Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de agosto 2006


31 de Agosto de 2006

Paths

I shall tread, another year, Ways I walked with Grief, Past the dry, ungarnered ear And the brittle leaf. I shall stand, a year apart, Wondering, and shy, Thinking, "Here she broke her heart; Here she pled to die." I shall hear the pheasants call, And the raucous geese; Down these ways, another Fall, I shall walk with Peace. But the pretty path I trod Hand-in-hand with Love- Underfoot, the nascent sod, Brave young boughs above, And the stripes of ribbon grass By the curling way- I shall never dare to pass To my dying day. Dorothy Parker


31 de Agosto de 2006

Motley

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31 de Agosto de 2006

In Broken Images

He is quick, thinking in clear images; I am slow, thinking in broken images. He becomes dull, trusting to his clear images; I become sharp, mistrusting my broken images. Trusting his images, he assumes their relevance; Mistrusting my images, I question their relevance. Assuming their relevance, he assumes the fact; Questioning their relevance, I question their fact. When the fact fails him, he questions his senses; when the fact fails me, I approve my senses. He continues quick and dull in his clear images; I continue slow and sharp in my broken images. He in a new confusion of his understanding; I in a new understanding of my confusion. Robert Graves


30 de Agosto de 2006

Hine

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30 de Agosto de 2006

The Country Of Marriage

III. Sometimes our life reminds me of a forest in which there is a graceful clearing and in that opening a house, an orchard and garden, comfortable shades, and flowers red and yellow in the sun, a pattern made in the light for the light to return to. The forest is mostly dark, its ways to be made anew day after day, the dark richer than the light and more blessed, provided we stay brave enough to keep on going in. Wendell Berry


30 de Agosto de 2006

Jachna

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30 de Agosto de 2006

Testamento de um homem de bom senso

Quando eu morrer, não faças disparates Nem fiques a pensar: "Ele era assim..." Mas senta-te num banco de jardim, Calmamente comendo chocolates. Aceita o que te deixo, o quase nada Destas palavras que te digo aqui: Foi mais que longa a vida que vivi Para ser em lembranças prolongada. Porém, se, um dia, na tarde em queda, Surgir uma lembrança desgarrada, Ave que nasce e em vôo se arremeda, Deixa-a pousar em teu silêncio, leve Como se apenas fosse imaginada Como uma luz, mais que distante, breve. Carlos Pena Filho ____________________________


29 de Agosto de 2006

Healing Buddha

healing-buddha.jpg Healing Buddha


29 de Agosto de 2006

Frases

Conselho sábio da minha cunhada Inês, há um ror de meses, no meio de um inverno escuro: Stay cool and collected and all pieces will fall into place.


29 de Agosto de 2006

Pedro Roque

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29 de Agosto de 2006

Conchas

Quando alguém parte, tem de deitar ao mar o chapéu com as conchas apanhadas ao longo do Verão, e ir-se com o cabelo ao vento, tem de lançar ao mar a mesa que pôs para o seu amor, tem de deitar ao mar o resto de vinho que ficou no copo, tem de dar o seu pão aos peixes e misturar no mar uma gota de sangue, tem de espetar bem a faca nas ondas e afundar o sapato, coração, âncora e cruz, e ir-se com o cabelo ao vento! Depois, regressará. Quando? Não perguntes. Ingeborg Bachmann


28 de Agosto de 2006

Picasso

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28 de Agosto de 2006

A única resposta

Jantáramos os dois pela primeira vez: amizade ou amor, pouco interessava desde que ali estivesses. O meu mundo ia mudando à medida do teu, a cada gesto vão da vã conversa antes que fôssemos p'lo Bairro Alto e enfim o Lumiar, a tua casa. Eu podia contar uma história, dizer como aquele rosto atravessava o meu -mas não, «nada de narrativas, nunca mais». Apenas a certeza de estar morto há tanto tempo, que já não me lembro de cor nenhuma dos teus olhos. Não, já não existe o dia nem a noite e este silêncio deve ser talvez a única resposta. É bem melhor ficar à espera de que não regresses. Fernando Pinto do Amaral


