Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de abril 2007


30 de Abril de 2007

Odes

I Não sei se o sonho que tenho É o sonho que sonho. A mesma Chuva que irriga os vales, Inunda as pequenas aldeias. A lua sobre os amantes risonhos É a mesma, Sombria nos bosques escuros. II Se creres que podes: Tenta. Arrisca a perder-te, Mas desbrava longe. Arrisca à deriva, Mas navega além do horizonte. Melhor é a certeza da derrota Que a vitória na possibilidade. Se creres que podes: Ousa. Confia em ti. III As tuas esperanças Deposita-as em ti. As pedras do teu jardim, Remove-as. Planta as tuas sementes, Varre os teus canteiros, Rega as tuas árvores. Não esperes que o vento Limpe o chão do teu Outono. Limpa-o tu. Sê teu estro. IV Reina sobre ti, Mas não como um César: ergue o teu polegar. Calígula perscruta As viscosidades do teu corpo: reina sobre ti. Estrangula o Iscariotes Nas tuas mãos avarentas: Reina sobre ti. V A mesma terra que calcamos É a manta que nos recama no sono da sepultura. Como uma brisa beijando as ramagens, Passamos... Após dormirmos As folhas cinzas, Ao pé das árvores No Outono alheio, Todos os anos Ainda assim Sobrevirão. Daniel Mazza


30 de Abril de 2007

Ontem

Poema que aconteceu Nenhum desejo neste domingo nenhum problema nesta vida o mundo parou de repente os homens ficaram calados domingo sem fim nem começo. A mão que escreve este poema não sabe o que está escrevendo mas é possível que se soubesse nem ligasse. Carlos Drummond de Andrade


30 de Abril de 2007

Raoux

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30 de Abril de 2007

Dualismo

Teu rosto é claro se meu sonho é escuro, só vens me visitar quando não quero, andas perdido quando te procuro, se mais confio em ti mais desespero, se buscas o passado sou futuro. Se dizes a verdade és insincero, se temo tua face estou seguro, se chegas ao encontro não te espero. Bem sei que em nosso olhar refulge o nada, que somos, afinal, a negação mais funda, mais sombria e desolada. Como lograr, meu Deus, reparação, enquanto segues longe pela estrada, de nossa irreparável solidão? Marco Lucchesi


30 de Abril de 2007

Homenagem a Pessoa

Sem filosofia. É melhor viver só com os sentidos falar da natureza sem saber o que ela é só por amá-la ser um carro de boi e não um homem: não ter esperanças, só rodas nem rugas ou cabelo branco para quando tirar a máscara e se olhar no espelho (que reflete certo porque não pensa) não ter envelhecido Uma vez Portugal foi só nevoeiro tudo disperso, nada inteiro mas, tendo sido todo e inteiro, pra que serviu? qualquer mendigo invejo agora só por não ser eu Senta-te à porta de casa para apreciar os campos que, afinal, são mais verdes para quem foi rejeitado contenta-te com o espetáculo do mundo só de sentir calor e frio e vento já vale a pena ter nascido mesmo não tendo sido amado Ana Guimarães


29 de Abril de 2007

La Hyre

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29 de Abril de 2007

Reminiscências

Vento que vem do Sul, veloz e cantante, para fazer as nuvens negras do meu céu cantarem. Relâmpagos covardes penetram nas nuvens e desmancham o espetáculo da dança no espaço. Chuvas caem, formam enxurradas. Minha mente retrocede: Lembro-me da infância, quando soltava barquinhos de papel. Amir Calixto Sabbag


29 de Abril de 2007

Innamorato IV

Ai, tecelã da eterna poesia, um pouco mais de ti em mim e eu voaria! Nem me dês teus frutos. Basta que sorrias. Não mereço mais. Artur Eduardo Benevides


29 de Abril de 2007

Arrumações II

Ainda os livros, esse material perigoso - mudá-los de casa, tirar o pó, ordenar nas novas estantes (às vezes, a dúvida impertinente: que ordem? a do primeiro ou do último nome do autor? e o problema do género, nos casos fronteira?). E as lembranças inúteis que estão coladas aos livros - quem os ofereceu, quando os comprámos, onde foram lidos ou, se não chegaram a sê-lo, porquê. Os livros, com estórias em volta, pessoalíssimos detalhes de vida.


29 de Abril de 2007

Dou

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29 de Abril de 2007

Engano & esperança

Se por experiência se adivinha, Qualquer grande esperança é grande engano. Camões Se por experiência se adivinha se pela nuvem se conhece o vento se por amor dormimos ao relento sob o orvalho dos seios da vizinha Se o mar gorjeia, pássaro e elemento se põe seus ovos antes da galinha se o rei decreta a morte da rainha e dela se liberta o pensamento. Se o corpo volta à infância da caverna se a esfinge nos decifra e nos devora se a volúpia do enigma nos governa Se viver ou morrer é sempre um dano se o acaso nos golpeia antes da aurora qualquer grande esperança é grande engano. Francisco Carvalho


29 de Abril de 2007

Innamorato III

Estar contigo é sempre amanhecer. É sentir que o sol de repente toca em mim com a doçura do que se põe no azul a florescer. Artur Eduardo Benevides


29 de Abril de 2007

Le Sueur

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29 de Abril de 2007

Viagem

Era na sombra Que eu te queria No grão noturno Onde é gerada A solidão (Esta dos vivos Que já provei Na tua boca). Era no sono Que eu te queria Para cobrir-te Com a algidez Da estrela morta Que me alumia. Era na morte Que eu te queria Além da cal Além do húmus Tão infiltrados E diluídos Para a substância Da jovem folha Do amargo fruto. Os teus cabelos Teus olhos vivos As tuas mãos E a tua boca Em mim (tão mortos) Nesta viagem Para o silêncio Subterrâneo Donde esta vida Vive e renasce Como uma flor. Era na morte Já sem mistério. Era na morte Já sem segredo. Jorge Medauar


29 de Abril de 2007

Slingeland

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28 de Abril de 2007

The Choice

He'd have given me rolling lands, Houses of marble, and billowing farms, Pearls, to trickle between my hands, Smoldering rubies, to circle my arms. You- you'd only a lilting song, Only a melody, happy and high, You were sudden and swift and strong- Never a thought for another had I. He'd have given me laces rare, Dresses that glimmered with frosty sheen, Shining ribbons to wrap my hair, Horses to draw me, as fine as a queen. You- you'd only to whistle low, Gayly I followed wherever you led. I took you, and I let him go- Somebody ought to examine my head! Dorothy Parker


28 de Abril de 2007

Innamorato II

Estar sem ti é estar em silêncio de montanha sem existir montanha. É ficar em desterro, ou regressar, calado, de um enterro e tomar lentamente um copo de vinho, sozinho. Artur Eduardo Benevides


