Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de janeiro 2009


31 de Janeiro de 2009

Rhetorical Questions

How do you think I feel when you make me talk to you and won't let me stop till the words turn into a moan? Do you think I mind when you put your hand over my mouth and tell me not to move so you can "hear" it happening? And how do you think I like it when you tell me what to do and your mouth opens and you look straight through me? Do you think I mind when the blank expression comes and you set off alone down the hall of collapsing columns? Hugo Williams


31 de Janeiro de 2009

Funchal

marina-funchal_gr.jpg (re)ver o mar de perto


31 de Janeiro de 2009

Elogio da distância

(gentileza de Amélia Pais) Na fonte dos teus olhos vivem os fios dos pescadores do lago da loucura. Na fonte dos teus olhos o mar cumpre a sua promessa. Aqui, coração que andou entre os homens, arranco do corpo as vestes e o brilho de uma jura: Mais negro no negro, estou mais nu. Só quando sou falso sou fiel. Sou tu quando sou eu. Na fonte dos teus olhos ando à deriva sonhando o rapto. Um fio apanhou um fio: separamo-nos enlaçados. Na fonte dos teus olhos um enforcado estrangula o baraço. Paul Celan


29 de Janeiro de 2009

Sobre o poeta

o poeta sofre : de falta de palavras de falta de certezas de falta de amores que o tempo lhe rouba enquanto busca a caneta : o papel e os rascunhos pendurados em si mesmo : mas se a busca cessa corre o risco de morrer paralisado : de falta de amores de falta de certezas de falta de palavras : o poeta sofre Ana Peluso


29 de Janeiro de 2009

Ser poeta

Ser poeta é ter sublime, é ter sentida Uma ilusão que nos consome e encanta. É palpitar em luta desabrida, Para a conquista do ouro de Atalanta. Ser poeta é ser embarcação perdida Pelos mares. É ser um Deus que canta. É ter milhões de vida numa vida, E um mundo de ilusões, que se alevanta. Ser poeta é procurar pelos espaços, Na contorção nervosa dos abraços, Todos os sóis e todos os planetas... É viajar pela amplidão dos ares, Até chegar aos fogos estelares Que se perdem na cauda dos cometas! Anderson de Araújo Horta


29 de Janeiro de 2009

Hans Holbein

hans%20holbein.2.jpg quase magia


29 de Janeiro de 2009

Do futuro

0 futuro é um pássaro assustado na direcção da minha testa. Recuo, às vezes, mas a terra gira satélites implacáveis. Calendários são asas na madrugada dissolvidas à meia noite. Enterro o relógio, misturo a matemática, não adivinho se é sábado, aniversário ou desfile da independência ou morte, Chove, as nuvens surpresas escorrem no cimento, a terra seca morre sepultada com seus olhos de areia. (...) André Carneiro


28 de Janeiro de 2009

Variações sobre o amor

Se o teu amor é terra, o meu amor é estrela. Se o teu amor é sombra, o meu amor é vida. Se o teu amor é chuva, o meu é arco-íris. (O teu amor às vezes são folhas coloridas lambidas pelas chamas.) Se o teu amor é noite, o meu amor é dia. Se o teu amor é dia, o meu é madrugada. O meu amor é tudo. O teu é quase nada. Anderson de Araújo Horta


28 de Janeiro de 2009

Agonias da Memória

Emoção é dor por dentro, a palavra é bisturi que relembra. Filme, foto, nem fita grava são a lágrima do momento. A emoção renasce o poema finge o agora, a ficção imita o sentimento, é brilho da estrela caindo. Narro um presente fictício, busco o silêncio da noite seca, lembrança enterrada no calendário. Esse momento é estranho, a caneta derrapa, descrevo o ontem com letras dedicadas aos olhos alheios. André Carneiro


28 de Janeiro de 2009

Hans Holbein

hans%20holbein.3.jpg um perfil sui generis


28 de Janeiro de 2009

O sítio

Em cada canto da casa, teu cheiro felino Em tudo reluz Nas folhas, teus cabelos embaraçam No vento, teu som-só sopra prazeres N' água, teu corpo escorre segredos Nas pedras, teus pés nus-húmidos gozam Em cada canto de mim, teu cheiro felino Em tudo reluz André Carvalheira


28 de Janeiro de 2009

Jogos

Todos os sonhos terminavam no copo de cerveja durante o intervalo gratificado com o refrigerante tentava entender por que os olhos se modificavam em vermelho paletó e gravata chapéu na volta perdendo ou ganhando não havia mais a graça da ida nem conversas sobre sonhos e futuros só o bafo e o cansaço do menino. Pedro Du Bois


27 de Janeiro de 2009

Bilacmania

livre espaço a ave aurora as asas cantando climas céus nuvens agora o sol o vôo a vida o olhar (re)volta tempo alegria de novo Geraldo Carneiro


27 de Janeiro de 2009

Hans Holbein

hans%20holbein.jpg um estranho olhar


27 de Janeiro de 2009

Neoplatónica

a boca é o lugar onde se engendra o silêncio e se proferem sentenças de morte e colhem blasfémias e serpenteiam sortilégios e se enfunam as flores da fala até forjar a ficção de outra boca de onde se extrai a ideia do beijo Geraldo Carneiro


27 de Janeiro de 2009

Lola Alvarez Bravo

lola%20alvarez%20bravo.cidade%20m%C3%A9xico.jpg cidade do México em meados do século passado


27 de Janeiro de 2009

Romântica

(para a minha amiga Alice, por razões óbvias) o poeta se enfastia da lua e a compara à amada depois se enfastia da amada e vice-versa Geraldo Carneiro


26 de Janeiro de 2009

A casa diversa

Não há a profundeza da alma contada como abismos, escuras fendas mortalhas não há a profundeza do corpo dita como segredos, escuros vãos escadas não há a profundeza da mão falada como arrepios que passam, escuras horas ásperas não há a profundeza da casa murmurada como peças fechadas, escuros sótãos fantasmas não há a profundeza das palavras gritadas como folhas soltas, escuras raivas transportadas. Pedro Du Bois


26 de Janeiro de 2009

Hans Holbein

Thomas%20More.jpg Thomas More, ou o peso dos dias no século XVI


26 de Janeiro de 2009

Onde ando

onde ando todos me conhecem: — lá vai o homem da flor. Ninguém sabe dos meus pecados com Deus. sou um homem para menos. meu contar escorre ladeira. Não creio em azar. Não por ser otimista Por saber que a sorte é rara. sempre ando pela direita. todos os livros abrem apócrifos. sou imagem e semelhança do desacontecido. A pessoa que procuro não sou eu. André Luiz Pinto


