¶ 30 de Setembro de 2004
"bene senescere sine timore nec spe"
blogue de Ana Roque
Arquivo de setembro 2004
¶ 30 de Setembro de 2004
Recado A. M., uma mulher
Recado
¶ 30 de Setembro de 2004
Agradecimento autêntico (ou da sinceridade
Agradecimento autêntico (ou da sinceridade realista)
¶ 30 de Setembro de 2004
Quem tem alma... Não sei
Quem tem alma... Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem temalma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo :"Fuieu ?" Deus sabe, porque o escreveu. Albero Caeiro --------
¶ 30 de Setembro de 2004
Do irremediável "(...) O que
Do irremediável
¶ 29 de Setembro de 2004
Lua(s) 2 E hoje, passaram
Lua(s) 2
¶ 29 de Setembro de 2004
Anjos ou Deuses Anjos
Anjos ou Deuses Anjos ou deuses, sempre nós tivemos, A visão perturbada de que acima De nós e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem, Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos. Ricardo Reis --------
¶ 29 de Setembro de 2004
Resistência Let me not to
Resistência Let me not to the marriage of true minds Admit impediments. Love is not love Which alters when it alteration finds, Or bends with the remover to remove: O no! it is an ever-fixed mark That looks on tempests and is never shaken; It is the star to every wandering bark, Whose worth's unknown, although his height be taken. Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks Within his bending sickle's compass come: Love alters not with his brief hours and weeks, But bears it out even to the edge of doom. If this be error and upon me proved, I never writ, nor no man ever loved. William Shakespeare --------
¶ 29 de Setembro de 2004
Distância "Geria os vícios como
Distância
¶ 28 de Setembro de 2004
Lua(s) A noite era ainda
Lua(s)
¶ 28 de Setembro de 2004
Des(a)tino (vidas) "- Que costuma
Des(a)tino (vidas)
¶ 28 de Setembro de 2004
Glosa Em nome de quê
Glosa
¶ 28 de Setembro de 2004
Espera Aguardo, equânime, o que
Espera Aguardo, equânime, o que não conheço - Meu futuro e o de tudo. No fim tudo será silêncio, salvo Onde o mar banhar nada. Ricardo Reis --------
¶ 27 de Setembro de 2004
L'infinito Sempre caro mi
L'infinito Sempre caro mi fu quest'ermo colle, e questa siepe, che da tanta parte dell'ultimo orizzonte il guardo esclude. Ma sedendo e mirando, interminati spazi di là da quella, e sovrumani silenzi, e profondissima quiete io nel pensier mi fingo; ove per po coil cor non si spaura. E come il vento odo stormir tra queste piante, io quello infinito silenzio a questa voce vo comparando: e mi sovvien l'eterno, e le morte stagioni, e la presente e viva, e il suon di lei. Così tra questa immensità s'annega il pensier mio: e il naufragar m'è dolce in questo mare. Giacomo Leopardi, in Canti. --------
¶ 27 de Setembro de 2004
Afinal Afinal, a melhor maneira
Afinal Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente, Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas E toda a realidade é um excesso, uma violência, Uma alucinação extraordinariamente nítida Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. (...) Álvaro de Campos --------
¶ 27 de Setembro de 2004
Paradise regained (...) So never
Paradise regained (...) So never more in Hell than when in Heaven. John Milton --------
¶ 26 de Setembro de 2004
Paradise lost (...) Thy Verse
Paradise lost (...) Thy Verse created like thy Theme sublime, In Number, Weight, and Measure, needs not Rhime. John Milton --------
¶ 26 de Setembro de 2004
Tudo bons rapazes... Sócrates ganhou,
Tudo bons rapazes...