28 de Agosto de 2006

Steichen

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28 de Agosto de 2006

Paris

C'est vrai, j'aime Paris d'une amitié malsaine; J'ai partout le regret des vieux bords de la Seine Devant la vaste mer, devant les pics neigeux, Je rêve d'un faubourg plein d'enfants et de jeux. D'un coteau tout pelé d'où ma Muse s'applique A noter les tons fins d'un ciel mélancolique, D'un bout de Bièvre, avec quelques chants oubliés, Où l'on tend une corde aux troncs des peupliers, Pour y faire sécher la toile et la flanelle, Ou d'un coin pour pêcher dans l'île de Grenelle. François Coppée


28 de Agosto de 2006

Matisse

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28 de Agosto de 2006

Men At Forty

Men at forty Learn to close softly The doors to rooms they will not be Coming back to. At rest on a stair landing, They feel it Moving beneath them now like the deck of a ship, Though the swell is gentle. And deep in mirrors They rediscover The face of the boy as he practices tying His father's tie there in secret And the face of that father, Still warm with the mystery of lather. They are more fathers than sons themselves now. Something is filling them, something That is like the twilight sound Of the crickets, immense, Filling the woods at the foot of the slope Behind their mortgaged houses. Donald Justice


27 de Agosto de 2006

Maillol

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27 de Agosto de 2006

Da necessidade

As pessoas têm necessidade de rituais. Rituais de acasalamento, de encontro, de fuga. É um pouco de disciplina, de ordem - no meio da paixão e da própria vida. Francisco José Viegas, in Longe de Manaus, ed. ASA.


27 de Agosto de 2006

Gauguin

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27 de Agosto de 2006

Canção do dia de sempre

(gentileza de Amélia Pais) Tão bom viver dia a dia... A vida assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas... Mário Quintana


26 de Agosto de 2006

Delaunay

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26 de Agosto de 2006

Do outro lado

Como seria Beirute nessa altura, em 1893? Que desgosto teria empurrado Iaqub Yussef para o mar, do Líbano para Génova, de Génova para Marselha, de Marselha para São Luís do Maranhão e para Belém, do Mediterrâneo para o Amazonas, de escala em escala, dormindo em porões sujos cheirando a carvão e ao sono de centenas de homens e mulheres que tinham ouvido falar do paraíso e que sabiam, com a ciência dos desesperados, que o paraíso se encontrava sempre do outro lado do mar? Francisco José Viegas, in Longe de Manaus, ed. ASA.


25 de Agosto de 2006

Lichtenstein

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25 de Agosto de 2006

Invenções

Há muito que deixei de procurar a felicidade, declarei ontem quando me disseram: ah, como você deve estar satisfeita com a sua vida! Não respondi, mas depois pensei: acaso a felicidade é algo mais do que uma inventada invenção? Ana Hatherly, in 463 tisanas, ed. Quimera.


25 de Agosto de 2006

Mondrian

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25 de Agosto de 2006

Sea Sorcery

Oh how I love the laughing sea, Sun lances splintering; Or with a virile harmony In salty caves to sing; Or mumbling pebbles on the shore, Or roused to monster might: By day I love the sea, but more I love it in the night. High over ocean hangs my home And when the moon is clear I stare and stare till fairy foam Is music in my ear; Till glamour dances to a tune No mortal man could make; And there bewitched beneath the moon To beauty I awake. Then though I seek my bed again And close the shutters tight, Still, still I hear that wild refrain And see that mystic light . . . Oh reckon me a crazy loon, But blesséd I will be If my last seeing be the moon, My last sound--the Sea. Robert Service


24 de Agosto de 2006

Minima civilitas

A civilização consiste em aprendermos a fazer naturalmente tudo o que não é natural. Ana Hatherly, in 463 tisanas, ed. Quimera.


24 de Agosto de 2006

Picasso

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23 de Agosto de 2006

Libertação

A minha vida libertou-me de muitas necessidades e desse erotismo vulgar, que é o do reconhecimento público. Sou um anónimo. Francisco José Viegas, in Longe de Manaus, ed. ASA.


22 de Agosto de 2006

Da ilha à cidade


22 de Agosto de 2006

Kandinsky

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22 de Agosto de 2006

Far Out

Beyond the dark cartoons Are darker spaces where Small cloudy nests of stars Seem to float on air. These have no proper names: Men out alone at night Never look up at them For guidance or delight, For such evasive dust Can make so little clear: Much less is known than not, More far than near. Philip Larkin


20 de Agosto de 2006

Magia, memória


19 de Agosto de 2006

Luz, sempre


19 de Agosto de 2006

Ao cabo, sem fim


19 de Agosto de 2006

Havia um pessegueiro na ilha...