25 de Janeiro de 2009

Lorenzo Lotto

lotto%20andrea%20odoni.jpg Andrea Odoni, ou a atmosfera do artista


25 de Janeiro de 2009

Incrível

incrível tua lembrança: um leão rasgando seda. exponho os pedaços do amor pela cama: meia dúzia de anátemas; enjôos (o brinco de cetim) post-mortem de livro: sabes, incalculável, a soma destes viés (porque somas mas não soletras). André Luiz Pinto


25 de Janeiro de 2009

Lay Your Sleeping Head, My Love

Lay your sleeping head, my love, Human on my faithless arm; Time and fevers burn away Individual beauty from Thoughtful children, and the grave Proves the child ephermeral: But in my arms till break of day Let the living creature lie, Mortal, guilty, but to me The entirely beautiful. Soul and body have no bounds: To lovers as they lie upon Her tolerant enchanted slope In their ordinary swoon, Grave the vision Venus sends Of supernatural sympathy, Universal love and hope; While an abstract insight wakes Among the glaciers and the rocks The hermit's sensual ecstasy. W.H. Auden


24 de Janeiro de 2009

Breve flama

A flama frívola e breve apaga-se sem aviso, como se não houvera, mesmo antes de ser, era. A flama frívola esconde-se nas arestas incandescentes dos corações empobrecidos, fingindo-se chama infinita. De tal flama nascem os amores noturnos, que não resistem a luz do astro que queima. A flama frívola é fraca, calor quase inexistente, flama que não importa, perda que não se sente. André Merez


24 de Janeiro de 2009

Capricho da tarde

capricho da tarde cintilam gotas amantes juntas em arco-íris André de Oliveira Coelho


24 de Janeiro de 2009

Stella Piteira Santos

stella%20piteira%20Santos.jpg uma vida longa e cheia que anteontem terminou; a época foi difícil, a amizade exigente e generosa.


24 de Janeiro de 2009

Lembranças

Minhas entranhas são impregnadas de passados. Estou sempre às voltas com as minhas lembranças, a brincar-lhes passando-as delicadamente entre meus dedos cansados, seu olor sorvendo, absorvendo-lhes cada sensação já ímpar. E se, por alguma artimanha casual, pudéssemos, súbito, voltar ao lugar já há tempos partido, revivê-lo pleno, reconviver com as tão velhas impressões, com a mesma velha disposição de objetos? E se retornados a esse lugar místico percebêssemos que ele e as pessoas estão rigorosamente os mesmos, que o tempo não passou-lhes, que nunca mais haverá saudade? As paredes, então, não se nos mostrariam escuras, enegrecidas como se muito surradas pelas visões de tantas histórias, como se, assim como conosco, lhes pesasse o passado, ferida sempre aberta na alma – a saudade – que jamais cicatrizará. E se pudéssemos ser aqueles de outrora sem sermos criaturas estranhas à gente? E se fôssemos continuamente tão nossos a ponto de não mais precisarmos chorar? Tão nossos que o amanhã jamais derramaria sobre nossas cabeças suas incertezas, e o fogo do agora nos governaria? E se nunca perdêssemos essa vontade essa volúpia dos reencontros tardios em que a única coisa a ser feita é comer devorar os instantes, por si só, fugazes? Hoje, contemplando antigas fotografias, percebi que as lembranças me são dolorosas porque embora muito presentes, são lembranças, meramente. André de Oliveira Coelho


24 de Janeiro de 2009

Mar

winter-solstice-1a-2003-l.jpg outro céu, o mesmo inverno


24 de Janeiro de 2009

Mar de chumbo

mar de chumbo espelho do céu deserto inverno André de Oliveira Coelho


23 de Janeiro de 2009

Autobiografia

Triste como um céu cinza de onde cai uma chuva mansa porém ácida Grave como uma flor solitária num imenso jardim de espinhos Poeta? André de Oliveira Coelho


23 de Janeiro de 2009

Procura

Espia avista o que procura entreaberta cortina o barulho da rua conflita os sentidos entreaberta janela desiste do que a vista não alcança. Pedro Du Bois


23 de Janeiro de 2009

Meus sonhos

Meus sonhos são sonhos que não calam. Se calados exalam À sublime natureza O quanto eles falam. Meus sonhos Quando juntado a outros, Se multiplicam, Parece que exortam Sonhos já mortos. Meus sonhos Na ânsia de realizar, Me pede clemência Para exaltar Até a demência Que a paciência Não soube expressar! Ah! Meus sonhos , meus sonhos! Se já não estão mortos É porque a franqueza de sonhar Me fez um menino Franzino,atrevido, Que até se fez refém Do sonho que não veio. Meus sonhos, mesmo assim, Não param de sonhar. Sonhar com a grandeza... A imensa grandeza de amar! Ângelo Paraíso Martins


23 de Janeiro de 2009

Human love

Certainty, fidelity On the stroke of midnight pass Like vibrations of a bell, And fashionable madmen raise Their pedantic boring cry: Every farthing of the cost, All the dreadful cards foretell, Shall be paid, but not from this night Not a whisper, not a thought, Not a kiss nor look be lost. Beauty, midnight, vision dies: Let the winds of dawn that blow Softly round your dreaming head Such a day of sweetness show Eye and knocking heart may bless. Find the mortal world enough; Noons of dryness see you fed By the involuntary powers, Nights of insult let you pass Watched by every human love. W.H. Auden


22 de Janeiro de 2009

Lola Alvarez Bravo

Frida%20porlola%20alvarez%20bravo.jpg retrato de Frida


22 de Janeiro de 2009

Impropriedades

As vezes em que me disse pronto. Menti a consideração devida. Alçado ao comando refuguei a tropa. Descrevi lutas: enfronhado em tiros retirei do nada a afirmação de estar apto ao encontro. As vozes ditam regras inabaláveis e ao longe escuto a serra cortar o lastro do meu barco. Não estou pronto ao descortínio. A visão embaça enquanto choro impropriedades. Pedro Du Bois


22 de Janeiro de 2009

Algumas coisas

Algumas coisas que não pudermos escrever se apagarão nesta nebulosa sonora onde cada vida possível não dura mais do que um momento breve (que de tão breve nem chegamos a ouvir) Annita Costa Malufe


