¶ 30 de Julho de 2020
Lorena
Eu tinha nos ombros
um livro encerrado
até os teus olhos
me darem palavras
Contigo fui dando
a tudo o teu nome
em nome de nós
por causa de mim.
Emanuel Jorge Botelho
"bene senescere sine timore nec spe"
blogue de Ana Roque
¶ 30 de Julho de 2020
Eu tinha nos ombros
um livro encerrado
até os teus olhos
me darem palavras
Contigo fui dando
a tudo o teu nome
em nome de nós
por causa de mim.
Emanuel Jorge Botelho
¶ 30 de Julho de 2020
As ondas indo, as ondas vindo -- as ondas indo e vindo sem
parar um momento.
As horas atrás das horas, por mais iguais sempre outras.
E ter de subir a encosta para a poder descer.
E ter de vencer o vento.
E ter de lutar.
Um obstáculo para cada novo passo depois de cada passo.
As complicações, os atritos para as coisas mais simples.
E o fim sempre longe, mais longe, eternamente longe.
Ah mas antes isso!
Ainda bem que o mar não cessa de ir e vir constantemente.
Ainda bem que tudo é infinitamente difícil.
Ainda bem que temos de escalar montanhas e que elas vão
sendo cada vez mais altas. Ainda bem que o vento nos oferece resistência
e o fim é infinito.
Ainda bem.
Antes isso.
50 000 vezes isso à igualdade fútil da planície.
Mário Dionísio
¶ 29 de Julho de 2020
Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Manuel Bandeira
¶ 28 de Julho de 2020
Santiago do Chile exibe, como outras cidades latino-americanas, uma imagem resplandecente. A menos de um dólar por dia, legiões de trabalhadores lustram-lhe a máscara.
Nos bairros altos vive-se como em Miami, vive-se em Miami, miamiza-se a vida, roupa de plástico, comida de plástico, gente de plástico, enquanto os vídeos e os computadores se transformam nas senhas perfeitas da felicidade.
Mas são cada vez menos, estes chilenos, e cada vez mais os outros chilenos, os subchilenos: a economia amaldiçoa-os, a polícia afugenta-os e a cultura nega-os.
Uns quantos tornam-se mendigos. Ludibriando as proibições, arranjam-se de modo a aparecer nos semáforos vermelhos ou em qualquer entrada. Há mendigos de todos os tamanhos e cores, inteiros ou estropiados, sinceros ou simulados: alguns em total desespero, vivendo à beira da loucura, e outros mostrando caras deformadas e mãos trémulas por obra de muito ensaio, profissionais admiráveis, verdadeiros artistas do bem-pedir.
Em plena ditadura militar, o melhor mendigo chileno era um que nos enternecia dizendo:
- Sou civil.
Eduardo Galeano
¶ 27 de Julho de 2020
Sé que más allá de la muerte
está la muerte,
sé que más acá de la vida
está la estafa.
Sé que no existe el consuelo
que no existe
la anhelada tierra de mis sueños
ni la desgarrada visión de nuestros héroes.
Pero
te seguimos buscando, patria,
en las traiciones del recién llegado
y en las mentiras del primer cronista.
Sé que no existe el refugio del abrazo
y que Dios es un estruendo de hojalata.
Pero
te seguimos buscando, patria,
en las amenazas del nuevo impostor
y en las palmas que revientan buldoceadas.
Sé que no existe la visión
del que siempre parece entre las llamas
que no existe la tierra presentida.
Pero
te seguimos buscando, tierra,
en el roer incesante de las aguas,
en el reventar de mangos y mameyes,
en el tecleteo de las estaciones
y en la confusión de todos los gritos.
Sé que no existe la zona del descanso
que faltan alimentos para el sueño,
que no hay puertas en medio del espanto
Pero
te seguimos, buscando, puerta,
en las costas usurpadas de metralla,
en la caligrafía de los delincuentes,
en el insustancial delirio de una conga.
