Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de setembro 2004


30 de Setembro de 2004

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30 de Setembro de 2004

Recado A. M., uma mulher

Recado

A. M., uma mulher que admiro, culta, muito sensível e inteligente, mandou-me um recado electrónico, acerca de estados de alma: diz ela que "a felicidade também se constrói pela beleza; e por acreditarmos nela com muita vontade. (...) gostaria de acreditar que se chamar a alegria ela virá ter consigo". Se ela o diz, é mais do que certo. Por mim, nihil obstat.
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30 de Setembro de 2004

Waterhouse --------


Waterhouse --------


30 de Setembro de 2004

Agradecimento autêntico (ou da sinceridade

Agradecimento autêntico (ou da sinceridade realista)

"Obrigada por tudo, apesar de tudo o resto."
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30 de Setembro de 2004

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30 de Setembro de 2004

Quem tem alma... Não sei

Quem tem alma... Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem temalma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo :"Fuieu ?" Deus sabe, porque o escreveu. Albero Caeiro --------


30 de Setembro de 2004

Le Brun --------


Le Brun --------


30 de Setembro de 2004

Do irremediável "(...) O que

Do irremediável

"(...) O que mais desejo ardentemente é a paz - a paz das decisões irremediáveis, de que não há volta atrás, de que sentimos de que a escolha feita é a única possível. Mas essa decisão não me cabe a mim - ou sou eu que não consigo e não quero tomá-la. (...)"
Miguel Sousa Tavares, in Equador, ed. Oficina do Livro. --------


29 de Setembro de 2004

Waterhouse --------


Waterhouse --------


29 de Setembro de 2004

Lua(s) 2 E hoje, passaram

Lua(s) 2

E hoje, passaram cinco dias ou cinco meses, que a alma não conta o tempo com a sujeição dos mortais, e a lua está cheia, dourada, plácida e promissora, a chamar por alegrias que, juradas, foram sempre adiadas e acabaram esquecidas no tráfico das pequenas compensações de substituição. O simulacro nunca resiste ao terrramoto da realidade, à fragilidade insone da angústia, ao cansaço do desgaste onde deixou de soar a música fácil do riso. E a lua vem, e limpa os vestígios de uma sombra que ainda paira, e deixa adivinhar outras noites, outras luzes. Talvez.
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29 de Setembro de 2004

Bronzino --------


Bronzino --------


29 de Setembro de 2004

Anjos ou Deuses Anjos

Anjos ou Deuses Anjos ou deuses, sempre nós tivemos, A visão perturbada de que acima De nós e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem, Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos. Ricardo Reis --------


29 de Setembro de 2004

Waterhouse --------


Waterhouse --------


29 de Setembro de 2004

Resistência Let me not to

Resistência Let me not to the marriage of true minds Admit impediments. Love is not love Which alters when it alteration finds, Or bends with the remover to remove: O no! it is an ever-fixed mark That looks on tempests and is never shaken; It is the star to every wandering bark, Whose worth's unknown, although his height be taken. Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks Within his bending sickle's compass come: Love alters not with his brief hours and weeks, But bears it out even to the edge of doom. If this be error and upon me proved, I never writ, nor no man ever loved. William Shakespeare --------


29 de Setembro de 2004

Carlo Dolci --------


Carlo Dolci --------


29 de Setembro de 2004

Distância "Geria os vícios como

Distância

"Geria os vícios como luxos e as necessidades com elegância. (...) Tirava das circunstâncias da sua vida o melhor de tudo e, por isso e como tantas vezes sucede com este tipo de homens, o seu verdadeiro defeito, o seu genuíno vício, era o cinismo. Era cínico com os outros, consigo próprio, com a vida."
Miguel Sousa Tavares, in Equador, ed. Oficina do Livro. --------


28 de Setembro de 2004

Scott Burkett --------


Scott Burkett --------


28 de Setembro de 2004

Lua(s) A noite era ainda

Lua(s)

A noite era ainda calma, quente, suave, fingindo o verão que já tinha partido. A lua crescia lenta e inexorável, espelho exacto de uma esperança que voltava a inundar-lhe a alma, depois de lhe ter deixado no corpo a marca dolente de um regresso desejado sempre. De repente, como uma tempestade tropical, um furacão louco e imprevisível, sem se saber vindo de onde mas moldado no fogo mortal do medo, tomou-a como uma nuvem, um desalento, um despropósito, uma revolta. E matou o que era mortal, tornado cadáver exposto ao sol incerto da manhã seguinte.
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28 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


28 de Setembro de 2004

Des(a)tino (vidas) "- Que costuma

Des(a)tino (vidas)

"- Que costuma você fazer aqui, em noites destas?
(...)
- Penso na vida. No que foi, no que podia ter sido e no que há-de ser ainda. Que mais acha que poderia fazer?
- E faz algum sentido?
- O quê? A vida, a minha vida?
- Sim.
- Não me pergunte isso. Essas perguntas não se fazem aqui. De que serviria? Você está cá apenas de passagem, mais ano menos ano, volta para Portugal. A sua vida é lá, aqui é só uma passagem. Mas eu, não: eu vivo cá e vivo cá para sempre, foi o que o destino me reservou. Não escolhi nada nem estou em situação de escolher. Agarro o que se passa e quando consigo: são as coisas que vêm ter comigo e não eu que vou ter com elas. Percebe o que digo?"
Miguel Sousa Tavares, in Equador, ed. Oficina do Livro.
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28 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


28 de Setembro de 2004

Glosa Em nome de quê

Glosa

Em nome de quê deixar morrer no gelo dos sentimentos sufocados o que lhe restava de ilusão e de esperança?
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28 de Setembro de 2004

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28 de Setembro de 2004

Espera Aguardo, equânime, o que

Espera Aguardo, equânime, o que não conheço - Meu futuro e o de tudo. No fim tudo será silêncio, salvo Onde o mar banhar nada. Ricardo Reis --------


27 de Setembro de 2004

L'infinito Sempre caro mi

L'infinito Sempre caro mi fu quest'ermo colle, e questa siepe, che da tanta parte dell'ultimo orizzonte il guardo esclude. Ma sedendo e mirando, interminati spazi di là da quella, e sovrumani silenzi, e profondissima quiete io nel pensier mi fingo; ove per po coil cor non si spaura. E come il vento odo stormir tra queste piante, io quello infinito silenzio a questa voce vo comparando: e mi sovvien l'eterno, e le morte stagioni, e la presente e viva, e il suon di lei. Così tra questa immensità s'annega il pensier mio: e il naufragar m'è dolce in questo mare. Giacomo Leopardi, in Canti. --------


27 de Setembro de 2004

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27 de Setembro de 2004

Afinal Afinal, a melhor maneira

Afinal Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente, Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas E toda a realidade é um excesso, uma violência, Uma alucinação extraordinariamente nítida Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. (...) Álvaro de Campos --------


27 de Setembro de 2004

Caron --------


Caron --------


27 de Setembro de 2004

Paradise regained (...) So never

Paradise regained (...) So never more in Hell than when in Heaven. John Milton --------


26 de Setembro de 2004

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26 de Setembro de 2004

Paradise lost (...) Thy Verse

Paradise lost (...) Thy Verse created like thy Theme sublime, In Number, Weight, and Measure, needs not Rhime. John Milton --------


26 de Setembro de 2004

Wenig --------


Wenig --------


26 de Setembro de 2004

Tudo bons rapazes... Sócrates ganhou,

Tudo bons rapazes...

