Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de junho 2020


30 de Junho de 2020

Sonho no navio

Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,a noite se curva de frio; debaixo da água vai morrendo meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso, para fazer com que o mar cresça, e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito; praia lisa, águas ordenadas, meus olhos secos como pedras e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles


30 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

Elizabeth V. Blackadder2.jpg


30 de Junho de 2020

Sombras

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

Almada Negreiros


28 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

Elizabeth V. Blackadder6.Jpeg


28 de Junho de 2020

o tempo

Todos os passos em terra
e sobre as águas aguarda
o momento da travessia

em atravessado espaço
ri dos seres apreensivos

o tempo - ensina - é a insinuação
demoníaca na oxidação do corpo.

Pedro Du Bois


27 de Junho de 2020

um coração onde morar

Um coração tão branco que pudesse
invadir o mar
um coração como uma onda
ténue contra a areia
um coração ao longe
uma vaga ao longo do oceano
através do céu em direção à falésia
em direção ao mar
um coração onde coubesse
todo o amor
toda a fraternidade
um coração verdadeiro
um coração humano
um coração animal
um coração de ternura
um coração maior onde coubesse
todo o mar
toda a vida
toda a verdade
um coração onde morar

Rui Esteves


25 de Junho de 2020

Haddon Sundblom

Haddon Sundblom.jpg


25 de Junho de 2020

Sobre um poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder


24 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

Elizabeth V. Blackadder4.png


24 de Junho de 2020

Musa

Musa, desce do alto da montanha
Onde aspiraste o aroma da poesia,
E deixa ao eco dos sagrados ermos
          A última harmonia.

Dos teus cabelos de ouro, que beijavam
Na amena tarde as virações perdidas,
Deixa cair ao chão as alvas rosas
          E as alvas margaridas.

Vês? Não é noite, não, este ar sombrio
Que nos esconde o céu. Inda no poente
Não quebra os raios pálidos e frios
          O sol resplandecente.

Vês? Lá ao fundo o vale árido e seco
Abre-se, como um leito mortuário;
Espera-te o silêncio da planície,
          Como um frio sudário.

Desce. Virá um dia em que mais bela,
Mais alegre, mais cheia de harmonias,
Voltes a procurar a voz cadente
          Dos teus primeiros dias.

Então coroarás a ingênua fronte
Das flores da manhã, -- e ao monte agreste,
Como a noiva fantástica dos ermos,
          Irás, musa celeste!

Então, nas horas solenes
Em que o místico himeneu
Une em abraço divino
Verde a terra, azul o céu;

Quando, já finda a tormenta
Que a natureza enlutou,
Bafeja a brisa suave
Cedros que o vento abalou;

E o rio, a árvore e o campo,
A areia, a face do mar,
Parecem, como um concerto,
Palpitar, sorrir, orar;

Então sim, alma de poeta,
Nos teus sonhos cantarás
A glória da natureza,
A ventura, o amor e a paz!

Ah! mas então será mais alto ainda;
          Lá onde a alma do vate
          Possa escutar os anjos,

E onde não chegue o vão rumor dos homens;

Lá onde, abrindo as asas ambiciosas,
Possa adejar no espaço luminoso,
Viver de luz mais viva e de ar mais puro,
          Fartar-se do infinito!

Musa, desce do alto da montanha
Onde aspiraste o aroma da poesia,
E deixa ao eco dos sagrados ermos
          A última harmonia!

Machado de Assis


23 de Junho de 2020

Pedro Du Bois

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23 de Junho de 2020

poema

Olho a mão pintar
a tela: a tinta escorre
no rosto desenhado

desdenho a mão que escreve
o texto: espreito a palavra

o olho capta as imagens
onde mãos se confundem
em ordinários mundos

a tela expressa
palavras não ditas
e os olhos acobertam
as mãos agora imóveis.

Pedro Du Bois


22 de Junho de 2020

provérbio africano

Um morto amado nunca mais pára de morrer


21 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

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21 de Junho de 2020

Verão

Temos diante de nós três meses de prados verdes, de flores, de colheitas, de areia quente nas praias, de cantos nas árvores, mas o movimento do céu prepara já o Inverno, como em pleno Inverno é o Verão que se prepara. Estamos metidos nesta dupla espiral que sobe e desce. "Pára, és tão belo!", poderia dizer Fausto ao solstício de Junho. Seria em vão. É só em nós, e mesmo assim sem grande esperança nem grande fé, que iremos encontrar a estabilidade.

Marguerite Yourcenar, in O Tempo esse grande escultor


20 de Junho de 2020

Heres comes the sun

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19 de Junho de 2020

Anne Carson

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19 de Junho de 2020

I

I can hear little clicks inside my dream.
Night drips its silver tap
down the back.
At 4 A.M. I wake. Thinking

of the man who
left in September.
His name was Law.

