Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de janeiro 2008


31 de Janeiro de 2008

A espantosa realidade das coisas

A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei-de escrever muitos mais, naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada, Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço, Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos, Porque o digo como as minhas palavras o dizem. Uma vez chamaram-me poeta materialista, E eu admirei-me, porque não julgava Que se me pudesse chamar qualquer coisa. Eu nem sequer sou poeta: vejo. Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: O valor está ali, nos meus versos. Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. Alberto Caeiro


31 de Janeiro de 2008

Com a noite

Mas tu nunca vinhas com a noite E eu sentada com casaco de estrelas. Quando batiam à porta Era o meu próprio coração. Agora pendurado em todas as ombreiras, Também na tua porta; Entre touros rosa-de-fogo a extinguir-se No castanho da grinalda. Tingi-te o céu cor de amora Com o sangue do meu coração. Mas tu nunca vinhas com a noite E eu de pé com sapatos dourados. Else Lasker-Schuler


31 de Janeiro de 2008

Jo mai de tu ...

Jo mai de tu no n’eixirà el silenci. Un eixam de paraules et perseguirà arreu. Esclava per sempre, dels teus mots. Montserrat Abelló i Soler


31 de Janeiro de 2008

Piero di Cosimo

652px-Piero_di_Cosimo_009.jpg Vulcano e Eolo, pintados no dealbar do século XVI


31 de Janeiro de 2008

Dava a última camisa por um poema

Dava a última camisa por um poema. Domingo ao fim da tarde só restam cinzas. Todos. Tudo inteiramente consumido. Tudo, o quê? Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira? Terça tão comprida como um ano Quarta, outra vez a esperança Não, sem poema não se pode viver! Quinta a memória entra em pânico A pouca claridade que restava anoiteceu também na Sexta as vagonetas com o meu minério perdem-se no túnel. Sábado: trabalho em vão! Domingo tudo recomeça e voltava a dar a última camisa por um poema Jan Kostra, trad. de Ernesto Sampaio


31 de Janeiro de 2008

Introspective Reflection

I would live all my life in nonchalance and insouciance Were it not for making a living, which is rather a nouciance. Ogden Nash


30 de Janeiro de 2008

O retrato nas paredes

As casas como as pessoas guardam cicatrizes expostas no rosto do tempo. Às casas sempre voltamos nelas a vida anda por trás do que passou existem na existência indo embora. As casas onde morei para viver na afoitosa e lúdica adolescência abrem rugas na face branca das paredes. De dentro delas saltam sonhos que não querem envelhecer e o menino açoitando o vento nas curvas do rio que se arrasta na carne azul da paixão. Barros Pinho


30 de Janeiro de 2008

Resíduos

a lágrima é um ápice a réstia um âmbito a morte é um ritmo o corpo uma oferenda o beijo é uma núpcia efêmera Cândido Rolim


30 de Janeiro de 2008

Bazille

pink_dressf%20bazille.jpg um vestido da cor do entardecer


30 de Janeiro de 2008

The Night Dances

A smile fell in the grass. Irretrievable! And how will your night dances Lose themselves. In mathematics? Such pure leaps and spirals ---- Surely they travel The world forever, I shall not entirely Sit emptied of beauties, the gift Of your small breath, the drenched grass Smell of your sleeps, lilies, lilies. Their flesh bears no relation. Cold folds of ego, the calla, And the tiger, embellishing itself ---- Spots, and a spread of hot petals. The comets Have such a space to cross, Such coldness, forgetfulness. So your gestures flake off ---- Warm and human, then their pink light Bleeding and peeling Through the black amnesias of heaven. Why am I given These lamps, these planets Falling like blessings, like flakes Six sided, white On my eyes, my lips, my hair Touching and melting. Nowhere. Sylvia Plath


30 de Janeiro de 2008

Lesson In Grammar

The Sentence Perhaps I can make it plain by analogy. Imagine a machine, not yet assembled, Each part being quite necessary To the functioning of the whole: if the job is fumbled And a vital piece mislaid The machine is quite valueless, The workers will not be paid. It is just the same when constructing a sentence But here we must be very careful And lay stress on the extreme importance Of defining our terms: nothing is as simple As it seems at first regard. "Sentence" might well mean to you The amorous rope or twelve years" hard. No, by "sentence" we mean, quite simply, words Put together like the parts of a machine. Now remember we must have a verb: verbs Are words of action like Murder, Love, or Sin. But these might be nouns, depending On how you use them – Already the plot is thickening. Except when the mood is imperative; that is to say A command is given like Pray, Repent, or Forgive (Dear me, these lessons get gloomier every day) Except, as I was saying, when the mood is gloomy – I mean imperative We need nouns, or else of course Pronouns; words like Maid, Man, Wedding or Divorce. A sentence must make sense.Sometimes I believe Our lives are ungrammatical.I guess that some of you Have misplaced the direct object: the longer I live The less certain I feel of anything I do. But now I begin To digress.Write down these simple sentences:-- I am sentenced: I love: I murder: I sin. Vernon Scannell


30 de Janeiro de 2008

Bruna Lombardi

Bruna-Lombardi.jpg porque a beleza aliada à inteligência é uma mistura divina


30 de Janeiro de 2008

Uma mulher

(gentileza de Jaime Roriz) Uma mulher caminha nua pelo quarto é lenta como a luz daquela estrela é tão secreta uma mulher que ao vê-la nua no quarto pouco se sabe dela a cor da pele, dos pêlos, o cabelo o modo de pisar, algumas marcas a curva arredondada de suas ancas a parte onde a carne é mais branca uma mulher é feita de mistérios tudo se esconde: os sonhos, as axilas, a vagina ela envelhece e esconde uma menina que permanece onde ela está agora o homem que descobre uma mulher será sempre o primeiro a ver a aurora. Bruna Lombardi


29 de Janeiro de 2008

Borisov-Musatov.

Victor%20Borisov%20Musatov%20-%20Autumn%20Mood.JPG nostalgia, sob uma atmosfera de outono, ou o simbolismo russo


29 de Janeiro de 2008

o mesmo olhar

(gentileza de Amélia Pais) a língua sobre a peleo arrepio os teus dedos nas escadas do meu corpo as lâminas do amoro fogoa espuma a transbordar de ti na tua fuga a palavra mordida entre lençóis as cinzas de outro lume à cabeceira da mesma esquina sempre o mesmo olhar: nada do que era teu vou devolver Alice Vieira


29 de Janeiro de 2008

Boca da noite

A tarde é enevoada e indistinta. (Muito enevoada, muito indistinta.) Contudo há nela imagens, (Contudo há nela vultos, Que se agitam e brilham. Sob a luz opaca, Sob a luz difusa.) Uma após outra vêm, e vão -- E não se sabe de onde, Não se imagina para onde Ou para quê: Um velho Chupando espinhas de peixe, Um homem velho, um homem Muito velho Coberto de pó escuro No fundo da minha mente (Onde as palavras naufragam E sobre elas se abate Um sopro de lua gelada). A lembrança agora É apenas confusa Agitação de entranhas. E assim como o vento Passa debaixo da porta, Pelo caixilho da janela, (Entre os vidros, levantando Uma quase invisível poeira) Assim o corpo respira, Aqui e ali suspeita, Imagina ou entrevê: O que pode ser falado Ainda não é o que devia Ser pensado. Paulo Franchetti


29 de Janeiro de 2008

Mãos

No deserto da insônia a mão, triste, me acena nua de anéis e luvas. Dedos gesto de adeus anunciam o abandono da matéria efêmera. Dos campos do sono a mesma mão me chama cintilante de estrelas. Tento alçar-me da cama no encalço do convite mas a carne me amarra. E enquanto o corpo dura fico entre a dor da perda e o desejo do encontro. Astrid Cabral


