Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de março 2009


31 de Março de 2009

Flor do Mar

És da origem do mar, vens do secreto, do estranho mar espumaroso e frio que põe rede de sonhos ao navio e o deixa balouçar, na vaga, inquieto. Possuis do mar o deslumbrante afeto, as dormências nervosas e o sombrio e torvo aspecto aterrador, bravio das ondas no atro e proceloso aspecto. Num fundo ideal de púrpuras e rosas surges das águas mucilaginosas como a lua entre a névoa dos espaços... Trazes na carne o eflorescer das vinhas, auroras, virgens músicas marinhas, acres aromas de algas e sargaços... Cruz e Sousa


31 de Março de 2009

Férias

1019414_beach_silhouette.jpg reivindicação urgente


31 de Março de 2009

aula de pintura

enquanto enrubesço me ensina a pintar com o corpo me ensina a perder os medos e a poder sujar as pontas dos dedos as unhas e as palmas das mãos nas tintas de todas as cores enquanto enrubesço em vinho tinto sê meu mestre amor Cyana Leahy-Dios


30 de Março de 2009

Just hiding

I hide myself within my flower, That fading from your Vase, You, unsuspecting, feel for me— Almost a loneliness. Emily Dickinson


30 de Março de 2009

Noturnos

Meus noturnos amanhecem em tuas alvoradas e continuam dia a fora noite a dentro invertendo fuso horários enlouquecidos pela falta das estrelas. Cynara Novaes


30 de Março de 2009

Franz Xavier Winterhalter

Zofia_Potocka_Countess_ZamoyskaFranz%20Xaver%20Winterhalter.jpg Condessa Zamoyska, de sua graça Zofia Potocka, ou (re)vestir a formalidade


30 de Março de 2009

o irresistível anseio de viajar

(gentileza de Amélia Pais) Muito acima das nuvens seja o centro das nossas misteriosas poéticas o irresistível anseio de viajar um só movimento trabalhado à mão nos ermos mais altos mais desaparecidos Mário Cesariny


29 de Março de 2009

Frestas

Busca que extasia: Festa. Apanhar pelafresta Do haicai, a poesia. Cyro Armando Catta Preta


29 de Março de 2009

Réstia

Pela telha-vã se embrenha o sol e desenha no chão a manhã Cyro Armando Catta Preta


29 de Março de 2009

Carl Larsson

Carl_Larsson_Model_writing_postcards_1906.jpg tempo para pôr a escrita em dia


29 de Março de 2009

Rumo(r) de Réu

Única testemunha das fraquezas e sobressaltos mastigas o tempo da mais difícil prova, tua inocência. No erro persegues estes céus sonoros, o verde da lei, o ouro da justiça. Réu confesso risco permaneces da coisa julgada entre o nascituro sopro e o silêncio soberbo. Cyro de Mattos


28 de Março de 2009

Sagamar

Mar ave ilha dessa vaga na milha vento lavrador nessa língua crespa poreja o sal nessa mão azul um sol que ama em cada verde veia de saga ardor do signo viga de velejar mastro que te veste ao mar de silêncio dardo dúbio do vento Cyro de Mattos


28 de Março de 2009

Guimarães

guimar%C3%A3es.jpg sábado no norte, para assistir à mesa redonda desta manhã na II Convenção de Jornalistas, promovida pelo Gabinete de Imprensa (GI) de Guimarães, no Centro Cultural Vila Flor. O tema é "O jornalismo e as novas tecnologias".


28 de Março de 2009

Lugar

Ainda que seja um grão no deserto o poema é meu lugar onde tudo arrisco. Irriga minhas veias como a chuva à terra em suas mil línguas. Antigo, bem antigo, me anuncia no vale, me consuma real, viajante cativo da solidão solidária. Sem esse jeito de ser flor e vento, sonho e música, uma coisa só amor, não há o espanto, a lágrima, o beijo, o riso, o epitáfio, não há o sentido. Cyro de Mattos


28 de Março de 2009

Carl Larsson

Carl_Larsson_The_Bridge_1912.jpg (mais) outro dia


27 de Março de 2009

A leitura

Meus olhos resgatam o que está preso na página: o branco do branco e o preto do preto Herberto Helder


26 de Março de 2009

Half life is over

Half life is over now, And I meet full face on dark mornings The bestial visor, bent in By the blows of what happened to happen. What does it prove? Sod all. In this way I spent youth, Tracing the trite untransferable Truss-advertisement, truth. Philip Larkin


26 de Março de 2009

Carl Larsson

Karincarl%20larsson.jpg Karin Larsson aproveitando a brevidade da primavera


26 de Março de 2009

Os Teus Olhos

Quando se esgotaram os caminhos que a razão poderia aconselhar-nos abrem-se os teus olhos, e com eles tudo volta a inundar-se da luz escura que dá sentido ao mundo e à minha vida Amalia Bautista