¶ 26 de Setembro de 2004
Do Not Go Gentle Do
Do Not Go Gentle Do not go gentle into that good night, Old age should burn and rave at close of day; Rage, rage against the dying of the light. Though wise men at their end know dark is right, Because their words had forked no lightning they Do not go gentle into that good night. (...) Dylan Thomas --------
¶ 26 de Setembro de 2004
Momentos de viragem (destino manifesto)
Momentos de viragem (destino manifesto)
¶ 25 de Setembro de 2004
O último amor (ou último
O último amor (ou último minuto do amor) Era o último amor. A casa fria, os pés molhados no escuro chão. Era o último amor e não sabia esconder o rosto em tanta solidão. Era o último amor. Quem adivinha o sabor breve pela escuridão? Quem oferece frutos nessa neve? Quem rasga com ternura o que foi verão? Era o último amor, o mais perfeito fulgor do que viveu sem as palavras. Era o último amor, perfil desfeito entre lumes e vozes e passadas. Era o último amor e não sabia que os pés à terra nua oferecia. Luís Filipe Castro Mendes --------
¶ 24 de Setembro de 2004
Da perturbação De repente, a
Da perturbação
¶ 24 de Setembro de 2004
Soneto do escuro Amor, tenho
Soneto do escuro Amor, tenho saudades de outra vida feita só de mil dias transparentes: Não te esqueças de mim se vires perdida esta voz nas palavras mais ausentes. Porque é perto da morte que escrevemos, cada verso contém uma ameaça: e a ternura maior que nos dizemos é feita de penumbra fria e baça. Se a voz se dá no verso e na medida é medo, meu amor, mais que vontade: o verso nada pode contra a vida; sabê-lo é a nossa liberdade. É medo que nos verso esconjuro, como riso vibrando no escuro! Luís Filipe Castro Mendes --------
¶ 24 de Setembro de 2004
K'ouei (a oposição) A incompreensão
K'ouei (a oposição)
¶ 24 de Setembro de 2004
Souen (a diminuição) Diminuir as
Souen (a diminuição)
¶ 23 de Setembro de 2004
Outono Precisava pedir ao Outono,
Outono
¶ 23 de Setembro de 2004
Yu (o entusiasmo) As oposições,
Yu (o entusiasmo)
¶ 23 de Setembro de 2004
Kien (o obstáculo) Há obstáculos
Kien (o obstáculo)
¶ 23 de Setembro de 2004
Decisão (ou a coragem do
Decisão (ou a coragem do viver imprudente)
¶ 23 de Setembro de 2004
Aparência ilusória My love
Aparência ilusória My love is strengthened, though more weak in seeming; I love not less, though less the show appear; That love is merchandized, whose rich esteeming The owner's tongue doth publish everywhere. Our love was new, and then but in the spring When I was wont to greet it with my lays, As Philomel in summer's front doth sing, And stops her pipe in growth of riper days - Not that the summer is less pleasant now Than when her mournful hymns did hush the night, But that wild music burthens every bough, And sweets grown common lose their dear delight. Therefore like her I sometime hold my tongue, Because I would not dull you with my song. William Shakespeare --------
¶ 22 de Setembro de 2004
Meeting At Night The grey
Meeting At Night The grey sea and the long black land; And the yellow half-moon large and low; And the startled little waves that leap In fiery ringlets from their sleep, As I gain the cove with pushing prow, And quench its speed i' the slushy sand. Then a mile of warm sea-scented beach; Three fields to cross till a farm appears; A tap at the pane, the quick sharp scratch And blue spurt of a lighted match, And a voice less loud, through its joys and fears, Than the two hearts beating each to each! Robert Browning --------
¶ 21 de Setembro de 2004
Reflexo (do desejo) Nos teus
Reflexo (do desejo)
¶ 21 de Setembro de 2004
Recurso (ou da protecção)
Recurso (ou da protecção)
¶ 21 de Setembro de 2004
Navalha de Occam(Pluralitas non est
¶ 21 de Setembro de 2004
Desengano Onde porei meus olhos
Desengano Onde porei meus olhos que não veja A causa, donde nasce o meu tormento? A que parte irei co pensamento Que para descansar parte me seja? Já sei como s'engana quem deseja, Em vão amor firme contentamento, De que, nos gostos seus, que são de vento, Sempre falta seu bem, seu mal sobeja. Mas inda, sobre claro desengano, Assim me traz est'alma sogigada, Que dele está pendendo o meu desejo; E vou de dia em dia, de ano em ano, Após um não sei quê, após um nada, Que, quanto mais me chego, menos vejo. Diogo Bernardes --------
