Arquivo de abril 2007
¶ 30 de Abril de 2007
I
Não sei se o sonho que tenho
É o sonho que sonho.
A mesma
Chuva que irriga os vales,
Inunda as pequenas aldeias.
A lua sobre os amantes risonhos
É a mesma,
Sombria nos bosques escuros.
II
Se creres que podes:
Tenta.
Arrisca a perder-te,
Mas desbrava longe.
Arrisca à deriva,
Mas navega além do horizonte.
Melhor é a certeza da derrota
Que a vitória na possibilidade.
Se creres que podes:
Ousa.
Confia em ti.
III
As tuas esperanças
Deposita-as em ti.
As pedras do teu jardim,
Remove-as.
Planta as tuas sementes,
Varre os teus canteiros,
Rega as tuas árvores.
Não esperes que o vento
Limpe o chão do teu Outono.
Limpa-o tu. Sê teu estro.
IV
Reina sobre ti,
Mas não como um César: ergue o teu polegar.
Calígula perscruta
As viscosidades do teu corpo: reina sobre ti.
Estrangula o Iscariotes
Nas tuas mãos avarentas:
Reina sobre ti.
V
A mesma terra que calcamos
É a manta que nos recama no sono da sepultura.
Como uma brisa beijando as ramagens,
Passamos...
Após dormirmos
As folhas cinzas,
Ao pé das árvores
No Outono alheio,
Todos os anos
Ainda assim
Sobrevirão.
Daniel Mazza
¶ 30 de Abril de 2007
Poema que aconteceu
Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.
Carlos Drummond de Andrade
¶ 30 de Abril de 2007

¶ 30 de Abril de 2007
Teu rosto é claro se meu sonho é escuro,
só vens me visitar quando não quero,
andas perdido quando te procuro,
se mais confio em ti mais desespero,
se buscas o passado sou futuro.
Se dizes a verdade és insincero,
se temo tua face estou seguro,
se chegas ao encontro não te espero.
Bem sei que em nosso olhar refulge o nada,
que somos, afinal, a negação
mais funda, mais sombria e desolada.
Como lograr, meu Deus, reparação,
enquanto segues longe pela estrada,
de nossa irreparável solidão?
Marco Lucchesi
¶ 30 de Abril de 2007
Sem filosofia. É melhor viver
só com os sentidos
falar da natureza sem saber o que ela é
só por amá-la
ser um carro de boi e não um homem:
não ter esperanças, só rodas
nem rugas ou cabelo branco
para quando tirar a máscara
e se olhar no espelho
(que reflete certo porque não pensa)
não ter envelhecido
Uma vez Portugal foi só nevoeiro
tudo disperso, nada inteiro
mas, tendo sido todo e inteiro, pra que serviu?
qualquer mendigo invejo agora
só por não ser eu
Senta-te à porta de casa
para apreciar os campos
que, afinal, são mais verdes
para quem foi rejeitado
contenta-te com o espetáculo do mundo
só de sentir calor e frio e vento
já vale a pena ter nascido
mesmo não tendo sido amado
Ana Guimarães
¶ 29 de Abril de 2007

¶ 29 de Abril de 2007
Vento que vem do Sul,
veloz e cantante,
para fazer as nuvens negras
do meu céu cantarem.
Relâmpagos covardes
penetram nas nuvens
e desmancham o espetáculo
da dança no espaço.
Chuvas caem,
formam enxurradas.
Minha mente retrocede:
Lembro-me da infância, quando soltava
barquinhos de papel.
Amir Calixto Sabbag
¶ 29 de Abril de 2007
Ai, tecelã da eterna poesia,
um pouco mais de ti em mim
e eu voaria!
Nem me dês teus frutos.
Basta que sorrias.
Não mereço mais.
Artur Eduardo Benevides
¶ 29 de Abril de 2007
Ainda os livros, esse material perigoso - mudá-los de casa, tirar o pó, ordenar nas novas estantes (às vezes, a dúvida impertinente: que ordem? a do primeiro ou do último nome do autor? e o problema do género, nos casos fronteira?). E as lembranças inúteis que estão coladas aos livros - quem os ofereceu, quando os comprámos, onde foram lidos ou, se não chegaram a sê-lo, porquê. Os livros, com estórias em volta, pessoalíssimos detalhes de vida.
¶ 29 de Abril de 2007

¶ 29 de Abril de 2007
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Camões
Se por experiência se adivinha
se pela nuvem se conhece o vento
se por amor dormimos ao relento
sob o orvalho dos seios da vizinha
Se o mar gorjeia, pássaro e elemento
se põe seus ovos antes da galinha
se o rei decreta a morte da rainha
e dela se liberta o pensamento.
Se o corpo volta à infância da caverna
se a esfinge nos decifra e nos devora
se a volúpia do enigma nos governa
Se viver ou morrer é sempre um dano
se o acaso nos golpeia antes da aurora
qualquer grande esperança é grande engano.
Francisco Carvalho
¶ 29 de Abril de 2007
Estar contigo
é sempre amanhecer.
É sentir que o sol de repente
toca em mim com a doçura
do que se põe no azul a florescer.
Artur Eduardo Benevides
¶ 29 de Abril de 2007

¶ 29 de Abril de 2007
Era na sombra
Que eu te queria
No grão noturno
Onde é gerada
A solidão
(Esta dos vivos
Que já provei
Na tua boca).
Era no sono
Que eu te queria
Para cobrir-te
Com a algidez
Da estrela morta
Que me alumia.
Era na morte
Que eu te queria
Além da cal
Além do húmus
Tão infiltrados
E diluídos
Para a substância
Da jovem folha
Do amargo fruto.
Os teus cabelos
Teus olhos vivos
As tuas mãos
E a tua boca
Em mim (tão mortos)
Nesta viagem
Para o silêncio
Subterrâneo
Donde esta vida
Vive e renasce
Como uma flor.
Era na morte
Já sem mistério.
Era na morte
Já sem segredo.
Jorge Medauar
¶ 29 de Abril de 2007

¶ 28 de Abril de 2007
He'd have given me rolling lands,
Houses of marble, and billowing farms,
Pearls, to trickle between my hands,
Smoldering rubies, to circle my arms.
You- you'd only a lilting song,
Only a melody, happy and high,
You were sudden and swift and strong-
Never a thought for another had I.
He'd have given me laces rare,
Dresses that glimmered with frosty sheen,
Shining ribbons to wrap my hair,
Horses to draw me, as fine as a queen.
You- you'd only to whistle low,
Gayly I followed wherever you led.
I took you, and I let him go-
Somebody ought to examine my head!
Dorothy Parker
¶ 28 de Abril de 2007
Estar sem ti
é estar em silêncio de montanha
sem existir montanha.
É ficar em desterro,
ou regressar, calado, de um enterro
e tomar lentamente um copo de vinho,
sozinho.
Artur Eduardo Benevides
¶ 28 de Abril de 2007