25 de Março de 2009

Sem vontade

"Donde pode nascer o amor? Talvez de uma súbita falha do universo, talvez de um erro, nunca de um acto de vontade." Marguerite Duras


25 de Março de 2009

Carl Larsson

a%20My-Eldest-Daughter-Carl-Larsson-215367.jpg pausa matinal


24 de Março de 2009

Do tempo

Entre os livros e o som tão quase nada passa corpo a corpo o universo em cada célula só uma caixa de sombra resguarda na poeira o tempo o templo o tempo. Vasco Costa Marques


24 de Março de 2009

La récitante

Mes talents sont nombreux je sais signer la bête Et m'alléger d'aurore tout comme une alouette Je sais faire pleurer les plus indifférents Et rire bêtement ceux qui se croient malins Paul Éluard


24 de Março de 2009

Razões

Por que me cobra o que não devo senhor de todos os créditos avaro espírito sobre meus ombros? Por que me assopra poeira nos olhos senhor de todos os ventos bufão espírito sobre meu rosto? Porque me afoga em águas paradas senhor de todos os líquidos imóvel espírito sobre meu corpo? Por que me isola em escuros cantos senhor de todas as línguas incomunicável espírito sobre minhas letras? Por que me imola em estéreis aras senhor de todas as vidas sacrificado espírito sobre minha fertilidade? Pedro Du Bois


23 de Março de 2009

A Uma Bailarina Negra no “The Little Savoy”

Vinha nova Da noite ao ritmo de jazz, Lábios Frescos como orvalho púrpura, Seios Como almofadas de todos os sonhos doces, Quem esmagou As uvas do prazer E deitou o sumo Sobre ti? James Langston Hughes


23 de Março de 2009

Madrigal

Y aunque no me quisieras te querría por tu mirar sombrío, como quiere la alindra al nuevo día, sólo por el rocío. García Lorca


23 de Março de 2009

Julius Schnoor von Carolsfeld

Julius%20Schnoor%20von%20Carolsfeld2.jpg segunda feira sem sol, ou a exigência de arranjar força para construir uma nova semana


23 de Março de 2009

the silent Word

If the lost word is lost, if the spent word is spent If the unheard, unspoken Word is unspoken, unheard; Still is the unspoken word, the Word unheard, The Word without a word, the Word within The world and for the world; And the light shone in darkness and Against the Word the unstilled world still whirled About the centre of the silent Word. T.S. Eliot


22 de Março de 2009

Inner Man

It isn't the body That's a stranger. It's someone else. We poke the same Ugly mug At the world. When I scratch He scratches too. There are women Who claim to have held him. A dog Follows me about. It might be his. If I'm quiet, he's quieter. So I forget him. Yet, as I bend down To tie my shoelaces, He's standing up. We caste a single shadow. Whose shadow? I'd like to say: "He was un the beginning And he'll be in the end," But one can't be sure. At night As I sit Shuffling the cards of our silence, I say to him: "Though you utter Every one of my words, You are a stranger. It's time you spoke." Charles Simic


22 de Março de 2009

Carl Larsson

Woman-Lying-on-a-Bench--1913-Carl-Larsson-300921.jpg domingo, enfim


22 de Março de 2009

sem resposta

Jornada paciente a minha. Tremendo é o silêncio. Escuta, ouve. Todas as perguntas voltam sem resposta e os pródigos imaculados vivos perderam o caminho do céu. Ana Marques Gastão


21 de Março de 2009

Love is word

Coal is the total black, being spoken from the earth's inside. There are many kinds of open how a diamond comes into a knot of flame how sound comes into a words, coloured by who pays what for speaking. Some words are open like a diamond on glass windows singing out within the crash of sun Then there are words like stapled wagers in a perforated book—buy and sign and tear apart— and come whatever will all chances the stub remains an ill-pulled tooth with a ragged edge. Some words live in my throat breeding like adders. Other know sun seeking like gypsies over my tongue to explode through my lips like young sparrows bursting from shell. Some words bedevil me Love is word, another kind of open. As the diamond comes into a knot of flame I am Black because I come from the earth's inside Now take my word for jewel in the open light. Audre Lorde


21 de Março de 2009

Carl Larsson

V%C3%A5ren_%281907%29_av_Carl_Larsson.jpg primeiro sábado de Primavera


21 de Março de 2009

Acima das nuvens

No alto de uma montanha acima das nuvens Que ondulam como um mar a meus pés Eu disse aquele cume é o pensamento de Buda, E aquele uma oração de Jesus, E este aqui um sonho de Platão, E aquele além uma canção de Dante, E este é Kant e este Newton, E este é Milton e este é Shakespeare, E este a esperança da Santa Madre Igreja, E este – mas todos estes cumes são poemas, Poemas e orações que perfuram as nuvens. E eu disse “ Que faz Deus com as montanhas Que sobem quase até ao céu?” Edgar Lee Masters, trad. de Manuel Domingos