Sócrates ganhou, com uma margem inequívoca, as eleições internas para o cargo de Secretário Geral do Partido Socialista. Ganhou por ser o mais mediático dos três candidatos? Provavelmente, esse factor não foi determinante, no contexto em que a escolha teve lugar. Essa será, porventura, uma vantagem a ter em conta quando se tratar de disputar as próximas legislativas - Manuel Alegre representaria, para muitos eleitores, um passado dead and gone, e João Soares não é, nunca foi, um comunicador eficaz - falta-lhe em carisma e telegenia o que lhe sobra numa espécie de distanciamento arrogante. Quando soar a hora da demagogia servida nas televisões, Sócrates poderá voltar a defrontar Santana Lopes, num pas de deux que deixará os portugueses entre o sal e a salmoura; até lá, já sabemos que as suas tarefas passam por restituir ao PS o papel de principal partido da oposição, roubando ao Bloco de Esquerda esse papel, se for capaz, liderar com mão firme o "aparelho" e apostar em Guterres para as presidenciais, demonstrando que, em política, o crime (leia-se, a irresponsabilidade e a falta de coragem) compensa...
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26 de Setembro de 2004

Surikov --------


Surikov --------


26 de Setembro de 2004

Do Not Go Gentle Do

Do Not Go Gentle Do not go gentle into that good night, Old age should burn and rave at close of day; Rage, rage against the dying of the light. Though wise men at their end know dark is right, Because their words had forked no lightning they Do not go gentle into that good night. (...) Dylan Thomas --------


26 de Setembro de 2004

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26 de Setembro de 2004

Momentos de viragem (destino manifesto)

Momentos de viragem (destino manifesto)

Não são meros produtos de um wishful thinking desejoso de paz, nem podem ser desligados da acção, própria e (ou) alheia, mesmo que nascida de um mero impulso aparente e tão inesperado como virulento; são pontos de bifurcação onde avulta o que não pode ser de outro modo, onde a escolha existe, mas só entre o que foi e o que podia ter sido (que, como dizia Eliot, não faz, a final de contas, diferença nenhuma). A viragem atira-nos, num movimento centrífugo, para fora do que não pode ser, e deixa-nos como náufragos, estendidos e sufocados na praia da realidade absoluta. Daí para a frente, é só respirar fundo, recobrar as forças aos poucos, limpar os olhos de águas incómodas que distorcem a paisagem, sacudir a areia e continuar o caminho. Para onde, o futuro dirá. E, em bom rigor, importa menos do que parece à primeira vista.
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26 de Setembro de 2004

Jan van Eyck --------


Jan van Eyck --------


25 de Setembro de 2004

Canaletto --------


Canaletto --------


25 de Setembro de 2004

O último amor (ou último

O último amor (ou último minuto do amor) Era o último amor. A casa fria, os pés molhados no escuro chão. Era o último amor e não sabia esconder o rosto em tanta solidão. Era o último amor. Quem adivinha o sabor breve pela escuridão? Quem oferece frutos nessa neve? Quem rasga com ternura o que foi verão? Era o último amor, o mais perfeito fulgor do que viveu sem as palavras. Era o último amor, perfil desfeito entre lumes e vozes e passadas. Era o último amor e não sabia que os pés à terra nua oferecia. Luís Filipe Castro Mendes --------


25 de Setembro de 2004

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24 de Setembro de 2004

Da perturbação De repente, a

Da perturbação

De repente, a vida passava-lhe por cima num virote, como uma onda das marés indomáveis ao tempo dos equinócios, e faltava-lhe o ar, engolia as palavras certas, cuspia as erradas, tropeçava em lágrimas escusadas, enrolava-se nas vestes espúrias do medo sem razão. Às vezes, sentia a loucura trepar-lhe pelas pernas como um manso animal sedoso; chegava a enroscar-se-lhe ao pescoço, apertando devagar e sem esperança, roubando-lhe todo o ar do mundo num instante cruel. Deixava-se cair dentro de si, ouvia as vozes dos outros cada vez mais longe, cada vez mais sem sentido, cada vez menos ao alcance das mãos que estendia às cegas. Parecia-lhe desespero, mas não era, afinal. Era uma coisa que tinha dentro de si desde sempre, que dormia à sombra do amor e acordava, rebelde e intratável, mal adivinhava a sua falta. Era só perturbação.
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24 de Setembro de 2004

Cranach --------


Cranach --------


24 de Setembro de 2004

Soneto do escuro Amor, tenho

Soneto do escuro Amor, tenho saudades de outra vida feita só de mil dias transparentes: Não te esqueças de mim se vires perdida esta voz nas palavras mais ausentes. Porque é perto da morte que escrevemos, cada verso contém uma ameaça: e a ternura maior que nos dizemos é feita de penumbra fria e baça. Se a voz se dá no verso e na medida é medo, meu amor, mais que vontade: o verso nada pode contra a vida; sabê-lo é a nossa liberdade. É medo que nos verso esconjuro, como riso vibrando no escuro! Luís Filipe Castro Mendes --------


24 de Setembro de 2004

Breugel --------


Breugel --------


24 de Setembro de 2004

Antonello da Messina --------


Antonello da Messina --------


24 de Setembro de 2004

K'ouei (a oposição) A incompreensão

K'ouei (a oposição)

A incompreensão dos outros pode ser vencida, desde que se cultive o dálogo aberto, sem agressividade. O tempo mostra se a incompreensão é permanente, fruto de diferenças intransponíveis e irredutíveis, ou se, sem prejuízo da individualidade de cada um, a confiança recíproca predomina e a proximidade é escolhida, garantindo a comunidade.
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24 de Setembro de 2004

Souen (a diminuição) Diminuir as

Souen (a diminuição)

Diminuir as paixões, prosseguir uma via de equilíbrio e de temperança, pode ser a única resposta verdadeiramente libertadora. Ser dominado pelos impulsos, pela cólera ou a amargura, é deixar uma margem de manobra à inveja, ainda que que bem disfarçada noutras roupagens. A força interior cresce sempre que se consegue disciplinar essa tendência primária.
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23 de Setembro de 2004

Andrea del Sarto --------


Andrea del Sarto --------


23 de Setembro de 2004

Outono Precisava pedir ao Outono,

Outono

Precisava pedir ao Outono, acabado de chegar trazendo-lhe de volta o ouro supremo do amor, que lhe ensinasse a doçura dos dias amenos, a suavidade das chuvas vindouras, a humidade macia das noites ainda límpidas, a reverberação de uma luz dourada e descendente. Queria pouco mais de um Setembro generoso, que já a premiara com o fim de um caminho quente e quase desabitado, onde somente tinha deixadoespaço a quem pertence por dentro, um lugar cativo para quem lhe é mais precioso do que o sopro da vida. Enquanto desejava uma resposta do tempo, procurou o trilho das gaivotas em manhãs luminosas, tocou ao de leve o mar que sempre conheceu, e esperou , em silêncio pacificado e inconstante. E a resposta veio, com sinais de fogo, despedida do Verão, promessa clara de outra estação mais doce.
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23 de Setembro de 2004

Breugel --------


Breugel --------


23 de Setembro de 2004

Yu (o entusiasmo) As oposições,

Yu (o entusiasmo)

As oposições, secretas ou manifestas, nunca são de menosprezar. Mas a harmonia pode prevalecer, se o entusiasmo for uma força lúcida, criadora e construtiva.
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23 de Setembro de 2004

Dürer --------


Dürer --------


23 de Setembro de 2004

Kien (o obstáculo) Há obstáculos

Kien (o obstáculo)

Há obstáculos que não podem ser vencidos directamente. Há que saber distinguir entre o que é mutável, flexível, e o que é rígido, dentro de nós. O maior desgaste vem da inutilidade de pretender apenas incidir sobre o exterior, sem um olhar rigoroso e uma aplicação decisiva na própria mudança. Ajudar-se e saber ajudar o outro são tarefas lentas, muitas vezes penosas, mas podem revelar-se, com o tempo, plenas de sentido.
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23 de Setembro de 2004