My face in the bathroom mirror
has white streaks down it.
I rinse the face and return to bed.

Tomorrow I am going to visit my mother.

Anne Carson


19 de Junho de 2020

linhas da tarde

Vem esconder dentro de mim,
onde o teu ser a medo principia,
a longa curva sem rosto ou fim
de uma harmonia

que não escutes mas
fique suspensa como uma fonte:
-- desenho nu feito das
linhas da tarde e do horizonte...

Fernando Guimarães


18 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

Elizabeth V. Blackadder5.png


18 de Junho de 2020

há coisas assim

O meu amor não cabe num poema -- há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.

O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto --
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.

O meu amor não se deixa dizer -- é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.

O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome -- é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.

Maria do Rosário Pedreira


17 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

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17 de Junho de 2020

Jogar

O jogo: chegar sem ser notado
             anotar o rito
                           ritualizar

sobre os mistérios expor
ideias ao longo do percurso

atrás do muro refletir
raios ensolarados
e se dizer profeta

do jogo: arrematar cartas de amor
em caixas empoeiradas do passado

sem pressa
na discrição do inverno.

Pedro Du Bois


17 de Junho de 2020

Solstício de Verão

O Solstício de Verão ocorre no dia 20 de junho de 2020 às 22h44min, marcando o início da estação no hemisfério norte (a mais quente apesar da Terra vir a estar o mais longe do sol a 4 de Julho). O sol neste dia de solstício estará o mais alto possível no céu e aquando da sua passagem meridiana atingirá a altura máxima de 75° em Lisboa.


17 de Junho de 2020

Estações

No meio do Inverno, constatei que dentro de mim havia um Verão invencível.

Albert Camus


16 de Junho de 2020

Mary Webb

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16 de Junho de 2020

Um pouco de ti mesmo

Não te chamo para te conhecer
Eu quero abrir os braços e sentir-te
Como a vela de um barco sente o vento

Não te chamo para te conhecer
Conheço tudo à força de não ser

Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite

Sophia de Mello Breyner Andresen


15 de Junho de 2020

Casa dos Mundos Irrepetíveis

Se digo mãe, digo Itália; se digo avó, digo ilha,
se digo bisavô, digo Galiza; se digo trisavó, digo França
um tetravô na Grécia outro em Damasco;
um perdido na Índia cigana outra nas ruas da Palestina,
se chegar aos décimos avós sou de todos os lugares,
venho de todas as origens, concebido em todas as religiões;
venho de um pirata e seguramente de uma puta,
de um marajá e de uma cortesã, uma geisha
e um traficante de sedas; uma amazona das estepes
e um boiardo; um vizir e uma poeta,
família de assaltantes nos idos dos avós doze,
marinheiros das austrálias, perdidos nos infernos
de ser gente do mundo e no mundo parental
chego depois de várias incidências
a esta Lisboa remodelada; na Mouraria um primo
outro no Quartier, uma prima no Magrebe
outra em Moscovo e mais uma no Congo
e milhares no Brasil, o meu ADN é o mundo,
as minhas células do universo
sou um homem feito de mulheres em verso.
Nas minhas veias há um refugiado profundo
Afinal onde está o meu berço?

Luís Filipe Sarmento


14 de Junho de 2020

Mary Webb

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14 de Junho de 2020

Ostinato Rigore

O sangue matinal das framboesas
escolhe a brancura do linho para amar.


A manhã cheia de brilhos e doçura
debruça o rosto puro na maçã.


Na laranja o sol e a lua
dormem de mãos dadas.


Cada bago de uva sabe de cor
o nome dos dias todos do verão.


Nas romãs eu amo
o repouso no coração do lume.

Eugénio de Andrade


13 de Junho de 2020

Mary Webb

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13 de Junho de 2020

Aprendendo a voltar

a distância divisa o que resta
do trajeto: o horizonte fechado
ao acesso prenuncia o retorno

nada vejo
além
de onde
a vista
esconde
o resquício
da saudade

retornar é entornar a água
em que lembranças afogadas
se redimem na hora da partida

seguir após
a descoberta
torna obsoleta
a estrada

na entrada o túnel se bifurca
e o rosto se volta em acenos

Pedro Du Bois


12 de Junho de 2020

Paulo Querido

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12 de Junho de 2020

Efeitos Secundários

É bom estarmos atentos ao rodar do tempo
o outono por exemplo tem recantos entre
dia e noite ao pé de certos troncos indecisos
cercados um por um de sombras envolventes

Rente às árvores vamos, húmidos humildes
Dizem que é outono. Mas que época do ano
toca nestas paredes que roçamos
como gente que vai à sua vida
e não avista o mar, afinal símbolo de quanto quer,
ó Deus, ó mais redonda boca para os nomes das coisas
para o nome do homem ou o homem do homem?