20 de Março de 2009

Além

Além do pensamento riscar ao autor o fósforo incendiado no desafio de se fazer luz. Incinerar a ideia do autor na velocidade antecedente. Roubar ao autor a solidez da pedra deslocada: a entrada ilumina o inexistente. Pedro Du Bois


20 de Março de 2009

Franz Xavier Winterhalter

446px-Grand_Duchess_Alexandra_IosifovnaFranz%20Xaver%20Winterhalter.jpg Grã-Duquesa Alexandra, ou uma 6ªfeira a rigor


20 de Março de 2009

Early Nightingale

When first we hear the shy-come nightingales, They seem to mutter o'er their songs in fear, And, climb we e'er so soft the spinney rails, All stops as if no bird was anywhere. The kindled bushes with the young leaves thin Let curious eyes to search a long way in, Until impatience cannot see or hear The hidden music; gets but little way Upon the path—when up the songs begin, Full loud a moment and then low again. But when a day or two confirms her stay Boldly she sings and loud for half the day; And soon the village brings the woodman's tale Of having heard the new-come nightingale. John Clare


20 de Março de 2009

Do sentir

Sentimentos fogem São flutuantes coloridos nos lábios do vento Amarre teu sentir ao meu com fio sólido Não permita o esvaziar das palavras São não razões que nos podem perder Nossas visões nas faces, nas costas e mãos Em espelhos multifacetados e equinócio febril O desvéu da matéria agoniza entre os verbos E uma palavra pode ser avessa ao reverso O mundo diverte-se com nossos olhos-sentir Escalando gargantas em gargalhada líquida Criando ao redor do corpo lagos e simulacros Peixes dançantes em excesso de sal E um gosto de coisas pré-sentidas O silêncio instiga o parto em gritos Ele tem a fome do estômago invisível Auto devora-se em palavras-labirinto Na dança o véu da noite deixa a vista Nosso calcanhar de Aquiles emancipado E correndo para o mar se recebe O abraço esfacelado das ondas Sereias e pérolas que nos escapam Iva Tai


19 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

Mrs_Violet_HammersleyPhilip%20Wilson%20Steer.jpg Mrs. Violet Hammersley, ousob o signo da primavera


19 de Março de 2009

No espelho do tempo

arte, palavras, ar, amor a que mais um homem pode aspirar? asas translúcidas azuladas sonhos que tecem um novo tempo um voo de seres luminosos, flutuantes a essência do amor: aquilo que verdadeiramente amas permanecerá doce e eterno na lembrança Cristiane Grando


18 de Março de 2009

Dürer

768px-Albrecht_D%C3%BCrer_L%C3%BCsterweibchen_2.jpg quem reconhecer a imagem, saberá porquê...


18 de Março de 2009

Da eternidade

(gentileza de Amélia Pais) Um gato, em casa, sozinho, sobe à janela para que, da rua, o vejam. O sol bate nos vidros e aquece o gato que, imóvel, parece um objecto. Fica assim para que o invejem - indiferente mesmo que o chamem. Por não sei que privilégio, os gatos conhecem a eternidade. Nuno Júdice


18 de Março de 2009

Do amor

E alguém disse: Fala-nos do Amor. - Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus caminhos sejam duros edifíceis. E quando assuas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir. E quando vos falar, acreditai nele ; apesar de a sua voz poder quebrar os vossos sonhos como o vento norte ao sacudir os jardins. Porque assim como o vosso amor vos engrandece, também pode crucificar-vos; E assim como se elevaà vossa altura e acaricia os ramos mais frágeis que tremem ao sol, também penetrará até às raízes, sacudindo o seu apego à terra. Khalil Gibran


18 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

What_of_the_WarPhilip%20Wilson%20Steer.jpg a par com o mundo


17 de Março de 2009

The Waning Moon

And like a dying lady, lean and pale, Who totters forth, wrapped in a gauzy veil, Out of her chamber, led by the insane And feeble wanderings of her fading brain, The moon arose up in the murky east, A white and shapeless mass. Percy Bysshe Shelley


17 de Março de 2009

Once By The Pacific

The shattered water made a misty din. Great waves looked over others coming in, And thought of doing something to the shore That water never did to land before. The clouds were low and hairy in the skies, Like locks blown forward in the gleam of eyes. You could not tell, and yet it looked as if The shore was lucky in being backed by cliff, The cliff in being backed by continent; It looked as if a night of dark intent Was coming, and not only a night, an age. Someone had better be prepared for rage. There would be more than ocean-water broken Before God's last Put out the light was spoken. Robert Frost