Sé
que hay un enorme torrente de ofensas aún guardadas
y arsenales de armas estratégicas,
que hay palabras malditas, que hay presiones
y que en ningún sitio está el árbol que no existe.
Pero
te seguimos buscando, árbol,
en las madrugadas de cola para el pan
y en las noches de colas para el sueño.
Te seguimos buscando, sueño,
en las contradicciones de la historia
en los silbidos de las perseguidoras
y en las paredes atestadas de blasfemias.
Sé
que no hallaremos tiempo
que no hay tiempo ya para gritar,
que nos falta la memoria,
que olvidamos el poema, que, aturdidos,
acudimos a la última llamada
(El agua, la cola del cigarro).
Pero
te seguimos buscando, tiempo,
en nuestro obligatorio concurrir a mítines,
funerales y triunfos oficiales,
y en las interminables jornadas en el campo.
Te seguimos buscando, palabra,
por sobre las charlas de las cacatúas
y el que vendió su voz por un paseo,
por sobre el cobarde que reconoce el llanto
pero tiene familias... y horas de recreo.
Te seguimos trabajando, poema,
por sobre la histeria de las multitudes
y tras la consigna de los altavoces,
más allá del ficticio esplendor y las promesas.
Que es ridículo invocar la dicha
que no existe 'la tierra tan deseada'
que no hallarán calma nuestras furias.
Todo eso lo sé.
Pero te seguimos buscando, dicha,
en la memoria de un gran latigazo
y tras el escozor de la última patada.
Te seguimos buscando, tierra,
en el fatigado ademán de nuestros padres
y en el obligatorio trotar de nuestras piernas.
Te seguimos buscando, calma,
en el infinito gravitar de nuestras furias
en el sitio donde confluyen nuestros huesos
en los mosquitos que comparten nuestros cuerpos
en el acoso por sueños y aceras
en el aullido del mar
en el sabor que perdieron los helados
en el olor del galán de noche
en la idea convertida en interjecciones ahogadas
en las noches de abstinencia
en la lujuria elemental
en el hambre de ayer que hoy hambrientos condenamos
en la pasada humillación que hoy humillados denunciamos.
En la censura de ayer que hoy amordazados señalamos
en el día que estalla
en los épicos suicidios
en el timo colectivo
en el chantaje internacional
en el pueril aplauso de las multitudes
en el reventar de cuerpos contra el muro
en las mañanas ametralladas
en la perenne infamia
en el impublicable ademán de los adolescentes
en nuestra voracidad impostergable
en el insolente estruendo de la primavera
en la ausencia de dios
en la soledad perpetua
y en el desesperado rodar hacia la muerte
Te seguimos buscando
te seguimos
te seguimos.
Reinaldo Arenas
¶ 26 de Julho de 2020
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
¶ 25 de Julho de 2020
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao
precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
Mário Cesarinny
¶ 24 de Julho de 2020
eu quero escrever coisas verdes
verdes
como as folhas desta floresta molhada
verdes
como teus olhos
que só a saudade deixa ver
verdes
como a menina duma trança só
que soletra em português sa-po sa-po
verdes
como a cobra esguia que me surpreendeu
naquela cubata sem outra história
verdes
como a manhã azul
que acaba de nascer
eu quero escrever coisas verdes
Arlindo Barbeitos
¶ 22 de Julho de 2020
Seja como seja,
ponderadas azias, esgotamentos e algum desejo que surja,
(a fintar marés):
a primeira frase é da maior importância e impacto.
O peso é quase mortal e pode marcar a diferença, a haver,
entre escrever coisa nenhuma
e escrever sobre o nada que por vezes acontece
(sendo discutível que apreciações vitais tenham lugar antes do prólogo, a epistemologia tem
limites, e de momento cai bem responsabilizar a ciência).
É certo que os teus olhos são a última maravilha, a iniciação ao mundo.
É certo que o teu corpo me sobeja e satisfaz, a ser o teu.
É certo que numa pessoa sem abrigo pode haver mais poesia
que num amante de cães, dietas ou pastéis.