29 de Janeiro de 2008

Paul Barbier

barbier1.JPG um francês a pintar na Rússia, em finais do século XVIII


29 de Janeiro de 2008

Dover Beach

The sea is calm tonight. The tide is full, the moon lies fair Upon the straits; on the French coast the light Gleams and is gone; the cliffs of England stand, Glimmering and vast, out in the tranquil bay. Come to the window, sweet is the night air! Only, from the long line of spray Where the sea meets the moon-blanched land, Listen! you hear the grating roar Of pebbles which the waves draw back, and fling, At their return, up the high strand, Begin, and cease, and then again begin, With tremulous cadence slow, and bring The eternal note of sadness in. Sophocles long ago Heard it on the Ægæan, and it brought Into his mind the turbid ebb and flow Of human misery; we Find also in the sound a thought, Hearing it by this distant northern sea. The Sea of Faith Was once, too, at the full, and round earth's shore Lay like the folds of a bright girdle furled. But now I only hear Its melancholy, long, withdrawing roar, Retreating, to the breath Of the night wind, down the vast edges drear And naked shingles of the world. Ah, love, let us be true To one another! for the world, which seems To lie before us like a land of dreams, So various, so beautiful, so new, Hath really neither joy, nor love, nor light, Nor certitude, nor peace, nor help for pain; And we are here as on a darkling plain Swept with confused alarms of struggle and flight, Where ignorant armies clash by night. Matthew Arnold


29 de Janeiro de 2008

The Dover Bitch: A Criticism Of Life

So there stood Matthew Arnold and this girl With the cliffs of England crumbling away behind them, And he said to her, "Try to be true to me, And I'll do the same for you, for things are bad All over, etc., etc." Well now, I knew this girl. It's true she had read Sophocles in a fairly good translation And caught that bitter allusion to the sea, But all the time he was talking she had in mind the notion of what his whiskers would feel like On the back of her neck. She told me later on That after a while she got to looking out At the lights across the channel, and really felt sad, Thinking of all the wine and enormous beds And blandishments in French and the perfumes. And then she got really angry. To have been brought All the way down from London, and then be addressed As sort of a mournful cosmic last resort Is really tough on a girl, and she was pretty. Anyway, she watched him pace the room and finger his watch-chain and seem to sweat a bit, And then she said one or two unprintable things. But you mustn't judge her by that. What I mean to say is, She's really all right. I still see her once in a while And she always treats me right. We have a drink And I give her a good time, and perhaps it's a year Before I see her again, but there she is, Running to fat, but dependable as they come, And sometimes I bring her a bottle of Nuit d'Amour. Anthony Hecht


28 de Janeiro de 2008

Borovikovsky

borovikovsky24.JPG primeiro, existia o cossaco Borovik, pintor de ícones; mais tarde, já na viragem para o século XIX, torna-se Borovikovsky, pintor de retratos em São Petersburgo.


28 de Janeiro de 2008

Parable Of Faith

Now, in twilight, on the palace steps the king asks forgiveness of his lady. He is not duplicitous; he has tried to be true to the moment; is there another way of being true to the self? The lady hides her face, somewhat assisted by the shadows. She weeps for her past; when one has a secret life, one's tears are never explained. Yet gladly would the king bear the grief of his lady: his is the generous heart, in pain as in joy. Do you know what forgiveness mean? it mean the world has sinned, the world must be pardoned -- Louise Glück


28 de Janeiro de 2008

Aivazovsky

aivazovsky37.JPG o romantismo russo no século adequado


28 de Janeiro de 2008

Anecdote Of The Jar

I placed a jar in Tennessee, And round it was, upon a hill. It made the slovenly wilderness Surround that hill. The wilderness rose up to it, And sprawled around, no longer wild. The jar was round upon the ground And tall and of a port in air. It took dominion everywhere. The jar was gray and bare. It did not give of bird or bush, Like nothing else in Tennessee. Wallace Stevens


27 de Janeiro de 2008

El remordimiento

He cometido el peor de los pecados que un hombre puede cometer. No he sido feliz. Que los glaciares del olvido me arrastren y me pierdan, despiadados. Mis padres me engendraron para el juego arriesgado y hermoso de la vida, para la tierra, el agua, el aire, el fuego. Los defraudé. No fui feliz. Cumplida no fue su joven voluntad. Mi mente se aplicó a las simétricas porfías del arte, que entreteje naderías. Me legaron valor. No fui valiente. No me abandona. Siempre está a mi lado La sombra de haber sido un desdichado. Jorge Luis Borges


27 de Janeiro de 2008

Lorenzo di Credi

Caterina_Sforza.jpg Caterina Sforza, senhora de Forlì e de Imola nos últimos anos do século XV.


27 de Janeiro de 2008

A Deep Sworn Vow

Others because you did not keep That deep-sworn vow have been friends of mine; Yet always when I look death in the face, When I clamber to the heights of sleep, Or when I grow excited with wine, Suddenly I meet your face. William Butler Yeats


27 de Janeiro de 2008

Two Seasons

I The stars were wild that summer evening As on the low lake shore stood you and I And every time I caught your flashing eye Or heard your voice discourse on anything It seemed a star went burning down the sky. I looked into your heart that dying summer And found your silent woman's heart grown wild Whereupon you turned to me and smiled Saying you felt afraid but that you were Weary of being mute and undefiled II I spoke to you that last winter morning Watching the wind smoke snow across the ice Told of how the beauty of your spirit, flesh, And smile had made day break at night and spring Burst beauty in the wasting winter's place. You did not answer when I spoke, but stood As if that wistful part of you, your sorrow, Were blown about in fitful winds below; Your eyes replied your worn heart wished it could Again be white and silent as the snow. Galway Kinnell


27 de Janeiro de 2008

Bazille

bazzile6.jpg o impressionismo fin de siècle


27 de Janeiro de 2008

Outro silêncio ainda

Es el mar mi ropaje: así desnuda como una enorme ola a ti yo llego. Mi ocasión la tormenta y los relámpagos, y es la montura de mi amor el viento. No retorno: yo voy pues son mis pasos como a la hierba la pasión del fuego. Soy la bestia de larga cabellera que lame la otra lengua que es el beso. En la forma de piedra me hallo a gusto porque es así tan duro mi silencio que no lo vencerá el dolor del mundo, ni del odio la gota de veneno. Es el mar mi ropaje: así desnuda como una enorme ola a ti yo llego. Brotaron en mis manos de agua sucia las flores venenosas de estos versos. Delfina Acosta


27 de Janeiro de 2008

Abaixo do silêncio

Sobre os cotovelos a água olha o dia sobre os cotovelos. batem folhas da luz um pouco abaixo do silêncio. Quero saber o nome de quem morre: o vestido de ar ardendo, os pés e movimento no meio do meu coração. O nome: madeira que arqueja, seca desde o fundo do seu tempo vegetal coarctado. E, ao abrir-se a toalha viva, o nome: a beleza a voltar-se para trás, com seus pulmões de algodão queimando. Uma serpente de ouro abraça os quadris negros e molhados. E a água que se debruça olha a loucura com seu nome: indecifrável cego Herberto Helder


26 de Janeiro de 2008

Altman

altman.jpgo olhar de um judeu russo, em pleno século XX


26 de Janeiro de 2008

A gravação do rosto

(excerto) Na superfície branca do deserto na atmosfera ocre das distâncias no verde breve da chuva de Novembro deixei gravado meu rosto minha mão minha vontade e meu esperma; prendi aos montes os gestos da entrega cumpri as trajectórias do encontro gravei nas águas a fúria da conquista da devolução do amor. Os calcários e os granitos desta terra foram por mim pesados. Dei-lhes afagos leves olhares insónias longas impacientes esperas. O zinco dos telhados cobriu-me solidões e esperanças que tu sabes. Ruy Duarte de Carvalho


26 de Janeiro de 2008

Misterio

Relumbra el aire, relumbra, el mediodía relumbra, pero no veo al sol. Y de presencia en presencia todo se me transparenta, pero no veo al sol. Perdido en las transparencias voy de reflejo a fulgor, pero no veo al sol. Y él en la luz se desnuda y a cada esplendor pregunta, pero no ve al sol. Octavio Paz


26 de Janeiro de 2008

Auto-retrato

Provinciano que nunca soube Escolher bem uma gravata; Pernambucano a quem repugna A faca do pernambucano; Poeta ruim que na arte da prosa Envelheceu na infância da arte, E até mesmo escrevendo crônicas Ficou cronista de província; Arquiteto falhado, músico Falhado (engoliu um dia Um piano, mas o teclado Ficou de fora); sem família, Religião ou filosofia; Mal tendo a inquietação de espírito Que vem do sobrenatural, E em matéria de profissão Um tísico profissional. Manuel Bandeira


26 de Janeiro de 2008

Praia deserta

Seu corpo é uma praia deserta onde uma música desperta numa onda esperta e a deserda: espumas a ferem como pétalas. Desterra, em tradução infinita, pérolas na orla do olhar, ilha que ainda está por ser escrita. Rodrigo Garcia Lopes


26 de Janeiro de 2008

Tintoretto

523px-Jacopo_Tintoretto_028.jpg sem véu


26 de Janeiro de 2008

ABC do Poema

(excerto) Letra e poema não necessitam de pingo com pigarro. Não dependem de pingo de vela resfriado. Não precisam de pingo de tinta e de nenhum pingo de pena. A grafia banaliza o pingo e a gramática sacrifica o poema. Resta ao poeta fazer sopa de letras & palavras. - Vogais na medida e consoantes à gosto. Depois tomar o poema no canudinho e a língua da menina-dos-olhos beber em conta-gotas. Leônidas Arruda


26 de Janeiro de 2008

Poesia...