17 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

Girl_and_St_Bernard_Dog_1899Philip%20Wilson%20Steer.jpg suavidade em tons sépia


17 de Março de 2009

A alegria da maternidade

À noite faço trabalhos perigosos. Ato cordéis compridos de janela para janela e penduro jornais clandestinos. Que queres, a poesia já não dá. Já outros disseram tudo, dizem. E depois, há já muitas que cantam a alegria da maternidade. A minha filha nasceu como todos os bebés. Ao que parece vai deitar fortes pernas para correr rápida nas manifestações. Jenny Mastoráki, tradução de Manuel Resende


16 de Março de 2009

Apego

"Agora, dependia daquele lugar, apegara-se a ele com a obstinação com que apenas nos apegamos às coisas que nos fazem mal." Paolo Giordano, in A Solidão dos Números Primos, trad. José J.C. Serra


16 de Março de 2009

Noronha da Costa

Mulher%20na%20praia%20Noronha%20da%20Costa.jpg mulher na praia, à flor do mar


16 de Março de 2009

Penélope

(gentileza de Amélia Pais) Hoje desfiz o último ponto, A trama do bordado. No palácio deserto ladra O cão. Um sibilo de flechas Devolve-me o passado. Com os olhos da memória Vejo o arco Que se encurva, A força que o distende. Reconheço no silêncio A paz que me faltava, (No mármore da entrada Agonizam os pretendentes). O ciclo está completo A espera acabada. Quando Ulisses chegar A sopa estará fria. Myriam Fraga


15 de Março de 2009

À superfície

"Houve essa vez e houve muitas outras, de que Alice já não se recordava, porque o amor de quem não amamos deposita-se à superfície e evapora-se rapidamente." Paolo Giordano, in A Solidão dos Números Primos, trad. José J.C. Serra


15 de Março de 2009

Noronha da Costa

Mulher%20no%20barco%2C%20Noronha%20da%20Costa.jpg mulher no barco, em jogo de azuis


15 de Março de 2009

Quem é, quem sou

Escondo-me nas areias desertas Meu refúgio sereno da solidão Foi do medo do dragão do castelo que me perdi no mar morto a confusão Chamas Tramas Susto Fuga Corro de susto, de medo do bicho Um monstro verde, enorme e comilão Pra onde fugir, aonde me esconder? Aonde fica o coração do dragão? Prédios que se desmoronam Guerras que enterram um milhão Carros, bandidos, fantasmas Nada é pior que o dragão (...) Estranho Me zango Não entendo Me rendo! Foi do medo desse dragão Que tanto chorei, nunca o entendi Não te encontro, ó dragão chefe do mundo Que se decide realiza, só por existir! Ai, dragão tão escuro! Que tanto susto me deu Ah, se desde o início eu já soubesse Que esse enorme dragão... sou só eu. Cristine Gerk


15 de Março de 2009

Perguntas

Pergunto pelo incômodo de estar adiante (o tempo desnecessário da semente enquanto seca espécie) onde se depositam futuros. Respondo palavras retornadas ao vento: alertas lamentos lamúrias deixo em aberto o extrato do aprofundar da memória em lendas redescobertas (a reação do tempo ao mistério: choro o incômodo da ausência). Pedro Du Bois


14 de Março de 2009

A Gota

O fim de um temporal ou o fruto do orvalho. Prenúncio de um dia quente rolando num rosto suado. O cheiro da comida gostosa escorrendo da boca aflita. Início de um drama doméstico brotando insuspeita no telhado A Gota, o fim, o que faltava. O transbordar de uma emoção contida no olhar doente e cansado Ou a tremida no canto d´olho da noiva feliz com o noivado. O presente maldito do pombo num dia amaldiçoado A gota, o fim, o que faltava O limite de um homem cansado Uma bolha de proteção contra o medo na ilusão da criança abandonada A explosão do orgasmo feminino. O fim do alívio da bexiga. O líquido derramando do copo. O cabelo molhado da moça. A gota, o fim, o que faltava. O varal, a torneira, a louça. O limite, a gota d´água. Cristine Gerk


14 de Março de 2009

Palestina

As nossas tristezas escondemo-las nas jarras, temendo Que os soldados as vejam e celebrem o cerco… Escondemos-las por futuras causas, Tendo em vista uma celebração, Uma surpresa ao longo do caminho. Quando a vida for normal, Sentiremos tristeza como toda a gente, por pessoais motivos Hoje ocultados pelos grandes slogans. Esquecemos as nossas pequenas chagas que sangravam. Amanhã, quando o sítio sarar, Sentiremos os seus efeitos secundários. Mahmoud Darwich