¶ 28 de Abril de 2007
I'll tell you what you want,
to say a word,
to know the letters in yourself,
a skin falls off,
a big eared head appears,
an eye and mouth.
Robert Creeley
¶ 28 de Abril de 2007
O som de tua voz
é um ramo a nascer
da árvore da vida.
Com medo de perder-te,
sempre que chegas sinto
o travo da partida.
E quero ficar à tua margem
— Ó rosa e Mar! —
e ver tua leveza de pássaro
a voar.
Artur Eduardo Benevides
¶ 27 de Abril de 2007

¶ 27 de Abril de 2007
II - A presença dolorosa do deserto
Teu nome
é meu deserto
e posso senti-lo
incrustado
no meu próprio
território
como uma pérola
ou um gesto no vazio
como o amargo azul
e tudo quanto
há de ilusório.
Teu nome
é meu deserto
e ele é tão vasto,
seus dentes tão agudos,
seus sóis raivosos
e suas letras
(setas de ouro e prata
dos meus lábios)
são meu terço
de mistérios dolorosos.
Micheliny Verunschk
¶ 27 de Abril de 2007

¶ 27 de Abril de 2007
I - O corpo amoroso do deserto
Teu corpo
branco e morno
(que eu deveria dizer sereno)
é para mim suave e doloroso
como as areias cortantes
dos desertos.
Que importa
que ignores minha sede
se tua miragem
é água cristalina?
E a miragem
eu firo com mil línguas
e cada uma
é um pássaro a bebê-la.
Ferroam minha pele
escorpiões de sol
com seu veneno
e vejo,
magoada de desejo
os grãos tão leves
indo embora ao vento.
Micheliny Verunschk
¶ 27 de Abril de 2007

¶ 27 de Abril de 2007
For me, the naked and the nude
(By lexicographers construed
As synonyms that should express
The same deficiency of dress
Or shelter) stand as wide apart
As love from lies, or truth from art.
Lovers without reproach will gaze
On bodies naked and ablaze;
The Hippocratic eye will see
In nakedness, anatomy;
And naked shines the Goddess when
She mounts her lion among men.
The nude are bold, the nude are sly
To hold each treasonable eye.
While draping by a showman's trick
Their dishabille in rhetoric,
They grin a mock-religious grin
Of scorn at those of naked skin.
The naked, therefore, who compete
Against the nude may know defeat;
Yet when they both together tread
The briary pastures of the dead,
By Gorgons with long whips pursued,
How naked go the sometime nude!
Robert Graves
¶ 26 de Abril de 2007
Outro chão quadriculado...
¶ 26 de Abril de 2007
A pedra, o vento, a luz alteada,
o salso mar eterno, o grito
do mergulhão, sob o infinito
azul: — Deus não me deve nada.
Hélio Pellegrino
¶ 26 de Abril de 2007

¶ 26 de Abril de 2007
Quase
sem saber
eu me feri
Quase
sem querer
eu me fechei
Quase
sem porquê
eu me exalei
Quase
sem mim
eu me perdi
em meio a multidão.
Cynara Novaes
¶ 26 de Abril de 2007
Our lives avoided tragedy
Simply by going on and on,
Without end and with little apparent meaning.
Oh, there were storms and small catastrophes.
Simply by going on and on
We managed. No need for the heroic.
Oh, there were storms and small catastrophes.
I don't remember all the particulars.
We managed. No need for the heroic.
There were the usual celebrations, the usual sorrows.
I don't remember all the particulars.
Across the fence, the neighbors were our chorus.
There were the usual celebrations, the usual sorrows
Thank god no one said anything in verse.
The neighbors were our only chorus,
And if we suffered we kept quiet about it.
At no time did anyone say anything in verse.
It was the ordinary pities and fears consumed us,
And if we suffered we kept quiet about it.
No audience would ever know our story.
It was the ordinary pities and fears consumed us.
We gathered on porches; the moon rose; we were poor.
What audience would ever know our story?
Beyond our windows shone the actual world.
We gathered on porches; the moon rose; we were poor.
And time went by, drawn by slow horses.
Somewhere beyond our windows shone the actual world.
The Great Depression had entered our souls like fog.
And time went by, drawn by slow horses.
We did not ourselves know what the end was.
The Great Depression had entered our souls like fog.
We had our flaws, perhaps a few private virtues.
But we did not ourselves know what the end was.
People like us simply go on.
We had our flaws, perhaps a few private virtues,
But it is by blind chance only that we escape tragedy.
And there is no plot in that; it is devoid of poetry.
Donald Justice
¶ 26 de Abril de 2007

¶ 26 de Abril de 2007
Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?
Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.
Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.
Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.
José Carlos Ary dos Santos
¶ 25 de Abril de 2007
Quem poderá domar os cavalos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?
Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?
Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?
Manuel Alegre
¶ 25 de Abril de 2007

¶ 25 de Abril de 2007
A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Sérgio Godinho
¶ 25 de Abril de 2007
Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se de antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
O nascer do dia
José Afonso
¶ 25 de Abril de 2007
Porque valeu a pena.
¶ 24 de Abril de 2007
Pensamentos, estações
Todas as roupas a menos para mais um verão
E o coração na boca e a
árvore que
Só tem frutas
vermelhas
Quando o menos
é mais
E, ao espreguiçar-se no
chão, telefone na mão, junto à
cama desfeita,
alguém percebe que:
Religiões e ideologias foram arquivadas até o Inverno!
Lucia Ribeiro da Silva
¶ 24 de Abril de 2007
Um homem
De madrugada e silêncio
Caminhava
Sob as árvores do parque
Depois
Nascendo grávidas e eternas
As suas mãos transitavam acesas entre as raízes
Por muito tempo
Antes de acontecer.
Lycio Neves
¶ 24 de Abril de 2007