... é risco, rabisco que quando sobe é dito se cai escrito. É disco, corisco quando ensaio é postigo se suscetível vertigo. É visco, arisco quando dissimulado é visto se alvo menisco. É cisco, pisco quando começa é contido se desata garrido. É gládio, suicídio quando perde é ferido se ganha empedernido. Lucila Issa


25 de Janeiro de 2008

Ego Dominus Tuus

Hic. On the grey sand beside the shallow stream Under your old wind-beaten tower, where still A lamp burns on beside the open book That Michael Robartes left, you walk in the moon, And, though you have passed the best of life, still trace, Enthralled by the unconquerable delusion, Magical shapes. Ille. By the help of an image I call to my own opposite, summon all That I have handled least, least looked upon. Hic. And I would find myself and not an image. Ille. That is our modern hope, and by its light We have lit upon the gentle, sensitive mind And lost the old nonchalance of the hand; Whether we have chosen chisel, pen or brush, We are but critics, or but half create, Timid, entangled, empty and abashed, Lacking the countenance of our friends. Hic. And yet The chief imagination of Christendom, Dante Alighieri, so utterly found himself That he has made that hollow face of his More plain to the mind's eye than any face But that of Christ. Ille. And did he find himself Or was the hunger that had made it hollow A hunger for the apple on the bough Most out of reach? and is that spectral image The man that Lapo and that Guido knew? I think he fashioned from his opposite An image that might have been a stony face Staring upon a Bedouin's horse-hair roof From doored and windowed cliff, or half upturned Among the coarse grass and the camel-dung. He set his chisel to the hardest stone. Being mocked by Guido for his lecherous life, Derided and deriding, driven out To climb that stair and eat that bitter bread, He found the unpersuadable justice, he found The most exalted lady loved by a man. Hic. Yet surely there are men who have made their art Out of no tragic war, lovers of life, Impulsive men that look for happiness And sing when t"hey have found it. Ille. No, not sing, For those that love the world serve it in action, Grow rich, popular and full of influence, And should they paint or write, still it is action: The struggle of the fly in marmalade. The rhetorician would deceive his neighbours, The sentimentalist himself; while art Is but a vision of reality. What portion in the world can the artist have Who has awakened from the common dream But dissipation and despair? Hic. And yet No one denies to Keats love of the world; Remember his deliberate happiness. Ille. His art is happy, but who knows his mind? I see a schoolboy when I think of him, With face and nose pressed to a sweet-shop window, For certainly he sank into his grave His senses and his heart unsatisfied, And made - being poor, ailing and ignorant, Shut out from all the luxury of the world, The coarse-bred son of a livery-stable keeper -- Luxuriant song. Hic. Why should you leave the lamp Burning alone beside an open book, And trace these characters upon the sands? A style is found by sedentary toil And by the imitation of great masters. Ille. Because I seek an image, not a book. Those men that in their writings are most wise, Own nothing but their blind, stupefied hearts. I call to the mysterious one who yet Shall walk the wet sands by the edge of the stream And look most like me, being indeed my double, And prove of all imaginable things The most unlike, being my anti-self, And, standing by these characters, disclose All that I seek; and whisper it as though He were afraid the birds, who cry aloud Their momentary cries before it is dawn, Would carry it away to blasphemous men. William Butler Yeats


25 de Janeiro de 2008

Da poesia

Esculpo a página a lápis e um cheiro de bosque então me aparece. Que a poesia é feita de romãs daquilo que é eterno e de tudo que apodrece. Neide Archanjo


25 de Janeiro de 2008

John Hoppner

john%20hoppner.jpg quando o século XIX começava


25 de Janeiro de 2008

A decisão da idade

1 Quando, ansiosa, pela primeira vez pisares a terra que te ofereço, estarei presente para auscultar, no ar, a viração suave do encontro da lua que transportas com a sólida a materna nudez do horizonte. Quando, ansioso, te vir a caminhar no chão de minha oferta, coloco, brandamente, em tuas mãos, uma quinda de mel colhido em tardes quentes de irreversível votação ao Sul. 2 Trago para ti em cada mão aberta, os frutos mais recentes desse Outono que te ofereço verde: o mês mais farto de óleos e ternura avulsa. E dou-te a mão para que possas ver, mais confiante, a vastidão sonora de uma aurora elaborada em espera e refletida na rápida torrente que se mede em cor. 3 Num mapa desdobrado para ti, eu marcarei as rotas que sei já e quero dar-te: o deslizar de um gesto, a esteira fumegante de um archote aceso, um tracejar vermelho de pés nus, um corredor aberto na savana, um navegável mar de plasma quente. Ruy Duarte de Carvalho


25 de Janeiro de 2008

Soneto de contrastes

E fora assim: literalmente aos pés caído! Se não lhe dera dado dela ser o benfeitor, Do hedonista, de arrasto, em chão batido, Restara um servo branco em seu penhor. Se nem lhe dera ser o incubo incumbido, Quedou-se ao seu prazer, sorvendo o odor, Sob o corpo quente, acobreado, despido: Contrastes! Leite,chocolate; frenesi, torpor... Contraste! A veia azul realça a débil alvura, A veia azul pulsante e o branco escravo: Contraste! Subjugado, tatuado à pele escura, Em seu ofício, obstinado, fincado, um cravo, Um vibrante dardo trespassando com doçura, Como cuida a um bom criado com desbravo. Vicente Bastos


25 de Janeiro de 2008

Love can do all but raise the Dead

Love can do all but raise the Dead I doubt if even that From such a giant were withheld Were flesh equivalent But love is tired and must sleep, And hungry and must graze And so abets the shining Fleet Till it is out of gaze. Emily Dickinson


24 de Janeiro de 2008

Bernardo Strozzi

454px-Barbara_Strozzi_1.jpg Barbara Strozzi, pintada por Bernardo, parente afastado da compositora, no século XVII veneziano.


24 de Janeiro de 2008

Silêncio

No ponto onde o silêncio e a solidão Se cruzam com a noite e com o frio, Esperei como quem espera em vão, Tão nítido e preciso era o vazio. Sophia de Mello Breyner Andresen


24 de Janeiro de 2008

Convivência

Do barro escorrido entre os dedos Moldei o pouco que ficou entre as palmas E tomou forma: E as frágeis mãos esculpidas envolveram as minhas, As mãos de carne sobre as minhas mãos de argila, E moldaram-me pacientemente À imagem e semelhança: mão e luva. Convivência: Mistura de barro e tempo... Daniel Mazza


23 de Janeiro de 2008

Tintoretto

Leda-e-il-cigno6-tintoretto-420.jpg lembrança veneziana


23 de Janeiro de 2008

Remorso

Nos vinhedos da memória Colhidas e pisadas As lembranças vermelhas. As sombras do vinhaço renascem nos vinhedos: Das lembranças vêm lembranças. A culpa amarga enche O cálice do coração Com remorso tinto Daniel Mazza, in A Cruz e a Forca, Fortaleza, 2007.