28 de Abril de 2007

Slingeland

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28 de Abril de 2007

Clemente's Images V

I'll tell you what you want, to say a word, to know the letters in yourself, a skin falls off, a big eared head appears, an eye and mouth. Robert Creeley


28 de Abril de 2007

Innamorato I

O som de tua voz é um ramo a nascer da árvore da vida. Com medo de perder-te, sempre que chegas sinto o travo da partida. E quero ficar à tua margem — Ó rosa e Mar! — e ver tua leveza de pássaro a voar. Artur Eduardo Benevides


27 de Abril de 2007

Rysselberghe

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27 de Abril de 2007

Geografia íntima do deserto

II - A presença dolorosa do deserto Teu nome é meu deserto e posso senti-lo incrustado no meu próprio território como uma pérola ou um gesto no vazio como o amargo azul e tudo quanto há de ilusório. Teu nome é meu deserto e ele é tão vasto, seus dentes tão agudos, seus sóis raivosos e suas letras (setas de ouro e prata dos meus lábios) são meu terço de mistérios dolorosos. Micheliny Verunschk


27 de Abril de 2007

Slingeland

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27 de Abril de 2007

Geografia íntima do deserto

I - O corpo amoroso do deserto Teu corpo branco e morno (que eu deveria dizer sereno) é para mim suave e doloroso como as areias cortantes dos desertos. Que importa que ignores minha sede se tua miragem é água cristalina? E a miragem eu firo com mil línguas e cada uma é um pássaro a bebê-la. Ferroam minha pele escorpiões de sol com seu veneno e vejo, magoada de desejo os grãos tão leves indo embora ao vento. Micheliny Verunschk


27 de Abril de 2007

Terborch

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27 de Abril de 2007

The Naked And The Nude

For me, the naked and the nude (By lexicographers construed As synonyms that should express The same deficiency of dress Or shelter) stand as wide apart As love from lies, or truth from art. Lovers without reproach will gaze On bodies naked and ablaze; The Hippocratic eye will see In nakedness, anatomy; And naked shines the Goddess when She mounts her lion among men. The nude are bold, the nude are sly To hold each treasonable eye. While draping by a showman's trick Their dishabille in rhetoric, They grin a mock-religious grin Of scorn at those of naked skin. The naked, therefore, who compete Against the nude may know defeat; Yet when they both together tread The briary pastures of the dead, By Gorgons with long whips pursued, How naked go the sometime nude! Robert Graves


26 de Abril de 2007

Vermeer

vermeer_wine.jpg Outro chão quadriculado...


26 de Abril de 2007

Plenitude

A pedra, o vento, a luz alteada, o salso mar eterno, o grito do mergulhão, sob o infinito azul: — Deus não me deve nada. Hélio Pellegrino


26 de Abril de 2007

Terborch

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26 de Abril de 2007

Quase Canção para Ficar

Quase sem saber eu me feri Quase sem querer eu me fechei Quase sem porquê eu me exalei Quase sem mim eu me perdi em meio a multidão. Cynara Novaes


26 de Abril de 2007

Pantoum Of The Great Depression

Our lives avoided tragedy Simply by going on and on, Without end and with little apparent meaning. Oh, there were storms and small catastrophes. Simply by going on and on We managed. No need for the heroic. Oh, there were storms and small catastrophes. I don't remember all the particulars. We managed. No need for the heroic. There were the usual celebrations, the usual sorrows. I don't remember all the particulars. Across the fence, the neighbors were our chorus. There were the usual celebrations, the usual sorrows Thank god no one said anything in verse. The neighbors were our only chorus, And if we suffered we kept quiet about it. At no time did anyone say anything in verse. It was the ordinary pities and fears consumed us, And if we suffered we kept quiet about it. No audience would ever know our story. It was the ordinary pities and fears consumed us. We gathered on porches; the moon rose; we were poor. What audience would ever know our story? Beyond our windows shone the actual world. We gathered on porches; the moon rose; we were poor. And time went by, drawn by slow horses. Somewhere beyond our windows shone the actual world. The Great Depression had entered our souls like fog. And time went by, drawn by slow horses. We did not ourselves know what the end was. The Great Depression had entered our souls like fog. We had our flaws, perhaps a few private virtues. But we did not ourselves know what the end was. People like us simply go on. We had our flaws, perhaps a few private virtues, But it is by blind chance only that we escape tragedy. And there is no plot in that; it is devoid of poetry. Donald Justice


26 de Abril de 2007

Metsu

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26 de Abril de 2007

Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança, Toldam-se os olhos donde corre a vida. Porquê esperar, porquê, se não se alcança Mais do que a angústia que nos é devida? Antes aproveitar a nossa herança De intenções e palavras proibidas. Antes rirmos do anjo, cuja lança Nos expulsa da terra prometida. Antes sofrer a raiva e o sarcasmo, Antes o olhar que peca, a mão que rouba, O gesto que estrangula, a voz que grita. Antes viver do que morrer no pasmo Do nada que nos surge e nos devora, Do monstro que inventámos e nos fita. José Carlos Ary dos Santos


25 de Abril de 2007

Canção tão simples

Quem poderá domar os cavalos do vento quem poderá domar este tropel do pensamento à flor da pele? Quem poderá calar a voz do sino triste que diz por dentro do que não se diz a fúria em riste do meu país? Quem poderá proibir estas letras de chuva que gota a gota escrevem nas vidraças pátria viúva a dor que passa? Quem poderá prender os dedos farpas que dentro da canção fazem das brisas as armas harpas que são precisas? Manuel Alegre


25 de Abril de 2007

Zurbaran

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25 de Abril de 2007

O Primeiro Dia

A principio é simples, anda-se sozinho passa-se nas ruas bem devagarinho está-se bem no silêncio e no burburinho bebe-se as certezas num copo de vinho e vem-nos à memória uma frase batida hoje é o primeiro dia do resto da tua vida Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo diz-se do passado, que está moribundo bebe-se o alento num copo sem fundo e vem-nos à memória uma frase batida hoje é o primeiro dia do resto da tua vida E é então que amigos nos oferecem leito entra-se cansado e sai-se refeito luta-se por tudo o que se leva a peito bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito e vem-nos à memória uma frase batida hoje é o primeiro dia do resto da tua vida Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja olha-se para dentro e já pouco sobeja pede-se o descanso, por curto que seja apagam-se dúvidas num mar de cerveja e vem-nos à memória uma frase batida hoje é o primeiro dia do resto da tua vida Enfim duma escolha faz-se um desafio enfrenta-se a vida de fio a pavio navega-se sem mar, sem vela ou navio bebe-se a coragem até dum copo vazio e vem-nos à memória uma frase batida hoje é o primeiro dia do resto da tua vida E entretanto o tempo fez cinza da brasa e outra maré cheia virá da maré vazia nasce um novo dia e no braço outra asa brinda-se aos amores com o vinho da casa e vem-nos à memória uma frase batida hoje é o primeiro dia do resto da tua vida. Sérgio Godinho


25 de Abril de 2007

Nascer do Dia

Que amor não me engana Com a sua brandura Se de antiga chama Mal vive a amargura Duma mancha negra Duma pedra fria Que amor não se entrega Na noite vazia E as vozes embarcam Num silêncio aflito Quanto mais se apartam Mais se ouve o seu grito Muito à flor das águas Noite marinheira Vem devagarinho Para a minha beira Em novas coutadas Junto de uma hera Nascem flores vermelhas Pela Primavera Assim tu souberas Irmã cotovia Dizer-me se esperas O nascer do dia José Afonso


25 de Abril de 2007

25 de Abril

25abril-thumb.jpg Porque valeu a pena.