Rogier van der Weiden --------


Rogier van der Weiden --------


23 de Setembro de 2004

Decisão (ou a coragem do

Decisão (ou a coragem do viver imprudente)

Pagar para ver, as vezes que forem precisas, o tempo que for necessário, enquanto o sangue disser que sim e o olhar aquecer como um sol interior. Abrir sempre o jogo, com clareza e honestidade totais, sobre o que conta realmente. Retomar o caminho sempre que a bússola apontar firmemente o norte do amor, sem devaneios nem hesitações.
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23 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


23 de Setembro de 2004

Aparência ilusória My love

Aparência ilusória My love is strengthened, though more weak in seeming; I love not less, though less the show appear; That love is merchandized, whose rich esteeming The owner's tongue doth publish everywhere. Our love was new, and then but in the spring When I was wont to greet it with my lays, As Philomel in summer's front doth sing, And stops her pipe in growth of riper days - Not that the summer is less pleasant now Than when her mournful hymns did hush the night, But that wild music burthens every bough, And sweets grown common lose their dear delight. Therefore like her I sometime hold my tongue, Because I would not dull you with my song. William Shakespeare --------


22 de Setembro de 2004

Roerich --------


Roerich --------


22 de Setembro de 2004

Meeting At Night The grey

Meeting At Night The grey sea and the long black land; And the yellow half-moon large and low; And the startled little waves that leap In fiery ringlets from their sleep, As I gain the cove with pushing prow, And quench its speed i' the slushy sand. Then a mile of warm sea-scented beach; Three fields to cross till a farm appears; A tap at the pane, the quick sharp scratch And blue spurt of a lighted match, And a voice less loud, through its joys and fears, Than the two hearts beating each to each! Robert Browning --------


21 de Setembro de 2004

Antonello da Messina --------


Antonello da Messina --------


21 de Setembro de 2004

Reflexo (do desejo) Nos teus

Reflexo (do desejo)

Nos teus olhos, único espelho que me faz sentido(s).
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21 de Setembro de 2004

Rogier van der Weiden --------


Rogier van der Weiden --------


21 de Setembro de 2004

Recurso (ou da protecção)

Recurso (ou da protecção)

"No lugar onde se encontra o perigo, abunda também aquilo que salva."
Hölderlin --------


21 de Setembro de 2004

Jan van Eyck --------


Jan van Eyck --------


21 de Setembro de 2004

Navalha de Occam(Pluralitas non est

Navalha de Occam
(Pluralitas non est ponenda sine neccesitate) Às vezes, a força de atracção do amor é a explicação mais simples, capaz de suportar o tempo e a distância, sorver as contrariedades sem as esquecer, dissipar as dúvidas, dispensar os augúrios, reforçar os laços invisíveis, secretos e constantes. E, de modo misterioso, torna-se maior do que vida.
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21 de Setembro de 2004

Surikov --------


Surikov --------


21 de Setembro de 2004

Desengano Onde porei meus olhos

Desengano Onde porei meus olhos que não veja A causa, donde nasce o meu tormento? A que parte irei co pensamento Que para descansar parte me seja? Já sei como s'engana quem deseja, Em vão amor firme contentamento, De que, nos gostos seus, que são de vento, Sempre falta seu bem, seu mal sobeja. Mas inda, sobre claro desengano, Assim me traz est'alma sogigada, Que dele está pendendo o meu desejo; E vou de dia em dia, de ano em ano, Após um não sei quê, após um nada, Que, quanto mais me chego, menos vejo. Diogo Bernardes --------


21 de Setembro de 2004

Codazzi --------


Codazzi --------


21 de Setembro de 2004

A parte pelo todo Em

A parte pelo todo

Em Terminal de Aeroporto, e através da virtuosa capacidade dramática de Tom Hanks, Steven Spielberg conta uma história de exílio centrada no conceito de ser estrangeiro e ilustrando essa condição através da manisfestação da sua dureza máxima: a incapacidade comunicacional decorrente do desconhecimento da língua falada pelo(s) outro(s). Usando um ficção política plausível, mostra a capacidade de sobrevivência "em cativeiro" de um homem que tem um propósito perfeitamente simples - ir a Nova Iorque obter um autógrafo de uma lenda do jazz - apanhado por uma súbita alteração das circunstâncias políticas no seu país, o que o priva temporariamente de liberdade de circulação. Toda a sua vida se resume a esperar no aeroporto JFK até que a situação se altere, e nessas semanas a personagem de Viktor Navorski reconstrói toda uma vida - dota-se do instrumento fundamental, a linguagem, aprendendo rudimentos de inglês que lhe permitem comunicar, faz amigos, trabalha, apaixona-se por uma mulher bonita e doce (C. Zeta Jones) que prefere outra relação à qual chama o seu destino, argumenta com o poder, afirma-se, negoceia; em suma, faz num universo comprimido e observado o que fazemos todos em espaços mais amplos, com a convicção (ilusão?) de não sermos espiados nos nossos movimentos. É certo que era difícil criar uma figura mais empática do que a representada por Tom Hanks, mas o êxito do filme não está apenas aí - está na decifração dos mecanismos do humano, na clara figuração do seu potencial de sobrevivência, na superação das dificuldades sem recurso ao mal. Reconforta sobretudo por isso.
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20 de Setembro de 2004

Antonello da Messina --------


Antonello da Messina --------


20 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


20 de Setembro de 2004

Tomorrow Tomorrow - whose

Tomorrow Tomorrow - whose location The Wise deceives Though its hallucination Is last that leaves - Tomorrow - thou Retriever Of every tare - Of Alibi art thou Or ownest where? Emily Dickinson --------


20 de Setembro de 2004

Jan van Eyck --------


Jan van Eyck --------


20 de Setembro de 2004

Entendimento Não há usura nem

Entendimento

Não há usura nem repetição do discurso amoroso sempre que ele existe a expressar verdade interior, luz autêntica do fogo invisível. Ao contrário, o que não consegue sobreviver é o amor tornado estéril sem palavras que o habitem, fios de água escorrendo entre dois corpos que se encontram, dois olhares que se reconhecem .
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20 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


20 de Setembro de 2004

Convicção (dores de crescimento) Há

Convicção (dores de crescimento)

Há momentos de passagem, brechas na continuidade do tempo, em que só faz sentido exigir tudo de nós próprios. Nada menos do que o sangue e a alma, empenhados juntos num esforço de mudança, de afastamento do caminho que, de tão pedregoso, se tinha tornado fácil pelo conhecimento longo. O sofrimento, a falta quase fisicamente palpável do que se amou, são o preço a pagar, autênticas dores de crescimento. Mas, verdadeiramente, quando se recusa a menoridade não há alternativa além da fuga em frente.
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20 de Setembro de 2004

Canaletto --------


Canaletto --------


20 de Setembro de 2004

Floresta escura (da fragilidade humana)

Floresta escura (da fragilidade humana)

Vaidade, ambição, orgulho e preconceito: são estesos mais poderosos inimigos da liberdade onde a felicidade é possível.
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20 de Setembro de 2004

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20 de Setembro de 2004

Canção Love me or leave

Canção Love me or leave me an' let me be lonely you won't believe me but I love you only! I'd rather be lonely than happy with somebody else! You might find the night time the right time for kissin' But night time is my time for just reminiscing! Regretting instead of forgetting with somebody else! ( Regretting instead of forgetting! ) There'll be no one unless that someone is you! I intend to be independently blue! I want your love but I don't want to borrow to have it today an' give back tomorrow! For my love is your love there's no love for nobody else! Regretting instead of forgetting with somebody else! And there'll be no one unless that someone is you, you, you! I intend to be independently . . . independently blue! I want your love I don't want to borrow to have it today give back tomorrow! For my love is your love there's no love for nobody else! Love me or leave me an' let me be lonely . . . Baby! You're drivin' me wild! I'd rather be lonely than happy with somebody else! Gus Kahn / W. Donaldson (1928). --------


