Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de fevereiro 2006


28 de Fevereiro de 2006

In futurum

Blogues temáticos, em vez (?) dos diários mais ou menos intimistas. Pelo menos, é esta a tendência visível.


28 de Fevereiro de 2006

Dürer

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28 de Fevereiro de 2006

Together is (more than) enough

(para ti, provado o ar noutras paragens, repetidamente) Out of this same light, out of the central mind, We make a dwelling in the evening air, In which being there together is enough. Wallace Stevens


28 de Fevereiro de 2006

Just Walking Around

What name do I have for you? Certainly there is not name for you In the sense that the stars have names That somehow fit them. Just walking around, An object of curiosity to some, But you are too preoccupied By the secret smudge in the back of your soul To say much and wander around, Smiling to yourself and others. It gets to be kind of lonely But at the same time off-putting. Counterproductive, as you realize once again That the longest way is the most efficient way, The one that looped among islands, and You always seemed to be traveling in a circle. And now that the end is near The segments of the trip swing open like an orange. There is light in there and mystery and food. Come see it. Come not for me but it. But if I am still there, grant that we may see each other. John Ashbery


27 de Fevereiro de 2006

Seurat

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27 de Fevereiro de 2006

Quero-te

(gentileza de Amélia Pais) Quero-te às dez da manhã, e às onze, e às doze do dia. Quero-te com toda a minha alma e com todo o meu corpo, às vezes, nas tardes de chuva. Mas às duas da tarde, ou às três, quando me ponho a pensar em nós os dois, e tu pensas na comida ou no tra- balho diário, ou nas diversões que não tens, ponho-me a odiar-te surdamente, com a metade do ódio que guardo para mim. Mas logo volto a querer-te, quando nos deitamos e sinto que foste feita para mim, que de alguma forma mo dizem o teu joelho e o teu ventre, que as minhas mãos me convencem disso, e que não há outro lugar onde eu venha, aonde eu vá, melhor que o teu corpo. Tu vens toda inteira ao meu encontro, e desaparecemos os dois um instante, metemo-nos na boca de Deus, até que eu te diga que tenho fome ou sono. Todos os dias te quero e te odeio irremediavelmente. E há dias também, há horas, em que não te conheço, em que me és estranha como a mulher de outro. Preocupam-me os homens, preocupo-me comigo, distraem-me as minhas penas. É provável que não pense em ti durante muito tempo. Já vês. Quem poderia querer-te menos que eu, meu amor? Jaime Sabines


27 de Fevereiro de 2006

Poema

Oh la toujours plus rase solitude Des larmes qui montent aux cimes. Quand se déclare la débâcle Et qu'un vieil aigle sans pouvoir Voit revenir son assurance, Le bonheur s'élance à son tour, À flanc d'abîme les rattrape. Chasseur rival, tu n'as rien appris, Toi qui sans hâte me dépasses Dans la mort que je contredis. René Char


26 de Fevereiro de 2006

Orsay

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26 de Fevereiro de 2006

Immense et Rouge

Au-dessus du Grand Palais Le soleil d'hiver apparaît Et disparaît Comme lui mon coeur va disparaître Et tout mon sang va s'en aller S'en aller à ta recherche Mon amour Ma beauté Et te trouver Là où tu es. Jacques Prévert, in Paroles


22 de Fevereiro de 2006

Place des Vosges

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22 de Fevereiro de 2006

Words, Wide Night

Somewhere on the other side of this wide night and the distance between us, I am thinking of you. The room is turning slowly away from the moon. This is pleasurable.Or shall I cross that out and say it is sad?In one of the tenses I singing an impossible song of desire that you cannot hear. La lala la.See?I close my eyes and imagine the dark hills I would have to cross to reach you.For I am in love with you and this is what it is like or what it is like in words. Carol Ann Duffy