23 de Janeiro de 2008

At Night Chinamen Jump

At night Chinamen jump on Asia with a thump while in our willful way we, in secret, play affectionate games and bruise our knees like China's shoes. The birds push apples through grass the moon turns blue, these apples roll beneath our buttocks like a heath full of Chinese thrushes flushed from China's bushes. As we love at night birds sing out of sight, Chinese rhythms beat through us in our heat, the apples and the birds move us like soft words, we couple in the grace of that mysterious race. Frank O'Hara


23 de Janeiro de 2008

Saudades

(gentileza de Amélia Pais) Tenho saudades do tempo em que o mundo era pequeno. Era só ali. E eu cabia nos ramos das acácias e não sabia do longe que existia. só do perto que sentia. Andrea Paes


22 de Janeiro de 2008

Manara

sandman_endless_03manara2.jpg sem razão aparente, um outro olhar


22 de Janeiro de 2008

Vivo

Una luna de alfanje corta el valle de Morna. La húmeda niebla envuelve el asiento trasero del destino. Una hoguera de almendros esclarecía el desamor. El viento se acerca, como una presencia infinita. La carretera serpea en la distancia, como los cuerpos olvidados que van a dar al mar. El fósforo de la tarde se dilata en los campos, y el mar hace creer en otra vida. Suenan, a lo lejos, los tambores de la playa, una pavana ausente, el agua desamparada. Las palabras comen de tu mano, como gaviotas de fuego, como úlceras de la madera. Tañedor de cuerpos, tu tez se ilumina en la brisa y en la pena, aldaba de la lluvia. Pero la isla se cierra, como un amante, sobre sí misma. Recordó la noche en que casi perdió la razón. Beatriz Hernanz Angulo


22 de Janeiro de 2008

Paisagem pela Escada

a Annibal Augusto Gama Subia os degraus da escada sem ver o que estava à frente Subia falando sozinho sem ver que ia acompanhado Subia grudado à parede por ver a infinita altura Subia poeticamente homem sem ver o escarro no asfalto Ao fim desta escadaria agarrado ao corrimão seu lento olho arredondou-se Mirante aos olhos abertos a Vida entre céu e mar Versos estrondeando telas telas embuçando versos Toda parte cavaletes todo lado papéis penas Mal contida a harmonia razia de poetas e pintores Pincéis na mão contra os versos fios de versos contra as tintas No alto da filáucia, a máquina do mundo há muito o esperava Mesa posta só para ele pães vinhos sonhos quimeras Banquete aos olhos oferto toda a vida a descoberto Que me adianta ver além do horto, se este cisco no olho? E vazando incredulidade à Tela e ao Texto imposto a vista fez-se em negativas Muros no Alto de Pinheiros Bela Vista e saturados olhos sobre o fim do mundo Não sou o primeiro nem o último a negar-se a ver o Todo? Ao retirar do olho o cisco voejaram letras borrões Pergaminhos quase afônicos pinturas precipitando-se toda paisagem pela escada paredes e altura abaixo Marco Aqueiva, do livro inédito Passagens em Paisagem Obrigatória.


21 de Janeiro de 2008

Sobre o Poema

Um poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou sombra de sangue pelos canais do ser. Fora existe o mundo.Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol. Fora, os corpos genuínos e inalteráveis do nosso amor, os rios, a grande paz exterior das coisas, as folhas dormindo o silêncio, as sementes à beira do vento, — a hora teatral da posse. E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. E já nenhum poder destrói o poema. Insustentável, único, invade as órbitas, a face amorfa das paredes, a miséria dos minutos, a força sustida das coisas, a redonda e livre harmonia do mundo. — Embaixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério. — E o poema faz-se contra o tempo e a carne. Herberto Helder


21 de Janeiro de 2008

Romney

355px-George_Romney_001.jpg o dia em chiaro-oscuro


21 de Janeiro de 2008

Los espejos

Yo que sentí el horror de los espejos no sólo ante el cristal impenetrable donde acaba y empieza, inhabitable, un imposible espacio de reflejos sino ante el agua especular que imita el otro azul en su profundo cielo que a veces raya el ilusorio vuelo del ave inversa o que un temblor agita Y ante la superficie silenciosa del ébano sutil cuya tersura repite como un sueño la blancura de un vago mármol o una vaga rosa, Hoy, al cabo de tantos y perplejos años de errar bajo la varia luna, me pregunto qué azar de la fortuna hizo que yo temiera los espejos. Espejos de metal, enmascarado espejo de caoba que en la bruma de su rojo crepúsculo disfuma ese rostro que mira y es mirado, Infinitos los veo, elementales ejecutores de un antiguo pacto, multiplicar el mundo como el acto generativo, insomnes y fatales. Prolonga este vano mundo incierto en su vertiginosa telaraña; a veces en la tarde los empaña el Hálito de un hombre que no ha muerto. Nos acecha el cristal. Si entre las cuatro paredes de la alcoba hay un espejo, ya no estoy solo. Hay otro. Hay el reflejo que arma en el alba un sigiloso teatro. Todo acontece y nada se recuerda en esos gabinetes cristalinos donde, como fantásticos rabinos, leemos los libros de derecha a izquierda. Claudio, rey de una tarde, rey soñado, no sintió que era un sueño hasta aquel día en que un actor mimó su felonía con arte silencioso, en un tablado. Que haya sueños es raro, que haya espejos, que el usual y gastado repertorio de cada día incluya el ilusorio orbe profundo que urden los reflejos. Dios (he dado en pensar) pone un empeño en toda esa inasible arquitectura que edifica la luz con la tersura del cristal y la sombra con el sueño. Dios ha creado las noches que se arman de sueños y las formas del espejo para que el hombre sienta que es reflejo y vanidad. Por eso no alarman. Jorge Luis Borges


20 de Janeiro de 2008

Poderia Dizer-te

Poderia dizer-te dos tendões e das mãos onde eles percorrem o seu destino. Poderia dizer-te dos olhos se quisesse ser fácil este verso, dizer-te do mar e ser evidente, ou das órbitas onde gravito em cada sorriso teu e construir metáforas. Do fascínio que as sobrancelhas me impõem nos dedos, dizer-te das nossas conversas na faculdade, entre as teóricas e a foz, entre os livros de ecologia dois e a tua ternura enquanto dissecavas, tão gentilmente, o polvo. Dizer-te da lula, não do polvo, quis mentir para esbracejar versos como tentáculos, manter viva a tinta, a inteligência mais reconhecida. Ou dizer-te do choco – era, isso sim, um choco de carapaça dura com que percorrias o bisturi e onde mantinha o meu dedo segurando-lhe a pele e entregando, desde cedo, o meu corpo ao teu cuidado. Poderia dizer-te do sangue no corte profundo dos meus tendões, mas quero saber o leitor focado antes nos teus, nas mãos com que disse o primeiro verso. Vou dizer-te: os lábios. Como quem diz nariz mas não pode, os poemas em que se dizem faces não permitem outra pele que não a dos lábios, outro cheiro que não o teu, outra boca que não a tua, próxima, interrompendo frases e subindo colinas como só estes versos longos sobem. Poderia dizer-te tudo mas tudo ficaria inaudito. Não há poema, em cinco séculos de literatura, que te compare a elegância nos versos. Nem Camões, nem Florbela, nem a nossa Rosário sussurrando-nos a voz que conhecemos nos ouvidos quando a lemos, ninguém. Pretensão enorme a minha, portanto, ultrapassar o feito e inaugurar linguagem – aquela que te descreva como deve. Poderia dizer-te se o soubesse como; ou o pudesse, pelo menos, trazer dos versos do Ruy Belo como empréstimo, elaborar o meu Elogio de Maria Teresa mudando-lhe o destinatário e em muito as suas palavras. Poderia dizer-te se essas mesmas palavras permitissem impor uma mulher no centro de uma vida, uma menina inglesa, trazida também de Cambridge, quem sabe, uma elegância alta e vertical e desejada, um cabelo e os óculos escuros, poderia dizer-te. Mas não. Que a minha memória desafia o leitor a imaginar os versos que não escrevo, dizer-te poema final e definitivo, da completude dizer-te amor. Jorge Reis-Sá


20 de Janeiro de 2008

Buried Love

I have come to bury Love Beneath a tree, In the forest tall and black Where none can see. I shall put no flowers at his head, Nor stone at his feet, For the mouth I loved so much Was bittersweet. I shall go no more to his grave, For the woods are cold. I shall gather as much of joy As my hands can hold. I shall stay all day in the sun Where the wide winds blow, -- But oh, I shall cry at night When none will know. Sara Teasdale