¶ 24 de Abril de 2007
Pedra, sólida rocha
escondida sob
a terra
rodeada
pelo silêncio dos séculos
sozinha, quieta,
imóvel.
Formação natural
lava vulcânica
cristal de rocha
sedimentada,
preciosa
pedra,
mineral.
Tempo que tece a textura das cores
forja o reluzente reflexo
- diamante bruto,
instantâneo.
Sonho que salta
ofuscante, belo
- lavra de garimpeiro.
Mundo - negra mina
exaurida,
põe à nú vasta
desolação.
Uma réstia
de tua grande luz
permanece comigo
e vence
toda a escuridão.
Flávio Villa-Lobos
¶ 24 de Abril de 2007
Thinking in terms of one
Is easily done—
One room, one bed, one chair,
One person there,
Makes perfect sense; one set
Of wishes can be met,
One coffin filled.
But counting up to two
Is harder to do;
For one must be denied
Before it's tried.
Philip Larkin
¶ 24 de Abril de 2007

¶ 24 de Abril de 2007
na pele sem que ninguém ensine
escreve-se o romance das estações
é para inquietar no tempo
o vôo
e sua penugem guardada
entre o colorido da memória
das asas
a boca do tempo é sábia
na sua risada boa
pascal
mudam as estações
explosão que incendeia
sem levantar fogo
do teu sorriso saem flores
a mão não sabe
mas a alma alcança
Cissa de Oliveira
¶ 23 de Abril de 2007
Minha fome é outra.
Não aquela que abre um buraco negro
no estômago
- vazio invisível,
que da boca algum alimento
lácteo - via esôfago -
cessa prontamente
até a próxima angústia.
Minha fome é outra.
Não um simples estar-no-mundo,
como disse Drummond
- o universo para mim
é pouco.
Minha fome salta como louca,
labareda intrépida
num incêndio grandioso.
Ela me devorará
ainda que eu entregue os pontos;
a eternidade é uma tosca
linha de partida
no horizonte, a cegar-me o olho.
Sim, minha fome é outra
- indigesta, não toca
as iguarias da estalagem.
Não tem nome,
nem forma, nem nada.
Apenas remove
montanhas, ajudando-me a vencer
o caminho penoso
sem jamais perder de vista
a paisagem.
Flávio Villa-Lobos
¶ 23 de Abril de 2007
How shall I wail, that wasn't meant for weeping?
Love has run and left me, oh, what then?
Dream, then, I must, who never can be sleeping;
What if I should meet Love, once again?
What if I met him, walking on the highway?
Let him see how lightly I should care.
He'd travel his way, I would follow my way;
Hum a little song, and pass him there.
What if at night, beneath a sky of ashes,
He should seek my doorstep, pale with need?
There could he lie, and dry would be my lashes;
Let him stop his noise, and let me read.
Oh, but I'm gay, that's better off without him;
Would he'd come and see me, laughing here.
Lord! Don't I know I'd have my arms about him,
Crying to him, "Oh, come in, my dear!"
Dorothy Parker
¶ 23 de Abril de 2007

¶ 23 de Abril de 2007
Cut if you will, with Sleep's dull knife,
Each day to half its length, my friend,—
The years that Time take off my life,
He'll take from off the other end!
Edna St. Vincent Millay
¶ 23 de Abril de 2007
É necessário dar o derradeiro salto
chegar à derradeira negação
reconhecer o caos e aceitar o acaso
a fim de continuar-se a construção
que dê abrigo e sentido
ao que não tem.
Nenhum.
Benedicto Ferri de Barros
¶ 22 de Abril de 2007

¶ 22 de Abril de 2007
I will be the gladdest thing
Under the sun!
I will touch a hundred flowers
And not pick one.
I will look at cliffs and clouds
With quiet eyes,
Watch the wind bow down the grass,
And the grass rise.
And when lights begin to show
Up from the town,
I will mark which must be mine,
And then start down!
Edna St. Vincent Millay
¶ 22 de Abril de 2007
O que dizer das mãos,
se os dedos inágeis
já não tecem paixões
O que dizer dos braços
se foi num abraço
que te perdi
Restará talvez
o que dizer de nós
do que tentamos ser
Vã tentativa,
diluída na expectativa
de se conhecer
Mário Donizete Massari
¶ 22 de Abril de 2007

¶ 22 de Abril de 2007
não é sempre que consigo
ser eu mesmo, às vezes
sou outro, irreconhecível
zonzo de existir assim
outro
não o mesmíssimo
apesar da face
das mãos e olhos
do hálito da boca
apesar de tudo
outro
outro dentro de mim
um guerreiro angustiado
sem armas adequadas
de mãos atadas
herói capturado
Luis Edmundo Alves
¶ 21 de Abril de 2007

¶ 21 de Abril de 2007
Lift not the painted veil which those who live
Call Life: though unreal shapes be pictured there,
And it but mimic all we would believe
With colours idly spread,--behind, lurk Fear
And Hope, twin Destinies; who ever weave
Their shadows, o'er the chasm, sightless and drear.
I knew one who had lifted it--he sought,
For his lost heart was tender, things to love,
But found them not, alas! nor was there aught
The world contains, the which he could approve.
Through the unheeding many he did move,
A splendour among shadows, a bright blot
Upon this gloomy scene, a Spirit that strove
For truth, and like the Preacher found it not.
Percy Bysshe Shelley
¶ 21 de Abril de 2007
Our eyes
are limpid
drops of water.
In each drop exists
a tiny sign
of our genius
which has given life to cold iron.
Our eyes
are limpid
drops of water
merged absolutely in the Ocean
that you could hardly recognize
the drop in a block of ice
in a boiling pan.
The masterpiece of these eyes
the fulfillment of their genius
the living iron.
In these eyes
filled with limpid
pure tears
had failed to emerge
from the infinite Ocean
if the strength
had dispersed,
we could never have mated
the dynamo with the turbine,
never have moved
those steel mountains in water
easily
as if made of hollow wood.
The masterpiece of these eyes
the fulfillment of their genius
of our unified labour
the living iron.
Nazim Hikmet, translated by Taner Baybars
¶ 21 de Abril de 2007
It is not power and fame
That make success;
It is not rank or name
Rate happiness.
It is not honour due
Nor pile of pelf:
The pay-off is: Did you
Enjoy yourself?
A pal of days gone by
I reckon more
Of a success than I
Who've gold in store
His life, though none too long,
Was never dull:
Of woman, wine and song
Bill had his full.
Friend, you are a success
If you can say:
"A heap of happiness
Has come my way.
No cheers have made me glad,
No wealth I've won;
But oh how I have had
A heap of FUN!"
Robert Service
¶ 21 de Abril de 2007