Evidentemente, a revolução tarda e é difícil
(e podia tentar falar sobre isso com alguma pertinência).
Claro que eu queria escrever coisas verdes, em tons de Arlindo Barbeitos.
Com talento, mesmo que fosse mentira.
Mas,
no meu bairro,
ninguém escreve como eu.
Rui A.
¶ 21 de Julho de 2020
Lorde Ronald não disse nada, saiu disparado da sala, saltou para a garupa do cavalo e afastou-se a galope em todas as direcções.
Stephen Leacock, in Nonsense Novels
¶ 21 de Julho de 2020
convidei uma chuva silenciosa
a fazer aparição num poema.
[tive que pedir licença ao assobiador. ele acedeu].
era uma chuva quase triste,
vivia consumida de se esvair.
"chego sem fazer barulho pra ninguém
se lembrar de me evitar".
era uma chuva quase bonita.
tinha muita tendência poética
-isto me parecia óbvio.
tinha também alguma incapacidade para entender
o desejo humano
de pisar um chão seco.
depois de o assobiador eixar aquela aldeia
calculei que ninguém mais fosse acariciar
aquela chuva.
era uma chuva carente
-isso me pareceu óbvio também.
lhe atribui este lar provisório
e logo se verá
o daqui pra frente.
isso me espanta nas coisas
que não pertencem ao foro das pessoas:
a chuva aceitou ficar.
vive actualmente
na leitura [mesmo que desatenta]
de um poema.
o barulhar dessa chuva
é uma espécie de pequena mentira.
dizem que as crianças lhe conseguem escutar.
dizem que os gambozinos lhe pressentem
e nela, por vezes,
se deixam vislumbrar.
dizem.
Ondjaki
¶ 18 de Julho de 2020
Se acreditarmos que a cultura tem uma utilidade, acabamos por confundir o que é útil com a cultura.
Nietzsche
¶ 17 de Julho de 2020
A limalha de ferro
aparas
a madeira
recortada
em papel
escrevo em grafite
na folha
arrancada à raiz
rasgo a estrada
em pedras cinzeladas.
Pedro Du Bois
¶ 16 de Julho de 2020
Literary writing is an art, an aspect of an art form. It may be self-effacing or it may be grand, but if it is literature it has an artful intention, the language is being used in a characteristically elaborate manner in relation to the "work," long or short, of which it forms a part. So there is not one literary style or ideal literary style, though of course there is good and bad writing.
Iris Murdoch
¶ 14 de Julho de 2020
o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
José Luís Peixoto
¶ 13 de Julho de 2020
Busted flat in Baton Rouge, waitin' for a train
And I's feelin' near as faded as my jeans
Bobby thumbed a diesel down, just before it rained
It rode us all the way to New Orleans
I pulled my harpoon out of my dirty red bandanna
I was playin' soft while Bobby sang the blues, yeah
Windshield wipers slappin' time, I was holdin' Bobby's hand in mine
We sang every song that driver knew
Freedom's just another word for nothin' left to lose
Nothin', don't mean nothin' hon' if it ain't free, no no
And, feelin' good was easy, Lord, when he sang the blues
You know, feelin' good was good enough for me
Good enough for me and my Bobby McGee
From the Kentucky coal mine to the California sun
There Bobby shared the secrets of my soul
Through all kinds of weather, through everything we done
Yeah, Bobby baby kept me from the cold
One day up near Salinas, Lord, I let him slip away
He's lookin' for that home, and I hope he finds it
But I'd trade all of my tomorrows for one single yesterday
To be holdin' Bobby's body next to mine
Freedom's just another word for nothing left to lose
Nothing, and that's all that Bobby left me
Feeling good was easy Lord, when he sang the blues
You know feeling good was good enough for me
Good enough for me and my Bobby McGee
Lord, I called him my lover, I called him my man
I said called him my lover just the best I can and come on
And and a Bobby oh, and a Bobby McGee yeah
Janis Joplin
¶ 13 de Julho de 2020
Where is the wisdom lost in knowledge?