 Foto da Ilha do Pessegueiro


19 de Agosto de 2006

Fortaleza imprevista


17 de Agosto de 2006

Lichtenstein

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17 de Agosto de 2006

The Country Of Marriage

II. This comes after silence. Was it something I said that bound me to you, some mere promise or, worse, the fear of loneliness and death? A man lost in the woods in the dark, I stood still and said nothing. And then there rose in me, like the earth's empowering brew rising in root and branch, the words of a dream of you I did not know I had dreamed. I was a wanderer who feels the solace of his native land under his feet again and moving in his blood. I went on, blind and faithful. Where I stepped my track was there to steady me. It was no abyss that lay before me, but only the level ground. Wendell Berry


16 de Agosto de 2006

The Country Of Marriage

I. I dream of you walking at night along the streams of the country of my birth, warm blooms and the nightsongs of birds opening around you as you walk. You are holding in your body the dark seed of my sleep. Wendell Berry


16 de Agosto de 2006

Buda

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16 de Agosto de 2006

Estátua de Buda

Os belos traços o inchado beiço a narina fina O torneado corpo e sua Beleza tão carnal de magnólia e fruto Em tão longínqua latitude representam O príncipe da perfeição e da renúncia Antes do museu Em sua frente Oscilavam sombras e luzes enquanto deslizava O rio das preces Sophia de Mello Breyner Andresen


16 de Agosto de 2006

Thomas Dewing

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16 de Agosto de 2006

Um Amigo

Há uma casa no olhar de um amigo. Nela entramos sacudindo a chuva. Deixamos no cabide o casaco fumegando ainda dos incêndios do dia. Nas fontes e nos jardins das palavras que trazemos o amigo ergue o cálice e o verão das sementes. Então abre as janelas das mãos para que cantem a claridade, a água e as pontes da sua voz onde dançam os mais árduos esplendores. Um amigo somos nós, atravessando o olhar e os véus de linho sobre o rosto da vida nas tardes de relâmpagos e nos exílios, onde a ira nómada da cidade arde como um cego em busca de luz. Eduardo Bettencourt Pinto


15 de Agosto de 2006

Poder de síntese

Na sua essência, o marxismo é o Judaísmo impaciente. George Steiner, in A bíblia hebraica e a divisão entre judeus e cristãos, ed. Relógio D'Água, trad. Margarida Periquito e Victor Antunes.


15 de Agosto de 2006

Hideharu

Hideharu.JPG Daqui a pouco.


15 de Agosto de 2006

Courage (IV)

Later, when you face old age and its natural conclusion your courage will still be shown in the little ways, each spring will be a sword you'll sharpen, those you love will live in a fever of love, and you'll bargain with the calendar and at the last moment when death opens the back door you'll put on your carpet slippers and stride out. Anne Sexton


15 de Agosto de 2006

Hine

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15 de Agosto de 2006

Da estratégia

A existência pessoal dentro dos limites da prudência irónica, a contenção da esperança dentro de fronteiras um tanto sarcásticas, são a única estratégia racional. George Steiner, in A bíblia hebraica e a divisão entre judeus e cristãos, ed. Relógio D'Água, trad. Margarida Periquito e Victor Antunes.


15 de Agosto de 2006

Jachna

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15 de Agosto de 2006

Courage (III)

Later, if you have endured a great despair, then you did it alone, getting a transfusion from the fire, picking the scabs off your heart, then wringing it out like a sock. Next, my kinsman, you powdered your sorrow, you gave it a back rub and then you covered it with a blanket and after it had slept a while it woke to the wings of the roses and was transformed. Anne Sexton


14 de Agosto de 2006

Suave...

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14 de Agosto de 2006

Noite

Deitados lado a lado, envoltos nas fadigas do dia. Paisagem fresca e calma onde passam histórias irrealizáveis, o sono repousava sobre nós. Nenhuma espada precisava de nos separar. Um peso delicioso, pesando na minha perna, despertou-me. Reconheci o teu pé. Soube então, por um homem e uma mulher que se conhecem, o que era estar deitado lado a lado. Ernesto Sampaio


14 de Agosto de 2006

Thomas Dewing


14 de Agosto de 2006

Courage (II)

Later, if you faced the death of bombs and bullets you did not do it with a banner, you did it with only a hat to comver your heart. You did not fondle the weakness inside you though it was there. Your courage was a small coal that you kept swallowing. If your buddy saved you and died himself in so doing, then his courage was not courage, it was love; love as simple as shaving soap. Anne Sexton