¶ 21 de Abril de 2007
Pouco a pouco vai
canto claro dos galos
clareando o dia
Oldegar Vieira
¶ 20 de Abril de 2007
(ou legenda para o Zeitgeist...)
Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequanos.
Burgueses somos nós todos
ó literatos.
Burgueses somos nós todos
ratos e gatos
Burgueses somos nós todos
por nossas mãos.
Burgueses somos nós todos
que horror irmãos.
Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequenos.
Mário Cesariny
¶ 20 de Abril de 2007
Revoadas brancas
sobre rochedos escuros:
gaivotas e espumas.
Oldegar Vieira
¶ 20 de Abril de 2007
They laid their hands upon my head,
They stroked my cheek and brow;
And time could heal a hurt, they said,
And time could dim a vow.
And they were pitiful and mild
Who whispered to me then,
"The heart that breaks in April, child,
Will mend in May again."
Oh, many a mended heart they knew.
So old they were, and wise.
And little did they have to do
To come to me with lies!
Who flings me silly talk of May
Shall meet a bitter soul;
For June was nearly spent away
Before my heart was whole.
Dorothy Parker
¶ 20 de Abril de 2007

¶ 20 de Abril de 2007
Aqueles de um país costeiro, há séculos,
contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos. Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.
Fiama Hasse Pais Brandão
¶ 20 de Abril de 2007
Spring rain
leaking through the roof
dripping from the wasps' nest.
Matsuo Basho, translated by Robert Hass
¶ 20 de Abril de 2007

¶ 20 de Abril de 2007
Vento nas ilhas
Gaivotas sobre o mar
Imitam veleiros
Oddone Marsiaj
¶ 20 de Abril de 2007
Viva palabra obscura,
palabra del principio,
principio sin palabra,
piedra y piedra, sequía,
verdor súbito,
fuego que no se acaba,
agua que brilla en una cueva:
no existes, pero vives,
en nuestra angustia habitas,
en el fondo vacío del instante
— oh aburrimiento —,
en el trabajo y el sudor, su fruto,
en el sueño que engendra y el muro que prohibe.
Dios vacío, Dios sordo, Dios mío,
lágrima nuestra, blasfemia,
palabra y silencio del hombre,
signo del llanto, cifra de sangre,
forma terrible de la nada,
araña del miedo,
reverso del tiempo,
gracia del mundo, secreto indecible,
muestra tu faz que aniquila,
que al polvo voy, al fuego impuro.
Octavio Paz
¶ 20 de Abril de 2007

¶ 20 de Abril de 2007
I
Who would be
A mermaid fair,
Singing alone,
Combing her hair
Under the sea,
In a golden curl
With a comb of pearl,
On a throne?
II
I would be a mermaid fair;
I would sing to myself the whole of the day;
With a comb of pearl I would comb my hair;
And still as I comb'd I would sing and say,
'Who is it loves me? who loves not me?'
I would comb my hair till my ringlets would fall
Low adown, low adown,
From under my starry sea-bud crown
Low adown and around,
And I should look like a fountain of gold
Springing alone
With a shrill inner sound
Over the throne
In the midst of the hall;
Till that great sea-snake under the sea
From his coiled sleeps in the central deeps
Would slowly trail himself sevenfold
Round the hall where I sate, and look in at the gate
With his large calm eyes for the love of me.
And all the mermen under the sea
Would feel their immortality
Die in their hearts for the love of me.
III
But at night I would wander away, away,
I would fling on each side my low-flowing locks,
And lightly vault from the throne and play
With the mermen in and out of the rocks;
We would run to and fro, and hide and seek,
On the broad sea-wolds in the crimson shells,
Whose silvery spikes are nighest the sea.
But if any came near I would call and shriek,
And adown the steep like a wave I would leap
From the diamond-ledges that jut from the dells;
For I would not be kiss'd by all who would list
Of the bold merry mermen under the sea.
They would sue me, and woo me, and flatter me,
In the purple twilights under the sea;
But the king of them all would carry me,
Woo me, and win me, and marry me,
In the branching jaspers under the sea.
Then all the dry-pied things that be
In the hueless mosses under the sea
Would curl round my silver feet silently,
All looking up for the love of me.
And if I should carol aloud, from aloft
All things that are forked, and horned, and soft
Would lean out from the hollow sphere of the sea,
All looking down for the love of me.
Alfred Lord Tennyson
¶ 19 de Abril de 2007
Apesar da cópia das chuvas
o Siupé ainda rompe ao mar
por fios distintos --- sortidos
bancos de areia em seu leito
Poucosminutos antes, alaga
o curso em cisterna de pingos
recentes, e segue roendo duna
mais alta. Água morena e
menos salobre que a suspeita
ocorre macia, riscando à giz
de pequenas espumas muro
e areia. Pios de aves vários
coaxar de sapos em altercação
canina, vagos chocalhos e
cabras, nas encostas cerradas
da contramargem. Leste, à luz
oposta, distância, vermelhos de
telhado, arabesco de casuarinas
vão sinuoso mas plano, indistinção
vegetal de guindastes, no porto, lá
no enfim de tudo, coqueiros e alga
ao longo. Quase como sem que
as sombras daqui antes lá estivessem
e a ave dissesse as palavras
Taíba, Pecém, Siupé, e logo
por um acontecimento branco
onde nada tem a ver com palavras
o olho ressumasse o mar
Ruy Vasconcelos
¶ 19 de Abril de 2007

¶ 19 de Abril de 2007
Matrix of world
upon a turtle's broad back,
carried on like that,
eggs as pearls,
flesh and blood and bone
all borne along.
Robert Creeley
¶ 19 de Abril de 2007
Para habitar as planícies da ausência
e escalar os montes de tempo
que não vives
eis a secreta viagem
duma ave imaginária
em busca do instante
onde tudo recomeça
Armando Artur
¶ 19 de Abril de 2007
Axes
After whose stroke the wood rings,
And the echoes!
Echoes traveling
Off from the center like horses.
The sap
Wells like tears, like the
Water striving
To re-establish its mirror
Over the rock
That drops and turns,
A white skull,
Eaten by weedy greens.
Years later I
Encounter them on the road----
Words dry and riderless,
The indefatigable hoof-taps.
While
From the bottom of the pool, fixed stars
Govern a life.
Sylvia Plath
¶ 19 de Abril de 2007
Tudo vai revertendo
em sono forte.
Impulso de fuga
para o país vário
da insolência do sol,
da tempestade
temperada em sonho.
O sono vai correndo
ardiloso
todas as formas,
dentes,
olhos por fora.
E o coração pára
diluído no copo d'água
ao lado.
Heitor Ferraz Mello
¶ 19 de Abril de 2007
Good-night? ah! no; the hour is ill
Which severs those it should unite;
Let us remain together still,
Then it will be good night.
How can I call the lone night good,
Though thy sweet wishes wing its flight?
Be it not said, thought, understood --
Then it will be -- good night.
To hearts which near each other move
From evening close to morning light,
The night is good; because, my love,
They never say good-night.
Percy Bysshe Shelley
¶ 18 de Abril de 2007