20 de Janeiro de 2008

Casorati

Felice%20Casorati.jpg a imagem em si


20 de Janeiro de 2008

Para a dedicação de um homem

Terrível é o homem em quem o senhor desmaiou o olhar furtivo das searas ou reclinou a cabeça ou aquele disposto a virar decisivamente a esquina Não há conspiração de folhas que recolha a sua despedida. Nem ombro para o seu ombro quando caminha pela tarde acima A morte é a grande palavra para esse homem não há outra que o diga a ele próprio É terrível ter o destino da onda anónima morta na praia Ruy Belo


20 de Janeiro de 2008

Y porque amor combate

(excerto) Al pan yo no le pido que me enseñe sino que no me falte durante cada día de la vida. Yo no sé nada de la luz, de dónde viene ni dónde va, yo sólo quiero que la luz alumbre, yo no pido a la noche explicaciones, yo la espero y me envuelve, y así tú, pan y luz y sombra eres. Has venido a mi vida con lo que tú traías, hecha de luz y pan y sombra te esperaba, y así te necesito, así te amo, y a cuantos quieran escuchar mañana lo que no les diré, que aquí lo lean, y retrocedan hoy porque es temprano para estos argumentos. Mañana sólo les daremos una hoja del árbol de nuestro amor, una hoja que caerá sobre la tierra como si la hubieran hecho nuestros labios, como un beso que cae desde nuestras alturas invencibles para mostrar el fuego y la ternura de un amor verdadero. Pablo Neruda


19 de Janeiro de 2008

El silencio de las noches

Cuando el silencio de las noches envuelve en el descanso las vidas agitadas por los trajines del día. Cuando al alba, al despertar, los primero rayos del sol nos anuncian que sigue la vida. Cuando todo está en silencio allí están esas voces, con rostros inventados, con cuerpos de fantasía, que transmiten sensaciones y nos brindan compañía. Cuando todo está en penumbras allí estan esas voces, que amigas del viento y del tiempo se esconden en los rincones de corazones solitarios que buscan esa voz amiga... esa voz... que con cuerpo imaginario cruza mares y cielos para llegar al corazón de todo el mundo y de cada pueblo. Teresa Aburto Uribe


19 de Janeiro de 2008

Romney

romney.jpg à espera que o tempo passe....


19 de Janeiro de 2008

sólo la sed

sólo la sed el silencio ningún encuentro cuídate de mí amor mío cuídate de la silenciosa en el desierto de la viajera con el vaso vacío y de la sombra de su sombra Alejandra Pizarnik


19 de Janeiro de 2008

My Pretty Rose Tree

A flower was offered to me; Such a flower as May never bore. But I said I've a Pretty Rose-tree. And I passed the sweet flower o'er. Then I went to my Pretty Rose-tree: To tend her by day and by night. But my Rose turnd away with jealousy: And her thorns were my only delight. William Blake


19 de Janeiro de 2008

Baldazzini

baldazzini%20roberto.jpg a pin up desenhada em Bolonha


19 de Janeiro de 2008

Royal Label Black

(a Ruy Belo) Este homem procura as cores mais secas do nosso entendimento; vai connosco até à rua; responde-nos um cigarro primeiro, uma construção na areia, depois um ferro a espetar nas dunas e no mar enquanto o mar houver e a paz durar; come connosco à nossa própria mesa; ama a nossa mulher e experimenta o odor da nossa casa aonde os nossos filhos lhe entram pelos joelhos, o cobrem de carícias, lhe atiram a satisfeitíssima bola de brincarmos aos adultos quando é tarde ou os dias apresentam um cariz de pouca chuva. Divide o nosso frango, a frugal fruta, as sobras do almoço e sai-nos portas dentro quando o pôr-do-sol, a solução do sol, o sol das terras de portugal e das noites de madrid dialoga connosco, connosco estabelece a nítida fronteira entre aeroportos, casas – oh as casas – e a mulher que, podendo ser a de um estivador, do camisola amarela, desse irreverente basquetebolista que por um grande azar não é das nossas relações, foi, é, será sempre a mulher encontrada e perdida na poeira, nas arcas, nas infâncias multicoloridas que parcimoniosamente nos excedem. Procura, sim, procura as cores do nosso entendimento; bebe do nosso vinho; vai à missa connosco; veste-nos a pele de lobos esfaimados nesta selva de ratos onde os ratos se confundem com navalhas, intelectuais empalhados, inquiridores por conta d'outrem (e própria), só para que o amor um pouco sobreviva, exíguo e tenso, ri às bandeiras despregadas como só um menino, como só alguém que sabe da poda pode rir enquanto os táxis, o choro, as dores de consciência – que afinal não há, embora os cais... – atravessam o meio-dia, desesperadamente. Ah, este homem procura as cores mais secas do nosso entendimento; limpa-se às nossas toalhas; chega ao extremo de utilizar a escova privada da nossa privadíssima higiene; rompe os nossos sapatos (meias inclusive); joga à pancada connosco, ao eixo; e rouba-nos a carteira como só quem sabe sorrir pode roubar-nos, pode assinar de cruz por nós, solucionar o problema da nossa talvez habitação sem prestígio nenhum, ao menos uma praia de consolação em que morrer com o mesmo à vontade, modéstia e alegria deste homem que procura, procura as cores mais secas do nosso entendimento. Amadeu Baptista


18 de Janeiro de 2008

Lorenzo Costa

lorcosta.jpg entre Ferrara e Bolonha, no renascimento italiano.


18 de Janeiro de 2008

Manda-me um recado

(gentileza de Amélia Pais) pode nem sempre ser assim; e eu digo que se os teus lábios, que amei, tocarem os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes; se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem nesse silêncio que eu sei, ou nessas palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado ficam desamparadamente diante do espírito vozeando; se assim for, eu digo se assim for ? tu do meu coração, manda-me um recado; que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos, dizendo, Aceita toda a felicidade de mim. Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro cantar terrivelmente longe nas terras perdidas. e. e. cummings, trad. Jorge Fazenda Lourenço


18 de Janeiro de 2008

Painel para Rosalia de Castro

É um frio tremendo. A água gela nas torneiras, a solidão cresce com uma unha, uma sombra atrai todas as camisas de silêncio, arde, é uma noite encerrando os perigos da perdição, os ferros agudíssimos do silêncio. É um frio tremendo. Perde-se o caminho de casa, a luz extingue-se, pergunta-se pelo sangue e o sangue não responde, o sangue perde-se aos borbotões na vida, não há caminho, não há regresso, a sereia canta no denso nevoeiro, mas não há esperança, a tempestade é o único lugar, o único lençol, a voz velocíssima entregando-nos sem rendição, entregando-nos. Como uma agulha fecha-nos os lábios, ata-nos as mãos, como uma agulha de silêncio, feroz, terrível, cose-nos contra as paredes e os olhos saltam, saltam, é um frio tremendo onde tudo arde, arde antiquíssimo, flecha no coração, solidão descendo o braço, descendo devagar, espraiando-se na terrível superfície do silêncio. Amadeu Baptista


18 de Janeiro de 2008

Fame is a fickle food

Fame is a fickle food Upon a shifting plate Whose table once a Guest but not The second time is set. Whose crumbs the crows inspect And with ironic caw Flap past it to the Farmer's Corn— Men eat of it and die. Emily Dickinson


18 de Janeiro de 2008

Macke

macke15.jpg manhã cedo, a cor do dia


17 de Janeiro de 2008

Cumplicidade

Se eu vos disser que o mar que agora encaro me faz um bem supremo ou mal me ampara, é vero que o seu sal, de gosto extremo, talvez vos teça a fé que me declara ser tão feliz que a morte a mim me esqueça ou sofrimento é só com que deparo. Mas neste mesmo mar, se eu ponho o vento vagando pelas crispas das marolas, haveis de crer que sinto ser mais brando o que já imaginais das priscas horas; o que antes era júbilo é só paz, não passa de um queixume o tal lamento. E se eu não venho a por escuro ou lume na tela que o sentido me extravasa, é que vos trago a forma mais singela de respeitar o céu que vos abrasa: deixando, pra tintura do papel o vosso sentimento que nos une. Jaumir Valença da Silveira


17 de Janeiro de 2008

O Discurso e o Deserto

Com o acre mel do deserto De ouro veste-se o nome Pronunciado na guerra. O sol fecunda as espadas Retesa o arco certeiro E o sete nasce da pedra No silêncio alumioso Da noite mal-assombrada Mistura o grito viçoso Eis a palavra afiada Nos pastos da solidão Dentro do silêncio limpo Voz de toda precisão Janice Japiassu