22 de Janeiro de 2009

Diego Rivera

MrsDreyfus_1927Rivera.JPG Mme. Dreyfus em cores suaves, a contrabalançar o dia


22 de Janeiro de 2009

Poema Cíclico

(...) Quão particular este silêncio (viés oculto) que me sabe desnudo despudoramente nu encalhado num atol: leito circunscrito às algas do meu avesso. Sem embargo trago sempre no alforje um fardo de estrelas: sei-me estivador desse cais agónico atarefado Sísifo Aníbal Beça


21 de Janeiro de 2009

Luz

Le jour n’est pas plus pur que le fond de mon coeur Racine ao ver o não que sai da dor o som da voz já vai no sim no tom do céu não vi mais luz do que no sol que há em mim Antônio Carlos Secchin


21 de Janeiro de 2009

Juan Soriano

adao%20eva%20juan%20soriano.jpg Adão e Eva em formato arredondado


21 de Janeiro de 2009

Dias de chuva

Nos dias de chuva fina cabe ficar desfiando lembranças opacas dessas meio disformes com cara de anos trinta ficar divagando nas veias da madeira da velha escrivaninha do avô e pensando se o amor vai além de nomes números e essa longa espera insone Annita Costa Malufe


21 de Janeiro de 2009

Viagem

Pássaro a voar Na manhã recém-nascida Rumo à canção. Antonio Carlos Osorio


20 de Janeiro de 2009

Edward Steichen

edward%20steichen.jpg outro ângulo


20 de Janeiro de 2009

Palavra

Palavra, nave da navalha, invente em mim o avesso do neutro. Preparo para o dia a fala, curva do finito num silêncio de âncora. Atalho onde me calo e colho, como a um galo, o intervalo do azul. Antônio Carlos Secchin


20 de Janeiro de 2009

Passagem

Não, não era ainda a era da passagem do nada ao nada, e do nada ao seu restante. Viver era tanger o instante, era linguagem de se inventar o visível, e era bastante. Falar é tatear o nome do que se afasta. Além da terra, há só o sonho de perdê-la. Além do céu, o mesmo céu, que se alastra num arquipélago de escuro e de estrela. Antônio Carlos Secchin


19 de Janeiro de 2009

Juan Soriano

Juan%20Soriano.jpg bicicletas em movimento vermelho


19 de Janeiro de 2009

Junto da Nuvem o Teu Rosto

Não esqueces nem lembras; apenas sorris, ausente. Junto da nuvem o rosto, tão perto do mais alto monte a branca sede tua. Morreste sob a água, sob a nudez desfeita do tempo. Que lábios colheram o inviolável de tua mão? Sozinha navegas na areia das luas ou, sem paixão, cavalgas por entre o orvalho das estrelas. Ó tranquila! Não mais a flor prenderá os estios nem o coração desenhará o seu sangue no tronco jovem da alegria. O silêncio era mais belo quando reclinávamos as cabeças sobre o leve rio. António José Maldonado


19 de Janeiro de 2009

Desejo

fragmento de azul no espelho das águas as nuvens despedem-se Antônio Fernando Guardado


18 de Janeiro de 2009

Maratta

Maratta-i%20C_jpg.jpg a luz do barroco, em pleno século XVII


18 de Janeiro de 2009

Futuros ou Não

Futuros ou não, viajemos um para o outro, tranquilos; viajemos, sombras fugidias, levemente eternas: - Tu para mim, eu para ti. Futuros ou não, passemos nos lábios inventando o fogo, passemos nos corpos repartindo as nascentes, passemos nas almas pronunciando espaço. Como o ruído dos passos gasta a solidão dos caminhos, assim tu em mim, chegada de muitos gestos, dum mundo e de outro mundo, do alfa e do omega. António José Maldonado


18 de Janeiro de 2009

Paraísos

(gentileza de Amélia Pais) batalhámos, cada um com seu Inverno na infância; amámos depois, cada um separado na glória do seu corpo; percorremos durante muito tempo, isolados um do outro, o limbo da memória esquece; e agora que sabemos quase tudo, buscamos paraísos juntos, e o único que achámos até hoje foi andar a procura deles. Nuno Dempster


18 de Janeiro de 2009

Juan Soriano

Lupe%20Mar%C3%ADn%20No.%20X%20by%20Juan%20Soriano.jpg Lupe Marín, segunda mulher de Diego Rivera, foi o tema inspirador deste vermelho incandescente


18 de Janeiro de 2009

Leitmotiv

quando me deixares nem tudo estará acabado o litro de rum fichas pra vitrola um corpo magro quando me deixares não me terás vencido a cada esquina saberei resgatar um ombro amigo quando me deixares não verás meu féretro e talvez te choque este esqueleto que aprendeu amar Antonio Mariano Lima


17 de Janeiro de 2009

Da justiça

"- Nada é justo. O mais que se pode aspirar é que seja lógico. A justiça é uma doença rara num mundo que afora isso tem uma saúde de ferro." Carlos Ruiz Zafón, in o Jogo do Anjo, trad. Isabel Fraga


17 de Janeiro de 2009

Pedro Coronel

Pedro%20Coronel.jpg da cor sem explicação


17 de Janeiro de 2009

Contigo

Contigo, sem sinal, sem eternidade. Inanimado, não perto da palavra repetido. Nem antes nem para sempre. Contigo, para além do vento que nos mede os braços. Em liberdade contigo, lado a lado. - Olhar-te e esquecer o teu nome não traído, em nossas bocas, gasto. António José Maldonado


17 de Janeiro de 2009

No Fundo Aberto

Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha. Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho, sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores. Estamos na aurícula do coração do mundo. O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra. Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar e é a felicidade da língua vegetal ou a cabeça leve que se inclina para o oriente. Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios. António Ramos Rosa


17 de Janeiro de 2009

Leonora Carrington

Leonora%20Carrington.jpg restos de um sonho qualquer


17 de Janeiro de 2009

Heranças

No objeto sintetizo pais e mães desvelados em filhos reproduzidos na consciência de estarem aqui. Aguardo ao lado a passagem dos carros indiferentes ao que preciso: ir em frente e retornar ao lar: pais e mães descontrolados em heranças. Pedro Du Bois