¶ 18 de Abril de 2007
Quando deponho sobre os teus dedos de frio
uma mão de grinalda e de sonhos
vejo o amanhã inscrito nos teus olhos.
Armando Artur
¶ 18 de Abril de 2007
Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.
Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.
Eugénio de Andrade
¶ 18 de Abril de 2007

¶ 18 de Abril de 2007
A fool I was to sleep at noon,
And wake when night is chilly
Beneath the comfortless cold moon;
A fool to pluck my rose too soon,
A fool to snap my lily.
My garden-plot I have not kept;
Faded and all-forsaken,
I weep as I have never wept:
Oh it was summer when I slept,
It's winter now I waken.
Talk what you please of future spring
And sun-warm'd sweet to-morrow:--
Stripp'd bare of hope and everything,
No more to laugh, no more to sing,
I sit alone with sorrow.
Christina Rossetti
¶ 18 de Abril de 2007
(de um beijo muito antigo, perdidos os passos)
Do
not
be
preposterous
¶ 17 de Abril de 2007

¶ 17 de Abril de 2007
Na praia de coisas brancas
Abrem-se às ondas cativas
Conchas brancas, coxas brancas
Águas-vivas.
Aos mergulhares do bando
Afloram perspectivas
Redondas, se aglutinando
Volitivas.
E as ondas de pontas roxas
Vão e vêm, verdes e esquivas
Vagabundas, como frouxas
Entre vivas!
Vinicius de Moraes
¶ 17 de Abril de 2007
Marriage is not
a house or even a tent
it is before that, and colder:
The edge of the forest, the edge
of the desert
the unpainted stairs
at the back where we squat
outside, eating popcorn
where painfully and with wonder
at having survived even
this far
we are learning to make fire
Margaret Atwood
¶ 17 de Abril de 2007

¶ 16 de Abril de 2007
A thrush, because I'd been wrong,
Burst rightly into song
In a world not vague, not lonely,
Not governed by me only.
Richard Wilbur
¶ 16 de Abril de 2007
e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia
Al Berto
¶ 16 de Abril de 2007

¶ 15 de Abril de 2007
I met a traveller from an antique land
Who said: "Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert . . . Near them, on the sand,
Half sunk, a shattered visage lies, whose frown,
And wrinkled lip, and sneer of cold command,
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamped on these lifeless things,
The hand that mocked them, and the heart that fed:
And on the pedestal these words appear:
'My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye Mighty, and despair!'
Nothing beside remains. Round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare
The lone and level sands stretch far away."
Percy Bysshe Shelley
¶ 15 de Abril de 2007

¶ 15 de Abril de 2007
Aquela saia roda
como o topo do moinho de pás,
o que em mim confirma agora
que o vento me reveste.
*
O tépido calor cobre-me
por fora de tules em flor.
As folhas do loureiro ridentes
assemelham-se ao meu vestido
de verde cassa. Agradeço, pois, às bocas
de parentes os nomes ditos.
*
Todas as roupas usadas
próprias do Verão são aquele
vestido único, porque me haviam dito
que ao entrar pelos olhos
ele me cobria de fulgor.
Fiama Hasse Pais Brandão
¶ 15 de Abril de 2007

¶ 15 de Abril de 2007
Stand upright, prehensile,
squat, determined,
small guardians of the painful
outside coming in --
in stuck in vials with needles,
bleeding life in, particular, heedless.
Robert Creeley
¶ 15 de Abril de 2007
Acabou o café.
Acabou a hora.
Acabou o tempo.
O estado final
É a decomposição da idéia,
A entrega.
O antegozo ficou
Sem o ato final,
E saímos todos
De mãos abanando
Na falta de outras
Para segurá-las.
Ana Peluso
¶ 15 de Abril de 2007
Por crimes que ocorriam nas monstruosas relações entre nações, por crimes que ocorriam naqueles espaços íntimos entre duas pessoas, sem qualquer testemunha, por estes crimes, os culpados nunca pagariam. Não havia religião nem governo que mitigasse o inferno.
Kiran Desai, in A Herança do Vazio, trad. Vera Falcão Martins, ed. Porto Editora.
¶ 14 de Abril de 2007

¶ 14 de Abril de 2007
They say you can jinx a poem
if you talk about it before it is done.
If you let it out too early, they warn,
your poem will fly away,
and this time they are absolutely right.
Take the night I mentioned to you
I wanted to write about the madmen,
as the newspapers so blithely call them,
who attack art, not in reviews,
but with breadknives and hammers
in the quiet museums of Prague and Amsterdam.
Actually, they are the real artists,
you said, spinning the ice in your glass.
The screwdriver is their brush.
The real vandals are the restorers,
you went on, slowly turning me upside-down,
the ones in the white doctor's smocks
who close the wound in the landscape,
and thus ruin the true art of the mad.
I watched my poem fly down to the front
of the bar and hover there
until the next customer walked in--
then I watched it fly out the open door into the night
and sail away, I could only imagine,
over the dark tenements of the city.
All I had wished to say
was that art was also short,
as a razor can teach with a slash or two,
that it only seems long compared to life,
but that night, I drove home alone
with nothing swinging in the cage of my heart
except the faint hope that I might
catch a glimpse of the thing
in the fan of my headlights,
maybe perched on a road sign or a street lamp,
poor unwritten bird, its wings folded,
staring down at me with tiny illuminated eyes.
Billy Collins
¶ 14 de Abril de 2007
sob as vírgulas
o peixe filtrado pelo
olho envolto no verde
exceto abaixo
onde seixos
calam fundo
mas o espectro
argento do peixe
em vago rastro
até os seixos
move uma farpa
que não cessa
Ruy Vasconcelos
¶ 14 de Abril de 2007
Therefore, tell me:
what will engage you?
What will open the dark fields of your mind,
like a lover
at first touching?
Mary Oliver
¶ 14 de Abril de 2007