24 de Abril de 2007

Pensamentos, estações

Pensamentos, estações Todas as roupas a menos para mais um verão E o coração na boca e a árvore que Só tem frutas vermelhas Quando o menos é mais E, ao espreguiçar-se no chão, telefone na mão, junto à cama desfeita, alguém percebe que: Religiões e ideologias foram arquivadas até o Inverno! Lucia Ribeiro da Silva


24 de Abril de 2007

Fábula

Um homem De madrugada e silêncio Caminhava Sob as árvores do parque Depois Nascendo grávidas e eternas As suas mãos transitavam acesas entre as raízes Por muito tempo Antes de acontecer. Lycio Neves


24 de Abril de 2007

Schalcken

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24 de Abril de 2007

Relume

Pedra, sólida rocha escondida sob a terra rodeada pelo silêncio dos séculos sozinha, quieta, imóvel. Formação natural lava vulcânica cristal de rocha sedimentada, preciosa pedra, mineral. Tempo que tece a textura das cores forja o reluzente reflexo - diamante bruto, instantâneo. Sonho que salta ofuscante, belo - lavra de garimpeiro. Mundo - negra mina exaurida, põe à nú vasta desolação. Uma réstia de tua grande luz permanece comigo e vence toda a escuridão. Flávio Villa-Lobos


24 de Abril de 2007

Counting

Thinking in terms of one Is easily done— One room, one bed, one chair, One person there, Makes perfect sense; one set Of wishes can be met, One coffin filled. But counting up to two Is harder to do; For one must be denied Before it's tried. Philip Larkin


24 de Abril de 2007

Morisot

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24 de Abril de 2007

O Romance das Estações

na pele sem que ninguém ensine escreve-se o romance das estações é para inquietar no tempo o vôo e sua penugem guardada entre o colorido da memória das asas a boca do tempo é sábia na sua risada boa pascal mudam as estações explosão que incendeia sem levantar fogo do teu sorriso saem flores a mão não sabe mas a alma alcança Cissa de Oliveira


23 de Abril de 2007

Norte

Minha fome é outra. Não aquela que abre um buraco negro no estômago - vazio invisível, que da boca algum alimento lácteo - via esôfago - cessa prontamente até a próxima angústia. Minha fome é outra. Não um simples estar-no-mundo, como disse Drummond - o universo para mim é pouco. Minha fome salta como louca, labareda intrépida num incêndio grandioso. Ela me devorará ainda que eu entregue os pontos; a eternidade é uma tosca linha de partida no horizonte, a cegar-me o olho. Sim, minha fome é outra - indigesta, não toca as iguarias da estalagem. Não tem nome, nem forma, nem nada. Apenas remove montanhas, ajudando-me a vencer o caminho penoso sem jamais perder de vista a paisagem. Flávio Villa-Lobos


23 de Abril de 2007

Convalescent

How shall I wail, that wasn't meant for weeping? Love has run and left me, oh, what then? Dream, then, I must, who never can be sleeping; What if I should meet Love, once again? What if I met him, walking on the highway? Let him see how lightly I should care. He'd travel his way, I would follow my way; Hum a little song, and pass him there. What if at night, beneath a sky of ashes, He should seek my doorstep, pale with need? There could he lie, and dry would be my lashes; Let him stop his noise, and let me read. Oh, but I'm gay, that's better off without him; Would he'd come and see me, laughing here. Lord! Don't I know I'd have my arms about him, Crying to him, "Oh, come in, my dear!" Dorothy Parker


23 de Abril de 2007

Hooch

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23 de Abril de 2007

Midnight Oil

Cut if you will, with Sleep's dull knife, Each day to half its length, my friend,— The years that Time take off my life, He'll take from off the other end! Edna St. Vincent Millay


23 de Abril de 2007

Nenhum Sentido

É necessário dar o derradeiro salto chegar à derradeira negação reconhecer o caos e aceitar o acaso a fim de continuar-se a construção que dê abrigo e sentido ao que não tem. Nenhum. Benedicto Ferri de Barros


22 de Abril de 2007

McKay

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22 de Abril de 2007

Afternoon On A Hill

I will be the gladdest thing Under the sun! I will touch a hundred flowers And not pick one. I will look at cliffs and clouds With quiet eyes, Watch the wind bow down the grass, And the grass rise. And when lights begin to show Up from the town, I will mark which must be mine, And then start down! Edna St. Vincent Millay


22 de Abril de 2007

Nada a dizer

O que dizer das mãos, se os dedos inágeis já não tecem paixões O que dizer dos braços se foi num abraço que te perdi Restará talvez o que dizer de nós do que tentamos ser Vã tentativa, diluída na expectativa de se conhecer Mário Donizete Massari


22 de Abril de 2007

Derain

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22 de Abril de 2007

Máscaras

não é sempre que consigo ser eu mesmo, às vezes sou outro, irreconhecível zonzo de existir assim outro não o mesmíssimo apesar da face das mãos e olhos do hálito da boca apesar de tudo outro outro dentro de mim um guerreiro angustiado sem armas adequadas de mãos atadas herói capturado Luis Edmundo Alves


21 de Abril de 2007

Signac

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21 de Abril de 2007

The Painted Veil

Lift not the painted veil which those who live Call Life: though unreal shapes be pictured there, And it but mimic all we would believe With colours idly spread,--behind, lurk Fear And Hope, twin Destinies; who ever weave Their shadows, o'er the chasm, sightless and drear. I knew one who had lifted it--he sought, For his lost heart was tender, things to love, But found them not, alas! nor was there aught The world contains, the which he could approve. Through the unheeding many he did move, A splendour among shadows, a bright blot Upon this gloomy scene, a Spirit that strove For truth, and like the Preacher found it not. Percy Bysshe Shelley


21 de Abril de 2007

Our Eyes

Our eyes are limpid drops of water. In each drop exists a tiny sign of our genius which has given life to cold iron. Our eyes are limpid drops of water merged absolutely in the Ocean that you could hardly recognize the drop in a block of ice in a boiling pan. The masterpiece of these eyes the fulfillment of their genius the living iron. In these eyes filled with limpid pure tears had failed to emerge from the infinite Ocean if the strength had dispersed, we could never have mated the dynamo with the turbine, never have moved those steel mountains in water easily as if made of hollow wood. The masterpiece of these eyes the fulfillment of their genius of our unified labour the living iron. Nazim Hikmet, translated by Taner Baybars