¶ 21 de Setembro de 2004
A parte pelo todo Em
A parte pelo todo
¶ 20 de Setembro de 2004
Tomorrow Tomorrow - whose
Tomorrow Tomorrow - whose location The Wise deceives Though its hallucination Is last that leaves - Tomorrow - thou Retriever Of every tare - Of Alibi art thou Or ownest where? Emily Dickinson --------
¶ 20 de Setembro de 2004
Entendimento Não há usura nem
Entendimento
¶ 20 de Setembro de 2004
Convicção (dores de crescimento) Há
Convicção (dores de crescimento)
¶ 20 de Setembro de 2004
Floresta escura (da fragilidade humana)
Floresta escura (da fragilidade humana)
¶ 20 de Setembro de 2004
Canção Love me or leave
Canção Love me or leave me an' let me be lonely you won't believe me but I love you only! I'd rather be lonely than happy with somebody else! You might find the night time the right time for kissin' But night time is my time for just reminiscing! Regretting instead of forgetting with somebody else! ( Regretting instead of forgetting! ) There'll be no one unless that someone is you! I intend to be independently blue! I want your love but I don't want to borrow to have it today an' give back tomorrow! For my love is your love there's no love for nobody else! Regretting instead of forgetting with somebody else! And there'll be no one unless that someone is you, you, you! I intend to be independently . . . independently blue! I want your love I don't want to borrow to have it today give back tomorrow! For my love is your love there's no love for nobody else! Love me or leave me an' let me be lonely . . . Baby! You're drivin' me wild! I'd rather be lonely than happy with somebody else! Gus Kahn / W. Donaldson (1928). --------
¶ 19 de Setembro de 2004
Momentos distintos "Questo è il
Momentos distintos "Questo è il momento" mi sono detto in un attimo niente più freddo più nessuno intorno, la natura una verde camera da letto, forte delle stesse cose che io voglio tento l' abbraccio a fondo ma ne sono respinto, senza un sguardo senza una parola si ricompone se ne va nel buio - era il mio momento non il suio Nelo Risi, in Poesie d' amore del' 900, ed. Mondadori. --------
¶ 19 de Setembro de 2004
Memória excessiva Ballade Of Unfortunate
Memória excessiva Ballade Of Unfortunate Mammals Love is sharper than stones or sticks; Lone as the sea, and deeper blue; Loud in the night as a clock that ticks; Longer-lived than the Wandering Jew. Show me a love was done and through, Tell me a kiss escaped its debt! Son, to your death you'll pay your due - Women and elephants never forget. Ever a man, alas, would mix, Ever a man, heigh-ho, must woo; So he's left in the world-old fix, Thus is furthered the sale of rue. Son, your chances are thin and few - Won't you ponder, before you're set? Shoot if you must, but hold in view Women and elephants never forget. Down from Caesar past Joynson-Hicks Echoes the warning, ever new: Though they're trained to amusing tricks, Gentler, they, than the pigeon's coo, Careful, son, of the curs'ed two - Either one is a dangerous pet; Natural history proves it true - Women and elephants never forget. L'ENVOI Prince, a precept I'd leave for you, Coined in Eden, existing yet: Skirt the parlor, and shun the zoo - Women and elephants never forget. Dorothy Parker --------
¶ 18 de Setembro de 2004
Lava Agonia Morire come le
Lava Agonia Morire come le allodole assetate sul miraggio O come la quaglia passato il mare nei primi cespugli perché di volare non ha più voglia Ma non vivere di lamento come un cardellino accecato Giuseppe Ungaretti --------
¶ 18 de Setembro de 2004
Caveat emptor " (...) A
Caveat emptor " (...) A impossibilidade é atraente. Sabes como é, a segurança das coisas sem saída." Jonathan Franzen, in Correcções, trad. Fernanda Pinto Rodrigues, ed. Dom Quixote. --------
¶ 18 de Setembro de 2004
Gostos Some Like Poetry Some