14 de Março de 2009

Ingeborg Kuhn

Ingeborg%20Kuhn.jpg cores subtis


14 de Março de 2009

Inefável

Nada há que me domine e que me vença Quando a minha alma mudamente acorda... Ela rebenta em flor, ela transborda Nos alvoroços da emoção imensa. Sou como um Réu de celestial sentença, Condenado do Amor, que se recorda Do Amor e sempre no Silêncio borda De estrelas todo o céu em que erra e pensa. Claros, meus olhos tornam-se mais claros E tudo vejo dos encantos raros E de outras mais serenas madrugadas! Todas as vozes que procuro e chamo Ouço-as dentro de mim porque eu as amo Na minha alma volteando arrebatadas Cruz e Sousa


13 de Março de 2009

Duras as palavras

Também são cruas e duras as palavras e as caras Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte É um rei que nos visita e nos cobre de mirra. Sussurras: ah, a vida é líquida. Hilda Hilst


13 de Março de 2009

Ingeborg Kuhn

Kuhn%20Ingeborg.jpg fim de semana a cores


13 de Março de 2009

Do amor único

"Amor e morte. Dois corpos enrolados na sua própria rede, dois corpos numa praia, um livro aberto, um verso de Omar Kayham. O teu nome é Pandora, senhora do acaso. Podes chegar a qualquer momento, abrir o saco dos ventos, desencadear a tempestade, morrer comigo no mar imaginário do amor único." Manuel Alegre, in A Terceira Rosa


13 de Março de 2009

Sol Nascente

Que faz com que o dia descubra aos poucos a rubra jóia que escondia? Barroso Gomes


12 de Março de 2009

Franz Xavier Winterhalter

Franz_Xaver_Winterhalter_Leonilla_Princess_of_Sayn_Wittgenstein_Sayn.jpg Princesa Leonilla de Sayn-Wittgenstein-Sayn, retratada em 1843 e famosa na época pela beleza e inteligência


12 de Março de 2009

Esperança

Verde hora. Verdura. Na hera da primavera, a espera, ânsia pura. Barroso Gomes


11 de Março de 2009

(excerto) O que fere não é a dor é sua ausência assassina pendurada nos cabides da alma Batista de Lima


11 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

On_the_River_Blackwater_MaldonPhilip%20Wilson%20Steer.jpg procurar um rio...


11 de Março de 2009

Não Será por Acaso

Aurora da minha vida, Que os anos não trazem mais! Os anos não, nem os dias, Que isso cabe às cotovias. Manuel Bandeira


11 de Março de 2009

Portas Abertas

Somos todos sonhos, Uma realidade discreta. Cada um em sua forma poeta. Mostra em teus olhos negros, Leves toques meigos, Como a brisa e o coração. Saudade do teu gosto, Sim, daquele rosto. As portas que eternamente Ficaram no tempo, solidão... Bedermino Betat Leite


10 de Março de 2009

William Etty

etty.jpg à noite


10 de Março de 2009

Irrelevância

Na irrelevância do tempo o desencontro se ausenta: nomes apostos mestres se renovam em mesmas coisas homens opostos a vaidade adjetiva colegas decompostos em amizades: O bem resolvido caso de estarem juntos homens dispostos. Pedro Du Bois


10 de Março de 2009

Força

Amadureceu em mim esta palavra e pronta para o voo, depois de exaurir o que ofertava a ela o corpo gasto pelo esforço surdo da criação, deslizou pela boca.E agora que resta, cumprido este exercício lento e grave da revelação, se apenas o arremedo, ineficaz ensaio de verdade, foi alcançado?Resta a exaustão, mãos trêmulas, a cara contra o chão, resta o lamento.Resta o reinício, a longa e calcinada espera.Resta-me reter a força para o outro gesto. Bento Prado Júnior


10 de Março de 2009

Princípio

Na paixão de um homem, na inquietude das feras, no vermelho que o fio da lâmina provoca o olho acostumado a perscrutar as máscaras, as almas, o que não se confessa. Na origem profunda do ser Onde tudo começa na sua luta contra o tempo e contra a natureza em tudo há o desgaste em tudo o conflito se apresenta raiz do ataque e defesa há o mar, a fúria do mar e a força da rocha que o enfrenta. Bruna Lombardi