19 de Setembro de 2004

Antonello da Messina --------


Antonello da Messina --------


19 de Setembro de 2004

Momentos distintos "Questo è il

Momentos distintos "Questo è il momento" mi sono detto in un attimo niente più freddo più nessuno intorno, la natura una verde camera da letto, forte delle stesse cose che io voglio tento l' abbraccio a fondo ma ne sono respinto, senza un sguardo senza una parola si ricompone se ne va nel buio - era il mio momento non il suio Nelo Risi, in Poesie d' amore del' 900, ed. Mondadori. --------


19 de Setembro de 2004

Luz ardente --------


Luz ardente --------


19 de Setembro de 2004

Memória excessiva Ballade Of Unfortunate

Memória excessiva Ballade Of Unfortunate Mammals Love is sharper than stones or sticks; Lone as the sea, and deeper blue; Loud in the night as a clock that ticks; Longer-lived than the Wandering Jew. Show me a love was done and through, Tell me a kiss escaped its debt! Son, to your death you'll pay your due - Women and elephants never forget. Ever a man, alas, would mix, Ever a man, heigh-ho, must woo; So he's left in the world-old fix, Thus is furthered the sale of rue. Son, your chances are thin and few - Won't you ponder, before you're set? Shoot if you must, but hold in view Women and elephants never forget. Down from Caesar past Joynson-Hicks Echoes the warning, ever new: Though they're trained to amusing tricks, Gentler, they, than the pigeon's coo, Careful, son, of the curs'ed two - Either one is a dangerous pet; Natural history proves it true - Women and elephants never forget. L'ENVOI Prince, a precept I'd leave for you, Coined in Eden, existing yet: Skirt the parlor, and shun the zoo - Women and elephants never forget. Dorothy Parker --------


18 de Setembro de 2004

Serpotta --------


Serpotta --------


18 de Setembro de 2004

Lava Agonia Morire come le

Lava Agonia Morire come le allodole assetate sul miraggio O come la quaglia passato il mare nei primi cespugli perché di volare non ha più voglia Ma non vivere di lamento come un cardellino accecato Giuseppe Ungaretti --------


18 de Setembro de 2004

Andrea del Sarto --------


Andrea del Sarto --------


18 de Setembro de 2004

Caveat emptor " (...) A

Caveat emptor " (...) A impossibilidade é atraente. Sabes como é, a segurança das coisas sem saída." Jonathan Franzen, in Correcções, trad. Fernanda Pinto Rodrigues, ed. Dom Quixote. --------


18 de Setembro de 2004

Andrea del Sarto --------


Andrea del Sarto --------


18 de Setembro de 2004

Gostos Some Like Poetry Some

Gostos Some Like Poetry Some - thus not all. Not even the majority of all but the minority. Not counting schools, where one has to, and the poets themselves, there might be two people per thousand. Like - but one also likes chicken soup with noodles, one likes compliments and the color blue, one likes an old scarf, one likes having the upper hand, one likes stroking a dog. Poetry - but what is poetry. Many shaky answers have been given to this question. But I don't know and don't know and hold on to it like to a sustaining railing. Wislawa Szymborska --------


17 de Setembro de 2004

Bruegel --------


Bruegel --------


17 de Setembro de 2004

Da mistificação (ou a explicação

Da mistificação (ou a explicação da carência)

"O que tornava as drogas perpetuamente tão excitantes era a oportunidade de ser outro. (...) Ainda sentia desejo intenso por essa fuga."
Jonathan Franzen, in Correcções, trad. Fernanda Pinto Rodrigues, ed. Dom Quixote.
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17 de Setembro de 2004

Dürer --------


Dürer --------


17 de Setembro de 2004

Lição de Mitrídates, o Grande

Lição de Mitrídates, o Grande

Ir tomando a ausência em doses pequenas, quase suportáveis. Interrompê-las quando a saudade aumenta no sangue para além dos momentos de vigília, tranformando a sucessão dos dias em vagas tormentosas. Voltar ao lento processo de habituação tantas vezes quantas as necessárias, até que a alma pareça imune à distância do olhar e o corpo consiga contrariar a falta dolorosa de quem o habitou. Pode demorar anos. Advertência: testes de laboratório em voluntários suicidas indicam que a terapia do mitridatismo quase nuncaé bem sucedida contra o amor.
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16 de Setembro de 2004

Schadow --------


Schadow --------


16 de Setembro de 2004

Procura "(...) procurei o branco

Procura "(...) procurei o branco até à tensão extrema do negro A esperança até às lágrimas a alegria até aos confins do desespero aquele era o instante de me chegar ajuda e calhou a sorte às chuvas (...)" Odysséas Elytis, in Áxion Estí, trad. Manuel Resende, ed. Assírio & Alvim. --------


16 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


16 de Setembro de 2004

Bom conselho (frases delicadas)

Bom conselho (frases delicadas) "Cobarde, por que murmuras todo o dia no teu coração a palavra amor? Porque falas dela incessantemente, a toda a hora, a qualquer hora Excepto quando ela está presente em carne e osso? Deixa-te disso, homem, Vai ter com ela, e tenta portar-te como se falasses a sério." In Poemas de Amor do Antigo Egipto, trad. Helder Moura Pereira, ed. Assírio & Alvim. --------


16 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


16 de Setembro de 2004

Focus (ou da densidade) "Amando

Focus (ou da densidade) "Amando tudo, não se ama nada." Catherine Clément, in Jesus na fogueira, ed. ASA. --------


15 de Setembro de 2004

Codazzi --------


Codazzi --------


15 de Setembro de 2004

Banal & Inexorável (como o

Banal & Inexorável (como o sangue que corre)

Para tudo há um antes e um depois. Mesmo a maior alegria passa e esconde-se num recanto da memória. Mesmo a maior das dores extinguir-se-á, certeza impossível. Quem sentiu a voluptuosa alegria desaparece no esquecimento. Quem viveu a dor conhece o alívio de se dissipar em pó. Em cada momento, conserve-se a lucidez de o ver como um minúsculo grão de areia a escorrer sobre a pele. Entre o antes que ainda lateja e o depois que não se avista. Na penumbra, zona tormentosa entre o olhar que se recorda ainda e o brilho que já se começa a perder.
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15 de Setembro de 2004

Assim Assim fugi eu da

Assim Assim fugi eu da palavra: Um pedaço da noite de braços abertos só uma balança para pesar fugas este tempo de estrelas afundado em pó co'as pegadas impressas. Agora é tarde. O leve sai de mim e também o pesado e os ombros já voam como nuvens para longe braços e mãos sem gesto de levar. Fundo-escuro é a cor da nostalgia sempre assim a noite toma de novo de mim posse. Nelly Sachs, trad. Paulo Quintela, in Rosa do mundo, ed. Assírio & Alvim. --------


15 de Setembro de 2004

Canaletto --------


Canaletto --------


15 de Setembro de 2004

Estudo Através da janela mando

Estudo Através da janela mando a negra razão falar com a paisagem. Ernst Meister, trad. João Barrento, in Rosa do mundo, ed. Assírio & Alvim. --------


14 de Setembro de 2004

Boznanska --------


Boznanska --------


14 de Setembro de 2004

The Three Oddest Words (for

The Three Oddest Words (for Przemyslaw) When I pronounce the word Future, the first syllable already belongs to the past. When I pronounce the word Silence, I destroy it. When I pronounce the word Nothing, I make something no non-being can hold. Wislawa Szymborska --------