21 de Abril de 2007

The Sum-Up

It is not power and fame That make success; It is not rank or name Rate happiness. It is not honour due Nor pile of pelf: The pay-off is: Did you Enjoy yourself? A pal of days gone by I reckon more Of a success than I Who've gold in store His life, though none too long, Was never dull: Of woman, wine and song Bill had his full. Friend, you are a success If you can say: "A heap of happiness Has come my way. No cheers have made me glad, No wealth I've won; But oh how I have had A heap of FUN!" Robert Service


21 de Abril de 2007

Rossetti

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21 de Abril de 2007

Alvorada

Pouco a pouco vai canto claro dos galos clareando o dia Oldegar Vieira


20 de Abril de 2007

Raio de Luz

(ou legenda para o Zeitgeist...) Burgueses somos nós todos ou ainda menos. Burgueses somos nós todos desde pequanos. Burgueses somos nós todos ó literatos. Burgueses somos nós todos ratos e gatos Burgueses somos nós todos por nossas mãos. Burgueses somos nós todos que horror irmãos. Burgueses somos nós todos ou ainda menos. Burgueses somos nós todos desde pequenos. Mário Cesariny


20 de Abril de 2007

Haicai

Revoadas brancas sobre rochedos escuros: gaivotas e espumas. Oldegar Vieira


20 de Abril de 2007

The False Friends

They laid their hands upon my head, They stroked my cheek and brow; And time could heal a hurt, they said, And time could dim a vow. And they were pitiful and mild Who whispered to me then, "The heart that breaks in April, child, Will mend in May again." Oh, many a mended heart they knew. So old they were, and wise. And little did they have to do To come to me with lies! Who flings me silly talk of May Shall meet a bitter soul; For June was nearly spent away Before my heart was whole. Dorothy Parker


20 de Abril de 2007

Whitney

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20 de Abril de 2007

Do Mar

Aqueles de um país costeiro, há séculos, contêm no tórax a grandeza sonora das marés vivas. Em simples forma de barco, as palmas das mãos. Os cabelos são banais como algas finas. O mar está em suas vidas de tal modo que os embebe dos vapores do sal. Não é fácil amá-los de um amor igual à benignidade do mar. Fiama Hasse Pais Brandão


20 de Abril de 2007

Spring rain

Spring rain leaking through the roof dripping from the wasps' nest. Matsuo Basho, translated by Robert Hass


20 de Abril de 2007

Signac

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20 de Abril de 2007

Haicai

Vento nas ilhas Gaivotas sobre o mar Imitam veleiros Oddone Marsiaj


20 de Abril de 2007

El Ausente (excerto)

Viva palabra obscura, palabra del principio, principio sin palabra, piedra y piedra, sequía, verdor súbito, fuego que no se acaba, agua que brilla en una cueva: no existes, pero vives, en nuestra angustia habitas, en el fondo vacío del instante — oh aburrimiento —, en el trabajo y el sudor, su fruto, en el sueño que engendra y el muro que prohibe. Dios vacío, Dios sordo, Dios mío, lágrima nuestra, blasfemia, palabra y silencio del hombre, signo del llanto, cifra de sangre, forma terrible de la nada, araña del miedo, reverso del tiempo, gracia del mundo, secreto indecible, muestra tu faz que aniquila, que al polvo voy, al fuego impuro. Octavio Paz


20 de Abril de 2007

Waterhouse

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20 de Abril de 2007

The Mermaid

I Who would be A mermaid fair, Singing alone, Combing her hair Under the sea, In a golden curl With a comb of pearl, On a throne? II I would be a mermaid fair; I would sing to myself the whole of the day; With a comb of pearl I would comb my hair; And still as I comb'd I would sing and say, 'Who is it loves me? who loves not me?' I would comb my hair till my ringlets would fall Low adown, low adown, From under my starry sea-bud crown Low adown and around, And I should look like a fountain of gold Springing alone With a shrill inner sound Over the throne In the midst of the hall; Till that great sea-snake under the sea From his coiled sleeps in the central deeps Would slowly trail himself sevenfold Round the hall where I sate, and look in at the gate With his large calm eyes for the love of me. And all the mermen under the sea Would feel their immortality Die in their hearts for the love of me. III But at night I would wander away, away, I would fling on each side my low-flowing locks, And lightly vault from the throne and play With the mermen in and out of the rocks; We would run to and fro, and hide and seek, On the broad sea-wolds in the crimson shells, Whose silvery spikes are nighest the sea. But if any came near I would call and shriek, And adown the steep like a wave I would leap From the diamond-ledges that jut from the dells; For I would not be kiss'd by all who would list Of the bold merry mermen under the sea. They would sue me, and woo me, and flatter me, In the purple twilights under the sea; But the king of them all would carry me, Woo me, and win me, and marry me, In the branching jaspers under the sea. Then all the dry-pied things that be In the hueless mosses under the sea Would curl round my silver feet silently, All looking up for the love of me. And if I should carol aloud, from aloft All things that are forked, and horned, and soft Would lean out from the hollow sphere of the sea, All looking down for the love of me. Alfred Lord Tennyson


19 de Abril de 2007

Poema de Páscoa

Apesar da cópia das chuvas o Siupé ainda rompe ao mar por fios distintos --- sortidos bancos de areia em seu leito Poucosminutos antes, alaga o curso em cisterna de pingos recentes, e segue roendo duna mais alta. Água morena e menos salobre que a suspeita ocorre macia, riscando à giz de pequenas espumas muro e areia. Pios de aves vários coaxar de sapos em altercação canina, vagos chocalhos e cabras, nas encostas cerradas da contramargem. Leste, à luz oposta, distância, vermelhos de telhado, arabesco de casuarinas vão sinuoso mas plano, indistinção vegetal de guindastes, no porto, lá no enfim de tudo, coqueiros e alga ao longo. Quase como sem que as sombras daqui antes lá estivessem e a ave dissesse as palavras Taíba, Pecém, Siupé, e logo por um acontecimento branco onde nada tem a ver com palavras o olho ressumasse o mar Ruy Vasconcelos


19 de Abril de 2007

Picabia

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19 de Abril de 2007

Clemente's Images IV

Matrix of world upon a turtle's broad back, carried on like that, eggs as pearls, flesh and blood and bone all borne along. Robert Creeley


19 de Abril de 2007

Secreta Viagem

Para habitar as planícies da ausência e escalar os montes de tempo que não vives eis a secreta viagem duma ave imaginária em busca do instante onde tudo recomeça Armando Artur