Gostos Some Like Poetry Some - thus not all. Not even the majority of all but the minority. Not counting schools, where one has to, and the poets themselves, there might be two people per thousand. Like - but one also likes chicken soup with noodles, one likes compliments and the color blue, one likes an old scarf, one likes having the upper hand, one likes stroking a dog. Poetry - but what is poetry. Many shaky answers have been given to this question. But I don't know and don't know and hold on to it like to a sustaining railing. Wislawa Szymborska --------
¶ 17 de Setembro de 2004
Da mistificação (ou a explicação
Da mistificação (ou a explicação da carência)
¶ 17 de Setembro de 2004
Lição de Mitrídates, o Grande
Lição de Mitrídates, o Grande
¶ 16 de Setembro de 2004
Procura "(...) procurei o branco
Procura "(...) procurei o branco até à tensão extrema do negro A esperança até às lágrimas a alegria até aos confins do desespero aquele era o instante de me chegar ajuda e calhou a sorte às chuvas (...)" Odysséas Elytis, in Áxion Estí, trad. Manuel Resende, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 16 de Setembro de 2004
Bom conselho (frases delicadas)
Bom conselho (frases delicadas) "Cobarde, por que murmuras todo o dia no teu coração a palavra amor? Porque falas dela incessantemente, a toda a hora, a qualquer hora Excepto quando ela está presente em carne e osso? Deixa-te disso, homem, Vai ter com ela, e tenta portar-te como se falasses a sério." In Poemas de Amor do Antigo Egipto, trad. Helder Moura Pereira, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 16 de Setembro de 2004
Focus (ou da densidade) "Amando
Focus (ou da densidade) "Amando tudo, não se ama nada." Catherine Clément, in Jesus na fogueira, ed. ASA. --------
¶ 15 de Setembro de 2004
Banal & Inexorável (como o
Banal & Inexorável (como o sangue que corre)
¶ 15 de Setembro de 2004
Assim Assim fugi eu da
Assim Assim fugi eu da palavra: Um pedaço da noite de braços abertos só uma balança para pesar fugas este tempo de estrelas afundado em pó co'as pegadas impressas. Agora é tarde. O leve sai de mim e também o pesado e os ombros já voam como nuvens para longe braços e mãos sem gesto de levar. Fundo-escuro é a cor da nostalgia sempre assim a noite toma de novo de mim posse. Nelly Sachs, trad. Paulo Quintela, in Rosa do mundo, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 15 de Setembro de 2004
Estudo Através da janela mando
Estudo Através da janela mando a negra razão falar com a paisagem. Ernst Meister, trad. João Barrento, in Rosa do mundo, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 14 de Setembro de 2004
The Three Oddest Words (for
The Three Oddest Words (for Przemyslaw) When I pronounce the word Future, the first syllable already belongs to the past. When I pronounce the word Silence, I destroy it. When I pronounce the word Nothing, I make something no non-being can hold. Wislawa Szymborska --------
¶ 14 de Setembro de 2004
Pequena nota berlinense 3 Um
Pequena nota berlinense 3
¶ 14 de Setembro de 2004
Da sobrevivência (diálogo sobre a
Da sobrevivência (diálogo sobre a ironia de Eros)
¶ 14 de Setembro de 2004
Regra de ouro (sem limite
Regra de ouro (sem limite de validade)
¶ 14 de Setembro de 2004
Contentamento Podia fazer de conta
Contentamento
¶ 14 de Setembro de 2004
On Being Young And Green
On Being Young And Green Being Young and Green, I said in love's despite: Never in the world will I to living wight Give over, air my mind To anyone, Hang out its ancient secrets in the strong wind To be shredded and faded - Oh, me, invaded And sacked by the wind and the sun! Edna St. Vincent Millay --------
¶ 14 de Setembro de 2004
Inexplicável Há seres que sabem
Inexplicável
¶ 14 de Setembro de 2004
Nada de novo... General Review
Nada de novo... General Review Of The Sex Situation Woman wants monogamy; Man delights in novelty. Love is woman's moon and sun; Man has other forms of fun. Woman lives but in her lord; Count to ten, and man is bored. With this the gist and sum of it, What earthly good can come of it? Dorothy Parker --------
¶ 13 de Setembro de 2004
Desistência (ou da reminiscência) A
Desistência (ou da reminiscência)
¶ 13 de Setembro de 2004
Sob condição (de tempo e
Sob condição (de tempo e de modo)
¶ 13 de Setembro de 2004
Pequena nota berlinense 2 (wishful
Pequena nota berlinense 2 (wishful thinking?)