14 de Setembro de 2004

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14 de Setembro de 2004

Pequena nota berlinense 3 Um

Pequena nota berlinense 3

Um terceiro aspecto sobre as diferenças de atitude, por parte dos partidos europeus de centro direita, face à política externa norte americana verificou-se em matéria do que se designa como "preemptive action", ou seja, a faculdade, invocada pelos EUA, de acção preventiva contra um Estado que entendam ameaçador para a sua segurança. Se no caso do Afeganistão essa atitude não levantou quaisquer dúvidas à comunidade internaional, o mesmo já não sucedeu com o Iraque, nem sequer no início da invasão, como foi ilustrado pelas dúvidas quanto à existência das ADM, no contexto da ONU, e pelas fracções no seio da UE; mas agora, depois do descontrolo evidente da situação no médio oriente, sem sinais de melhoria no Iraque ou na questão israelo-palestiniana, não há quem, na Europa, apoie abertamente a legitimidade das intervenções preventivas (que, aliás, se se tornarem regra, podem ser invocadas por outros Estados, como a Rússia, sem que então seja possível prever como e quando se desenrolarão esses movimentos desenquadrados do direito internacional).
Sobre estas e outras questões congéneres, veja-se, na edição de 9 de Setembro do DN, o artigo de fundo acerca da sondagem relativa às relações transatlânticas, realizada pelo German Marshall Fund of the United States, e a entrevista de Adriano Moreira sobre terrorismo global, na edição de 11 de Setembro do mesmo jornal.
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14 de Setembro de 2004

Cranach --------


Cranach --------


14 de Setembro de 2004

Da sobrevivência (diálogo sobre a

Da sobrevivência (diálogo sobre a ironia de Eros)

- Se me amas, porque partes?
- Para sobreviver. Voulutar contra o que não quero, já que afinal aquilo que mais quis não esteve nunca ao meu alcance.
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14 de Setembro de 2004

Canaletto --------


Canaletto --------


14 de Setembro de 2004

Regra de ouro (sem limite

Regra de ouro (sem limite de validade)

Não se pergunta, seduz-se com inteligência e ternura em doses variáveis. Cria-se a oportunidade, esperando a benesse divina do desejo. Se não for fácil, nunca será desinteressante.
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14 de Setembro de 2004

Contentamento Podia fazer de conta

Contentamento

Podia fazer de conta que não era nada, podia escrever só um mail a cada um, agradecendo a gentileza; mas a verdade é que as três referências ao Modus, feitas pela Carla, pela Catarina e pelo Matos B., tão próximas no tempo e em termos tão generosos, me levam a agradecê-las aqui, pelo bem que sabem. Obrigada, mesmo.
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14 de Setembro de 2004

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14 de Setembro de 2004

On Being Young And Green

On Being Young And Green Being Young and Green, I said in love's despite: Never in the world will I to living wight Give over, air my mind To anyone, Hang out its ancient secrets in the strong wind To be shredded and faded - Oh, me, invaded And sacked by the wind and the sun! Edna St. Vincent Millay --------


14 de Setembro de 2004

Vasnetzov --------


Vasnetzov --------


14 de Setembro de 2004

Inexplicável Há seres que sabem

Inexplicável

Há seres que sabem de outros caminhos, que falam de coisas que vêem e não explicam; seres que não se pretendem pequenos deuses acima de todos os outros, mas são anjos que tocam a terra com os dedos leves, e derramam estrelas dos olhos brilhantes quando, por mera sorte esvoaçante, se cruzam com quem os reconhece. Há seres assim, de cabelos soltos e corpos magros, gestos de ternura e palavras belas, certeiras, generosas umas, ferozes outras, e riso de fogo pronto a derreter o ridículo que se expõe na vaidade alheia. Há seres que tiram poesia do que sofrem, engolem as lágrimas sem que ninguém adivinhe, preocupam as mães em silêncio, sobressaltam as outras mulheres que tocam, nem que seja com a alegria breve. Quando passam perto, iluminam e deixam perceber outros mapas possíveis. Um desses seres mora aqui.
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14 de Setembro de 2004

Cabanel --------


Cabanel --------


14 de Setembro de 2004

Nada de novo... General Review

Nada de novo... General Review Of The Sex Situation Woman wants monogamy; Man delights in novelty. Love is woman's moon and sun; Man has other forms of fun. Woman lives but in her lord; Count to ten, and man is bored. With this the gist and sum of it, What earthly good can come of it? Dorothy Parker --------


13 de Setembro de 2004

Hopper --------


Hopper --------


13 de Setembro de 2004

Desistência (ou da reminiscência) A

Desistência (ou da reminiscência)

A designação precisa para aquilo era uma necessidade que a perseguia. Não sabia, depois de tantos anos, o que chamar ao que vivia (não podia sequer referir-se ao que tinha, porque sabia bem que não tinha rigorosamente nada - nada a que pudesse chamar seu, ali). A palavra "caso" parecia-lhe de menos, após uma sucessão considerável de anos, e só lhe surgia ligada a expressões de dificuldade, como "caso sério", "caso bicudo"; ora, a verdade é que nada havia de difícil na situação em causa; mas chamar "relação" a algo tão dirigido e pragmático era claramente excessivo, considerava, num esforço de rigor - o que se relaciona sempre se liga, há uma expressão de proximidade, e isso não podia ser, não seria verdade. "Ligação", eis talvez a palavra mais certa mas, como não gostou nada dela (não lhe apetecia comparar a sua vida com um telefone), resolveu libertar-se dessa busca tão exigente e deixar de ter aquilo (o que quer que fosse tal coisa...) para não precisar de lhe dar nome.
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13 de Setembro de 2004

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13 de Setembro de 2004

Sob condição (de tempo e

Sob condição (de tempo e de modo)

"Uma opinião, que no nosso estado faz lei, diz que, se alguém se entrega a outra pessoa porque espera, graças a ela, progredir em sabedoria ou em virtude, esta escravidão voluntária também não comporta vergonha, nem baixeza."
Platão, in O banquete, ed. Guimarães Editores. --------


13 de Setembro de 2004

Liebermann --------


Liebermann --------


13 de Setembro de 2004

Pequena nota berlinense 2 (wishful

Pequena nota berlinense 2 (wishful thinking?)

Outra expressão agora fora de uso é a (há um ano) tão propalada máxima guerreira de Bush: em vez de "war against terrorism", o think tankdo Partido Popular Europeu e dos Democratas Cristãos prefere, de longe, "fight against terror". O argumento mais divulgado para explicar a mudança reside no não reconhecimento de estatuto aos grupos terroristas, já que a guerra tem lugar entre Estados ou, pelo menos, nações, enquanto que a luta contra os grupos terroristas deve assentar na condenação da sua (deles) óbvia natureza criminal. O argumento não levanta grandes dúvidas, mas a sua adopção é também, ao menos em parte, a procura de um caminho mais autónomo, menos seguidista face aos EUA, do centro direita representado no PE.
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13 de Setembro de 2004

Oh, honey of an hour

Oh, honey of an hour (for Jim & Véronique) Oh, honey of an hour, I never knew thy power, Prohibit me Till my minutest dower, My unfrequented flower, Deserving be. Emily Dickinson --------


13 de Setembro de 2004

Turner --------


Turner --------


13 de Setembro de 2004

Epitaph For A Romantic Woman

Epitaph For A Romantic Woman She has attained the permanence She dreamed of, where old stones lie sunning. Untended stalks blow over her Even and swift, like young men running. Always in the heart she loved Others had lived, - she heard their laughter. She lies where none has lain before, Where certainly none will follow after. Louise Bogan --------