10 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

Philip%20Wilson%20Steer.jpg a lembrar outros molhes


9 de Março de 2009

Noite

Há duas pombas brancas no telhado. Junto delas pousa o silêncio do dia já parado, e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo. É tarde nos telhados e nas árvores, é tarde (triste e mais tarde) nessa rua que se reabriu no fundo de um olhar, onde se movem ressurrectos mármores e começam a discorrer ventos e velas por sobre a limpidez das mesmas águas velhas, e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar. Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes, alongam a última distância, somem a luz que se destece e a linha dos caminhos, apagam o verde prado. Não há duas pombas brancas no telhado: sobre elas, seu voo e seu arrulho ausentes a lápide sem cor das horas desce. Abgar Renault


9 de Março de 2009

Poemeto matinal

O ar da manhã beija a minha face. A minha alma beija o ar leve da manhã e olha a paisagem longínqua da cidade, que branqueja alegremente na distância e sorri humanamente um sorriso branco no caiado das casas que montam os flancos das colinas azuis e espiam pelos olhos escancarados das janelas. (....) Abgar Renault


8 de Março de 2009

Franz Xavier Winterhalter

The_Spring%20Franz%20Xaver%20Winterhalter.jpg depois do inverno


8 de Março de 2009

Poema escolhido

(para algumas mulheres de quem gosto) No one's fated or doomed to love anyone. The accidents happen, we're not heroines, they happen in our life like car crashes, books that change us, neighborhoods we move into and come to love. Tristan und Isolde is scarcely the story, women at least should know the difference between love and death. No poison cup, no penance. Merely a notion that the tape-recorder should have caught some ghost of us: that tape-recorder not merely played but should have listened to us, and could instruct those after us: this we were, this is how we tried to love, and these are the forces they had ranged against us, and these are the forces we had ranged within us, within us and against us, against us and within us. Adrienne Rich


8 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

jeune_femme_sur_la_plagePhilip%20Wilson%20Steer.jpg dia internacional da mulher


8 de Março de 2009

Humildade

Minha humildade de água me trouxera ao mais íntimo pó do pós de ti e rira à desatada primavera os ouros e cristais que ela sorri. Trajada de urze, barro, líquen e hera, ficara em desbotado e eterno aqui, marcando, à tinta de ar, pelo ar a espera de se entreabrirem tempestades e silêncios para os lumes do teu passo. Modelara-me em terra ou limo crasso para ser teu desdém, objeto ou chão. Vivera no final de selva e furna, tornara o coração ilha noturna, século, inverno a dormir o teu clarão. Abgar Renault


7 de Março de 2009

Alma

uma alma apaixonada sempre sempre a vagar entre mil e uma estrelas pousa em um sorrateiro bosque que recebe raios de uma rósea lua se precipita ansiosa em um precipício arcaico em cujo fundo chão se debatem almas encobertas pela carne que de si mesmas se esqueceram e que vivem à cata de vis e escusas nobrezas que nada mais são que momentâneos delírios e gozos extemporâneos ela também se perde e encontra peso e substância à medida que se entorpece e que mais baixo desce em cada dia que respira odores que lhe provocam estertores quando é subjugada por lunáticos vampiros que se chamam os donos destes medonhos domínios Abilio Terra Junior


7 de Março de 2009

Haicai

Na estrada deserta, um simples cair de folhas quebrou o silêncio. Abel Pereira


7 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

Girls_Running_Walberswick_PierPhilip%20Wilson%20Steer.jpg sugestão de sábado, quando o sol espreita


7 de Março de 2009

O azul é uma cor volúvel

(gentileza de Amélia Pais) Quando partires, em direcção a Ítaca, que a tua jornada seja longa (...) Konstantinos Kavafis Se ao longe imaginares Ítaca, que não te dê saudades. Uma ilha é um monte sem caminhos. Descansam nela as aves migratórias, e a gente que a povoa gasta o tempo a sonhar aonde irão as aves no seu alto voo quando partirem. E sobretudo Ulisses há-de segui-las com os olhos, lembrando-se de Circe. O azul, digo-te, é uma cor volúvel, e o céu e o mar são só desertos. Nuno Dempster


7 de Março de 2009

Alucinação

Corpos que tangem guitarras ao manto de um dia que não nasceu bocas simples escritas como lápides curtas louvam amores desconhecidos naquele tom sustenido um besouro mortal vermes no vaso três pontos em outras línguas humores chegam na placa ruiva olhar negro Abilio Terra Junior


6 de Março de 2009

Franz Xavier Winterhalter

Young_Italian_Franz%20Xaver%20Winterhalter.jpg aproveitar os momentos de descanso