¶ 13 de Setembro de 2004
Oh, honey of an hour
Oh, honey of an hour (for Jim & Véronique) Oh, honey of an hour, I never knew thy power, Prohibit me Till my minutest dower, My unfrequented flower, Deserving be. Emily Dickinson --------
¶ 13 de Setembro de 2004
Epitaph For A Romantic Woman
Epitaph For A Romantic Woman She has attained the permanence She dreamed of, where old stones lie sunning. Untended stalks blow over her Even and swift, like young men running. Always in the heart she loved Others had lived, - she heard their laughter. She lies where none has lain before, Where certainly none will follow after. Louise Bogan --------
¶ 13 de Setembro de 2004
Pura verdade " Eis o
Pura verdade " Eis o que se passa, segundo penso: Eros não é uma coisa simples." Platão, in O banquete, ed. Guimarães Editores. --------
¶ 13 de Setembro de 2004
Da extravagância "(...) ao amante
Da extravagância
¶ 12 de Setembro de 2004
In illo tempore Escrevendo Escrevendo
In illo tempore Escrevendo Escrevendo quis eu Salvar a minha alma. Tentei fazer versos Não consegui. Tentei contar histórias Não consegui. Não se pode escrever Para salvar a alma. A rendida parte à deriva e canta. Marie Luise Kaschnitz, trad. Paulo Quintela, in Rosa do mundo, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 12 de Setembro de 2004
Pequena nota berlinense Foi interessante
Pequena nota berlinense
¶ 12 de Setembro de 2004
De volta Trouxe uma frase,
De volta
¶ 8 de Setembro de 2004
Pequena interrupção (o modus segue
Pequena interrupção (o modus segue dentro de momentos)
¶ 8 de Setembro de 2004
Amores Sou a primeira entre
Amores Sou a primeira entre os teus amores, Como jardim há pouco regado de ervas e perfumadas flores. * O meu coração rebenta quando penso como o amo, Não sou capaz de me comportar como outra pessoa qualquer. Ele, o coração, está em desordem Não me deixa escolher um vestido ou esconder-me atrás de um leque. Não consigo pôr pintura nos olhos nem optar por um perfume * O teu amor infiltra-se no meu corpo Tal como o vinho se infiltra na água quando O vinho e a água se misturam. * Há flores de Zait no jardim. Corto e junto flores para ti, Faço-te uma grinalda, E quando ficares ébrio E te deitares com esse sono, Sou eu quem te lava os pés para lhes tirar o pó. In Poemas de Amor do Antigo Egipto, trad. Helder Moura Pereira, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 8 de Setembro de 2004
Os Colombos Outros haverão de
Os Colombos Outros haverão de ter O que houvermos de perder. Outros poderão achar O que, no nosso encontrar, Foi achado, ou não achado, Segundo o destino dado. Mas o que a eles não toca É a Magia que evoca O Longe e faz dele história. E por isso a sua glória É justa auréola dada Por uma luz emprestada. Fernando Pessoa --------
¶ 8 de Setembro de 2004
Da blogosfera (a propósito de
¶ 7 de Setembro de 2004
Outra memória (presente de Z.)
Outra memória (presente de Z.) "Cada bago de uva sabe de cor o nome dos dias todos do verão" Eugénio de Andrade --------
¶ 7 de Setembro de 2004
Da sensatez The Lady's Reward
Da sensatez The Lady's Reward Lady, lady, never start Conversation toward your heart; Keep your pretty words serene; Never murmur what you mean. Show yourself, by word and look, Swift and shallow as a brook. Be as cool and quick to go As a drop of April snow; Be as delicate and gay As a cherry flower in May. Lady, lady, never speak Of the tears that burn your cheek - She will never win him, whose Words had shown she feared to lose. Be you wise and never sad, You will get your lovely lad. Never serious be, nor true, And your wish will come to you - And if that makes you happy, kid, You'll be the first it ever did. Dorothy Parker --------
¶ 7 de Setembro de 2004
Sonho "Ameno é o canal
Sonho "Ameno é o canal que tu cavaste Pela frescura do vento norte. Tranquilos os nossos caminhos Quando a tua mão descansa na minha em alegria. A tua voz dá vida, como o néctar. Ver-te é mais do que alimento e bebida." In Poemas de Amor do Antigo Egipto, trad. Helder Moura Pereira, ed. Assírio & Alvim. --------
¶ 6 de Setembro de 2004
Do jogo (by heart) -
Do jogo (by heart)
¶ 6 de Setembro de 2004
Mais filmes com livros dentro
Mais filmes com livros dentro 2 (e vice versa) "Always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours."