14 de Agosto de 2006

Jachna

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14 de Agosto de 2006

Courage (I)

It is in the small things we see it. The child's first step, as awesome as an earthquake. The first time you rode a bike, wallowing up the sidewalk. The first spanking when your heart went on a journey all alone. When they called you crybaby or poor or fatty or crazy and made you into an alien, you drank their acid and concealed it. Anne Sexton


14 de Agosto de 2006

Cameron

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14 de Agosto de 2006

Rosa

En ti la tierra Pequeña rosa, rosa pequeña, a veces, diminuta y desnuda, parece que en una mano mía cabes, que así voy a cerrarte y a llevarte a mi boca, pero de pronto mis pies tocan tus pies y mi boca tus labios, has crecido, suben tus hombros como dos colinas, tus pechos se pasean por mi pecho, mi brazo alcanza apenas a rodear la delgada línea de luna nueva que tiene tu cintura: en el amor como agua de mar te has desatado: mido apenas los ojos más extensos del cielo y me inclino a tu boca para besar la tierra. Pablo Neruda


13 de Agosto de 2006

Hopper

hopper.jpg Domingo


13 de Agosto de 2006

Os Justos

(gentileza de Amélia Pais) Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire. Aquele que agradece que haja música na terra. Aquele que descobre com prazer uma etimologia. Dois empregados que num café do Sul jogam um xadrez silencioso. O tipógrafo que compõe tão bem esta página que talvez não lhe agrade. Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto. Aquele que agradece a presença na terra de Stevenson. Aquele que prefere que sejam os outros a ter razão. Essas pessoas, que se ignoram, vão salvando o mundo. Jorge Luís Borges


13 de Agosto de 2006

Hine

hine_russian_jewess.jpg Judia russa


13 de Agosto de 2006

A noite

A noite veio de dentro, começou a surgir do interior de cada um dos objectos e a envolvê-los no seu halo negro. Não tardou que as trevas irradiassem das nossas próprias entranhas, quase que assobiavam ao cruzar-nos os poros. Seriam umas duas ou três da tarde e nós sentíamo-las crescendo a toda a nossa volta. Qualquer que fosse a perspectiva, as trevas bifurcavam-na: daí a sensação de que, apesar de a noite também se desprender das coisas, havia nela algo de essencialmente humano, visceral. Como instantes exteriores que procurassem integrar-se na trama do tempo, sucediam-se os relâmpagos: era a luz da tarde, num estertor, a emergir intermitentemente à superfície das coisas. Foi nessa altura que a visão se começou a fazer pelas raízes. As imagens eram sugadas a partir do que dentro de cada objecto ainda não se indiferenciara da luz e, após complicadíssimos processos, imprimiam-se nos olhos. Unidos aos relâmpagos, rompíamos então a custo a treva nasalada.

Luís Miguel Nava


13 de Agosto de 2006

Thomas Dewing

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13 de Agosto de 2006

The Mower

The mower stalled, twice; kneeling, I found A hedgehog jammed up against the blades, Killed.It had been in the long grass. I had seen it before, and even fed it, once. Now I had mauled its unobtrusive world Unmendably.Burial was no help: Next morning I got up and it did not. The first day after a death, the new absence Is always the same; we should be careful Of each other, we should be kind While there is still time. Philip Larkin


12 de Agosto de 2006

Lichtenstein

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12 de Agosto de 2006

Symptom Recital

I do not like my state of mind; I'm bitter, querulous, unkind. I hate my legs, I hate my hands, I do not yearn for lovelier lands. I dread the dawn's recurrent light; I hate to go to bed at night. I snoot at simple, earnest folk. I cannot take the gentlest joke. I find no peace in paint or type. My world is but a lot of tripe. I'm disillusioned, empty-breasted. For what I think, I'd be arrested. I am not sick, I am not well. My quondam dreams are shot to hell. My soul is crushed, my spirit sore; I do not like me any more. I cavil, quarrel, grumble, grouse. I ponder on the narrow house. I shudder at the thought of men.... I'm due to fall in love again. Dorothy Parker