13 de Setembro de 2004

Toudouze --------


Toudouze --------


13 de Setembro de 2004

Pura verdade " Eis o

Pura verdade " Eis o que se passa, segundo penso: Eros não é uma coisa simples." Platão, in O banquete, ed. Guimarães Editores. --------


13 de Setembro de 2004

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13 de Setembro de 2004

Da extravagância "(...) ao amante

Da extravagância

"(...) ao amante permitem-se todas as extravagâncias, não se vendo nisso qualquer motivo de crítica. O que há de pior em tudo isto é que, segundo o ditado popular, apenas os juramentos de amor podem ser quebrados porque, diz-se, um juramento de amor não compromete. É assim que os deuses e os homens concedem toda a liberdade ao amante, como testemunha o costume de Atenas."
Platão, in O banquete, ed. Guimarães Editores.
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12 de Setembro de 2004

Bierstadt --------


Bierstadt --------


12 de Setembro de 2004

In illo tempore Escrevendo Escrevendo

In illo tempore Escrevendo Escrevendo quis eu Salvar a minha alma. Tentei fazer versos Não consegui. Tentei contar histórias Não consegui. Não se pode escrever Para salvar a alma. A rendida parte à deriva e canta. Marie Luise Kaschnitz, trad. Paulo Quintela, in Rosa do mundo, ed. Assírio & Alvim. --------


12 de Setembro de 2004

Max Liebermann --------


Max Liebermann --------


12 de Setembro de 2004

Pequena nota berlinense Foi interessante

Pequena nota berlinense

Foi interessante (e um pouco surpreendente, confesso) ouvir os conservadores britânicosafirmarem com convicçãoo seu descontentamento perante o óbvio insucesso norte americano na questão do Iraque, sobretudo tendo em conta a posição bem diferente (de apoio inequívoco face à invasão) que ostentavam há precisamente um ano, em idêntico encontro. Agora, a expressão "nation building" já lhes merece sérias dúvidas e as relações transatlânticas não são, claramente, uma fonte de alegrias para o centro direita na Grã-Bretanha. Atrás de tempos...
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12 de Setembro de 2004

Bronzino --------


Bronzino --------


12 de Setembro de 2004

De volta Trouxe uma frase,

De volta

Trouxe uma frase, pronunciada a propósito das relações transatlânticas, mas que me agrada como síntese perfeita do que é um momento de mudança inescapável: No change is just not an option.
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8 de Setembro de 2004

Carlo Dolci --------


Carlo Dolci --------


8 de Setembro de 2004

Pequena interrupção (o modus segue

Pequena interrupção (o modus segue dentro de momentos)

Durante três ou quatro dias, o modus vai estar sujeito a teclados disponíveis e eventual acesso à net noutro sítio, onde se vai falar de segurança, economia e globalização (ou seja, de tudo e de nada). Do longe se faz perto.
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8 de Setembro de 2004

Hopper --------


Hopper --------


8 de Setembro de 2004

Amores Sou a primeira entre

Amores Sou a primeira entre os teus amores, Como jardim há pouco regado de ervas e perfumadas flores. * O meu coração rebenta quando penso como o amo, Não sou capaz de me comportar como outra pessoa qualquer. Ele, o coração, está em desordem Não me deixa escolher um vestido ou esconder-me atrás de um leque. Não consigo pôr pintura nos olhos nem optar por um perfume * O teu amor infiltra-se no meu corpo Tal como o vinho se infiltra na água quando O vinho e a água se misturam. * Há flores de Zait no jardim. Corto e junto flores para ti, Faço-te uma grinalda, E quando ficares ébrio E te deitares com esse sono, Sou eu quem te lava os pés para lhes tirar o pó. In Poemas de Amor do Antigo Egipto, trad. Helder Moura Pereira, ed. Assírio & Alvim. --------


8 de Setembro de 2004

Os Colombos Outros haverão de

Os Colombos Outros haverão de ter O que houvermos de perder. Outros poderão achar O que, no nosso encontrar, Foi achado, ou não achado, Segundo o destino dado. Mas o que a eles não toca É a Magia que evoca O Longe e faz dele história. E por isso a sua glória É justa auréola dada Por uma luz emprestada. Fernando Pessoa --------


8 de Setembro de 2004

Vermeyen --------


Vermeyen --------


8 de Setembro de 2004

Da blogosfera (a propósito de

Da blogosfera (a propósito de um jantar de amigos) Escrever e ser lida é bom, claro. Mas o melhor de tudo, nesta coisa dos blogues, é o pequeno grupo de pessoas, vindas da blogosfera, que tem chegado ao meu modus vivendi e ficado perto, ao longo deste quase ano e meio.
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7 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


7 de Setembro de 2004

Outra memória (presente de Z.)

Outra memória (presente de Z.) "Cada bago de uva sabe de cor o nome dos dias todos do verão" Eugénio de Andrade --------


7 de Setembro de 2004

Giotto --------


Giotto --------


7 de Setembro de 2004

Da sensatez The Lady's Reward

Da sensatez The Lady's Reward Lady, lady, never start Conversation toward your heart; Keep your pretty words serene; Never murmur what you mean. Show yourself, by word and look, Swift and shallow as a brook. Be as cool and quick to go As a drop of April snow; Be as delicate and gay As a cherry flower in May. Lady, lady, never speak Of the tears that burn your cheek - She will never win him, whose Words had shown she feared to lose. Be you wise and never sad, You will get your lovely lad. Never serious be, nor true, And your wish will come to you - And if that makes you happy, kid, You'll be the first it ever did. Dorothy Parker --------


7 de Setembro de 2004

Insónia --------


Insónia --------


7 de Setembro de 2004

Sonho "Ameno é o canal

Sonho "Ameno é o canal que tu cavaste Pela frescura do vento norte. Tranquilos os nossos caminhos Quando a tua mão descansa na minha em alegria. A tua voz dá vida, como o néctar. Ver-te é mais do que alimento e bebida." In Poemas de Amor do Antigo Egipto, trad. Helder Moura Pereira, ed. Assírio & Alvim. --------


6 de Setembro de 2004

Dürer --------


Dürer --------


6 de Setembro de 2004

Do jogo (by heart) -

Do jogo (by heart)

- Paga para ver, disse ele, de olhar fixo, sabendo o que fazia.
E, a partir desse instante, a ruína ficou próxima. Durante demasiado tempo. Assustadoramente próxima.
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6 de Setembro de 2004

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6 de Setembro de 2004

Mais filmes com livros dentro

Mais filmes com livros dentro 2 (e vice versa) "Always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours."