¶ 6 de Setembro de 2004
Impossibilidade Não, não pode haver
Impossibilidade
¶ 6 de Setembro de 2004
Mais filmes com livros dentro
Mais filmes com livros dentro (e vice versa)
¶ 6 de Setembro de 2004
Sonho adâmico A Woman's Last
Sonho adâmico A Woman's Last Word I. Let's contend no more, Love, Strive nor weep: All be as before, Love, - Only sleep! II. What so wild as words are? I and thou In debate, as birds are, Hawk on bough! III. See the creature stalking While we speak! Hush and hide the talking, Cheek on cheek! IV. What so false as truth is, False to thee? Where the serpent's tooth is Shun the tree - V. Where the apple reddens Never pry - Lest we lose our Edens, Eve and I. VI. Be a god and hold me With a charm! Be a man and fold me With thine arm! VII. Teach me, only teach, Love As I ought I will speak thy speech, Love, Think thy thought - VIII. Meet, if thou require it, Both demands, Laying flesh and spirit In thy hands. IX. That shall be to-morrow Not to-night: I must bury sorrow Out of sight: X. - Must a little weep, Love, (Foolish me!) And so fall asleep, Love, Loved by thee. Robert Browning --------
¶ 5 de Setembro de 2004
Outono (ou o consolo da
Outono (ou o consolo da repetição)
¶ 5 de Setembro de 2004
Vantagens domésticas Conversação doméstica afeiçoa,
Vantagens domésticas Conversação doméstica afeiçoa, Ora em forma de boa e sã vontade, Ora duma amorosa piedade, Sem olhar qualidade de pessoa. Se depois, porventura, vos magoa Com desamor e pouca lealdade, Logo vos faz mentira da verdade O brando Amor, que tudo em si perdoa. Não são isto que falo conjecturas, Que o pensamento julga na aparência, Por fazer delicadas escrituras. Metido tenho a mão na consciência, E não falo senão verdades puras Que me ensinou a viva experiência. Luís Vaz de Camões --------
¶ 4 de Setembro de 2004
Da procura "Ficava frequentemente desapontada
Da procura "Ficava frequentemente desapontada por a vida não ser como ela teria querido - por o tesouro secreto que procurava lhe escapar." Richard Zimler, in Meia noite ou O princípio do mundo, ed. Gótica. --------
¶ 4 de Setembro de 2004
Da terrena perfeição Manhã de
¶ 4 de Setembro de 2004
Do excesso "Suponho que é
Do excesso
¶ 4 de Setembro de 2004
Amor fati 2 (ou
Amor fati 2 (ou da serenidade) Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam. Ricardo Reis --------
¶ 4 de Setembro de 2004
Do tempo lento (Outono) Se
Do tempo lento (Outono) Se a minha vida ao áspero tormento poupada pode ser, e a afãs humanos, que eu veja por razão de últimos anos em vosso belo olhar lume já lento e os fios de oiro fino já de argento e deixardes grinalda e verdes panos e o rosto perder cor, o que em meus danos me faz vagar e medo no lamento, audácia ao menos há-de dar-me Amor que vos possa mostrar de meu penar por quantos anos, dias, horas for; e se é contrário ao doce desejar o tempo ao menos junte à minha dor algum socorro em tardo suspirar. Petrarca, in As rimas de Petrarca, trad. Vasco Graça Moura, ed. Bertrand. --------
¶ 3 de Setembro de 2004
Amor fati Go from me.