22 de Fevereiro de 2006

Leonardo da Vinci

leda2.jpg Leda


22 de Fevereiro de 2006

Casa

Tentei fugir da mancha mais escura que existe no teu corpo, e desisti. Era pior que a morte o que antevi: era a dor de ficar sem sepultura. Bebi entre os teus flancos a loucura de não poder viver longe de ti: és a sombra da casa onde nasci, és a noite que à noite me procura. Só por dentro de ti há corredores e em quartos interiores o cheiro a fruta que veste de frescura a escuridão. . . Só por dentro de ti rebentam flores. Só por dentro de ti a noite escuta o que sem voz me sai do coração. David Mourão Ferreira


21 de Fevereiro de 2006

Ninguém se aproxima

(gentileza de Amélia Pais) Ninguém se aproxima de ninguém se não for num murmúrio, entre flores altas:camélias de ar espancado, as labaredas dos aloés erguidas de uma carne difícil. A beleza que devora a visão alimenta-se da desordem. O espaço brilha dela, sussurra quando passa por uma imagem tão leve que não suporta o peso brusco do sangue - as veias da garganta contra a boca. Herberto Helder


21 de Fevereiro de 2006

Cartier-Bresson

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21 de Fevereiro de 2006

Barefoot

Loving me with my shows off means loving my long brown legs, sweet dears, as good as spoons; and my feet, those two children let out to play naked. Intricate nubs, my toes. No longer bound. And what's more, see toenails and all ten stages, root by root. All spirited and wild, this little piggy went to market and this little piggy stayed. Long brown legs and long brown toes. Further up, my darling, the woman is calling her secrets, little houses, little tongues that tell you. There is no one else but us in this house on the land spit. The sea wears a bell in its navel. And I'm your barefoot wench for a whole week. Do you care for salami? No. You'd rather not have a scotch? No. You don't really drink. You do drink me. The gulls kill fish, crying out like three-year-olds. The surf's a narcotic, calling out, I am, I am, I am all night long. Barefoot, I drum up and down your back. In the morning I run from door to door of the cabin playing chase me. Now you grab me by the ankles. Now you work your way up the legs and come to pierce me at my hunger mark Anne Sexton


21 de Fevereiro de 2006

Escher

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21 de Fevereiro de 2006

Taciturno

Há ouro marchetado em mim, a pedras raras, Ouro sinistro em sons de bronzes medievais - Jóia profunda a minha alma a luzes caras, Cibório triangular de ritos infernais. No meu mundo interior cerraram-se armaduras, Capacetes de ferro esmagaram Princesas. Toda uma estirpe real de heróis d´Outras bravuras Em Mim se despojou dos seus brazões e presas. Heráldicas-luar sobre impetos de rubro, Humilhações a liz, desforços de brocado; Basílicas de tédio, arneses de crispado, Insígnias de Ilusão, troféus de jaspe e Outubro... A ponte levadiça e baça de Eu-ter-sido Enferrujou - embalde a tentarão descer... Sobre fossos de Vago, ameias de inda-querer - Manhãs de armas ainda em arraiais de olvido... Percorro-me em salões sem janelas nem portas, Longas salas de trono a espessas densidades, Onde os panos de Arrás são esgarçadas saudades, E os divans, em redor, ânsias, lassas, absortas... Há roxos fins de Império em meu renunciar - Caprichos de setim do meu desdém Astral... Há exéquias de heróis na minha dor feudal - E os meus remorsos são terraços sobre o Mar... Mário de Sá-Carneiro


19 de Fevereiro de 2006

Van Gogh

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19 de Fevereiro de 2006

Escuro

Pergunto-me desde quando deixou de haver futuro nas janelas. Janeiro dói nos olhos como areia e tu e eu estamos para sempre sentados às escuras no Verão. Rui Pires Cabral


19 de Fevereiro de 2006

Ave Caesar

No bitterness: our ancestors did it. They were only ignorant and hopeful, they wanted freedom but wealth too. Their children will learn to hope for a Caesar. Or rather--for we are not aquiline Romans but soft mixed colonists-- Some kindly Sicilian tyrant who'll keep Poverty and Carthage off until the Romans arrive, We are easy to manage, a gregarious people, Full of sentiment, clever at mechanics, and we love our luxuries. Robinson Jeffers