16 de Janeiro de 2009

Nightclub

You are so beautiful and I am a fool to be in love with you is a theme that keeps coming up in songs and poems. There seems to be no room for variation. I have never heard anyone sing I am so beautiful and you are a fool to be in love with me, even though this notion has surely crossed the minds of women and men alike. You are so beautiful, too bad you are a fool is another one you don't hear. Or, you are a fool to consider me beautiful. That one you will never hear, guaranteed. For no particular reason this afternoon I am listening to Johnny Hartman whose dark voice can curl around the concepts on love, beauty, and foolishness like no one else's can. It feels like smoke curling up from a cigarette someone left burning on a baby grand piano around three o'clock in the morning; smoke that billows up into the bright lights while out there in the darkness some of the beautiful fools have gathered around little tables to listen, some with their eyes closed, others leaning forward into the music as if it were holding them up, or twirling the loose ice in a glass, slipping by degrees into a rhythmic dream. Yes, there is all this foolish beauty, borne beyond midnight, that has no desire to go home, especially now when everyone in the room is watching the large man with the tenor sax that hangs from his neck like a golden fish. He moves forward to the edge of the stage and hands the instrument down to me and nods that I should play. So I put the mouthpiece to my lips and blow into it with all my living breath. We are all so foolish, my long bebop solo begins by saying, so damn foolish we have become beautiful without even knowing it. Billy Collins


16 de Janeiro de 2009

Noite

Um vento ondula folhas imensas no mais profundo do meu silêncio. (...) Memórias brilham de uma estrela jamais descrita. Brama, cá dentro, o eterno grito da terra em trevas. Antonio Roberval Miketen


16 de Janeiro de 2009

Juan Soriano

Soriano%20retrato.jpg retrato de Lola Alvarez Bravo


16 de Janeiro de 2009

Do olvido

Na justa monotonia do meio-dia oiço o prodígio do repouso e a paixão adormecida. O concêntrico sopro imobiliza-se. É uma lâmpada de pedra fulgurante. Tudo é nítido mas ausente. O mundo todo cabe no olvido e o olvido é transparência de um denso torso que a nostalgia acende. No silêncio sinto numa só cadência a vociferação e o tumulto das pálpebras e dos astros. Pelas veias o fogo da cal é branco e liso e a mais remota substância culmina num rumor redondo. António Ramos Rosa


16 de Janeiro de 2009

Negative Love

I never stoop'd so low, as they Which on an eye, cheeke, lip, can prey, Seldom to them, which soare no higher Than vertue or the minde to'admire, For sense, and understanding may Know, what gives fuell to their fire: My love, though silly, is more brave, For may I misse, when ere I crave, If I know yet, what I would have. If that be simply perfectest Which can by no way be exprest But Negatives, my love is so. To All, which all love, I say no. If any who deciphers best, What we know not, our selves, can know, Let him teach mee that nothing; This As yet my ease, and comfort is, Though I speed not, I cannot misse. John Donne


16 de Janeiro de 2009

Certeza

Quando nos encontramos além do agouro dos pássaros temos a certeza da companhia não é tardia a nossa hora o cansaço relevado no que os sentimentos têm de sobra e tempo. Pedro Du Bois


15 de Janeiro de 2009

Filippo Lippi

496px-Filippino_Lippi_001.jpg pura harmonia


15 de Janeiro de 2009

Vida

Um ano a mais um ano a menos que diferença faz quando já somos mais ou menos mais suaves mais sábios mais fortes mais justos e de mais a mais cromossomos um ano a mais um ano a menos a vida é cais e lá vão nossos sonhos: barcos pequenos um ano a mais um ano a menos lendo os sinais nos esquecemos e quando nos lembramos é tarde demais um ano amais outro adiais um ano demais outro de menos um ano tanto fez outro tanto faz um ano como nunca houve outro um ano sem pagar e só levando o troco um ano que vem um ano que vai e os mesmos ais mais amenos Antonio Thadeu Wojciechowski


15 de Janeiro de 2009

One Perfect Rose

A single flow'r he sent me, since we met. All tenderly his messenger he chose; Deep-hearted, pure, with scented dew still wet - One perfect rose. I knew the language of the floweret; 'My fragile leaves,' it said, 'his heart enclose.' Love long has taken for his amulet One perfect rose. Why is it no one ever sent me yet One perfect limousine, do you suppose? Ah no, it's always just my luck to get One perfect rose. Dorothy Parker


15 de Janeiro de 2009

Quando

sem receio, quando te entregares, quando te fundires, sem medo, aos obsclaros e ao mênstruo da linguagem, mesmo se te houveres perdido, porque terás de criar livremente a tua língua, haverás de criar livremente o teu espírito. Aricy Curvello


15 de Janeiro de 2009

Lorenzo Lotto

lotto.jpg símbolos sob um céu encoberto


15 de Janeiro de 2009

Promessa

A árvore é a única promessa cumprida de sombra e abrigo talvez frutos e flores. Arlene Holanda


14 de Janeiro de 2009

Lola Alvarez Bravo

Lola%20Alvarez%20Bravo%20%28%20Dolores%20Mart%C3%ADnez%20de%20Anda%29.jpg a fotógrafa, ela própria


14 de Janeiro de 2009

Longe

longe muito longe para além da cinza destes dias em terra de esquecimento um jardim é órfão das suas flores e homens comem sombra pela tua mão pesado e lento corre o sangue dos deslembrados roxo como rio de pesadelo por planura de angústia e capim seco em terra de esquecimento para além da cinza destes dias longe muito longe Arlindo Barbeitos


14 de Janeiro de 2009

Assim seja!

O teu corpo de terra e maresia onde o meu barco se desencalha e abre velas e caminhos livres o teu corpo de terra e maresia onde a minha proa anuncia segredos na esteira branca o teu corpo de terra e maresia onde a minha bandeira de sonhos no mais fundo se revela o teu corpo de terra e maresia onde o meu barco de novo se prepara para novas e longas viagens em busca de um dia justo, limpo e pleno, (assim seja!). Armando Artur


14 de Janeiro de 2009

Do nome

Passei dias ausentes em silêncio esqueci o som da palavra e diante do espelho mudo em reflexos ressoei o som do nome. Senti a redescoberta no encontro e a ausência se fez cúmplice. Pedro Du Bois


13 de Janeiro de 2009

Maggie Taylor

maggie%20taylor.jpg papéis pintados com tinta


13 de Janeiro de 2009

Do presente

Agora não professo nem sussurro ao vento os segredos que reinvento, remo na transumância dos dias. O sonho, esse discípulo da noite dissipada, inspira-me à peregrinação. Agora não tenho fronteiras, mas quando o exílio da memória me retém o espelho dos dias ao sentido original das coisas regresso, porque é necessário ser contemporâneo do tempo. Agora, sim, professo: viver e abraçar os rumores do presente. Armando Artur