¶ 14 de Abril de 2007
The poem is not the world.
It isn't even the first page of the world.
But the poem wants to flower, like a flower.
It knows that much.
It wants to open itself,
like the door of a little temple,
so that you might step inside and be cooled and refreshed,
and less yourself than part of everything.
Mary Oliver
¶ 14 de Abril de 2007
não
ficará
perda
sobre
perda
Ruy Vasconcelos
¶ 14 de Abril de 2007

¶ 13 de Abril de 2007
As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.
Luís Miguel Nava
¶ 13 de Abril de 2007
All my life
I sought
an angel.
And he appeared
in order to say:
"I am no angel !"
Regina Derieva, translated by Kevin Carey
¶ 13 de Abril de 2007

¶ 12 de Abril de 2007
Migro,
vida-a-vida.
Tempo a tempo,
mudo.
Canto
e vou e volto.
Se não volto,
meu canto é presença
e permaneço.
Adail Sobral
¶ 12 de Abril de 2007

¶ 12 de Abril de 2007
a fala aflora à flor da boca
às vezes como fogos de artifício
fulguração contra os terrores do silêncio
só espada espavento espelho
ou pedra ficção arremessada
ou canção para cantar as graças
as virilhas as maravilhas da amada
a deusa idolatrada do amor:
essa outra voz quase jazz
que subjaz ventríloqua de si mesma
Geraldo Carneiro
¶ 12 de Abril de 2007
escavo
noite e chuva
limpa e leve
nódos de bambu
vincos de
lençóis, ondas
de lagoa
um bonsai
Ruy Vasconcelos
¶ 12 de Abril de 2007

¶ 12 de Abril de 2007
I long to talk with some old lover's ghost,
Who died before the God of Love was born:
I cannot think that he, who then loved most,
Sunk so low as to love one which did scorn.
But since this god produced a destiny,
And that vice-nature, Custom, lets it be,
I must love her that loves not me.
Sure, they which made him god meant not so much,
Nor he in his young godhead practised it;
But when an even flame two hearts did touch,
His office was indulgently to fit
Actives to passives. Correspondency
Only his subject was; it cannot be
Love, till I love her that loves me.
But every modern god will now extend
His vast prerogative as far as Jove.
To rage, to lust, to write to, to commend,
All is the purlieu of the God of Love.
Oh were we wakened by this tyranny
To ungod this child again, it could not be
I should love her who loves not me.
Rebel and atheist too, why murmur I
As though I felt the worst that love could do?
Love might make me leave loving, or might try
A deeper plague, to make her love me too,
Which, since she loves before, I'm loth to see;
Falsehood is worse than hate; and that must be,
If she whom I love should love me.
John Donne
¶ 11 de Abril de 2007

¶ 11 de Abril de 2007
as aves do céu que não
semeiam nem colhem
cantam e cantam numa
rua paulistana ao
araxá do dia
e à dobra da manhã
girando nos gonzos um
suave azul-sem-sol
sobre a fachada dos
pequenos sobrados
às primeiras árvores
que são verdes, ao
primeiro homem que
assustado, desce a
ladeira em mangas de
camisa, ao primeiro furgão
onde se pode ler
‘reportagem’ em letras
verdes sobre um fundo
branco, às últimas luzes
das garagensalternando
amarelos e vermelhos
ainda vivas, às luzes ao
longe, devoradas pelo serrar-se
do dia, à única lâmpada
acesa por trás de um
basculante à frente de
diferentes frascos à distância
de uma quadra, no terceiro e
último andar de um prédio
de uma noite, de um dobre
de finados, e à distância de
muitos e no último andar
da distância, a serra da
cantareira, impassível
no mais encantado
suave, sereno, suspenso
como o canto das aves
do céu que não semeiam
nem colhem, mas
calam as franjas do dia
Ruy Vasconcelos
¶ 11 de Abril de 2007

¶ 11 de Abril de 2007
I have eaten
the plums
that were in
the icebox
and which
you were probably
saving
for breakfast
Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold
William Carlos Williams
¶ 11 de Abril de 2007
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
João Cabral de Melo Neto
¶ 10 de Abril de 2007
Wrapping the rice cakes,
with one hand
she fingers back her hair.
Matsuo Basho, translated by Robert Hass
¶ 10 de Abril de 2007

¶ 10 de Abril de 2007
Who is it nuzzles there
with furred, round headed stare?
Who, perched on the skin,
body's float, is holding on?
What other one stares still,
plays still, on and on?
Robert Creeley
¶ 10 de Abril de 2007
sem pulsos
escavo mangues
calmarias
sequer
cristais
refletem
o açafrão de
teus olhos
Ruy Vasconcelos
¶ 10 de Abril de 2007

¶ 9 de Abril de 2007
Caminho diariamente
Percorro as estradas gélidas
do deserto escaldante da dúvida
pincelando a vida
de erros e acertos
noites e oásis
frustrações e delírios
e dúvidas
A cada suspiro de alívio
uma nova dúvida
A cada projeto
A cada desafio
A cada sol
A cada lua
A cada pausa
A cada recomeço
Lá está escondida,
enterrada,
disfarçada:
a dúvida
Nada é absoluto.
Nada?
Laeticia Jensen Eble
¶ 9 de Abril de 2007

¶ 9 de Abril de 2007
Quem é esse ser que me habita
Que por mim fala e em mim cala
Quem é este estranho ser
Que vive em mim entre ter e haver
Que em mim se esconde
Que por mim responde
Que se perfaz em devaneios
Sempre aqui, acolá ou de permeio.
Que mais existe quanto mais anseio
Que sofre em mim quando amo
Que se alegra quando sofro
Que procura tecer sua trama
Nesse drama em que sou chama
Quem é este ser que me habita
Que me desdiz sem me dizer
Que se desfaz no meu fazer
Que grita em minha garganta
Que quanto menor mais se agiganta
Quem este poema escreve?
Sou eu mesmo ou um outro ser em mim?
Alberto Beuttenmüller
¶ 9 de Abril de 2007
I don't feel at home where I am,
or where I spend time; only where,
beyond counting, there's freedom and calm,
that is, waves, that is, space where, when there,
you consist of pure freedom, which, seen,
turns that Gorgon, the crowd, to stone,
to pebblesand sand . . . where life's mean-
ing lies buried, that never let one
comewithin cannon shot yet.
From cloud-coveredwells untold
pour color and light, a fete
of cupids and Ledas in gold.
That is, silk and honey and sheen.
That is, boon and quiver and call.
That is, all that lives to be free,
needing no words at all.
Regina Derieva, translated by Alan Shaw
¶ 9 de Abril de 2007