19 de Fevereiro de 2006

Giorgio De Chirico

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19 de Fevereiro de 2006

Musée des Beaux Arts

About suffering they were never wrong, The Old Masters; how well, they understood Its human position; how it takes place While someone else is eating or opening a window or just walking dully along; How, when the aged are reverently, passionately waiting For the miraculous birth, there always must be Children who did not specially want it to happen, skating On a pond at the edge of the wood: They never forgot That even the dreadful martyrdom must run its course Anyhow in a corner, some untidy spot Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse Scratches its innocent behind on a tree. In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away Quite leisurely from the disaster; the ploughman may Have heard the splash, the forsaken cry, But for him it was not an important failure; the sun shone As it had to on the white legs disappearing into the green Water; and the expensive delicate ship that must have seen Something amazing, a boy falling out of the sky, had somewhere to get to and sailed calmly on. W.H. Auden


19 de Fevereiro de 2006

Passeio

D'in su la vetta della torre antica, passero solitario, alla campagna cantando vai finché non more il giorno; ed erra l'armonia per questa valle. Primavera d'intorno brilla nell'aria, e per li campi esulta, si ch'a mirarla intenerisce il core. Odi greggi belar, muggire armenti; gli altri augelli contenti, a gara insieme per lo libero ciel fan mille giri, pur festeggiando il lor tempo migliore: tu pensoso in disparte il tutto miri; non compagni, non voli, non ti cal d'allegria, schivi gli spassi; canti, e così trapassi dell'anno e di tua vita il più bel fiore. Giacomo Leopardi


18 de Fevereiro de 2006

Dalì

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18 de Fevereiro de 2006

Da vontade

Siempre, en todas las circunstancias de la vida, hay que procurar actuar desde una plataforma de serenidad, de equilibrio, de continuidad. No vale, porque algo sale bien o mal, transmitir una sensación de euforia o de desánimo a tu alrededor. La estabilidad emocional se logra a base de voluntad. Juan Miguel Villar Mir, entrevista a Miguel Janer, in La Gaceta del Lunes, ed. 16/1/2006.


18 de Fevereiro de 2006

Music

This shape without space, This pattern without stuff, This stream without dimension Surrounds us, flows through us, But leaves no mark. This message without meaning, These tears without eyes This laughter without lips Speaks to us but does not Disclose its clue. These waves without sea Surge over us, smooth us. These hands without fingers Close-hold us, caress us. These wings without birds Strong-lift us, would carry us If only the one thread broke. A.S.J. Tessimond


18 de Fevereiro de 2006

Vasari

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18 de Fevereiro de 2006

Uma qualquer vibração se inicia

Quando se abre uma concha e nasce um grão de areia ou uma planta estremece qualquer vibração se inicia e esta fina membrana que nos separa de tudo reacredita o horizonte em que navegamos o leme a talhar as rotas entre um astro e os navios a saltar as ondas como frutos metálicos na polpa do poema. João Martim


18 de Fevereiro de 2006

Georgia O´Keeffe

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18 de Fevereiro de 2006

Quase primavera

(gentileza de Amélia Pais) Tenho na minha frente a fada de sal cuja túnica recamada de cordeiros desce até ao mar Cujo véu pregueado de queda em queda ilumina toda a montanha. Ela brilha ao sol como um lustro de água iridiscente E os pequenos oleiros da noite serviram-se das suas unhas onde a lua não se reflecte para moldar o serviço de café da beladona. O tempo enrodilha-se miraculosamente detrás dos seus sapatos de estrelas de neve ao longo dum rasto perdido nas carícias de dois arminhos. Os perigos anteriores foram ricamente repartidos e mal extintos os carvões no abrunheiro bravo das sebes pela serpente coral que sem custo passa por um delgado filete de sangue seco na lareira profunda sempre sempre esplendidamente negra Esta lareira onde aprendi a ver e sobre a qual dança sem cessar o crepe das costas das primaveras Aquele que é necessário lançar muito alto para dourar a mulher em cujos cabelos encontro o sabor que perdera O crepe mágico o sinete voador do amor que é nosso. André Breton, tradução de Nicolau Saião.