6 de Março de 2009

Chuva

Desce pelo vidro uma gota de chuva desce pelo vidro da janela e outra mais e outra mais estou sozinho através da janela o céu claro deixa a água cair está frio lá fora o céu se abre eu me protejo da chuva como um caracol tantas gotas marcam as poças d’ água vejo que o mundo desaba em forma de chuva e as gotas uma a uma descem pelo vidro da janela eu sou um caracol e a chuva não me atinge lento e atento vejo as gotas de chuva que descem pelo vidro da janela além a luz do céu as gotas de chuva rápidas e exatas contrastam com a minha lentidão de caracol que vê a chuva tímido e absorto o céu é claro e aquoso eu um simples caracol que observa o vendaval árvores agitam suas folhas e um único trovão ressoa profunda e solenemente por todo o céu cônscio da sua gravidade Abilio Terra Junior


6 de Março de 2009

Esperanto

No azul da língua uma esperança sem mapa: vôo do escuro. Abrão Cost'Andrade


6 de Março de 2009

Tissot

Spring1865James%20Tissot.jpg quase primavera


6 de Março de 2009

Floresta

Se me tens no contraído corpo tenso pretensa hora da chegada a escravidão a escuridão no desencontro tido pérfido espírito que me espiona espia soslaio arranhado de teus olhos imensamente perdida em torrentes tu és noite e mar em fúria telúrico sentimento sobreposto ao mistério do que tens: a mim em subterfúgio e esdrúxulo corpo despido em festa, tu és a floresta. Pedro Du Bois


5 de Março de 2009

Existência

1 a rosa murchou (era uma existência) sua cor disse o que deveria (em silêncio) ao contato com o sol 2 nenhuma outra forma tem a rosa a não ser a do seu corpo nenhum outro encanto contaminando manhãs a rosa é ela nem nome precisaria para transformar a paisagem Ad Rocha


5 de Março de 2009

Arte poética

Car nous voulonsla nuance encore, Pas la couleur, rien que la nuance Verlaine


5 de Março de 2009

Frida Kahlo

FridaKahlo1929b.JPG o peso de ser


5 de Março de 2009

Nenhum alívio

há mil poemas temas diversos versos atravessados à espreita na janela e outros por baixo da mesa sobem pelas pernas semi abertas a luz se apaga arde um poema pelas coxas um trema atravessado um fado interrompido um imenso pecado nenhum alívio Adair Carvalhais Júnior


4 de Março de 2009

Escultura

Eu já te amava pelas fotografias. Pelo teu ar triste e decadente dos vencidos, Pelo teu olhar vago e incerto Como o dos que não pararam no riso e na alegria. Te amava por todos os teus complexos de derrota, Pelo teu jeito contrastando com a glória dos atletas E até pela indecisão dos teus gestos sem pressa. Te falei um dia fora da fotografia Te amei com a mesma ternura Que há num carinho rodeado de silêncio E não sentiste quantas vezes Minhas mãos usaram meu pensamento, Afagando teus cabelos num êxtase imenso. E assim te amo, vendo em tua forma e teu olhar Toda uma existência trabalhada pela força e pela angústia Que a verdade da vida sempre pede E que interminavelmente tens que dar!... Adalgisa Nery


4 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

The_Swiss_Alps%20Philip%20Wilson%20Steer.jpg manhã entre árvores floridas e céu em tons anil


4 de Março de 2009

Poema natural

Abro os olhos, não vi nada Fecho os olhos, já vi tudo. O meu mundo é muito grande E tudo que penso acontece. Aquela nuvem lá em cima? Eu estou lá, Ela sou eu. Ontem com aquele calor Eu subi, me condensei E, se o calor aumentar, choverá e cairei. Abro os olhos, vejo um mar, Fecho os olhos e já sei. Aquela alga boiando, à procura de uma pedra? Eu estou lá, Ela sou eu. Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei. Quando a maré baixar, na areia secarei, Mais tarde em pó tomarei. Abro os olhos novamente E vejo a grande montanha, Fecho os olhos e comento: Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo, Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento? Eu estou lá, Ela sou eu. Adalgisa Nery


3 de Março de 2009

William Etty

Etty_Youth_1832.jpg algumas nuvens noutro céu


3 de Março de 2009

Mitologia Marinha

Esta que vem do mar por entre os ventos, Sacudindo as espumas dos cabelos, Vem molhada de azul nos pensamentos, Seu corpo oculta a ilha dos segredos. Vem e dança ao andar sobre as areias Húmidas sob os passos e os desejos, Onde as ancas são ondas em cadeias Infinitas de luz contra os espelhos. Nem precisa de flor nem de perfume, Ela é a própria essência do ciúme, Feita de mito e se fazendo estrela. Vem – dança – e passa aos fogos do verão – Fantasia da última estação. Explodiu na vertigem da beleza. Adelmo Oliveira