11 de Agosto de 2006

Lichtenstein

lichtenstein.jpg Fim de semana


11 de Agosto de 2006

Verão, ainda

(gentileza de Amélia Pais) O Verão cantava sobre a sua rocha preferida quando tu me apareceste, o Verão cantava afastado de nós que éramos silêncio, simpatia, liberdade triste, mar mais ainda do que o mar, cuja enorme comporta azul brincava aos nossos pés. O Verão cantava e o teu coração nadava longe dele. Eu beijava a tua coragem, entendia a tua perturbação. Estrada através do absoluto das vagas em direcção a esses altos picos de escuma onde navegam virtudes assassinas para as mãos que seguram as nossas casas. Não éramos crédulos. Éramos rodeados. Os anos passaram. As tempestades morreram. O mundo partiu. Sofria por sentir que era o teu coração que já não me conhecia. Eu amava-te. Na minha ausência de rosto e no meu vazio de felicidade. Eu amava-te, mudando em tudo, fiel a ti. René Char


10 de Agosto de 2006

Bernard

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10 de Agosto de 2006

La Mujer y la Casa

Hervías la leche y seguías las aromosas costumbres del café. Recorrías la casa con una medida sin desperdicios. Cada minucia un sacramento, como una ofrenda al peso de la noche. Todas tus horas están justificadas al pasar del comedor a la sala, donde están los retratos que gustan de tus comentarios. Fijas la ley de todos los días y el ave dominical se entreabre con los colores del fuego y las espumas del puchero. Cuando se rompe un vaso, es tu risa la que tintinea. El centro de la casa vuela como el punto en la línea. En tus pesadillas llueve interminablemente sobre la colección de matas enanas y el flamboyán subterráneo. Si te atolondraras, el firmamento roto en lanzas de mármol, se echaría sobre nosotros. José Lezama Lima


10 de Agosto de 2006

Balla

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10 de Agosto de 2006

Poem

This poem is not addressed to you. You may come into it briefly, But no one will find you here, no one. You will have changed before the poem will. Even while you sit there, unmovable, You have begun to vanish. And it does no matter. The poem will go on without you. It has the spurious glamor of certain voids. It is not sad, really, only empty. Once perhaps it was sad, no one knows why. It prefers to remember nothing. Nostalgias were peeled from it long ago. Your type of beauty has no place here. Night is the sky over this poem. It is too black for stars. And do not look for any illumination. You neither can nor should understand what it means. Listen, it comes with out guitar, Neither in rags nor any purple fashion. And there is nothing in it to comfort you. Close your eyes, yawn. It will be over soon. You will forge the poem, but not before It has forgotten you. And it does not matter. It has been most beautiful in its erasures. O bleached mirrors! Oceans of the drowned! Nor is one silence equal to another. And it does not matter what you think. This poem is not addressed to you. Donald Justice


9 de Agosto de 2006

Juan Gris

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9 de Agosto de 2006

Os Amantes

Olhai como um para o outro crescem: Espírito se faz tudo em suas veias. As suas formas tremem como eixos a cuja volta há um girar quente e arrebatado. Sequiosos, logo encontram que beber. Despertos - olhai: logo têm que ver. Deixai que se afundem um no outro, para um no outro se vencer. Rainer Maria Rilke


8 de Agosto de 2006

More Than Myself

Not that it was beautiful, but that, in the end, there was a certain sense of order there; something worth learning in that narrow diary of my mind, in the commonplaces of the asylum where the cracked mirror or my own selfish death outstared me . . . I tapped my own head; it was glass, an inverted bowl. It's small thing to rage inside your own bowl. At first it was private. Then it was more than myself. Anne Sexton


8 de Agosto de 2006

Eckersberg

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8 de Agosto de 2006

Remédio contra o calor

(gentileza de Amélia Pais) Chuva de Amor Força de amor te derruba no furor do pensamento mas não como bloco. Em chuva arremessada no vento. E és minha lentamente enquanto a terra se sente beber-te a água sem fim. Não podes negar-te. Vives com a linha de declives inclinada sobre mim. Fernando Echevarria


7 de Agosto de 2006

Laughlin

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7 de Agosto de 2006

Do nome

Deste meu nome a uma árvore? Não é pouca coisa; embora não me resigne a ficar apenas sombra, ou tronco, abandonado num subúrbio. Eu o teu dei a um rio, a um longo incêndio, à minha sorte cruel, à confiança sobre-humana com que falaste ao sapo que saiu do esgoto, sem horror ou pena ou exaltação, ao alento daquele poderoso e suave lábio teu que consegue, nomeando, criar: sapo flores relva rocha - carvalho pronto a desfraldar-se sobre nós quando a chuva dispersa o pólen das carnosas pétalas de trevo e a chama se levanta. Eugenio Montale