19 de Abril de 2007

Words

Axes After whose stroke the wood rings, And the echoes! Echoes traveling Off from the center like horses. The sap Wells like tears, like the Water striving To re-establish its mirror Over the rock That drops and turns, A white skull, Eaten by weedy greens. Years later I Encounter them on the road---- Words dry and riderless, The indefatigable hoof-taps. While From the bottom of the pool, fixed stars Govern a life. Sylvia Plath


19 de Abril de 2007

Sono (de A Mesma Noite)

Tudo vai revertendo em sono forte. Impulso de fuga para o país vário da insolência do sol, da tempestade temperada em sonho. O sono vai correndo ardiloso todas as formas, dentes, olhos por fora. E o coração pára diluído no copo d'água ao lado. Heitor Ferraz Mello


19 de Abril de 2007

Good-Night

Good-night? ah! no; the hour is ill Which severs those it should unite; Let us remain together still, Then it will be good night. How can I call the lone night good, Though thy sweet wishes wing its flight? Be it not said, thought, understood -- Then it will be -- good night. To hearts which near each other move From evening close to morning light, The night is good; because, my love, They never say good-night. Percy Bysshe Shelley


18 de Abril de 2007

Courtois

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18 de Abril de 2007

Quando

Quando deponho sobre os teus dedos de frio uma mão de grinalda e de sonhos vejo o amanhã inscrito nos teus olhos. Armando Artur


18 de Abril de 2007

Tarde

Ainda sabemos cantar, só a nossa voz é que mudou: somos agora mais lentos, mais amargos, e um novo gesto é igual ao que passou. Um verso já não é a maravilha, um corpo já não é a plenitude. Eugénio de Andrade


18 de Abril de 2007

Rossetti

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18 de Abril de 2007

A Daughter Of Eve

A fool I was to sleep at noon, And wake when night is chilly Beneath the comfortless cold moon; A fool to pluck my rose too soon, A fool to snap my lily. My garden-plot I have not kept; Faded and all-forsaken, I weep as I have never wept: Oh it was summer when I slept, It's winter now I waken. Talk what you please of future spring And sun-warm'd sweet to-morrow:-- Stripp'd bare of hope and everything, No more to laugh, no more to sing, I sit alone with sorrow. Christina Rossetti


18 de Abril de 2007

Da negação

(de um beijo muito antigo, perdidos os passos) Do not be preposterous


17 de Abril de 2007

Derain

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17 de Abril de 2007

Marinha

Na praia de coisas brancas Abrem-se às ondas cativas Conchas brancas, coxas brancas Águas-vivas. Aos mergulhares do bando Afloram perspectivas Redondas, se aglutinando Volitivas. E as ondas de pontas roxas Vão e vêm, verdes e esquivas Vagabundas, como frouxas Entre vivas! Vinicius de Moraes


17 de Abril de 2007

Habitation

Marriage is not a house or even a tent it is before that, and colder: The edge of the forest, the edge of the desert the unpainted stairs at the back where we squat outside, eating popcorn where painfully and with wonder at having survived even this far we are learning to make fire Margaret Atwood


17 de Abril de 2007

Picabia

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16 de Abril de 2007

Having Misidentified A Wildflower

A thrush, because I'd been wrong, Burst rightly into song In a world not vague, not lonely, Not governed by me only. Richard Wilbur


16 de Abril de 2007

E ao anoitecer

e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão deixas viver sobre a pele uma criança de lume e na fria lava da noite ensinas ao corpo a paciência o amor o abandono das palavras o silêncio e a difícil arte da melancolia Al Berto


16 de Abril de 2007

Prudon

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15 de Abril de 2007

Ozymandias

I met a traveller from an antique land Who said: "Two vast and trunkless legs of stone Stand in the desert . . . Near them, on the sand, Half sunk, a shattered visage lies, whose frown, And wrinkled lip, and sneer of cold command, Tell that its sculptor well those passions read Which yet survive, stamped on these lifeless things, The hand that mocked them, and the heart that fed: And on the pedestal these words appear: 'My name is Ozymandias, king of kings: Look on my works, ye Mighty, and despair!' Nothing beside remains. Round the decay Of that colossal wreck, boundless and bare The lone and level sands stretch far away." Percy Bysshe Shelley


15 de Abril de 2007

Walter Greaves

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15 de Abril de 2007

Roupa (excerto)

Aquela saia roda como o topo do moinho de pás, o que em mim confirma agora que o vento me reveste. * O tépido calor cobre-me por fora de tules em flor. As folhas do loureiro ridentes assemelham-se ao meu vestido de verde cassa. Agradeço, pois, às bocas de parentes os nomes ditos. * Todas as roupas usadas próprias do Verão são aquele vestido único, porque me haviam dito que ao entrar pelos olhos ele me cobria de fulgor. Fiama Hasse Pais Brandão


15 de Abril de 2007

Whitney

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15 de Abril de 2007

Clemente's Images III

Stand upright, prehensile, squat, determined, small guardians of the painful outside coming in -- in stuck in vials with needles, bleeding life in, particular, heedless. Robert Creeley


15 de Abril de 2007

Perda

Acabou o café. Acabou a hora. Acabou o tempo. O estado final É a decomposição da idéia, A entrega. O antegozo ficou Sem o ato final, E saímos todos De mãos abanando Na falta de outras Para segurá-las. Ana Peluso


15 de Abril de 2007

Crimes sem castigo

Por crimes que ocorriam nas monstruosas relações entre nações, por crimes que ocorriam naqueles espaços íntimos entre duas pessoas, sem qualquer testemunha, por estes crimes, os culpados nunca pagariam. Não havia religião nem governo que mitigasse o inferno. Kiran Desai, in A Herança do Vazio, trad. Vera Falcão Martins, ed. Porto Editora.


14 de Abril de 2007

Signac

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14 de Abril de 2007

Madmen

They say you can jinx a poem if you talk about it before it is done. If you let it out too early, they warn, your poem will fly away, and this time they are absolutely right. Take the night I mentioned to you I wanted to write about the madmen, as the newspapers so blithely call them, who attack art, not in reviews, but with breadknives and hammers in the quiet museums of Prague and Amsterdam. Actually, they are the real artists, you said, spinning the ice in your glass. The screwdriver is their brush. The real vandals are the restorers, you went on, slowly turning me upside-down, the ones in the white doctor's smocks who close the wound in the landscape, and thus ruin the true art of the mad. I watched my poem fly down to the front of the bar and hover there until the next customer walked in-- then I watched it fly out the open door into the night and sail away, I could only imagine, over the dark tenements of the city. All I had wished to say was that art was also short, as a razor can teach with a slash or two, that it only seems long compared to life, but that night, I drove home alone with nothing swinging in the cage of my heart except the faint hope that I might catch a glimpse of the thing in the fan of my headlights, maybe perched on a road sign or a street lamp, poor unwritten bird, its wings folded, staring down at me with tiny illuminated eyes. Billy Collins