Banho lustral de ausência é este tempo
de pés postos na terra em puro esquecimento

E vamo-nos perdendo de nós mesmos, vamos
dispersos em bocados, vítimas do vento
ficando aqui, ali, nalgum lugar que amamos
Nada mais do que terra há quem ao corpo nos prometa
Quem somos? Que dizemos?
Reúna-nos um dia o toque da trombeta

Ruy Belo


10 de Junho de 2020

Mary Webb

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10 de Junho de 2020

Por ti

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner


9 de Junho de 2020

Bernice Mary Evans

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9 de Junho de 2020

another poem

Remember that time you made the wish?

     I make a lot of wishes.

The time I lied to you
about the butterfly. I always wondered
what you wished for.

     What do you think I wished for?

I don't know. That I'd come back,
that we'd somehow be together in the end.

     I wished for what I always wish for.
     I wished for another poem.

Louise Glück


8 de Junho de 2020

Elizabeth V. Blackadder

Elizabeth V. Blackadder.jpg


8 de Junho de 2020

Meus

Meu tempo literário
musas ao alcance
cavalos alados  
e ao lado descrevo
a chuva cobrindo
os morros: estou
sobreposto ao corpo
que se recosta
e descansa: lírico vaso
aporcelanado em cacos
pelo chão: corações
desesperados em antigas
formas cristalizadas

meus motivos na lira
em que escuto a canção.

Pedro Du Bois


6 de Junho de 2020

In Itinere

Passará o tempo,
Passa sempre, o tempo, por nós e para nós
habitantes dos intervalos
repartidos seres de línguas partilhadas,
"Nós nunca mais voltaremos",
nós não podemos regressar.
Seria como perder o eco
e nós somos colecionadores de ecos;
Que seja só uma questão de tempo?
"Nós nunca mais voltaremos".
Somos cidadãos de Longe,
capital de Longínqua.
Morreremos portanto longe.
Mas, "longe de onde?"

José Barrias


6 de Junho de 2020

Lua cheia

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6 de Junho de 2020

O medo

O medo entranhado
no que conheço
começo marcado
na pele: mancha
das lembranças

sei do que sou capaz
tenho o medo estranhado
escondido na pele: sinceridade
                           e abnegação

o começo marca o espaço
delimita o gesto e no ato
conheço o corpo e a mente
em sentimentos aflora
no que guardo e o medo
explode na paixão.

Pedro Du Bois


5 de Junho de 2020

Francisco de Holanda

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5 de Junho de 2020

Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás se fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

Chico Buarque de Hollanda


4 de Junho de 2020

Zoya Odaynik-Samoilenko

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4 de Junho de 2020

Esta era a minha altura

Era a minha altura. Um livro
em cima da cabeça marcava
o lugar que um lápis semestralmente
riscava na parede da cozinha.
A única sabedoria dos ossos, crescerem
como a teia sólida de um propósito
e a anatomia mais transparente.
Centímetro a centímetro
espigava o corpo imaginário, essa contabilidade
que era assim, íntima, pictórica,
como uma cena burguesa.
Traço a traço a parede da cozinha
tornou-se rupestre,
a infância uma ternura assustadora.
Esta era a minha altura.
Agora sou tão mais alto e mais pequeno.

Pedro Mexia


3 de Junho de 2020

Das Folhas

Naquela tarde quebrada
contra o meu ouvido atento
eu soube que a missão das folhas
é definir o vento

Ruy Belo


2 de Junho de 2020

Ann Mary Newton

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2 de Junho de 2020

Deve ser preciso amor

Sejamos sérios:
O discurso poético está praticamente esgotado.

Nada pode ser dito que não tenha sido já escrito
mil e tal vezes melhor.
Muitos néscios, vários cultos e poderes
corroboram a apreciação

(muitos poetas e gente interessada, irrazoáveis que sejam,
não chegam ao ponto de desaceitar).

Os gregos disseram coisas lindas sobre o sexo, é verdade,
e os romanos não terão ficado atrás, com maior e magnífica
perversidade
(os tesouros de outros tempos e latitudes vão além das estórias contadas).

É manifestamente inconveniente julgar que a poesia vai para lá das novidades
e da invenção do cobre.

E impressionante, ver de onde nascem os elefantes:
deve ser preciso amor.

Rui A.


1 de Junho de 2020

Mary Ella Williams Dignam

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1 de Junho de 2020

Aprendendo a voltar

I

aprendo a voltar
e me perco
em recordações:

o passado
petrificado
em passos
o retorno
fechado
em acasos

aprendo ser a volta
o pior do encontro

o rasgo instantâneo
do corpo ao mistério.

Pedro Du Bois