13 de Janeiro de 2009

Canto

Cazadora de almas llenas mi soledad. Cazadora de sombras qué triste verdad. Vas buscando secretos mi lujuria es cantar. Vas buscando los ríos de mis dedos se van. Marcelo Arancibia


13 de Janeiro de 2009

William Blake

william-blake-4.jpg chamas a preto e branco


13 de Janeiro de 2009

Constatação

Triste é constatar que somos prisioneiros De nós mesmos, que já não passamos de arteiros Meninos na incessante busca por verdadeiros Caminhos a trilhar. Unidos a agoureiros Instintos anormais queremos as cadências Sucumbidas nos vícios de quaisquer essências, Os sobroços insossos das intermitências Hostis. Fantasmagóricas impaciências Brilham nos descampados do ser, magnetizam Tolas necessidades que, plenas, deslizam Nos abismos. Florais sonhos aromatizam Expectativas e dores invioláveis, Retraem os impulsos desses recicláveis Momentos atrelados a vidas instáveis. Aroldo Ferreira Leão


12 de Janeiro de 2009

Maggie Taylor

taylor_maggie.jpg Alice, ou o eterno desajuste


12 de Janeiro de 2009

Desacertos

Caminábamos oscuros por la noche sola de la mano de unos versos que cosían la boca con un par de puntos a favor del silencio -un juego de palabras-, la lengua se hacía un nudo de hilo, para enredar la metáfora de esas citas nocturnas que se llevaban a cabo en parques, cuyos nombres convertíamos en claves o cruces para marcar el mapa de nuestros desaciertos. Andrés Anwandter


12 de Janeiro de 2009

Algo (A Janela do Sótão)

Algo envereda Pelo silêncio De toda queda. Reconstrói o ócio Envenenado Das circunstâncias. O vesgo enfado De velhas ânsias Flutua, tímido, No sustenido Tom destemido Vindo, silente, Na transcendente Dor decadente. Aroldo Ferreira Leão


12 de Janeiro de 2009

Da inspiração

El inútil corazón de las palabras late inútilmente otra vez: una figura que no alcanza a bombearse a sí misma la sangre que repita el hastío, el inútil corazón de las palabras exhalando su postrera expiración. Condenado a un oficio menor, como barrer los pasillos que abandonan las palabras maldigo a mis patrones entre dientes, entre versos que no alcanzan a roer la estructura de este viejo edificio: el poema en que trabajo hace unos meses con desgano. Andrés Anwandter


12 de Janeiro de 2009

Não adianta (A Alquimia do Impreciso)

Pra onde correres, não adianta, serás Só. O pó dos dias únicos transformará Teus vazios, porá na inquietude tua As disformes ações aceleradas, cruas. Tens morrido e nascido sempre como um ás Menino triste, unido a dor que te achará Movido no caos das coisas. Algo flutua Na descrença que te torna sisudas ruas Desalinhadas nos congestionamentos Do ser. Perdeste a ti, nada mais sobrou para Contares a história íntima dos movimentos Sincopados de tudo que te perturbou Serenamente. Rostos no ermo são a cara Do humano cidadão que a si mesmo podou. Aroldo Ferreira Leão


11 de Janeiro de 2009

Lola Alvarez Bravo

lola%20alvarez%20bravo.jpg nascida Dolores Martínez de Anda, fotógrafa mexicana do século XX.


11 de Janeiro de 2009

Falsas esperanças

(...) sempre haverá a música das águas enganosas em sereias e serpentes porque delas somos feitos em cada instante de medo e de felicidade da falsa impressão de liberdade não carregamos a carga que na viagem longa não se deve sobrecarregar o corpo e nos desvãos do antes ficam as falsas esperanças Pedro Du Bois


11 de Janeiro de 2009

Nostalgia

Como la vida privada de los árboles (o de los náufragos): aferrado a estas palabras en el océano como una mesa cubierta de partituras, y un barco navegando en los ojos, escribo: una imagen absurda que se confunde con la nostalgia de cosas que no he vivido, como la vida privada de los árboles o de los náufragos. Andrés Anwandter


11 de Janeiro de 2009

A viagem (Presságios)

A viagem do poema: O caminho sem retorno, A luz que brilha Nos abismos, A cor das memórias Sem destino, A força dos quasímodos e embusteiros. Aroldo Ferreira Leão


11 de Janeiro de 2009

Jean-Baptiste Camille Corot

Camille_Corot_-_The_Bridge_at_Nantes.jpg outra ponte


11 de Janeiro de 2009

Para não ser memória

(gentileza de Amélia Pais) O peso da vida! Gostava de senti-lo à tua maneira e ouvi-la crescer dentro de mim, em carne viva, não queria somente rasgar-te a ferida, não queria apenas esta vocação paciente do lavrador, mas, também, a da terra e que é a tua Assume o amor como um ofício onde tens que te esmerar, repete-o até à perfeição, repete-o quantas vezes for preciso até dentro dele tudo durar e ter sentido Deixa nele crescer o sol até tarde, deixa-o ser a asa da imaginação, a casa da concórdia, só nunca deixes que sobre para não ser memória. Eduardo White


11 de Janeiro de 2009

Edward Weston

Edward-Weston-Nude-on-Sand.jpg um lugar no mundo


11 de Janeiro de 2009

Soneto Inascido

O poema subjaz. Insiste sem existir escapa durante a captura vive do seu morrer. O poema lateja. É limbo, é limo, imperfeição enfrentada, pecado original. O poema viceja no oculto engendra-se em diluição desfaz-se ao apetecer. O poema poreja flor e adaga e assassina o íncubo sentido. Existe para não ser. Artur da Távola


10 de Janeiro de 2009

Sem motivo

Intento adivinar la noche El rumor de tu voz La soledad de tus avisos Intento sumergirme Con la angustia de los peatones Resolver de golpe Los acertijos de todas tus esquinas Sospecho que es posible Sospecho que sí puedo Que contigo está mi sombra El lenguaje de estos dedos Que se escribe sin motivo. Harold Alva