7 de Agosto de 2006

Atget

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7 de Agosto de 2006

The Sick Rose

O Rose thou art sick. The invisible worm. That flies in the night In the howling storm: Has found out thy bed Of crimson joy: And his dark secret love Does thy life destroy. William Blake


6 de Agosto de 2006

Thomas Dewing

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6 de Agosto de 2006

Contraste

(gentileza de Amélia Pais) Mesmo que eu tivesse o céu com todas as suas estrelas e a terra com os seus tesouros sem fim, eu pediria mais. Se ela fosse minha, porém, qualquer cantinho neste mundo me bastaria. Rabindranath Tagore


5 de Agosto de 2006

Cartier-Bresson

cartier-bresson_italy.jpg Meio dia


5 de Agosto de 2006

Cartier-Bresson

cartier-bresson_italy.jpg Meio dia


5 de Agosto de 2006

Travessia

Atravesso o Paraíso por um rio infernal: Soberbo fantasma, é de noite. O remo é um coração; quebra as ondas de porcelana... Sou tudo o que perdeste. Nunca me perdoarás. A minha memória atravessa-se na tua história. Nada há a perdoar. Nunca me perdoarás. Até de mim escondo a minha dor; só a mim revelei a minha dor. Há tudo a perdoar. Nunca me poderás perdoar. Se ao menos tivesses podido ser minha, o que não seria possível no mundo? Agha Shahid Ali


5 de Agosto de 2006

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5 de Agosto de 2006

Ask Me

Some time when the river is ice ask me mistakes I have made. Ask me whether what I have done is my life. Others have come in their slow way into my thought, and some have tried to help or to hurt: ask me what difference their strongest love or hate has made. I will listen to what you say. You and I can turn and look at the silent river and wait. We know the current is there, hidden; and there are comings and goings from miles away that hold the stillness exactly before us. What the river says, that is what I say. William Stafford


4 de Agosto de 2006

Van der Goes

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4 de Agosto de 2006

So to speak...

The year's at the spring, And day's at the morn; Morning's at seven; The hill-side's dew-pearled; The lark's on the wing; The snail's on the thorn; God's in his Heaven— All's right with the world! Robert Browning


4 de Agosto de 2006

Guercino

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4 de Agosto de 2006

Ficções

Torna-se cada vez mais vago distinguir memória de imaginação. Lembro-me de coisas que nunca aconteceram e recupero cenas que jamais vivi. Quando ouço coisas que dizem que fiz, que vi e vivi então é um meigo espanto. Está difícil compatibilizar as fotos com as versões dos fatos que eu pensei ou fiz. Acho que inventei também o meu país. Affonso Romano de Sant'Anna


3 de Agosto de 2006

Os poemas

(gentileza de Amélia Pais) Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... Mário Quintana


3 de Agosto de 2006

Lanfranco

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2 de Agosto de 2006

Descalça

Na minha vida, os homens foram como os sapatos. Tive dois e gastaram-se os dois. Depois disso, aprendi, por assim dizer, a andar descalça. Salman Rushdie in Shalimar o palhaço, ed. Dom Quixote


2 de Agosto de 2006

Carrá

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2 de Agosto de 2006

Persistência

(para a minha amiga A.G.) - É mesmo verdade que pensas atirar-te de uma janela? - Oh, sim. - Muitas vezes? - Frequentemente. - E o que é que te impede? - Não é que eu queira morrer, é que quero viver... viver melhor. Quero que a vida seja melhor e assim compenetro-me que é melhor ficar viva por um pouco mais de tempo. Philip Roth, in Traições, ed. Bertrand.


1 de Agosto de 2006

Van der Goes

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1 de Agosto de 2006

Sabedoria dos antigos

Primeiro dia de Agosto, primeiro dia de Inverno.


1 de Agosto de 2006

I Remember

By the first of August the invisible beetles began to snore and the grass was as tough as hemp and was no color--no more than the sand was a color and we had worn our bare feet bare since the twentieth of June and there were times we forgot to wind up your alarm clock and some nights we took our gin warm and neat from old jelly glasses while the sun blew out of sight like a red picture hat and one day I tied my hair back with a ribbon and you said that I looked almost like a puritan lady and what I remember best is that the door to your room was the door to mine. Anne Sexton