2 de Março de 2009

Pássaro

Eu canto e se cantar por solidão A rosa em mim floresce no silêncio Ninguém perturbe a paz deste momento Em cuja fantasia eu me transvio Muito menos turve a água desta fonte Que bebo para o instante inumerável – Acaso sei de mim que transitório Sustento um pé na terra outro no espaço Sou, pássaro de pedra sou. Jamais Neguei de expor ao sol meu corpo duro – Tenho postura de animal correto Falo também a mesma língua escrita Irmão que sou de tua solidão Oh navegante além da mesma rota Adelmo Oliveira


2 de Março de 2009

Dürer

venetianalbrechtdurer.jpg Retrato de jovem veneziana (dedicado ao Jaime Roriz, que visita o modus à procura de beleza)


2 de Março de 2009

Prisioneiro

Se gritasse meus algozes escutariam e se não fosse minha hora de tortura e aflição não me procurariam para saber do meu grito sozinho estou e continuo não tenho a hora e o tempo se repete e se altera no que não sinto nem percebo que exista (...) Pedro Du Bois


1 de Março de 2009

Philip Wilson Steer

SouthwoldPhilip%20Wilson%20Steer.jpg memória em azul


1 de Março de 2009

Poema a los Amigos

(presente de F. Loureiro) No puedo darte soluciones para todos los problemas de la vida, ni tengo respuesta para tus dudas o temores, pero puedo escucharte y compartirlo contigo. No puedo cambiar tu pasado ni tu futuro. Pero cuando me necesites estaré junto a ti. No puedo evitar que tropieces. Solamente puedo ofrecerte mi mano para que te sujetes y no caigas. Tus alegrías. tus triunfos y tus éxitos no son míos. pero disfruto sinceramente cuando te veo feliz. No juzgo las decisiones que tomes en la vida. me limito a apoyarte a estimularte y a ayudarte si me lo pides. No puedo trazarte límites dentro de los cuales debes actuar, Pero sí te ofrezco ese espacio necesario para crecer. No puedo evitar tu sufrimiento cuando alguna pena te parta el corazón, Pero puedo llorar contigo y recoger los pedazos para armarlo de nuevo. No puedo decirte quien eres ni quien deberías ser. Solamente puedo amarte como eres y ser tu amigo. En estos días pensé en mis amigos y amigas, No estabas arriba, ni abajo ni en medio. No encabezabas ni concluías la lista. No eras el número uno ni el número final. Dormir feliz. Emanar vibraciones de amor. Saber que estamos aquíde paso. Mejorar las relaciones. Aprovechar las oportunidades. Escuchar al corazón. Acreditar la vida. Y tampoco tengo la pretensiónde ser el primero el segundo o el tercero de tu lista. Basta que me quieras como amigo. Gracias por serlo. Jorge Luis Borges


1 de Março de 2009

Franz Xavier Winterhalter

Countess%20Olga%20Shuvalova%201858%20Franz%20X%20Winterhalter.jpg Condessa Olga Shuvalova, ou a placidez de uma tarde de domingo


1 de Março de 2009

Balada dos Erros de um Profeta

Joys laugh not! Sorrows weep not! William Blake Trago para dentro do mundo Longos dias sem manhã Longas noites sem aurora – Estrelas caídas de bruços No vazio Trago para dentro do mundo A Voz – signo obscuro do medo Grito de silêncio devorado pela esfinge – Pedra-enígma da mente Na vertigem Trago para dentro do mundo O Sol – zodíaco das trevas – Touro selvagem empalhado Cuja língua vomita da boca Sangue coagulado Trago para dentro do mundo A Terra – bólide errante das esferas – Assobio de náufragos e transeuntes cegos Que trauteia um eco surdo nos ouvidos E nos passos que se perdem Trago para dentro do mundo A Lua – corvo branco da noite Que ludibria o terror das sombras Que dissimula a morbidez da loucura E afia seus punhais contra o desespero dos dragões Trago para dentro do mundo Este navio sem origem – Este porto sem mar Cuja âncora atraca na raiz das ruínas Arquivos de ilusão Trago para dentro do mundo Aquilo que é o meu corpo Aquilo que é a minha alma – Sopro veloz de um único suspiro Entre o início do princípio e o ocaso do fim Adelmo Oliveira


1 de Março de 2009

O Poeta

(gentileza de Amélia Pais) O poeta teve de chorar muitos dias e noites antes de se tornar poeta. Com trinta anos apenas, o poeta já tinha chorado muito pelos outros. Ser poeta quer dizer: estender as mãos. Ser poeta quer dizer: consolação. O poeta está sempre ao lado dos aflitos, dos pobres, dos sofredores. Neste mundo de desigualdade, ele é irmão de todos os solitários. O poeta nunca se encontra sozinho, ele alberga em si toda a sabedoria do povo. Por fim, emudecido, o poeta morre para que renasça como poema. Ele é, para sempre, uma estrela fiel no firmamento. Ko Un