10 de Janeiro de 2009

Verdade mágica

Sim, a poesia é a verdade mágica. É o sonho a emplumar as tardes do real. Ou alguma cousa que chega-nos, pelágica, ou uma palavra eterna e pastoral. A lógica poética é a beleza a nascer do esplendor do ser em sagração ou ao grito terrível da tristeza. E tudo a voar, nas almas, é canção. Artur Eduardo Benevides


10 de Janeiro de 2009

Sábado

mannu9.jpg do mar em movimento


10 de Janeiro de 2009

Para negar o amor

Os olhos não fitam a mão que afaga o coração em que não pulsa o sangue que não percorre a veia dissecada alma dilacerada vísceras artérias olhos ávidos distantes a cada instante contemplando a madrugada sumindo porque não houve noite nem dia e não surgiu a face mais visível da lua não mirei a tua não devassaste a minha não encontrei a casa não saíste à rua a cidade é apenas uma suposição geográfica esquecida no tempo que não se move porque já não há tempo mensurável e portanto não houve e jamais haverá fim de semana tudo uma interminável segunda feira mítica insana e o mar não mais que uma referência na linha imaginária inatingível ao pensamento que se forma e se desfaz o que apraz a nossa paz porque não existe luz não há razão a mão não toca a boca não sente o beijo teu desejo meu desejo de não sentir desejo minha ânsia teu suave riso meu sublime pranto a tua ida a minha volta o nosso encontro a cada desencontro para negar o amor até as últimas conseqüências porque não existes tu nem existo eu é tudo um paradoxo monumental. Astolfo Lima Sandy


9 de Janeiro de 2009

William Blake

blake-william-oberon-titania-et-puck.jpg da leveza


9 de Janeiro de 2009

La madrugada

La madrugada tiembla cuando mis dedos arden Apuntan a constelaciones inéditas Que perciben mi fuerza A través de estas acciones A través de ese ángulo De esta palabra que se agita Cuando me reconoce en su tristeza Yo debo ser la tristeza Las alas de aquellos pájaros que nunca se someten. Harold Alva


9 de Janeiro de 2009

Carestia

Amor custa bem caro. Mesmo assim depenamos bolsos e bolsas de moedas raras. Por ele pagamos, em prestações nem sempre suaves, quanto de entrada supúnhamos de todo não poder: o alto preço dos sustos, a conta escorchante das noites em claro, os juros extorsivos do medo de perdê-lo, a tristeza do saldo zero. Queixamo-nos de carestia se de amor-próprio ainda nos sobra algum trocado, mas que fazer quando só amor é o lucro que buscamos? Astrid Cabral


8 de Janeiro de 2009

Jean-Baptiste Camille Corot

Jean-Baptiste-Camille_Corot_Volterra.jpg Volterra, ou uma memória feliz


8 de Janeiro de 2009

Flamenco es un sueño

Rumbo a una segura muerte, las furiosas olas reclaman por tu ausencia. Bajo llanuras de nostalgia, artificio y ruego; camino hacia el encuentro. Observo esa tibia imagen, confusa y raída, en el pálido brebaje. Tu nombre se dispersa entre eternos balbuceos, bajo el agua, en la tersa oscuridad de la explanada. Carlos Almonte


8 de Janeiro de 2009

Modo de Amar

Amor com tremor de terra abalando montanhas e minérios nas entranhas da minha carne. Amor como relâmpago e sóis inaugurando auroras ou ateando faíscas e incêndios nas trevas da minha noite. Amor como açudes sangrando ou caudais e tempestades despencando dilúvios. E não me falem de ruínas nem de cinzas, nem de lama. Astrid Cabral


8 de Janeiro de 2009

Eternidade

Falamos ao tempo sobre a eternidade e nos dizemos satisfeitos com o restante da noite. A efemeridade dos discursos. Pedro Du Bois


8 de Janeiro de 2009

Moebius

moebius_futuristic.jpg outros voos


8 de Janeiro de 2009

Águas sem rumos

Festeiros trêfegos, a solidão não os decreta solidários, os poetas ascetas essa tribo que não renego. Falam de tristeza, de cinza das horas, como mártires, embora confraternizem em volta da mesa. Em toda confraria há brumas de um laço cheio de mistérios em cujas águas sem rumos Li Tai Po seduziu a lua, ébrio. Sabe, poeta, que o mito é o maná deserto e a poesia tão perto não se esconde no infinito. Augusto Estellita Lins


7 de Janeiro de 2009

Baja definición

Soy la hora que comienza y no termina. Soy camino en curva una noche de tormenta. Soy arriba, flanco interminable. Soy abajo, grieta impredecible. Soy olvido y verso. Soy el arrabal demente que no aguanta otra miseria. Soy el canto amargo de los que anclaron en el sur, en carretas cojas, llantos medievales, indios, negros y tsunamis. Soy canción de cuna y fúnebre entonada al aire, sin que nadie sepa, sin que nadie llore. Soy la muerte roja, sangre y tifus. Soy castillo abandonado, un perdido túnel hacia el otro infierno. Soy la paz de Oriente, suave pergamino aniquilado en voces de batalla injusta. Soy la Virgen. Soy los Santos. Soy la cruz y soy la espada, inrastreable huella de la Santa Inquisición. Soy Klaus Kinski en llamas, maniatado en medio de la selva, acuchillado por sus propios compañeros. Soy eterno. Soy mortal. Soy silencio. Soy la arena que respiro cada día. Soy lechuza en vuelo. Soy caballo alado. Soy apocalipsis flagelado, y sin embargo río, canto, embriago, orino; duermo entre las flores amarillas de la entrada. Soy madera en verga, una estación desmantelada. Soy engaño, filtro y descomposición. Soy la presa que tuviste entre las manos, manos largas, blancas, frías, manos masturbadas en mi semen gris de perdición. Soy la cuenta regresiva que traspone el cero. Soy iniquidad perdida entre montañas que no existen. Soy la sombra que no viste al ingresar al Templo. Soy tu rezo, tu oración. Soy cadena, cuenta piedra, vidrio entrega. Soy la confidencia, fe en el símbolo que pudre el alma de unos cuantos. Soy muralla ardiente. Soy caída. Soy cualquiera. Soy la puta que más quieres. Soy decente, soy honesto. Soy ladrón, enhiesto paso entre la llave y el delirio. Soy capaz de todo -es por eso que naufrago en la inacción-. Soy tiniebla envuelta en latas oxidadas. Soy el líquido energúmeno de aquella vez, aquella vez... Soy la droga, el cactus, soy la espina que lacera. Soy papel, soy escritura, noche ambigua y caligráfica, allá, frente al último vagón. Soy un salto hacia el vacío, tinta, imprenta, tipo. Soy la sábana manchada que no cambio nunca más. Soy sucio, soy cloaca, soy la mierda. Soy la despedida en siete líneas. Soy aviso. Soy señal. Soy la hora que no llega, medianoche en transparente velo, desgarrado apenas por tu queja suave que aún recuerdo. Soy nostalgia. Soy pasado. Soy el frío que no existe. Soy final oscuro, el que ya no es, el que no será jamás. Carlos Almonte