18 de Fevereiro de 2006

Silêncio-memória

O problema é como transformar as palavras em silêncio. António Lobo Antunes, entrevista a Ana Marques Gastão, in DN, suplemento 6ª, ed. 17/2/06.


17 de Fevereiro de 2006

Escher

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17 de Fevereiro de 2006

The Cat And The Moon

The cat went here and there And the moon spun round like a top, And the nearest kin of the moon, The creeping cat, looked up. Black Minnaloushe stared at the moon, For, wander and wail as he would, The pure cold light in the sky Troubled his animal blood. Minnaloushe runs in the grass Lifting his delicate feet. Do you dance, Minnaloushe, do you dance? When two close kindred meet. What better than call a dance? Maybe the moon may learn, Tired of that courtly fashion, A new dance turn. Minnaloushe creeps through the grass From moonlit place to place, The sacred moon overhead Has taken a new phase. Does Minnaloushe know that his pupils Will pass from change to change, And that from round to crescent, From crescent to round they range? Minnaloushe creeps through the grass Alone, important and wise, And lifts to the changing moon His changing eyes. William Butler Yeats


16 de Fevereiro de 2006

Dalì

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16 de Fevereiro de 2006

Sad Steps

Groping back to bed after a piss I part the thick curtains, and am startled by The rapid clouds, the moon's cleanliness. Four o'clock: wedge-shaped gardens lie Under a cavernous, a wind-picked sky. There's something laughable about this, The way the moon dashes through the clouds that blow Loosely as cannon-smoke to stand apart (Stone-coloured light sharpening the roofs below) High and preposterous and separate— Lozenge of love! Medallion of art! O wolves of memory! Immensements! No, One shivers slightly, looking up there. The hardness and the brightness and the plain far-reaching singleness of that wide stare Is a reminder of the strength and pain Of being young; that it can't come again, But is for others undiminished somewhere. Philip Larkin


16 de Fevereiro de 2006

Da lua

(ou a busca de uma excelente desculpa) People have blamed the moon for crazy behavior for a long time, at least since the Middle Ages. We've even made a word out of it. Lunatic means "moonstruck," if you trace the word to its Latin roots.


16 de Fevereiro de 2006

Doisneau

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16 de Fevereiro de 2006

Essere Dio

(gentileza de Amélia Pais) Crente é pouco sê-te Deus e para o nada que é tudo inventa caminhos teus. Agostinho da Silva


16 de Fevereiro de 2006

Inadmissível

Texto aqui.


15 de Fevereiro de 2006

I Made A Mistake

I reached up into the top of the closet and took out a pair of blue panties and showed them to her and asked "are these yours?" and she looked and said, "no, those belong to a dog." she left after that and I haven't seen her since. she's not at her place. I keep going there, leaving notes stuck into the door. I go back and the notes are still there. I take the Maltese cross cut it down from my car mirror, tie it to her doorknob with a shoelace, leave a book of poems. when I go back the next night everything is still there. I keep searching the streets for that blood-wine battleship she drives with a weak battery, and the doors hanging from broken hinges. I drive around the streets an inch away from weeping, ashamed of my sentimentality and possible love. a confused old man driving in the rain wondering where the good luck went. Charles Bukowski


15 de Fevereiro de 2006

Estrelas

Encosta a cabeça a estas nuvens acariciadoras em seguida dorme deixa a tua melancolia opaca de planeta bailar na praça do sonho. Deixa as estrelas desta noite serem só o antigo cântico dos bosques e os teus versos os rios que atrás ficaram a brilhar. João Martim


15 de Fevereiro de 2006

Vermeer

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14 de Fevereiro de 2006

Juke Box Love Song

I could take the Harlem night and wrap around you, Take the neon lights and make a crown, Take the Lenox Avenue busses, Taxis, subways, And for your love song tone their rumble down. Take Harlem's heartbeat, Make a drumbeat, Put it on a record, let it whirl, And while we listen to it play, Dance with you till day-- Dance with you, my sweet brown Harlem girl. Langston Hughes