Where is the knowledge lost in information?T. S. Eliot
¶ 12 de Julho de 2020
Onde na luz
escondo o corpo
ressurjo esbranquiçado
no lusco-fusco do domingo
- o domínio necessário
ao retorno: o estorno
do número apagado -
o leitoso corpo exacerbado
retira da passagem partes
não aproveitadas: a luz
estala a sequência
com que o ritmo
retoma o espaço
o corpo se mostra
em luzes descoloridas.
Pedro Du Bois
¶ 10 de Julho de 2020
No estranho sol inexpressivo da vitória, mal nos conseguíamos sentir a nós mesmos. Falámos com surpresa, ali sentados no vazio, apalpando as nossas vestes brancas, duvidando da nossa própria capacidade de compreender ou de saber quem éramos. Os ruídos dos outros eram irreais, um zumbido nos ouvidos, como se num sonho ou dentro de águas profundas. O espanto de ver a vida continuar dominava-nos, mas não sabíamos como fazer essa dádiva contar. Foi difícil para mim em particular, porque, como a minha visão era nítida, não via as feições dos homens -- captava sempre a sua verdade viva, imaginando interiormente a realidade espiritual disto ou daquilo. Naquele dia, todos os homens tinham realizado os seus desejos, realizando-se neles também, e assim haviam perdido o sentido.
T. E. Lawrence, in Os Sete Pilares da Sabedoria, trad. Alda Rodrigues e Marta Mendonça
¶ 10 de Julho de 2020
Atravesso as pontes mas
(o que é incompreensível)
não atravesso os rios,
preso como uma seta
nos efeitos precários da vontade.
Apenas tenho esta contemplação
das copas das árvores
e dos seus prenúncios celestes,
mas não chego a desfazer
as flores brancas e amarelas
que se desprendem.
As estações não se conhecem,
como lhes fora ordenado,
mas tecem o duplo império
do amor e da obscuridade.
Pedro Mexia
¶ 8 de Julho de 2020
Pois nós não víamos o nosso próprio aspecto, as nossas próprias idades, mas cada um, como um espelho oposto, via o aspecto e a idade do outro. E sem dúvida, ao descobrir que tinham envelhecido, muitos teriam ficado menos tristes que eu. Mas, antes de mais, passa-se com a velhice o que se passa com a morte. Alguns enfrentam-na com indiferença, não porque têm mais coragem que outros, mas porque têm menos imaginação.
Marcel Proust
¶ 6 de Julho de 2020
Minha vida é a travessia
a travessura
o atravessado
(do planalto
à praia pela planície)
geográfico dos sentidos
ao ficar recolhido
nos abraços da amada
- ter ido embora
sem medo
do regresso -
no elementar direito de ser discreto
nas imediações do avesso e direto
em relação ao topo das esperas
o rosto acomodado
no travesseiro e os olhos
fechados em sonhos.
Pedro Du Bois
¶ 6 de Julho de 2020
Há uma gramática no teu corpo,
e soletro cada palavra
que o teu olhar me oferece.
Limpo as sílabas que te
escorrem pelo rosto com um lenço de
vidro, descobrindo a tua transparência.
E sais de dentro de um pó de
advérbios, para que eu te dê um nome,
e a vida volte a correr por ti.
Nuno Júdice
¶ 5 de Julho de 2020
Avesso ao começo
desespero
e desperto
meu lado
triste: escuto no convite
a verdade de não
ser convidado
despisto minha tristeza
em leituras ordinárias
descubro os olhos
na tela diariamente
ligada
no alvoroço dos pássaros
reencontro o meu horário
visto a roupa fria
com que a noite
me recolhe.
Pedro Du Bois
¶ 2 de Julho de 2020
Sim, eu conheço, eu amo ainda
esse rumor abrindo, luz molhada,
rosa branca. Não, não é solidão,
nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
isento de peso e crueldade.
Eugénio de Andrade