17 de Janeiro de 2008

O Perigo

Dois olhos cerrados. Dois lábios suaves e sábios, tremendo, calados... Jairo de Raguna Cabral


17 de Janeiro de 2008

Borgarelli

borgarellimassimiliano3.jpg entre o sonho e a vigília


17 de Janeiro de 2008

La caricia perdida

Se me va de los dedos la caricia sin causa, se me va de los dedos... En el viento, al pasar, la caricia que vaga sin destino ni objeto, la caricia perdida ¿quién la recogerá? Pude amar esta noche con piedad infinita, pude amar al primero que acertara a llegar. Nadie llega. Están solos los floridos senderos. La caricia perdida, rodará... rodará... Si en los ojos te besan esta noche, viajero, si estremece las ramas un dulce suspirar, si te oprime los dedos una mano pequeña que te toma y te deja, que te logra y se va. Si no ves esa mano, ni esa boca que besa, si es el aire quien teje la ilusión de besar, oh, viajero, que tienes como el cielo los ojos, en el viento fundida, ¿me reconocerás? Alfonsina Storni


16 de Janeiro de 2008

Sem imagens

(gentileza de Amélia Pais) Deito fora as imagens. Sem ti, para que me servem as imagens? Preciso habituar-me a substituir-te pelo vento, que está em qualquer parte e cuja direcção é igualmente passageira e verídica. Preciso habituar-me ao eco dos teus passos numa casa deserta, ao trémulo vigor de todos os teus gestos invisíveis, à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve a não ser eu. Serei feliz sem as imagens. As imagens não dão felicidade a ninguém. Era mais difícil perder-te, e, no entanto, perdi-te. Era mais difícil inventar-te, e eu te inventei. Posso passar sem as imagens assim como posso passar sem ti. E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz. Raul de Carvalho


16 de Janeiro de 2008

Os Trabalhos e as Noites

para reconocer en la sed mi emblema para significar el único sueño para no sustentarme nunca de nuevo en el amor he sido toda ofrenda un puro errar de loba en el bosque en la noche de los cuerpos para decir la palabra inocente Alejandra Pizarnik


16 de Janeiro de 2008

Witz

Saint_christopher_witz.jpeg São Cristóvão, ou a dificuldade dos caminhos


16 de Janeiro de 2008

Açúcar queimado

Olhou para o espelho Com as lâmpadas acesas E sentiu que perdera o desejo antigo De ver claro através de si mesma. Que diferença fazia, afinal, Saber quem era? Ou quem não era? Também já não lhe interessava saber Se era o seu espírito que agia sobre seu corpo, Ou o contrário, Como chegara a temer. Afastou-se do espelho E seu olhar encontrou O olhar do homem sorridente, Deitado em sua cama. Brotou em seu coração uma clareza Quente e doce, Como açúcar queimado. Compreendeu que a força de uma alma Está nos momentos de ventura Que se vive, Como o brilho de aceitação No olhar de quem se ama. Luiz Bello


15 de Janeiro de 2008

Canção

(gentileza de Amélia Pais) Que saia a última estrela da avareza da noite e a esperança venha arder venha arder em nosso peito E saiam também os rios da paciência da terra É no mar que a aventura tem as margens que merece E saiam todos os sóis que apodrecem no céu dos que não quiseram ver -mas que saiam de joelhos E das mãos que saiam gestos de pura transformação Entre o real e o sonho seremos nós a vertigem Alexandre O' Neill


15 de Janeiro de 2008

Rivière

riviere.jpg há dias feitos assim...


15 de Janeiro de 2008

O louco

a vida toda busquei estrelas sorrisos fartos, vida prazerosa sem saber que de fato a mim um amor bastava. Alceu Brito Correa


14 de Janeiro de 2008

De manhã

De manhã eu sei que o sol vai morrer depois das dezoito horas. Mas não me apavoro. Ele pode morrer antes, se quiser. Há muito tempo que a minha vida é uma sucessão de expectativas. Nenhuma delas realizada. Por isso espero o sol morrer depois das dezoito horas e ele morre. Uma tarde, quando o sol era uma estrela cadente, eu pedi para uma bailarina nascer no lugar da lua. Mas não nasceu. Primeiro porque nenhuma bailarina vai nascer no lugar da lua. Depois porque, se nascesse, não seria uma bailarina. Mas uma deusa. Eu ri. Não porque fosse impossível uma deusa nascer no lugar da lua. Mas porque as deusas não nascem mais. Elas se afogaram nos Lusíadas e nunca mais emergiram. Estão lá, no fundo de um poema, presas às barbas e aos cabelos de Netuno. Camões que o diga. Ele que teceu os raios de luar no rosto de Netuno e deu-lhe o nome de Vasco da Gama. Natalício Barroso


14 de Janeiro de 2008

Perugini

perugini.jpg graça antiga


14 de Janeiro de 2008

Soneto das Luzes

Uma palavra, outra mais, e eis um verso, doze sílabas a dizer coisa nenhuma. Trabalho, teimo, limo, sofro e não impeço que este quarteto seja inútil como a espuma. Agora é hora de ter mais seriedade, para essa rima não rumar até o inferno. Convoco a musa, que me ri da imensidade, mas não se cansa de acenar um não eterno. Falar de amor, oh pastor, é o que eu queria, porém os fados já perseguem teu poeta, deixando apenas a promessa da poesia, matéria bruta que não coube no terceto. Se o deus frecheiro me lançasse a sua seta, eu tinha a chave pra trancar este soneto. Antonio Carlos Secchin


13 de Janeiro de 2008

Loustal

loustal_soleilsdenuit.jpg soleil de nuit, uma imagem hoje politicamente incorrecta.... pelo cigarro, claro.


13 de Janeiro de 2008

À noite

todas as palavras são pretas todos os gatos são tardos todos os sonhos são póstumos todos os barcos são gélidos à noite são os passos todos trôpegos os músculos são sôfregos e as máscaras, anêmicas todos pálidos, os versos todos os medos são pânicos todas as frutas são pêssegos e são pássaros todos os planos todos os ritmos são lúbricos são tônicos todos os gritos todos os gozos são santos Antonio Carlos Secchin


13 de Janeiro de 2008

Da poética do verde amarelo

Tão logo os macacos chegam gagos qualquer papagaio de crista verde e azuis penas, cheio do marginado limo – o muro de arrimo que o prende não torna a declamar direito com mesmo prazer do azul quimérico se o beco esvaziado do verde for higienicamente amarelo não apreende o irreverente belo se mal for do paredão além fizer da conveniência estridência Marco Aqueiva


13 de Janeiro de 2008

First We Take Manhattan

They sentenced me to twenty years of boredom For trying to change the system from within I'm coming now, I'm coming to reward them First we take Manhattan, then we take Berlin. I'm guided by a signal in the heavens I'm guided by this birthmark on my skin I'm guided by the beauty of our weapons First we take Manhattan, then we take Berlin. I'd really like to live beside you, baby I love your body and your spirit and your clothes But you see that line there moving through the station? I told you, I told you, told you, I was one of those Ah you loved me as a loser, but now you're worried that I just might win You know the way to stop me, but you don't have the discipline How many nights I prayed for this, to let my work begin First we take Manhattan, then we take Berlin I don't like your fashion business mister And I don't like these drugs that keep you thin I don't like what happened to my sister First we take Manhattan, then we take Berlin I'd really like to live beside you, baby I love your body and your spirit and your clothes But you see that line there moving through the station? I told you, I told you, told you, I was one of those And I thank you for those items that you sent me The monkey and the plywood violin I practiced every night, now I'm ready First we take Manhattan, then we take Berlin Remember me? I used to live for music Remember me? I brought your groceries in Well it's Father's Day and everybody's wounded First we take Manhattan, then we take Berlin Leonard Cohen


13 de Janeiro de 2008

Travessia

(excerto) Que caminhos terei de percorrer para chegar à cauda do arco-íris? Despachei emissários soprei clarins pus os fins pelos meios e os meios pelos fins abusando dos golpes temerários. Da aurora descem as mulas com a farinha partem do ocaso os trens em disparada cheios de mimos os navios reboam suas buzinas na bruma densa cavalgo uma águia branca sobre o vale. Juarez Leitão