14 de Fevereiro de 2006

Nem me avisto

Não vejo a minha branca sombra nem me avisto ao longe partir do sol que recua mas sei que os peixes nadam nos meus olhos a saudade das distâncias sulcadas num rio como o sangue percorrido. João Martim


14 de Fevereiro de 2006

Guido Reni

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13 de Fevereiro de 2006

Her Kind

I have gone out, a possessed witch, haunting the black air, braver at night; dreaming evil, I have done my hitch over the plain houses, light by light: lonely thing, twelve-fingered, out of mind. A woman like that is not a woman, quite. I have been her kind. I have found the warm caves in the woods, filled them with skillets, carvings, shelves, closets, silks, innumerable goods; fixed the suppers for the worms and the elves: whining, rearranging the disaligned. A woman like that is misunderstood. I have been her kind. I have ridden in your cart, driver, waved my nude arms at villages going by, learning the last bright routes, survivor where your flames still bite my thigh and my ribs crack where your wheels wind. A woman like that is not ashamed to die. I have been her kind. Anne Sexton


13 de Fevereiro de 2006

Escher

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12 de Fevereiro de 2006

Ferida

(gentileza de Amélia Pais) Regresso, depois da litania, à contemplação sem voz. A memória da música é amarga, quando estou só. Os quartetos de Beethoven arrancam-me uma parte do corpo em substância. Ferida, terei de ir ainda à cidade dia a dia. Fiama Hasse Pais Brandão


12 de Fevereiro de 2006

Ordo ab chao

Depois do caos, a ordem. A agitação iniciada aotempo do solstício prolongou-se, tempestuosa e telúrica, por todo um mês lunar, acabando por ser vencida pela mais forte das razões. E o que não nos mata...


12 de Fevereiro de 2006

Degas

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12 de Fevereiro de 2006

Near The Wall Of A House

Near the wall of a house painted to look like stone, I saw visions of God. A sleepless night that gives others a headache gave me flowers opening beautifully inside my brain. And he who was lost like a dog will be found like a human being and brought back home again. Love is not the last room: there are others after it, the whole length of the corridor that has no end. Yehuda Amichai


12 de Fevereiro de 2006

Chegada

A chegada é um novo ponto de partida.


10 de Fevereiro de 2006

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10 de Fevereiro de 2006

Nunca se dar

Este nunca se dar agora nos vermelhos como ferros em brasa que entretanto se esfumam Nunca se dar, em negros, só, entre lobo e cão, branco como parede nem ao menos um ocre Ser que se escamoteia entre o roxo e seu não - os intervalos flavos, glauco estar mas em vão Nunca, sequer em tons, quebram-se, lascas roxas, sons se afogam na boca, nesta troca de nãos Régis Bonvicino


9 de Fevereiro de 2006

Guido Reni

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9 de Fevereiro de 2006

A propósito de jóias

Aubade As I would free the white almond from the green husk So I would strip your trappings off, Beloved. And fingering the smooth and polished kernel I should see that in my hands glittered a gem beyond counting. Amy Lowell


9 de Fevereiro de 2006

It so happens...

In this world we walk on the roof of hell, gazing at flowers. Kobayashi Issa, trad. Robert Hass.


9 de Fevereiro de 2006

Anéis

Em Saturno, um novo anel. Círculos de poeiras cósmica, bem mais longe, em novos sistemas solares. E ainda mais além, no centro rigoroso de um universo invisível, em linhas concêntricas de prata aquecida e moldada em infinitos grãos de tempo, um anel à escala humana. Por vezes, demasiado humana. Najusta medida.


9 de Fevereiro de 2006

Escher

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9 de Fevereiro de 2006

Uma questão de liberdade

Porque a liberdade importa, e o seu único limite é a lei que garante a coexistênciade direitos fundamentais.