7 de Janeiro de 2009

Poussin

Poussin.jpg do azul em fundo


7 de Janeiro de 2009

Auto-retrato

Hoy no estoy escapé de la hora mundial y no tengo piel me desalojé y soy lo que voy nombrando y voy en lo que va volando y creo en lo que sigo mintiendo Muro del aire y de las edades no me detengas! en un puñado llevo la sorpresa de los huesos, el azar, la posibilidad el cálculo, la suma, la puerta de una vida, el riesgo, la sangre que más tarde me edificará, de paso en el trigo. Alfonso Alcalde


7 de Janeiro de 2009

O atirador

Viam-no, outra vez, cair de bruços, baleado. Mas viam outra vez erguer-se, invulnerável, assombroso, terrível, abatendo-se e aprumando-se, o atirador fantástico. Augusto de Campos


7 de Janeiro de 2009

Edward Weston

tina_modotti_edward_weston_19231.jpg Tina Modotti, nome pelo qual ficou conhecida Assunta Adelaide Luigia Modotti Mondini


7 de Janeiro de 2009

Contrários

Ao contrário do que meus inimigos calam sobre mim torno público o espúrio plano de me fazerem esquecido em deslembranças: refletir no espelho o rosto acontecido. Cito de memória histórias universalizadas e desdigo cada silêncio em amaciares e denúncias: sou o esqueleto posto em arames ao pé da escada. Pedro Du Bois


6 de Janeiro de 2009

Moebius

moebius2.jpg and now for something completely different...


6 de Janeiro de 2009

O Grande Momento

A varanda era batida pelos ventos do mar As árvores tinham flores que desciam para a morte, com a lentidão das lágrimas. Veleiros seguiam para crepúsculos com as asas cansadas e brancas se despedindo, O tempo fugia com uma doçura jamais de novo experimentada Mas o grande momento era quando os meus olhos conseguiam entrar pela noite fresca dos seus olhos... Augusto Frederico Schmidt


6 de Janeiro de 2009

Nature

Nature assigns the Sun— That—is Astronomy— Nature cannot enact a Friend— That—is Astrology. Emily Dickinson


6 de Janeiro de 2009

Poema do Conflito Eterno IV

Mas é querer somente o meu sorrir é queixa minha prece um grito um eco da revolta irremediável represada comigo desde o ter nascido entre o que nasci e o que me fez a vida a dor de não ter sido um clamor quase mudo de pouco ter achado e ter sonhado tudo o escutar sangrento e longe do horizonte no eco de um profundo e milenar conflito. Augusto Severo Netto


6 de Janeiro de 2009

Imperio Argentina

imperio%20argentina.jpg Magdalena Nile del Rio, senhora de um belo perfil


6 de Janeiro de 2009

The Luxury

The Luxury to apprehend The Luxury 'twould be To look at Thee a single time An Epicure of Me In whatsoever Presence makes Till for a further Food I scarcely recollect to starve So first am I supplied— The Luxury to meditate The Luxury it was To banguet on thy Countenance A Sumptuousness bestows On plainer Days, whose Table far As Certainty can see Is laden with a single Crumb The Consciousness of Thee. Emily Dickinson


6 de Janeiro de 2009

Poema do Conflito Eterno III

Sonhei-me girassol crisântemo azaléia e fecundei-me espinho parasita e cardo Talvez por isso ardo e me esbato e me evolo à luz de gambiarras que iluminam o palco de passadas comédias onde estão encenando um drama diferente de quase não querer de descrença apatia onde se escuta ainda o ressoar distante dos tambores que deram o rítmo de outrora cadenciando os passos de ter sido um dia E eu sigo sonhando Anseio nebulosas estrelas promontórios adro de catedrais sinfonias aquários canções de acalanto arco-íris e lagos. Augusto Severo Netto


5 de Janeiro de 2009

Apostas

As apostas postas sobre a mesa o peixe em postas desfigurado na resposta da carne anteposta ao gozo gula engulo as cartas repostas à mesa em desconsolo consolo da noite mal dormida das derrotas propostas pelo espírito maligno da ambição e cobiça composta pelos anos perdidos em apostas. Pedro Du Bois


5 de Janeiro de 2009

Poema do Conflito Eterno II

É um andar sem descanso na vereda estreita sinuosa e comprida dos anos que eu vim desde o ser como fora até o dia em que estou sendo o que sou agora. Não há praias à vista nem montanhas nem portos e as rochas do caminho desgastadas de vento de tempo e desencanto desgastadas da chuva de um oculto pranto que ninguém assistiu mas que eu chorei e choro são polidas e frias e tem os cantos mortos. Augusto Severo Netto


5 de Janeiro de 2009

Poussin

797px-Poussin_RapeSabineLouvre.jpg da agitação


5 de Janeiro de 2009

Poema do Conflito Eterno I

Por que esse silêncio essa paz essa calma essa ventura falsa que pedem os circunstantes: “mostra-a em teu rosto” sem reparar decerto o não poder fazê-lo por não sentí-la em mim por não trazê-la na alma. Tenho os lábios gretados como o leito dos rios onde a água é lenda meu sorrir é queixa minha prece um grito um eco de revolta irremediável do irremediável e milenar conflito represado comigo desde o ter nascido entre o que nasci e o que me fez a vida. Augusto Severo Netto


4 de Janeiro de 2009

Ser

Ser vaga nuvem ou pássaro liberto ter espumas asas ou condensações de infinito possuir todas as praias todos os espaços poder voar bem alto poder erguer os braços poder erguer a voz poder lançar um grito ou fosse apenas canto prece ou gargalhada amar só por amor só por amar mais nada ser nauta vagabundo menestrel cigano ou mesmo - que não mais - um cavaleiro andante poder viver um ano inteiro em cada instante e um século de vida viver em cada ano Augusto Severo Netto