Amor fati Go from me. Yet I feel that I shall stand Henceforward in thy shadow. Nevermore Alone upon the threshold of my door Of individual life, I shall command The uses of my soul, nor lift my hand Serenely in the sunshine as before, Without the sense of that which I forbore - Thy touch upon the palm. The widest land Doom takes to part us, leaves thy heart in mine With pulses that beat double. What I do And what I dream include thee, as the wine Must taste of its own grapes. And when I sue God for myself, He hears that name of thine, And sees within my eyes the tears of two. Elizabeth Barrett Browning --------
¶ 3 de Setembro de 2004
Do silêncio "(...) acabei
Do silêncio
¶ 3 de Setembro de 2004
Da metade (ou a busca
Da metade (ou a busca da totalidade)
¶ 3 de Setembro de 2004
Farewell From thee, Eliza, I
Farewell From thee, Eliza, I must go, And from my native shore; The cruel fates between us throw A boundless ocean's roar: But boundless oceans, roaring wide, Between my love and me, They never, never can divide My heart and soul from thee. Farewell, farewell, Eliza dear, The maid that I adore! A boding voice is in mine ear, We part to meet no more! But the latest throb that leaves my heart, While Death stands victor by, - That throb, Eliza, is thy part, And thine that latest sigh! Robert Burns --------
¶ 3 de Setembro de 2004
Chuva Cai chuva do céu
Chuva Cai chuva do céu cinzento Que não tem razão de ser. Até o meu pensamento Tem chuva nele a escorrer. Tenho uma grande tristeza Acrescentada à que sinto. Quero dizer-ma mas pesa O quanto comigo minto. Porque verdadeiramente Não sei se estou triste ou não. E a chuva cai levemente (Porque Verlaine consente) Dentro do meu coração. Fernando Pessoa, 15-11-1930. --------
¶ 2 de Setembro de 2004
Culpa humana (filmes com livros
Culpa humana (filmes com livros dentro, e vice versa) "The things that restore you can also destroy you."
¶ 2 de Setembro de 2004
Da esperança "Por vezes, penso
Da esperança
¶ 2 de Setembro de 2004
Pressa de Outono Acima das
Pressa de Outono Acima das águas plácidas, Os cisnes agitam as asas. O rio flui e passa... Oh, vem! as estrelas brilham, as folhas de leve se agitam E as nuvens aproximam-se já... Ivan Bunin --------
¶ 2 de Setembro de 2004
Outono No spring nor summer
Outono No spring nor summer beauty hath such grace As I have seen in one autumnal face. John Donne --------
¶ 2 de Setembro de 2004
Not Even Not even my
Not Even Not even my pride shall suffer much; Not even my pride at all, maybe, If this ill-timed, intemperate clutch Be loosed by you and not by me, Will suffer; I have been so true A vestal to that only pride Wet wood cannot extinguish, nor Sand, nor its embers scattered, for, See all these years, it has not died. And if indeed, as I dare think, You cannot push this patient flame, By any breath your lungs could store, Even for a moment to the floor To crawl there, even for a moment crawl, What can you mix for me to drink That shall deflect me? What you do Is either malice, crude defense Of ego, or indifference: I know these things as well as you; You do not dazzle me at all - Some love, and some simplicity, Might well have been the death of me. Edna St. Vincent Millay --------
¶ 1 de Setembro de 2004
Passos Pensou que nada mais
Passos
¶ 1 de Setembro de 2004
Tatuagens, juras, desejos (e demais
Tatuagens, juras, desejos (e demais provas de vida) Tatuagem Quero ficar no teu corpo feita tatuagem Que é pra te dar coragem Pra seguir viagem Quando a noite vem E também pra me perpetuar em tua escrava Que você pega, esfrega, nega Mas não lava Quero brincar no teu corpo feito bailarina Que logo se alucina Salta e te ilumina Quando a noite vem E nos músculos exaustos do teu braço Repousar frouxa, murcha, farta Morta de cansaço Quero pesar feito cruz nas tuas costas Que te retalha em postas Mas no fundo gostas Quando a noite vem Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva Marcada a frio, a ferro e fogo Em carne viva Corações de mãe Arpões, sereias e serpentes Que te rabiscam o corpo todo Mas não sentes Chico Buarque --------
¶ 1 de Setembro de 2004
Da fuga Fugiste de um
Da fuga Fugiste de um amor tão conhecido, fugiste de üa fé tão clara e firme, e seguiste a quem nunca conheceste, não por fugir de Amor, mas por fugir-me; que bem vias que tinha merecido o amor que tu a outrem concedeste. A mim não me fizeste nenhüa sem-razão, que bem conheço que tanto não mereço; fizeste-a àquele bem, firme e sincero, que sabes que te quero, em lhe tirar a glória merecida. Perca, quem te perdeu, também a vida. Luís Vaz de Camões --------