¶ 8 de Abril de 2007
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Cecília Meireles
¶ 8 de Abril de 2007
escavo uma
calçada de
vidro
e pés-ante-pés
saltaremos dela
para
o trapézio
da casa
Ruy Vasconcelos
¶ 8 de Abril de 2007

¶ 7 de Abril de 2007
Seeing is believing.
Whatever was thought or said,
these persistent, inexorable deaths
make faith as such absent,
our humanness a question,
a disgust for what we are.
Whatever the hope,
here it is lost.
Because we coveted our difference,
here is the cost.
Robert Creeley
¶ 7 de Abril de 2007

¶ 7 de Abril de 2007
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.
Manoel de Barros
¶ 7 de Abril de 2007
nos galhos
escavo
ao inverso
um nó de
barro para
estar lá
desde calor
Ruy Vasconcelos
¶ 7 de Abril de 2007
Sleeping birds, lead me,
soft birds, be me
inside this black room,
back of the white moon.
In the dark night
sight frightens me.
Robert Creeley
¶ 7 de Abril de 2007

¶ 7 de Abril de 2007
Daughters of Time, the hypocritic Days,
Muffled and dumb like barefoot dervishes,
And marching single in an endless file,
Bring diadems and fagots in their hands.
To each they offer gifts after his will,
Bread, kingdoms, stars, and sky that holds them all.
I, in my pleached garden, watched the pomp,
Forgot my morning wishes, hastily
Took a few herbs and apples, and the Day
Turned and departed silent. I, too late,
Under her solemn fillet saw the scorn.
Ralph Waldo Emerson
¶ 6 de Abril de 2007

¶ 6 de Abril de 2007
com vagar
e luzes indiretas
escavo
nove peças
mobiliadas
(vamos nos
deitar em
cada)
Ruy Vasconcelos
¶ 6 de Abril de 2007
I wake to sleep, and take my waking slow.
I feel my fate in what I cannot fear.
I learn by going where I have to go.
We think by feeling. What is there to know?
I hear my being dance from ear to ear.
I wake to sleep, and take my waking slow.
Of those so close beside me, which are you?
God bless the Ground! I shall walk softly there,
And learn by going where I have to go.
Light takes the Tree; but who can tell us how?
The lowly worm climbs up a winding stair;
I wake to sleep, and take my waking slow.
Great Nature has another thing to do
To you and me; so take the lively air,
And, lovely, learn by going where to go.
This shaking keeps me steady. I should know.
What falls away is always. And is near.
I wake to sleep, and take my waking slow.
I learn by going where I have to go.
Theodore Roethke
¶ 6 de Abril de 2007

¶ 6 de Abril de 2007
soa
como um rio
um murmúrio
um tom acima
um crepitar
de lamas
um desvelo
um farfalhar
de escovas
sons guturais
de um cego que
enxerga o fim
mãos
que se apertam
acolhem a benção
se cruzam
no escuro
gritam no gozo
cismas de velhos
crianças calam
massas ululam
a língua úmida
o dente tenso
cordas canoras
Abilio Terra Junior
¶ 6 de Abril de 2007
escavo
uma casa
na rocha, onde
partiremos
o mesmo
fôlego verde
de quaresmeiras
Ruy Vasconcelos
¶ 6 de Abril de 2007

¶ 5 de Abril de 2007
Since we agreed to let the road between us
Fall to disuse,
And bricked our gates up, planted trees to screen us,
And turned all time's eroding agents loose,
Silence, and space, and strangers - our neglect
Has not had much effect.
Leaves drift unswept, perhaps; grass creeps unmown;
No other change.
So clear it stands, so little overgrown,
Walking that way tonight would not seem strange,
And still would be allowed. A little longer,
And time will be the stronger,
Drafting a world where no such road will run
From you to me;
To watch that world come up like a cold sun,
Rewarding others, is my liberty.
Not to prevent it is my will's fulfillment.
Willing it, my ailment.
Philip Larkin
¶ 5 de Abril de 2007

¶ 5 de Abril de 2007
(gentileza de Zeferino M. Silva)
Assim, Jesus, venho encontrar estes teus pés,
que outrora foram pés de adolescente,
quando eu tos descalçava e os lavava a medo;
como se emaranhavam em meu cabelo
como corça branca em moita de espinheiros.
Assim eu vejo teus membros nunca-amados
pela primeira vez nesta noite de amor.
Nós ambos nunca nos deitámos juntos,
e agora é só admirar e velar.
Mas como as tuas mãos estão laceradas - :
E não é, Amado, de eu tas ter mordido.
Teu coração está aberto, e pode-se entrar nele:
e devia ter sido só minha a entrada.
Agora estás cansado, e a tua boca cansada
não deseja a minha boca dorida - .
Jesus, Jesus, quando foi a nossa hora?
Que singularmente nos perdemos ambos!
Rainer Maria Rilke, tradução de Paulo Quintela
¶ 5 de Abril de 2007

¶ 5 de Abril de 2007
Por toda a parte o rio
solta serpente a rojar-se
na paisagem da planície
cobra domada à força por
barrancas e algemas de pontes
ou cativo fragmento no pote
na palma côncava do púcaro
no copo translúcido e mínimo
leite a pojar o seio das cuias.
Em águas batismais comungo
e mergulho o arcaico corpo de
remotíssimo passado anfíbio
nós todos tão sáurios tão
irmãos de peixes e quelônios
e espelho o rosto em fuga por
águas igualmente fugitivas
e comigo vai o rio rente rindo
roendo ruindo riando submim
num subsolo de sonhos.
Astrid Cabral
¶ 4 de Abril de 2007
It is moonlight. Alone in the silence
I ascend my stairs once more,
While waves, remote in a pale blue starlight,
Crash on a white sand shore.
It is moonlight. The garden is silent.
I stand in my room alone.
Across my wall, from the far-off moon,
A rain of fire is thrown . . .
There are houses hanging above the stars,
And stars hung under a sea:
And a wind from the long blue vault of time
Waves my curtain for me . . .
I wait in the dark once more,
Swung between space and space:
Before my mirror I lift my hands
And face my remembered face.
Is it I who stand in a question here,
Asking to know my name? . . .
It is I, yet I know not whither I go,
Nor why, nor whence I came.
It is I, who awoke at dawn
And arose and descended the stair,
Conceiving a god in the eye of the sun,—
In a woman's hands and hair.
It is I whose flesh is gray with the stones
I builded into a wall:
With a mournful melody in my brain
Of a tune I cannot recall . . .
There are roses to kiss: and mouths to kiss;
And the sharp-pained shadow of death.
I remember a rain-drop on my cheek,—
A wind like a fragrant breath . . .
And the star I laugh on tilts through heaven;
And the heavens are dark and steep . . .
I will forget these things once more
In the silence of sleep.
Conrad Aiken
¶ 4 de Abril de 2007