8 de Fevereiro de 2006

Reservado ao Veneno (porque há dias assim)

Hoje é um dia reservado ao veneno e às pequeninas coisas teias de aranha filigranas de cólera restos de pulmão onde corre o marfim é um dia perfeitamente para cães alguém deu à manivela para nascer o sol circular o mau hálito esta cinza nos olhos alguém que não percebia nada de comércio lançou no mercado esta ferrugem hoje não é a mesma coisa que um búzio para ouvir o coração não é um dia no seu eixo não é para pessoas é um dia ao nível do verniz e dos punhais e esta noite uma cratera para boémios não é uma pátria não é esta noite que é uma pátria é um dia a mais ou a menos na alma como chumbo derretido na garganta um peixe nos ouvidos uma zona de lava hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo com sirenes ao crepúsculo a trezentos anos do amor a trezentos da morte a outro dia como este do asfalto e do sangue hoje não é um dia para fazer a barba não é um dia para homens não é para palavras António José Forte


8 de Fevereiro de 2006

Ansel Adams

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8 de Fevereiro de 2006

Toda a metáfora

Toda a metáfora nos contém: de nós é feita em um pedaço e nada mais. Como se fôssemos tragados pela força de seu poder desnudo e de nós morrêssemos de súbito. Toda a metáfora nos sustém / onde não estamos como se estivéssemos. E sempre nos guarda a margem a que falta o rio para nos banharmos. E além, muito além de para lá, talvez outros nos banhemos em um rio sem a margem. Toda a metáfora nos mantém um pouco aquém dela e de ninguém. Luís Adriano Carlos


8 de Fevereiro de 2006

Bellows

countedout.jpgbellows.jpg countdown (ou a metáfora da vida toda)


7 de Fevereiro de 2006

Rafael

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7 de Fevereiro de 2006

Trespasse

E pronto, a casa está trespassada. Para mãos seguras, é evidente. Mas é um bom momento, apesar disso, para experimentar viver o modus num espaço outro, próprio e "desenraizado". A mudança será feita em breve.


7 de Fevereiro de 2006

Escher

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7 de Fevereiro de 2006

Névoa

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço sem dormir, ao relento da vida. É inútil dizer-me que as acções têm consequências. É inútil eu saber que as acções usam consequências. É inútil tudo, é inútil tudo, é inútil tudo. Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma. Tinha agora vontade De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado, De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo. Não vem com a tarde oportunidade nenhuma. Álvaro de Campos


6 de Fevereiro de 2006

Escher

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6 de Fevereiro de 2006

Um lapso à escuta

Não há exaltação este novelo de sombras e nos ouvidos a carne descansa o seu abecedário. Tornei-me este planeta por ofício. Alguns colegas pedem: capelas, luxos, alquimias. E outros puxam, palavra por palavra, peixes de silêncio. São atletas de Deus. E eu confirmo. também já conheci os mais puros exercícios do espírito. E eu ainda: devagar, em órbita fechada, no tempo, o melhor templo. Armando Silva Carvalho


5 de Fevereiro de 2006

Monet

monet00.jpg Em memória de Jorge Tracana de Carvalho, que sabia olhar.


5 de Fevereiro de 2006

Corrente

Ainda visto por Alice R.:o período da paixão, do envolvimento, da adrenalina, dura entre doze e dezoito meses. Depois, há que substituir a adrenalina por serotonina (fim de citação mais ou menos precisa). Chega o tempo da conformação ao real, a necessidade de fazer check and balance, e a persistência ou a desistência tomam lugar onde lhes compete: ao leme.


5 de Fevereiro de 2006

Mudança 2

Alice R. é uma mulher brilhante, alguém que atenta no mundo com maturidade e inteligência invulgares. Interessada no comportamento espelhado nos blogues, tem vindo a estudar, do ponto de vista psicológico, um universo onde denota as formas de exposição emocional que, sobretudo no caso das mulheres, compõem a própria razão de ser do blogue. E explica com clareza esta estranha forma de actuar no espaço virtual como se de um mundo "real" se tratasse: este fechar de espaços onde se viveu de modo mais ou menos público uma relação amorosa que se afigura terminada é o sinal da decisão, porventura tomada bastante tempo antes, de partir, de abrir outro espaço, de se permitir um fresh start (que nunca é fresh, embora se possa ser mais forte). E se há blogues de ambos os parceiros, a necessidade de fechar pode ser sentida por simulacro, por solidariedade, por desnorte. Tantas razões para comportamentos, afinal, tão comuns.