13 de Janeiro de 2008

Pete Turner

pete%20turner.jpg jogo de sombras


13 de Janeiro de 2008

Azul

no fim, tudo é uma questão de pele centímetros quadrados de sensibilidade em busca da possibilidade de toque ou de dor depois os pêlos a dobrar em arrepios ao quase contato beijar o fogo e sentir seus dentes com a língua beber teu líquido como mel esculpir rosas na carne de minhas costas corações e entrelaçados celtas tuas unhas bisturis de queratina escarnada escorpiões com ferrões de fogo a correr da nuca aos calcanhares quando acordar e for embora não esqueça de trancar a porta para que a rua não possa entrar neste quarto azul Edson Bueno de Camargo


13 de Janeiro de 2008

Vulcões aqui e ali

Volcanoes be in Sicily And South America I judge from my Geography— Volcanos nearer here A Lava step at any time Am I inclined to climb— A Crater I may contemplate Vesuvius at Home. Emily Dickinson


12 de Janeiro de 2008

Piero di Cosimo

800px-Piero_di_Cosimo_039.jpg o eterno dragão, prestes a ser vencido, ou a libertação de Andrómeda


12 de Janeiro de 2008

Toda a Luz

este poema fragmento de estrela mergulhando em um buraco-negro na sua extrema agonia da gravidade presa na palavra da língua inflamada em gazes estelares da gangrena da sintaxe e do léxico de cálculos de astrônomos imprecisos que o juntar de letras lapidadas em pedras é desalento e desterro e estas dormentes nos signos obscuros se perdem entre o significado e significando poço que percorre os diversos mundos e as dimensões de tão escuro que absorve toda a luz Edson Bueno de Camargo


12 de Janeiro de 2008

Paz

Eu, que venho de tempestades, anuncio a calmaria. A violência que existia em mim rasguei na bala. José Inácio Vieira de Melo


12 de Janeiro de 2008

Vida

Rasgo a língua em pedaços: este amor e as palavras sangram. Coisa cheia de vida, a linguagem: vinho. Venha. Yêda Schmaltz


12 de Janeiro de 2008

Dia do julgamento

Eu não vim para molestar o sentimento daqueles que perderam o caminho das lágrimas. Nem tampouco para ulcerar a dignidade sacra do pão sobre a mesa. Eu vim, amigo, para falar desta ferramenta fundamental que é a vida, destes olhos naufragados na rebelião de um pranto, da tristeza sem fim de minha mãe que toma remédio de hora em hora, do cansaço comprido de seus olhos pedindo sossego pro mundo — sobretudo, amigo, para falar do regresso imponderável de todas as manhãs da estrela magnífica que clareia como espuma nos olhos da lavadeira, daqueles que trabalham com os mortos e sabem de cor a numeração das lágrimas, dos que constroem apartamentos e dormem em camas de zinco, dos que tiram fotografias ao lado dos políticos, da poesia, sobretudo da poesia, que é mais forte que um boi na canga de seu ofício, da poesia que é mais vulgar que um beijo no prostíbulo da poesia que cancela o desespero que maltrata o sofrimento que proclama a paz da poesia que navega em nosso corpo como um grito numa mansão deserta da poesia que é mais bela que um trem na mata da poesia que é mais bela que um cantil cheio d'água da poesia sobretudo da poesia, que é como a presença de um rio entrando pela noite dos escombros, — ave muito clara, ternura, deixa-me morrer entre as estrelas. Gabriel Nascente


12 de Janeiro de 2008

Rodin

rodin.jpg o beijo


12 de Janeiro de 2008

Winter Landscape, With Rooks

Water in the millrace, through a sluice of stone, plunges headlong into that black pond where, absurd and out-of-season, a single swan floats chaste as snow, taunting the clouded mind which hungers to haul the white reflection down. The austere sun descends above the fen, an orange cyclops-eye, scorning to look longer on this landscape of chagrin; feathered dark in thought, I stalk like a rook, brooding as the winter night comes on. Last summer's reeds are all engraved in ice as is your image in my eye; dry frost glazes the window of my hurt; what solace can be struck from rock to make heart's waste grow green again? Who'd walk in this bleak place? Sylvia Plath


11 de Janeiro de 2008

Myself

What, younger, felt was possible, now knows is not - but still not chanted enough - Walked by the sea, unchanged in memory - evening, as clouds on the far-off rim of water float, pictures of time, smoke, faintness - still the dream. I want, if older, still to know why, human, men and women are so torn, so lost, why hopes cannot find better world than this. Shelley is dead and gone, who said, "Taught them not this - to know themselves; their might could not repress the mutiny within, And for the morn of truth they feigned, deep night Caught them ere evening . . ." Robert Creeley


11 de Janeiro de 2008

Dürer

durer.jpg o tempo gravado no rosto


11 de Janeiro de 2008

Os Nautas

Quando até sobre o tarde navegavam a luz que dentro vinha sobrepunha a lantejoula aguda de outro sol ao passo opaco, idêntico, cercando os braços intranquilos, a surpresa que só de pressentida lhes doía. Ao frio sal que sob os pés sentiam e à escuridão mais fundo, ao sonolento e bruto som da corda e da madeira, às dores de fome e ao gemido fraco duma saudade parda, à solidão sem espelho, à gula insaciada, ao medo - a tudo combatia uma paixão neles tão nova, nevoenta outrora, qual a de ver, de ver de olhos abertos até sentir no roçagar dos dedos, a mínima paisagem, mais total que os montes lerdos, pátrios e trocados: a crispação da vela, o peixe lento de súbito surgindo, ignotas flores, cores purulentas, vasto e escasso espaço para estrídulos pássaros abertos e outra vida mor, e ainda bruma que não sabem se é deste ou doutro sonho. Pedro Tamen


11 de Janeiro de 2008

Maillol

22_-_Maillol_femme_accroupie_edited.jpg antemanhã


11 de Janeiro de 2008

Escrevo-te de perto

Escrevo-te de perto, como se a mão te fosse objecto breve aflorado, como se da rua te chegasse a certeza pequena para a compra dos minutos seguintes. De perto como o sol, como a cigarra. Como um silêncio cheio que te viesse aos olhos de manhã e amar-te fosse a roupa escolhida ao começar o dia. Pedro Tamen


10 de Janeiro de 2008

Poemínimos

o vento acaricia o dia na relva sonolenta lentamente o dia caminha a trilha do tempo o silêncio da luz sorriso-escuro sem força e o chão José Geraldo Neres


10 de Janeiro de 2008

Romney

lady%20hamiltong%20romney.jpg Lady Hamilton, novamente


10 de Janeiro de 2008

Remembrança

Falo de ti sob os ásperos semáforos da rua que quase enlouqueceu. E rememoro tuas pernas e teus braços e ponho a mão onde puseste o passo eco da antiga claridade que era assim. E abrindo a tampa do oblíquo alçapão, sob todos os cílios, baixo as pálpebras acossada por centenas de pássaros cheirando a ervas ruminadas na boca trêmula da dupla lua. Eu transeunte, embora, de uma outra, nesta rua louca, perdida, impregnada, dobro a esquina onde uma rapariga se esfuma guarida alhures, lá, pelas bandas do mar. Então, rouca, choro e saúdo uma nova lua clara, tão clara, tão rara! Onde se avivam rastros de mim. Inez Figueredo


10 de Janeiro de 2008

O mar é longe

O mar é longe, mas somos nós o vento; e a lembrança que tira, até ser ele, é doutro e mesmo, é ar da tua boca onde o silêncio pasce e a noite aceita. Donde estás, que névoa me perturba mais que não ver os olhos da manhã com que tu mesma a vês e te convém? Cabelos, dedos, sal e a longa pele, onde se escondem a tua vida os dá; e é com mãos solenes, fugitivas, que te recolho viva e me concedo a hora em que as ondas se confundem e nada é necessário ao pé do mar. Pedro Tamen


10 de Janeiro de 2008

As Marcas do Tempo

O último impulso do segundo antes ao projetar-se no após segundo risca no tempo cicatrizes, fendas... (o largo corte invariável, sempre) que esculpe a forma virtual do instante no confundível e abstrato mármore, imagem sólida do momento único. Majela Colares