É assim que, ao som da música marcante de Philip Glass, termina "The hours", o filme de Stephen Daldry, feito a partir do livro de Michael Cunningham. Curiosamente, o filme pareceu-me mais forte do que o livro, talvez porque juntar três mulheres poderosas como Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore para darem vida às três biografias impressivas e entrelaçadas, partindo de Virginia Woolf e da sua personagem Mrs. Dalloway, só podia realizar a magia rara de exceder o que se imaginou ao ler. Virginia escreveu Mrs. Dalloway sentindo-se como uma borboleta presa na teia de aranha da loucura. Nos anos 50, uma mulher "com tudo para ser feliz" lê o livro e pensa em suicidar-se; em vez disso, deixa a vida e a família que tem e escolhe a solidão. Em 2001, uma redactora nova iorquina, Clarissa, que amou o filho dessa mulher, um escritor premiado a morrer com sida, e a quem ele sempre chamou Mrs. Dalloway, assiste ao suicídio dele. Percebe-se o valor da vida quando se contempla a sua fragilidade. Vê-la muito de perto pode ser insuportável. E, como tudo, paga-se. Muito caro, quase sempre.
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6 de Setembro de 2004

Dürer --------


Dürer --------


6 de Setembro de 2004

Impossibilidade Não, não pode haver

Impossibilidade

Não, não pode haver nenhum ser humano adulto, medianamente dotado de razão e munido de densidade emocional, que possa sentir-se sempre magnífico, sem quebras, dúvidas, arrependimentos ou receios. Sem saudade, leve embora. Ou então os deuses roubaram-lhe parte substancial da humana condição e deixaram-no indigente no seu trono. Mau negócio.
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6 de Setembro de 2004

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6 de Setembro de 2004

Mais filmes com livros dentro

Mais filmes com livros dentro (e vice versa)

The virgin suicides, de Jeffrey Eugenides (que entretanto ganhou o Pulitzer com Middlesex), é um filme densamente americano, que expõe o lado negro do puritanismo, corporizado em Mrs. Lisbon (Kathleen Turner, envelhecida e pesada), mãe severíssima de cinco belas adolescentes que acabam por preferir o suicídio à reclusão asfixiante, sem poderem contar com a ajuda do pai (James woods), um professor de Matemática claramente dominado pela rigidez da mulher, nem dos amigos, tão jovens como elas e impotentes perante o poder da família. O filme, com uma banda sonora muito boa e adequada, já terá cerca de quatro anos, e foi realizado por Sofia Coppola; além do interesse dramático da própria história, é cativante pela belíssima fotografia. Mas, mais do que tudo, arrepia ver como o mal se disfarça de bem e ainda é mais letal assim.
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6 de Setembro de 2004

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6 de Setembro de 2004

Sonho adâmico A Woman's Last

Sonho adâmico A Woman's Last Word I. Let's contend no more, Love, Strive nor weep: All be as before, Love, - Only sleep! II. What so wild as words are? I and thou In debate, as birds are, Hawk on bough! III. See the creature stalking While we speak! Hush and hide the talking, Cheek on cheek! IV. What so false as truth is, False to thee? Where the serpent's tooth is Shun the tree - V. Where the apple reddens Never pry - Lest we lose our Edens, Eve and I. VI. Be a god and hold me With a charm! Be a man and fold me With thine arm! VII. Teach me, only teach, Love As I ought I will speak thy speech, Love, Think thy thought - VIII. Meet, if thou require it, Both demands, Laying flesh and spirit In thy hands. IX. That shall be to-morrow Not to-night: I must bury sorrow Out of sight: X. - Must a little weep, Love, (Foolish me!) And so fall asleep, Love, Loved by thee. Robert Browning --------


5 de Setembro de 2004

Constable --------


Constable --------


5 de Setembro de 2004

Outono (ou o consolo da

Outono (ou o consolo da repetição)

É generosa, esta estação muito mais extensa do que marca o calendário, esta frescura que atravessa as manhãs com nuvens finas, que desce de novo com o final da tarde e se instala para passar a noite. Traz de novo gostos deixados em pousio durante escassos meses, o chá que acompanha a leitura horas a fio, a roupa diferente e mais envolvente, a cama feita de outra maneira para a madrugada chegar sem o corpo dar por ela. Esta estação vem e estende-se, meio indolente, e o verão ainda está, mas já não é. Mesmo na cidade, as cores são outras, a chuva deixa cair as folhas, os passos soam de outro modo. Há o conforto quase inefável de se saber o que vem a seguir, as coisas de que se gosta sempre, ano após ano - o reencontro com amigos, depois de férias, as aulas , um ou outro concerto, as catadupas de livros que invadem as livrarias a tempo das compras de Natal; e as melhores viagens, curtas, fora da época em que as multidões avassalam os aeroportos, planeadas ou decididas de repente, autênticos balões a segurar com interesse alegre. E já há-de ser inverno e ainda haverá dias de outono, com sol tépidoe manhãs douradas, a deixar tempo de sobra para se procurar ser quem se é.
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5 de Setembro de 2004

Duccio --------


Duccio --------


5 de Setembro de 2004

Vantagens domésticas Conversação doméstica afeiçoa,

Vantagens domésticas Conversação doméstica afeiçoa, Ora em forma de boa e sã vontade, Ora duma amorosa piedade, Sem olhar qualidade de pessoa. Se depois, porventura, vos magoa Com desamor e pouca lealdade, Logo vos faz mentira da verdade O brando Amor, que tudo em si perdoa. Não são isto que falo conjecturas, Que o pensamento julga na aparência, Por fazer delicadas escrituras. Metido tenho a mão na consciência, E não falo senão verdades puras Que me ensinou a viva experiência. Luís Vaz de Camões --------


4 de Setembro de 2004

Ingres --------


Ingres --------


4 de Setembro de 2004

Da procura "Ficava frequentemente desapontada

Da procura "Ficava frequentemente desapontada por a vida não ser como ela teria querido - por o tesouro secreto que procurava lhe escapar." Richard Zimler, in Meia noite ou O princípio do mundo, ed. Gótica. --------


4 de Setembro de 2004

Ticiano --------


Ticiano --------


4 de Setembro de 2004

Da terrena perfeição Manhã de

Da terrena perfeição Manhã de chuva sem ter que sair. O céu aberto em cinzento e anil, até ao cabo, bem a sul. As nuvens de chumbo acasteladas sobre Lisboa, o rio adivinhado em verde musgo. Muitas chávenas bem fumegantes do delicado Ceylan broken orange, ainda uma recordação a correr de um passado tornado vapor em ano de simples exaustão. O consolo de Bach, O cravo bem temperado, saído das mãos mágicas de Ton Koopman, a encher o ar sem deixar espaço para nada que não seja a harmonia. E o sempre amado verbo, nas palavras tão antigas de John Downland: Now o now I needs must part, Parting though I absent mourn. Absence can no joy impart, Joy once fled cannot return. Dear when I am from thee gone, Gone are all my joys at once, I love thee and thee alone, In whose love I joyed once. And although your sight I leave, Sight wherin my joys do lie, Till that death do sense bereave, Never shall affection die.
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4 de Setembro de 2004

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4 de Setembro de 2004

Do excesso "Suponho que é

Do excesso

"Suponho que é possível que o seu amor por mim fosse demasiado profundo e soubesse que eu era a única pessoa capaz de penetrar na sua carapaça. (...)
Evidentemente, é irónico pensar que podia ter continuado a amar-me se tivesse querido arriscar-se a perder a sanidade. Talvez não seja possível pedir isso a uma pessoa."
Richard Zimler, in Meia noite ou O princípio do mundo, ed. Gótica.
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4 de Setembro de 2004

Turner --------


Turner --------


4 de Setembro de 2004

Amor fati 2 (ou

Amor fati 2 (ou da serenidade) Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam. Ricardo Reis --------


4 de Setembro de 2004

Bronzino --------


Bronzino --------


4 de Setembro de 2004

Do tempo lento (Outono) Se

Do tempo lento (Outono) Se a minha vida ao áspero tormento poupada pode ser, e a afãs humanos, que eu veja por razão de últimos anos em vosso belo olhar lume já lento e os fios de oiro fino já de argento e deixardes grinalda e verdes panos e o rosto perder cor, o que em meus danos me faz vagar e medo no lamento, audácia ao menos há-de dar-me Amor que vos possa mostrar de meu penar por quantos anos, dias, horas for; e se é contrário ao doce desejar o tempo ao menos junte à minha dor algum socorro em tardo suspirar. Petrarca, in As rimas de Petrarca, trad. Vasco Graça Moura, ed. Bertrand. --------


3 de Setembro de 2004

Bronzino --------


Bronzino --------


3 de Setembro de 2004

Amor fati Go from me.

