy quien libre me vi, yo, quien pudera olvidaros; yo soy el que por amaros estoy, desde que os conoscí, sin Dios y sin vos y mí. Sin Dios, porqu'en vos adoro, sin vos, pues no me quéreis, pues sin mí ya está de coro que vos sois quien me tenéis. Assí que triste nascí, pues que pudiera olvidaros, yo soy el que por amaros estoy desque os conocí sin Dios y sin vos y mí. Jorge Manrique, in Coplas, ed. Castalia Didática. Ana Roque --------


14 de Setembro de 2003

Expansão Aumentar a energia, torná-la

Expansão Aumentar a energia, torná-la uma onda, sentir na pele todo o calor. Amar é ampliar, no espaço vivencial e no tempo interior. Ana Roque --------


13 de Setembro de 2003

Perspectiva É curioso como a

Perspectiva É curioso como a distância pode modificar o olhar sobre o que nos rodeia. O privilégio de deslocar o nosso ângulo sobre o mundo produz, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, uma diferenÇa no nosso próprio auto-conhecimento. O mundo é de facto muito amplo, inesgotável para quem tem curiosidade. Transcende, em muito mais do que se pode pôr em palavras, o nosso cosy corner e o nosso querido umbigo. Ana Roque --------


12 de Setembro de 2003

Worlds apart Já amanhã?! Só

Worlds apart Já amanhã?! Só amanhã... --------


12 de Setembro de 2003

11 de Setembro II Quando,

11 de Setembro II Quando, para além do que possa sentir, tudo está explicado com clareza, honestidade intelectual e lucidez política, vale a pena ler e reflectir, dispensando a falsa solidariedade de outros textos que apostam na mistura de tudo para nada esclarecer. Assim, para perceber o que está em causa desde 11 de Setembro de 2001, veja-se o artigo do Abrupto no Público de ontem. A frontalidade faz bem. Ana Roque --------


11 de Setembro de 2003

Outros olhares Como em quase

Outros olhares Como em quase tudo o que, de há anos a esta parte, me enriquece o modus vivendi, devo a deus a excelente oportunidade de, durante dois dias, trocar ideias com um grupo invulgar de pessoas (políticos, professores universitários, consultores, diplomatas) de todos os países da UE, num encontro dedicado ao debate e ao aprofundamento de ideias sobre a Europa em diversos domínios. As vantagens deste tipo de encontros entendem-se de imediato. Quando voltar ao meu teclado, tentarei explicar algumas em particular, sobretudo para quem vive e trabalha num país pequeno e periférico sob mais do que um ponto de vista. Ana Roque --------


11 de Setembro de 2003

11 de Setembro Hoje é

11 de Setembro Hoje é um dia diferente. O teclado de que disponho inviabiliza um texto longo, porque falta uma boa parte dos acentos necessários. Contudo, deixo uma palavra porque esquecer é inaceitável. Podia ter sido quem amamos. Podíamos ter sido nós. De certo modo, aquelas mortes incompreensíveis mataram parte do nosso mundo. Um dia negro. Ana Roque --------


10 de Setembro de 2003

Quase em silêncio Mostra-lhe lugares

Quase em silêncio Mostra-lhe lugares belíssimos, quase inventados; ensina-lhe tudo oque a imaginação quiser saber; oferece-lhe momentos magníficos, pintados com tintas que se fixam na memória. Só morde as palavras antes de o ar as possuir, temendo obscuras magias de desilusão. Mas nem assim o deslumbramento é menor. O olhar silente tem o peso total do instante eterno. É preciso tempo para o gravar também na pedra, no fogo , na água. No que fica sempre. Ana Roque --------


10 de Setembro de 2003

Breve É quase tempo de

Breve É quase tempo de iniciar um novo ciclo, nesta Terra que não se esgota sob os pés ávidos de todos os caminhos. Mas ainda faltam umas horas alinhadas em vagos dias. Ana Roque --------


10 de Setembro de 2003

Em trânsito O modus continua

Em trânsito O modus continua itinerante, cumprindo um caminho invisível como os planetas, numa elipse um pouco bizarra e contrastante. Depois de olhar, aturdida, os sinais de um tempo tão longo que parece irreal, em pleno calor, debaixo do céu azul esmaltado reflectido num rio de curso peculiar, fui encontrar a chuva numa qualquer capital europeia, a Norte, onde o cinzento pontifica com teimosia. Sem que se visse, foi aí que o sol verdadeiramente brilhou, que o calor aqueceu o sangue em festa, que as estrelas compuseram figuras enigmáticas. O chão tremeu à margem dos sismógrafos. Ana Roque --------