14 de Abril de 2007

Arame

sob as vírgulas o peixe filtrado pelo olho envolto no verde exceto abaixo onde seixos calam fundo mas o espectro argento do peixe em vago rastro até os seixos move uma farpa que não cessa Ruy Vasconcelos


14 de Abril de 2007

Flare (excerto)

Therefore, tell me: what will engage you? What will open the dark fields of your mind, like a lover at first touching? Mary Oliver


14 de Abril de 2007

Le Brun

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14 de Abril de 2007

Flare (excerto)

The poem is not the world. It isn't even the first page of the world. But the poem wants to flower, like a flower. It knows that much. It wants to open itself, like the door of a little temple, so that you might step inside and be cooled and refreshed, and less yourself than part of everything. Mary Oliver


14 de Abril de 2007

Epigrama

não ficará perda sobre perda Ruy Vasconcelos


14 de Abril de 2007

Whistler

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13 de Abril de 2007

Em Sintra

As águas maravilham-se entre os lábios e a fala, rápidos em Sintra espelhos surgem como pássaros, a luz de que se erguem acontece às águas, à flor da fala divide os lábios e a ternura. Da linguagem rebentam folhas duma cor incómoda, as de que maravilhado de água surges entre livros, algum crime, um menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues equívoca a luz depois. Rápidos espelhos então cercam-te explodindo os pássaros. Luís Miguel Nava


13 de Abril de 2007

All My Life

All my life I sought an angel. And he appeared in order to say: "I am no angel !" Regina Derieva, translated by Kevin Carey


13 de Abril de 2007

Whistler

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12 de Abril de 2007

Pássaro Provisório

Migro, vida-a-vida. Tempo a tempo, mudo. Canto e vou e volto. Se não volto, meu canto é presença e permaneço. Adail Sobral


12 de Abril de 2007

Harbusova

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12 de Abril de 2007

os fogos da fala

a fala aflora à flor da boca às vezes como fogos de artifício fulguração contra os terrores do silêncio só espada espavento espelho ou pedra ficção arremessada ou canção para cantar as graças as virilhas as maravilhas da amada a deusa idolatrada do amor: essa outra voz quase jazz que subjaz ventríloqua de si mesma Geraldo Carneiro


12 de Abril de 2007

Arqueologia dos Sítios Futuros IX

escavo noite e chuva limpa e leve nódos de bambu vincos de lençóis, ondas de lagoa um bonsai Ruy Vasconcelos


12 de Abril de 2007

Fragonard

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12 de Abril de 2007

Love's Deity

I long to talk with some old lover's ghost, Who died before the God of Love was born: I cannot think that he, who then loved most, Sunk so low as to love one which did scorn. But since this god produced a destiny, And that vice-nature, Custom, lets it be, I must love her that loves not me. Sure, they which made him god meant not so much, Nor he in his young godhead practised it; But when an even flame two hearts did touch, His office was indulgently to fit Actives to passives. Correspondency Only his subject was; it cannot be Love, till I love her that loves me. But every modern god will now extend His vast prerogative as far as Jove. To rage, to lust, to write to, to commend, All is the purlieu of the God of Love. Oh were we wakened by this tyranny To ungod this child again, it could not be I should love her who loves not me. Rebel and atheist too, why murmur I As though I felt the worst that love could do? Love might make me leave loving, or might try A deeper plague, to make her love me too, Which, since she loves before, I'm loth to see; Falsehood is worse than hate; and that must be, If she whom I love should love me. John Donne


11 de Abril de 2007

Anderson

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11 de Abril de 2007

Rua Guiará

as aves do céu que não semeiam nem colhem cantam e cantam numa rua paulistana ao araxá do dia e à dobra da manhã girando nos gonzos um suave azul-sem-sol sobre a fachada dos pequenos sobrados às primeiras árvores que são verdes, ao primeiro homem que assustado, desce a ladeira em mangas de camisa, ao primeiro furgão onde se pode ler ‘reportagem’ em letras verdes sobre um fundo branco, às últimas luzes das garagensalternando amarelos e vermelhos ainda vivas, às luzes ao longe, devoradas pelo serrar-se do dia, à única lâmpada acesa por trás de um basculante à frente de diferentes frascos à distância de uma quadra, no terceiro e último andar de um prédio de uma noite, de um dobre de finados, e à distância de muitos e no último andar da distância, a serra da cantareira, impassível no mais encantado suave, sereno, suspenso como o canto das aves do céu que não semeiam nem colhem, mas calam as franjas do dia Ruy Vasconcelos


11 de Abril de 2007

Whistler

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11 de Abril de 2007

This Is Just To Say

I have eaten the plums that were in the icebox and which you were probably saving for breakfast Forgive me they were delicious so sweet and so cold William Carlos Williams


11 de Abril de 2007

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. João Cabral de Melo Neto


10 de Abril de 2007

Haicai

Wrapping the rice cakes, with one hand she fingers back her hair. Matsuo Basho, translated by Robert Hass


10 de Abril de 2007

Du Yuxi

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10 de Abril de 2007

Clemente's Images II

Who is it nuzzles there with furred, round headed stare? Who, perched on the skin, body's float, is holding on? What other one stares still, plays still, on and on? Robert Creeley


10 de Abril de 2007

Arqueologia dos Sítios Futuros VIII

sem pulsos escavo mangues calmarias sequer cristais refletem o açafrão de teus olhos Ruy Vasconcelos


10 de Abril de 2007

Ricci

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9 de Abril de 2007

A Dúvida

Caminho diariamente Percorro as estradas gélidas do deserto escaldante da dúvida pincelando a vida de erros e acertos noites e oásis frustrações e delírios e dúvidas A cada suspiro de alívio uma nova dúvida A cada projeto A cada desafio A cada sol A cada lua A cada pausa A cada recomeço Lá está escondida, enterrada, disfarçada: a dúvida Nada é absoluto. Nada? Laeticia Jensen Eble


9 de Abril de 2007

Bingham

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9 de Abril de 2007

Alteridade

Quem é esse ser que me habita Que por mim fala e em mim cala Quem é este estranho ser Que vive em mim entre ter e haver Que em mim se esconde Que por mim responde Que se perfaz em devaneios Sempre aqui, acolá ou de permeio. Que mais existe quanto mais anseio Que sofre em mim quando amo Que se alegra quando sofro Que procura tecer sua trama Nesse drama em que sou chama Quem é este ser que me habita Que me desdiz sem me dizer Que se desfaz no meu fazer Que grita em minha garganta Que quanto menor mais se agiganta Quem este poema escreve? Sou eu mesmo ou um outro ser em mim? Alberto Beuttenmüller