5 de Fevereiro de 2006

Mau jeito

Eu sei que eu tenho um jeito Meio estúpido de ser E de dizer coisas que podem magoar e te ofender Mas cada um tem o seu jeito Todo próprio de amar e de se defender Você me acusa e só me preocupa Agrava mais e mais a minha culpa Eu faço, e desfaço, contrafeito O meu defeito é te amar demais Palavras são palavras E a gente nem percebe o que disse sem querer E o que deixou pra depois Mais o importante é perceber Que a nossa vida em comum Depende só e unicamente de nós dois Eu tento achar um jeito de explicar Você bem que podia me aceitar Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser Mas é assim que eu sei te amar Isolda/Milton Carlos (cantado por Maria Bethânia)


5 de Fevereiro de 2006

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5 de Fevereiro de 2006

Vida

Porque foste na vida A última esperança Encontrar-te me fez criança Porque já eras meu Sem eu saber sequer Porque és o meu homem E eu tua mulher Porque tu me chegaste Sem me dizer que vinhas E tuas mãos foram minhas com calma Porque foste em minh'alma Como um amanhecer Vinicius de Moraes


5 de Fevereiro de 2006

Mudança

O modus já tinha encontrado um novo endereço, uma rua outra onde continuar a procurar o seu caminho, mas quem ia ajudar à mudança não está disponível. Vou ficando por aqui, a arrumar a "tralha" sobrante, até ver.


4 de Fevereiro de 2006

Retrato

Fiel, em simetria. O abandono da casa interior custa, a invasão da casa ao lado dói.


4 de Fevereiro de 2006

Sem pesar, ou quase

Ninguém a outro ama, senão que ama O que de si há nele, ou é suposto. Nada te pese que não te amem. Sentem-te Quem és, e és estrangeiro. Cura de ser quem és, amam-te ou nunca. Firme contigo, sofrerás avaro De penas. Ricardo Reis


4 de Fevereiro de 2006

Hopper

hopper.summer-interior.jpg Imagem que ainda estava por pendurar nesta parede...


3 de Fevereiro de 2006

Poema desencantado num recanto

Apenas corpos à flor da terra Deixem que a noite passe sobre os nossos corpos, gorda de ventos e manchada de estrelas a perguntar de novo pelos filhos, a acenar com asas de aviões distantes, a abrir luzes fantásticas nas ruas, a dançar nua e negra como os deuses selvagens. Seremos indiferentes como espelhos, solenes como árvores antigas, horizontais, sólidos e surdos aos seus gritos de guerra e às falsas músicas que nos possa trazer. Apenas corpos à flor da terra sabemos de cor as curvas e os tons, um sinal, uma rosa entre os dedos, uma cicatriz funda, um pássaro na testa da nossa geografia humana e comovente. Apenas corpos à flor da terra ao sol nos abriremos de mãos dadas. António Rebordão Navarro


2 de Fevereiro de 2006

Em arrumações

(para a Guida Q., por tudo e por nada) É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol É peroba do campo, é o nó da madeira Caingá, candeia, é o Matita Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira É a viga, é o vão, festa da cumeeira É a chuva chovendo, é conversa ribeira Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho No rosto o desgosto, é um pouco sozinho É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando É a luz da manhã, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um resto de mato, na luz da manhã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração É uma cobra, é um pau, é João, é José É um espinho na mão, é um corte no pé É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã É um belo horizonte, é uma febre terçã São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração Tom Jobim


1 de Fevereiro de 2006

Hopper

hopper.summer-evening.jpg Presente de despedida, enquanto se procura nova casa...