4 de Janeiro de 2009

Não Ser

Não ser jamais algoz de um sonho ou de um anseio fazer da vida um fim e não somente um meio de alcançar um fim por todo meio incerto não ser jamais estéril e árido deserto ondenão floresce sequer a flor selvagem não ser árvore seca despida de folhagem por onde o vento passe a murmurar baixinho onde a ave pouse e possa ter um ninho de onde brote o fruto rubro sumarento Não ser jamais a pedra fria do convento que mesmo ouvindo preces permanece fria não ser jamais a rocha abrupta sem harmonia não ser jamais o ódio a inveja o desengano poder ouvir no mar uma eterna sinfonia e no soprar dos ventos escutar um hino ser um pouco da terra para ser divino e ser dos céus um pouco para ser humano. Augusto Severo Netto


4 de Janeiro de 2009

Jean-Baptiste Camille Corot

Camile_Corot_A_mulher_das_margaridas.jpg colorir um domingo


4 de Janeiro de 2009

Love & Fame & Death

it sits outside my window now like and old woman going to market; it sits and watches me, it sweats nevously through wire and fog and dog-bark until suddenly I slam the screen with a newspaper like slapping at a fly and you could hear the scream over this plain city, and then it left. the way to end a poem like this is to become suddenly quiet. Charles Bukowski


3 de Janeiro de 2009

ah, but what is fame?

As he grew famous—ah, but what is fame?— he lost his old obsession with his name, things seemed to matter less, including the fame—a television team came from another country to make a film of him which did not him distress: he enjoyed the hard work & he was good at that, so they all said—the charming Englishman among the camera & the lights mathematically wandered in his pub & livingroom doing their duty, as too he did it, but where are the delights of long-for fame, unless fame makes him feel easy? I am cold & weary, said Henry, fame makes me feel lazy, yet i must do my best. It doesn't matter, truly. It doesn't matter truly. It seems to be solely a matter of continuing Henry voicing & obsessed. John Berryman


3 de Janeiro de 2009

Grace

You can have the other words - chance, luck, coincidence, serendipity. I'll take grace. I don't know what it is exactly, but I'll take it. Mary Oliver


3 de Janeiro de 2009

Movimento Perpétuo

(...) o mar do sem música o mar do mais do que sou o mar do mais alto e do mais profundo do dano e erro fibras de som o mar como os olhos: lonjura na invenção o rumo é a referência da perda Márcio André


2 de Janeiro de 2009

Duccio

Duccio.jpg do diálogo


2 de Janeiro de 2009

Ano Novo

dia: olha as árvores restantes em busca do mágico canto dos pássaros noite: sabe insone o dia passado entre concretos e negros asfaltos onde morrem pássaros e árvores repete: entre dias e noites sua espera desperta sentimentos e tristezas com que não se alimenta ou vê pássaros: lembra o voo altivo do albatroz em busca da força e vida no que encontra caça e come em ondas calmas árvores: ao lado da casa do outro lado da rua alguém derrubou a árvore restante e a cortou em pedaços agora carregados para longe. Pedro Du Bois


2 de Janeiro de 2009

Mulheres

(gentileza de Amélia Pais) As minhas três irmãs estão sentadas sobre rochas de obsidiana preta. Pela primeira vez, a esta luz, consigo ver quem são. A minha primeira irmã está a coser o fato para a procissão. Vai vestida de Senhora Transparente e todos os seus nervos estarão à vista. A minha segunda irmã também está a coser sobre a ferida do peito, que nunca cicatrizou completamente. Espera, enfim, aliviar este aperto no coração. A minha terceira irmã está a contemplar uma crosta vermelho-escura que a ocidente se estende ao longe sobre o mar. Tem as meias rotas mas é formosa. Adrienne Rich, trad. Margarida Vale do Gato


2 de Janeiro de 2009

Do tempo invisível

Recostada sobre arenas mentales, invisible hora Adornada de terrores, de secretos, de páginas verdes por el alba. Entre espumas del cuerpo, en constante trabajo desde que la noche se cierra, a tientas entre las débiles llamas que vienen de lo no siempre olvidado. Dulce animal de distintos vestidos incorporados al sueño, Propietario de olas, de selvas sumergidas, de almacenes de corales, Casi siempre a punto de morir en el pecho poético del hombre, Tan inclinado hacia el amor como que sientas palomas sobre sus rodillas. Me parece reconocer el aire que trae esas ondas, este ruido de maderas. Sueños construidos al borde de ciertas hojas que saben sonreír, Entre animales e insectos, entre nadadores terrestres, Cerca del abismo donde duermen los ángeles asesinados. Entre climas mentales, invisible tiempo, Poseído de mis mensajes, de mis pruebas, de mis deseos sobre espinas. Sin celestes alarmas, sin el olor blanco de las leyes. Dispuesto a los llamados, a las nocturnas experiencias, Al terror de las manos volcadas sobre los objetos, A la súbita fuga de las abejas de cenizas en los sueños perdidos. Rosamel del Valle


2 de Janeiro de 2009

Jean-Baptiste Camille Corot

corot.jpg outro rio


2 de Janeiro de 2009

Eco

a construção do eco tijolo por tijolo de escuro a cortina embebe o sentido se embota em silêncios taciturnos dois mil passos até a casa a rua em quase solidão pisar na manhã molhada a madrugada urde fumaças chaminés são quase árvores rouba-se o tempo de uma lágrima tempo dos que já se foram a lama da ordem chama-se caos lembrar é já ter esquecido a chave preciosa enche a manhã Edson Bueno de Camargo


1 de Janeiro de 2009

William Blake

William-Blake%27s-Morning-Sta.jpg ano novo


1 de Janeiro de 2009

E Amor perdura

A noite é negro-azul furada pelos Brilhos finos e límpidos dos astros. Círios, cristais, pórfiros, alabastros Sons de violinos e de violoncelos. Em suas paredes sobem setestrelos Buscando, fascinado, nos seus rastros Além das luzes rubras de altos mastros Segue este amor, dos mais puros e belos... Mais tarde, o amor apaga todos os brilhos, Sopra forte e tenaz, navega os trilhos Dos prédios, ondulando as doces águas. E Amor perdura, e clara imagem cresce Na ventania que não arrefece Na noite negro-azul, pura e sem mágoas... Áureo Mello


1 de Janeiro de 2009

De un sueño

De haber soñado contigo la noche entera, cantando me he despertado. Cantando como si hubiera dormido en medio de un prado con toda la primavera y todo el cielo estrellado. Jorge Vocos Lescano