9 de Abril de 2007

Don't Feel At Home

I don't feel at home where I am, or where I spend time; only where, beyond counting, there's freedom and calm, that is, waves, that is, space where, when there, you consist of pure freedom, which, seen, turns that Gorgon, the crowd, to stone, to pebblesand sand . . . where life's mean- ing lies buried, that never let one comewithin cannon shot yet. From cloud-coveredwells untold pour color and light, a fete of cupids and Ledas in gold. That is, silk and honey and sheen. That is, boon and quiver and call. That is, all that lives to be free, needing no words at all. Regina Derieva, translated by Alan Shaw


9 de Abril de 2007

Cézanne

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8 de Abril de 2007

Motivo da rosa

Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim. Rosas verá, só de cinzas franzida, mortas, intactas pelo teu jardim. Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim. E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim. Cecília Meireles


8 de Abril de 2007

Arqueologia dos Sítios Futuros VII

escavo uma calçada de vidro e pés-ante-pés saltaremos dela para o trapézio da casa Ruy Vasconcelos


8 de Abril de 2007

Whistler

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7 de Abril de 2007

The Mirror

Seeing is believing. Whatever was thought or said, these persistent, inexorable deaths make faith as such absent, our humanness a question, a disgust for what we are. Whatever the hope, here it is lost. Because we coveted our difference, here is the cost. Robert Creeley


7 de Abril de 2007

Signac

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7 de Abril de 2007

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada

O sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se dar um gosto incasto aos termos. Haver com eles um relacionamento voluptuoso. Talvez corrompê-los até a quimera. Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los. Não existir mais rei nem regências. Uma certa luxúria com a liberdade convém. Manoel de Barros


7 de Abril de 2007

Arqueologia dos Sítios Futuros VI

nos galhos escavo ao inverso um nó de barro para estar lá desde calor Ruy Vasconcelos


7 de Abril de 2007

Clemente's Images I

Sleeping birds, lead me, soft birds, be me inside this black room, back of the white moon. In the dark night sight frightens me. Robert Creeley


7 de Abril de 2007

Whistler

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7 de Abril de 2007

Days

Daughters of Time, the hypocritic Days, Muffled and dumb like barefoot dervishes, And marching single in an endless file, Bring diadems and fagots in their hands. To each they offer gifts after his will, Bread, kingdoms, stars, and sky that holds them all. I, in my pleached garden, watched the pomp, Forgot my morning wishes, hastily Took a few herbs and apples, and the Day Turned and departed silent. I, too late, Under her solemn fillet saw the scorn. Ralph Waldo Emerson


6 de Abril de 2007

Maddox Brown

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6 de Abril de 2007

Arqueologia dos Sítios Futuros V

com vagar e luzes indiretas escavo nove peças mobiliadas (vamos nos deitar em cada) Ruy Vasconcelos


6 de Abril de 2007

The Waking

I wake to sleep, and take my waking slow. I feel my fate in what I cannot fear. I learn by going where I have to go. We think by feeling. What is there to know? I hear my being dance from ear to ear. I wake to sleep, and take my waking slow. Of those so close beside me, which are you? God bless the Ground! I shall walk softly there, And learn by going where I have to go. Light takes the Tree; but who can tell us how? The lowly worm climbs up a winding stair; I wake to sleep, and take my waking slow. Great Nature has another thing to do To you and me; so take the lively air, And, lovely, learn by going where to go. This shaking keeps me steady. I should know. What falls away is always. And is near. I wake to sleep, and take my waking slow. I learn by going where I have to go. Theodore Roethke


6 de Abril de 2007

Whistler

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6 de Abril de 2007

A palavra

soa como um rio um murmúrio um tom acima um crepitar de lamas um desvelo um farfalhar de escovas sons guturais de um cego que enxerga o fim mãos que se apertam acolhem a benção se cruzam no escuro gritam no gozo cismas de velhos crianças calam massas ululam a língua úmida o dente tenso cordas canoras Abilio Terra Junior


6 de Abril de 2007

Arqueologia dos Sítios Futuros IV

escavo uma casa na rocha, onde partiremos o mesmo fôlego verde de quaresmeiras Ruy Vasconcelos


6 de Abril de 2007

Harbusova

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5 de Abril de 2007

No Road

Since we agreed to let the road between us Fall to disuse, And bricked our gates up, planted trees to screen us, And turned all time's eroding agents loose, Silence, and space, and strangers - our neglect Has not had much effect. Leaves drift unswept, perhaps; grass creeps unmown; No other change. So clear it stands, so little overgrown, Walking that way tonight would not seem strange, And still would be allowed. A little longer, And time will be the stronger, Drafting a world where no such road will run From you to me; To watch that world come up like a cold sun, Rewarding others, is my liberty. Not to prevent it is my will's fulfillment. Willing it, my ailment. Philip Larkin


5 de Abril de 2007

Bingham

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5 de Abril de 2007

Pietà

(gentileza de Zeferino M. Silva) Assim, Jesus, venho encontrar estes teus pés, que outrora foram pés de adolescente, quando eu tos descalçava e os lavava a medo; como se emaranhavam em meu cabelo como corça branca em moita de espinheiros. Assim eu vejo teus membros nunca-amados pela primeira vez nesta noite de amor. Nós ambos nunca nos deitámos juntos, e agora é só admirar e velar. Mas como as tuas mãos estão laceradas - : E não é, Amado, de eu tas ter mordido. Teu coração está aberto, e pode-se entrar nele: e devia ter sido só minha a entrada. Agora estás cansado, e a tua boca cansada não deseja a minha boca dorida - . Jesus, Jesus, quando foi a nossa hora? Que singularmente nos perdemos ambos! Rainer Maria Rilke, tradução de Paulo Quintela


5 de Abril de 2007

Rossetti

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5 de Abril de 2007

Por toda a parte

Por toda a parte o rio solta serpente a rojar-se na paisagem da planície cobra domada à força por barrancas e algemas de pontes ou cativo fragmento no pote na palma côncava do púcaro no copo translúcido e mínimo leite a pojar o seio das cuias. Em águas batismais comungo e mergulho o arcaico corpo de remotíssimo passado anfíbio nós todos tão sáurios tão irmãos de peixes e quelônios e espelho o rosto em fuga por águas igualmente fugitivas e comigo vai o rio rente rindo roendo ruindo riando submim num subsolo de sonhos. Astrid Cabral


4 de Abril de 2007

Evening Song Of Senlin

It is moonlight. Alone in the silence I ascend my stairs once more, While waves, remote in a pale blue starlight, Crash on a white sand shore. It is moonlight. The garden is silent. I stand in my room alone. Across my wall, from the far-off moon, A rain of fire is thrown . . . There are houses hanging above the stars, And stars hung under a sea: And a wind from the long blue vault of time Waves my curtain for me . . . I wait in the dark once more, Swung between space and space: Before my mirror I lift my hands And face my remembered face. Is it I who stand in a question here, Asking to know my name? . . . It is I, yet I know not whither I go, Nor why, nor whence I came. It is I, who awoke at dawn And arose and descended the stair, Conceiving a god in the eye of the sun,— In a woman's hands and hair. It is I whose flesh is gray with the stones I builded into a wall: With a mournful melody in my brain Of a tune I cannot recall . . . There are roses to kiss: and mouths to kiss; And the sharp-pained shadow of death. I remember a rain-drop on my cheek,— A wind like a fragrant breath . . . And the star I laugh on tilts through heaven; And the heavens are dark and steep . . . I will forget these things once more In the silence of sleep. Conrad Aiken