¶ 4 de Abril de 2007
O Coro das Ninfas:
- Que remédio deste aos humanos contra o desespero?
Prometeu:
- Dei-lhes uma esperança infinita no Futuro
Ésquilo, in Prometeu Acorrentado
¶ 4 de Abril de 2007
Não queriam a vida.
Bastava-lhes a imagem.
Alérgicos a horizontes
não chegavam à janela.
Só miravam a paisagem
por entre câmaras e lentes
cumprindo programas
de turísticas viagens.
Nem poentes nem montes
nem sorrisos nem olhares
confiavam à memória.
Queriam fotos nos álbuns
e carrosséis de slides.
À noite, cegos, não viam
o rastro do dia nos rostos
em torno e, lábios de pedra,
não riscavam a faísca
do diálogo nem o fogo
generoso do convívio.
Preferiam o amor da novela.
Dissolvidos em poltronas
em frente à tela acesa
acordados dormiam
despidos de si mesmos.
Astrid Cabral
¶ 4 de Abril de 2007
Geada rude
brancura inclemente
Lua minguante
Shinobu Saiki
¶ 4 de Abril de 2007

¶ 4 de Abril de 2007
(gentileza de Amélia Pais)
amor não sentimento não ternura
não desejo não sexo não amor
amor nada concreto não os olhos
preso nunca no peito não por cento
amor fascínio fuga sal sedento
não ângulo não vértice de vidro
não as ruas desertas pensamento
amor não sentimento não sentido
não amor não entrega nunca posse
a fuga porque não nada fragmnento
não amor por amor nunca deserto
amor não violento não de vento.
não amor desejado mão de invento
amor sempre de não de tempo a tempo.
E.M de Melo e Castro
¶ 3 de Abril de 2007

¶ 3 de Abril de 2007
Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.
Um rio nasceu.
Vinicius de Moraes
¶ 3 de Abril de 2007
(gentileza de Amélia Pais)
Os cantos dos homens são mais belos que os homens,
mais densos de esperança,
mais tristes,
com uma vida mais longa.
Mais do que os homens eu amei os seus cantos.
Consegui viver sem os homens
nunca sem os cantos;
aconteceu-me ser fiel
à minha bem amada
mas nunca ao canto que para ela cantei:
nunca também os cantos me enganaram.
Qualquer que fosse a sua língua
sempre compreendi os cantos.
Neste mundo,
de tudo o que pude beber e comer
de todos os países por onde andei,
de tudo o que pude ver e ouvir,
de tudo o que pude tocar e compreender
nada, nada
conseguiu fazer-me tão feliz como os cantos...
Nâzim Hikmet, tradução de Rui Caeiro
¶ 3 de Abril de 2007

¶ 3 de Abril de 2007
There are so many roots to the tree of anger
that sometimes the branches shatter
before they bear.
Sitting in Nedicks
the women rally before they march
discussing the problematic girls
they hire to make them free.
An almost white counterman passes
a waiting brother to serve them first
and the ladies neither notice nor reject
the slighter pleasures of their slavery.
But I who am bound by my mirror
as well as my bed
see causes in color
as well as sex
and sit here wondering
which me will survive
all these liberations.
Audre Lorde
¶ 2 de Abril de 2007

¶ 2 de Abril de 2007
À beira do cais deserto,
o barco ancorado sonha com procelas,
e eu, que cheguei há pouco,
vindo de dentro de um sonho impossível,
que sonho eu?
Dize-me, barco, o teu segredo
parado nesta ponta de espera,
nesta beira de cais!
É sempre a mesma a distância
que vai da praia à linha do horizonte?
... e eu, que venho de ruas estreitas,
sempre me perco.
Vagos murmúrios marinhos me acompanham
barcos invisíveis vêm à tona
cheios de peixes voadores...
Mauro Mendes
¶ 2 de Abril de 2007
Na beira mar
da seca
o monumento
às ondas.
Maria da Paz R. Dantas
¶ 2 de Abril de 2007

¶ 2 de Abril de 2007
Preparei a casa para te esperar:
procurei nos cantos o passado
e engastei-o à soleira da porta,
petrificado em dor, mas refulgente.
Não foi necessário mudar de casa
para te esperar. Bastou a tua vinda,
ainda de madrugada, para que tudo mudasse,
e a lua crescente surgisse ao meio dia.
A cama está feita, a mesa está posta,
nas compoteiras brilham sobremesas
feitas para adoçarem a tua boca
quando a vida amargar, travar-se o riso.
Meu corpo não é o mesmo de ontem,
mas é mais virgem, através das horas,
que me apartaram de outros desejos
dos quais me afasto, emigrada de mim mesma.
Foi gratuito o teu chegar. Por isso fica:
permanece em mim e esquece a lágrima.
Te esperei para chamar-te "meu amor",
embora ingressem em minha voz e corpo
antigas sereias, com pentes de espelhos,
a retrançar meus cabelos destrançados,
e te convidem para o sábio mergulho
onde habitaremos: nós e o tempo.
Maria da Conceição Paranhos
¶ 1 de Abril de 2007

¶ 1 de Abril de 2007
(gentileza de Amélia Pais)
Perdoa, não sabia que cantavas
em sossego, silenciosamente. Neste calor
é preciso beber água gelada; também convém
não adorar ídolos, por exemplo a imagem
que aí trazes de ti e te atormenta
(ou me atormenta a mim?).
Outros exemplos incluem jardins de babilónia,
erupções do etna, o efeito
afrodisíaco do diamante,
as ciências da educação.
Vou-me sentar aqui, respirar até doer
as coisas possíveis nunca reais,
aprender, nó a nó, como te soltas,
vamos cair num poço, sem
bússola e pára-quedas, vamos ser o primeiro
amor a dois no mundo.
António Franco Alexandre
¶ 1 de Abril de 2007
I cannot tell you how it was;
But this I know: it came to pass
Upon a bright and breezy day
When May was young; ah pleasant May!
As yet the poppies were not born
Between the blades of tender corn;
The last eggs had not hatched as yet,
Nor any bird foregone its mate.
I cannot tell you what it was;
But this I know: it did but pass.
It passed away with sunny May,
With all sweet things it passed away,
And left me old, and cold, and grey.
Christina Rossetti
¶ 1 de Abril de 2007