Amor fati Go from me. Yet I feel that I shall stand Henceforward in thy shadow. Nevermore Alone upon the threshold of my door Of individual life, I shall command The uses of my soul, nor lift my hand Serenely in the sunshine as before, Without the sense of that which I forbore - Thy touch upon the palm. The widest land Doom takes to part us, leaves thy heart in mine With pulses that beat double. What I do And what I dream include thee, as the wine Must taste of its own grapes. And when I sue God for myself, He hears that name of thine, And sees within my eyes the tears of two. Elizabeth Barrett Browning --------


3 de Setembro de 2004

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3 de Setembro de 2004

Do silêncio "(...) acabei

Do silêncio

"(...) acabei por perceber que o seu silêncio não significava traição ou sequer uma recusa em partilhar um segredo, como chegara a pensar. Muito simplesmente, não conseguia dar-me uma resposta adequada."
Richard Zimler, in Meia noite ou O princípio do mundo, ed. Gótica. --------


3 de Setembro de 2004

Bosch --------


Bosch --------


3 de Setembro de 2004

Da metade (ou a busca

Da metade (ou a busca da totalidade)

"(...) O amor tende a reencontrar a antiga natureza, esforça-se por se fundir numa só, e por sarar a natureza humana. Cada um de nós é, por isso, como um símbolo, pois fomos cortados em dois e, de um só, ficaram duas metades. Assim, cada uma procura a metade que lhe corresponde."
Platão, in O banquete, ed. Guimarães Editores.
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3 de Setembro de 2004

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3 de Setembro de 2004

Farewell From thee, Eliza, I

Farewell From thee, Eliza, I must go, And from my native shore; The cruel fates between us throw A boundless ocean's roar: But boundless oceans, roaring wide, Between my love and me, They never, never can divide My heart and soul from thee. Farewell, farewell, Eliza dear, The maid that I adore! A boding voice is in mine ear, We part to meet no more! But the latest throb that leaves my heart, While Death stands victor by, - That throb, Eliza, is thy part, And thine that latest sigh! Robert Burns --------


3 de Setembro de 2004

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3 de Setembro de 2004

Chuva Cai chuva do céu

Chuva Cai chuva do céu cinzento Que não tem razão de ser. Até o meu pensamento Tem chuva nele a escorrer. Tenho uma grande tristeza Acrescentada à que sinto. Quero dizer-ma mas pesa O quanto comigo minto. Porque verdadeiramente Não sei se estou triste ou não. E a chuva cai levemente (Porque Verlaine consente) Dentro do meu coração. Fernando Pessoa, 15-11-1930. --------


2 de Setembro de 2004

Cranach --------


Cranach --------


2 de Setembro de 2004

Culpa humana (filmes com livros

Culpa humana (filmes com livros dentro, e vice versa) "The things that restore you can also destroy you."

O filme, realizado por Robert Benton, tem o esplendor do olhar. O olhar de Faunia (Nicole Kidman), de uma beleza feroz, ferida, o olhar de Coleman Silk (Anthony Hopkins), de uma compreensão transcendente, magoada e ainda expectante. Mas só o livro de Philip Roth explora até ao osso a fraqueza humana, a dor, o desespero, a fuga, o amor, o remorso. The human stain, que me foi oferecido em Londres há dois anos exactos, é um livro quase inesgotável, inundado pela luz sombria da certeza de Terêncio :"Sou homem, e nada do que é humano me é estranho".
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2 de Setembro de 2004

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2 de Setembro de 2004

Da esperança "Por vezes, penso

Da esperança

"Por vezes, penso que a esperança não pertence unicamente a cada um, que existe como um éter que se infiltra dentro de nós no momento do nascimento. Ultimamente, cheguei mesmo à conclusão improvável que a natureza nos concede mãos e pés, olhos e ouvidos, para que possamos trabalhar como servos leais desta ilimitada neblina de esperança, realizando, quando somos capazes, a alquimia delicada de a transformar em realidade tangível - dando-lhe forma e importância, por assim dizer."
Richard Zimler, in Meia noite ou O princípio do mundo, ed. Gótica.
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2 de Setembro de 2004

Surykov --------


Surykov --------


2 de Setembro de 2004

Pressa de Outono Acima das

Pressa de Outono Acima das águas plácidas, Os cisnes agitam as asas. O rio flui e passa... Oh, vem! as estrelas brilham, as folhas de leve se agitam E as nuvens aproximam-se já... Ivan Bunin --------


2 de Setembro de 2004

Monet --------


Monet --------


2 de Setembro de 2004

Outono No spring nor summer

Outono No spring nor summer beauty hath such grace As I have seen in one autumnal face. John Donne --------


2 de Setembro de 2004

Cranach --------


Cranach --------


2 de Setembro de 2004

Not Even Not even my

Not Even Not even my pride shall suffer much; Not even my pride at all, maybe, If this ill-timed, intemperate clutch Be loosed by you and not by me, Will suffer; I have been so true A vestal to that only pride Wet wood cannot extinguish, nor Sand, nor its embers scattered, for, See all these years, it has not died. And if indeed, as I dare think, You cannot push this patient flame, By any breath your lungs could store, Even for a moment to the floor To crawl there, even for a moment crawl, What can you mix for me to drink That shall deflect me? What you do Is either malice, crude defense Of ego, or indifference: I know these things as well as you; You do not dazzle me at all - Some love, and some simplicity, Might well have been the death of me. Edna St. Vincent Millay --------


1 de Setembro de 2004

Levitan --------


Levitan --------


1 de Setembro de 2004

Passos Pensou que nada mais

Passos

Pensou que nada mais podia fazer. Tinha que prosseguir a marcha, lenta e um pouco dormente.O ar fechava-se sobre os seus ombros direitos e só era possível caminhar sem retorno. Não havia por onde recuar, mesmo que as palavras brilhassem ainda como estrelas e o mapa da memória estivesse quase intacto no fogo do olhar. Voltava-se,como se sonhasse, e o vazio tinha devorado todas as marcas, todos os trilhos, todas as esperanças, como vento frio a soprar durante um ano inteiro. Os seus passos, tantos e tão fundos, tinham desaparecido num chão de vidro onde nenhuma pegada era visível.
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1 de Setembro de 2004

Tintoretto --------


Tintoretto --------


1 de Setembro de 2004

Tatuagens, juras, desejos (e demais

Tatuagens, juras, desejos (e demais provas de vida) Tatuagem Quero ficar no teu corpo feita tatuagem Que é pra te dar coragem Pra seguir viagem Quando a noite vem E também pra me perpetuar em tua escrava Que você pega, esfrega, nega Mas não lava Quero brincar no teu corpo feito bailarina Que logo se alucina Salta e te ilumina Quando a noite vem E nos músculos exaustos do teu braço Repousar frouxa, murcha, farta Morta de cansaço Quero pesar feito cruz nas tuas costas Que te retalha em postas Mas no fundo gostas Quando a noite vem Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva Marcada a frio, a ferro e fogo Em carne viva Corações de mãe Arpões, sereias e serpentes Que te rabiscam o corpo todo Mas não sentes Chico Buarque --------


1 de Setembro de 2004

Cranach --------


Cranach --------


1 de Setembro de 2004

Da fuga Fugiste de um

Da fuga Fugiste de um amor tão conhecido, fugiste de üa fé tão clara e firme, e seguiste a quem nunca conheceste, não por fugir de Amor, mas por fugir-me; que bem vias que tinha merecido o amor que tu a outrem concedeste. A mim não me fizeste nenhüa sem-razão, que bem conheço que tanto não mereço; fizeste-a àquele bem, firme e sincero, que sabes que te quero, em lhe tirar a glória merecida. Perca, quem te perdeu, também a vida. Luís Vaz de Camões --------