4 de Abril de 2007

Penck

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4 de Abril de 2007

Esperança

O Coro das Ninfas: - Que remédio deste aos humanos contra o desespero? Prometeu: - Dei-lhes uma esperança infinita no Futuro Ésquilo, in Prometeu Acorrentado


4 de Abril de 2007

Vazio

Não queriam a vida. Bastava-lhes a imagem. Alérgicos a horizontes não chegavam à janela. Só miravam a paisagem por entre câmaras e lentes cumprindo programas de turísticas viagens. Nem poentes nem montes nem sorrisos nem olhares confiavam à memória. Queriam fotos nos álbuns e carrosséis de slides. À noite, cegos, não viam o rastro do dia nos rostos em torno e, lábios de pedra, não riscavam a faísca do diálogo nem o fogo generoso do convívio. Preferiam o amor da novela. Dissolvidos em poltronas em frente à tela acesa acordados dormiam despidos de si mesmos. Astrid Cabral


4 de Abril de 2007

Haicai

Geada rude brancura inclemente Lua minguante Shinobu Saiki


4 de Abril de 2007

Whistler

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4 de Abril de 2007

Amor sempre

(gentileza de Amélia Pais) amor não sentimento não ternura não desejo não sexo não amor amor nada concreto não os olhos preso nunca no peito não por cento amor fascínio fuga sal sedento não ângulo não vértice de vidro não as ruas desertas pensamento amor não sentimento não sentido não amor não entrega nunca posse a fuga porque não nada fragmnento não amor por amor nunca deserto amor não violento não de vento. não amor desejado mão de invento amor sempre de não de tempo a tempo. E.M de Melo e Castro


3 de Abril de 2007

Hutton

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3 de Abril de 2007

O rio

Uma gota de chuva A mais, e o ventre grávido Estremeceu, da terra. Através de antigos Sedimentos, rochas Ignoradas, ouro Carvão, ferro e mármore Um fio cristalino Distante milênios Partiu fragilmente Sequioso de espaço Em busca de luz. Um rio nasceu. Vinicius de Moraes


3 de Abril de 2007

Cantos

(gentileza de Amélia Pais) Os cantos dos homens são mais belos que os homens, mais densos de esperança, mais tristes, com uma vida mais longa. Mais do que os homens eu amei os seus cantos. Consegui viver sem os homens nunca sem os cantos; aconteceu-me ser fiel à minha bem amada mas nunca ao canto que para ela cantei: nunca também os cantos me enganaram. Qualquer que fosse a sua língua sempre compreendi os cantos. Neste mundo, de tudo o que pude beber e comer de todos os países por onde andei, de tudo o que pude ver e ouvir, de tudo o que pude tocar e compreender nada, nada conseguiu fazer-me tão feliz como os cantos... Nâzim Hikmet, tradução de Rui Caeiro


3 de Abril de 2007

Delaunay

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3 de Abril de 2007

Who Said It Was Simple

There are so many roots to the tree of anger that sometimes the branches shatter before they bear. Sitting in Nedicks the women rally before they march discussing the problematic girls they hire to make them free. An almost white counterman passes a waiting brother to serve them first and the ladies neither notice nor reject the slighter pleasures of their slavery. But I who am bound by my mirror as well as my bed see causes in color as well as sex and sit here wondering which me will survive all these liberations. Audre Lorde


2 de Abril de 2007

Hutton

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2 de Abril de 2007

A Espera

À beira do cais deserto, o barco ancorado sonha com procelas, e eu, que cheguei há pouco, vindo de dentro de um sonho impossível, que sonho eu? Dize-me, barco, o teu segredo parado nesta ponta de espera, nesta beira de cais! É sempre a mesma a distância que vai da praia à linha do horizonte? ... e eu, que venho de ruas estreitas, sempre me perco. Vagos murmúrios marinhos me acompanham barcos invisíveis vêm à tona cheios de peixes voadores... Mauro Mendes


2 de Abril de 2007

Edifício

Na beira mar da seca o monumento às ondas. Maria da Paz R. Dantas


2 de Abril de 2007

Burne-Jones

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2 de Abril de 2007

Luz inesperada

Preparei a casa para te esperar: procurei nos cantos o passado e engastei-o à soleira da porta, petrificado em dor, mas refulgente. Não foi necessário mudar de casa para te esperar. Bastou a tua vinda, ainda de madrugada, para que tudo mudasse, e a lua crescente surgisse ao meio dia. A cama está feita, a mesa está posta, nas compoteiras brilham sobremesas feitas para adoçarem a tua boca quando a vida amargar, travar-se o riso. Meu corpo não é o mesmo de ontem, mas é mais virgem, através das horas, que me apartaram de outros desejos dos quais me afasto, emigrada de mim mesma. Foi gratuito o teu chegar. Por isso fica: permanece em mim e esquece a lágrima. Te esperei para chamar-te "meu amor", embora ingressem em minha voz e corpo antigas sereias, com pentes de espelhos, a retrançar meus cabelos destrançados, e te convidem para o sábio mergulho onde habitaremos: nós e o tempo. Maria da Conceição Paranhos


1 de Abril de 2007

Orchardson

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1 de Abril de 2007

Erupções do Etna

(gentileza de Amélia Pais) Perdoa, não sabia que cantavas em sossego, silenciosamente. Neste calor é preciso beber água gelada; também convém não adorar ídolos, por exemplo a imagem que aí trazes de ti e te atormenta (ou me atormenta a mim?). Outros exemplos incluem jardins de babilónia, erupções do etna, o efeito afrodisíaco do diamante, as ciências da educação. Vou-me sentar aqui, respirar até doer as coisas possíveis nunca reais, aprender, nó a nó, como te soltas, vamos cair num poço, sem bússola e pára-quedas, vamos ser o primeiro amor a dois no mundo. António Franco Alexandre


1 de Abril de 2007

May

I cannot tell you how it was; But this I know: it came to pass Upon a bright and breezy day When May was young; ah pleasant May! As yet the poppies were not born Between the blades of tender corn; The last eggs had not hatched as yet, Nor any bird foregone its mate. I cannot tell you what it was; But this I know: it did but pass. It passed away with sunny May, With all sweet things it passed away, And left me old, and cold, and grey. Christina Rossetti


1 de Abril de 2007

Rossetti

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