10 de Janeiro de 2008

Sonho-te

Sonho-te real, em lágrimas de mar, refaço as mãos, tuas raízes verdes, conto e reconto as horas que passámos. Repiso os passos, rasgo a estrada branca, renasço em cada gesto que fizemos, beijo-te outra vez, ajoelhado... Enquanto longos, dolorosos versos nas veias vão doendo Pedro Tamen


10 de Janeiro de 2008

Hans Baldung

grien-3grac-420det.jpg as três graças de Grien a iluminar um dia com sol dentro


9 de Janeiro de 2008

Os Limites do Tempo

Meia face de sol - a tarde finda nos limites do céu e da calçada. Uma tarde partida, quando ainda refletida entre cores, desbotada. Aquarela dispersa - morte linda. (Colorido de tez avermelhada) mas o tempo ilusório fez infinda meia face de sol desfigurada. Murchas pétalas de horas finge o monte rente a linha deserta do horizonte feito rosa pendida... rosa-flores. Nos limites da sombra projetada nos contornos da noite aproximada percebo o tempo farejando as cores. Majela Colares


9 de Janeiro de 2008

Baldazzini

2527_Baldazzini.jpg a imagem imaginada


9 de Janeiro de 2008

Navegador

Aprendi na coincidência dos encontros Na voz da hierarquia Na cama de estranhos No copo das bebidas No cheiro do cigarro e do perfume Do sexo Da noite E Do dia Aprendi a observar tantas vidas E por sentir pena ou rir de tanta ironia Aprendi a canonizar minha alma progressiva Profeta Artista e navegador Conquistei um tanto por nada Na topografia Na concessão de favores Na obstinação de prazeres No orgulho de minha frota Da carne deixei marcas Sem penar Meu pêndulo penitência De todas investidas Sérgio Godoy


9 de Janeiro de 2008

Eu fui

A luz antepassada se insinua pelo longo percurso dos meus mortos. Eu era no ancestral pressentimento. Tange-me um brilho em noites abissais. Sou e contemplo a cor do sempre-tempo. Eles se foram no ontem, devagar. Cavaleiros velozes, já regressam. Fui dos meus ancestrais sangue futuro. Luciano Maia


9 de Janeiro de 2008

Devotion

The heart can think of no devotion Greater than being shore to the ocean— Holding the curve of one position, Counting an endless repetition. Robert Frost


8 de Janeiro de 2008

Pete Turner

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8 de Janeiro de 2008

O Desvio

A mim pouco me importa aberta ou fechada a porta, vou entrar. E pouco me importa estar sendo amada ou não amada: vou amar. Que a mim me importa tanto eu mesma e o sentimento, quanto! A mim pouco me importa se a tua amada é doente, se a tua esperança é morta. E me importa muito menos se aceitas solenemente nossa vida parca e torta. Porque a mim me importaria deixasse de ser eu mesma e a poesia. A mim pouco me importa se a lira quebrou a corda: vou cantar. E pouco me importa estar no picadeiro do circo: vou rodar. Que a mim me importa tanto eu mesma e o sentimento, quanto! A mim pouco me importa se estamos todos presos por uma invisível corda. E me importa muito menos sermos todos indefesos ante o destino que corta. Porque a mim me importaria deixasse de ser eu mesma e a poesia. Yêda Schmaltz


8 de Janeiro de 2008

virgil solis

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8 de Janeiro de 2008

Centauro Escarlate

O teu centauro te espera, monta em seu dorso e vê o mundo pelos olhos da esfinge: és o enigma, não o decifrador. A gente se enche de calo, a gente pensa que sabe, a gente se desespera até, mas não abre mão de estar aqui. O teu centauro te espera e o mundo é tudo o que a gente percebe: é só sair por aí descobrindo o que nunca vai ser teu. E quando for noite alta e os acordes de uma aquarela luzirem dentro de teu espírito, deixa o centauro que habita em ti galopar, galopar, galopar e transcender a ti e as tuas explicações. Há de existir um lugar onde os teus mistérios possam descansar. José Inácio Vieira de Melo


7 de Janeiro de 2008

Michelangelo

leda-michelangelo-420.jpg Buonarroti, o renascentista florentino


7 de Janeiro de 2008

Ficar nua

Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte. Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra. Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder. Clarice Lispector


7 de Janeiro de 2008

Landini

Landini.jpg


7 de Janeiro de 2008

Under Saturn

Do not because this day I have grown saturnine Imagine that lost love, inseparable from my thought Because I have no other youth, can make me pine; For how should I forget the wisdom that you brought, The comfort that you made? Although my wits have gone On a fantastic ride, my horse's flanks are spurred By childish memories of an old cross Pollexfen, And of a Middleton, whose name you never heard, And of a red-haired Yeats whose looks, although he died Before my time, seem like a vivid memory. You heard that labouring man who had served my people.He said Upon the open road, near to the Sligo quay - No, no, not said, but cried it out - 'You have come again, And surely after twenty years it was time to come.' I am thinking of a child's vow sworn in vain Never to leave that valley his fathers called their home. William Butler Yeats


6 de Janeiro de 2008

José de Ribera

Ribera%20J_jpg.jpg a noite já desceu sobre este dia de Reis; fechando a época de Natal, a pintura de um espanhol "tenebrista".


6 de Janeiro de 2008

The Plough Of Time

Night closed my windows and The sky became a crystal house The crystal windows glowed The moon shown through them through the whole house of crystal A single star beamed down its crystal cable and drew a plough through the earth unearthing bodies clasped together couples embracing around the earth They clung together everywhere emitting small cries that did not reach the stars The crystal earth turned and the bodies with it And the sky did not turn nor the stars with it The stars remained fixed each with its crystal cable beamed to earth each attached to the immense plough furrowing our lives Lawrence Ferlinghetti


6 de Janeiro de 2008

Renoir

renoir-58-420.jpg do corpo, a força visível


6 de Janeiro de 2008

Palavra de libertino

Ah, são as mulheres que nos prendem à terra, a velha terra-mãe, eu sei, eu sei! São elas que nos salvam do silêncio implacável, do esquecimento definitivo, elas que nos transportam ao futuro, à imortalidade na espécie (nem teremos outra) pelo fruto bendito do seu ventre (eu sei, eu sei...) Luiz Pacheco (1925-2008), in Comunidade


6 de Janeiro de 2008

Doré

444px-Dor%C3%A9_-_Vivien_Pa_II.jpg gravura oitocentista, de Gustave Doré, nascido num dia de reis em Estrasburgo.


6 de Janeiro de 2008

Dia de Reis

Love is my sin, and thy dear virtue hate, Hate of my sin, grounded on sinful loving, O, but with mine, compare thou thine own state, And thou shalt find it merits not reproving, Or if it do, not from those lips of thine That have profaned their scarlet ornaments And sealed false bonds of love as oft as mine, Robbed others' beds' revenues of their rents. Be it lawful I love thee as thou lov'st those Whom thine eyes woo as mine importune thee. Root pity in thy heart, that when it grows Thy pity may deserve to pitied be. If thou dost seek to have what thou dost hide, By self-example mayst thou be denied! William Shakespeare


5 de Janeiro de 2008

As coisas importantes

(gentileza de Amélia Pais) As coisas importantes só olhas uma vez mas sua imagem se repete muitas vezes dentro de ti como um eco. As coisas importantes que estão dentro de ti e se repetem constantemente já não estão presas ao que olhaste atento mas no silêncio que tens dentro se libertaram e tornaram incertas. As coisas importantes no teu dentro só já a ti pertencem e nada do que está fora de ti as lembra agora. As coisas importantes metes numa caixa que com paciência vais abrindo aos poucos para esqueceres as muralhas de outro tempo. Jall Sinth Hussein


5 de Janeiro de 2008

Carracci

Sacra%20Fam%20Carracci.jpg penúltima desta série, uma sagrada família ao gosto do barroco


5 de Janeiro de 2008

Luz e Breu

(soneto sonolento, ao acordar) Quando a luz da manhã penetra pelas fímbrias da cortina, eu percebo a escuridão de tudo sumindo pouco a pouco; em pouco tempo, o mundo invade a solidão e rouba ao sonho a vida. Quando a sombra de tudo assoma e expõe o corpo e a mente ao modo cru, entre o sono e a vigília, não há nada a versar, pois que já testa a língua o amargo amanhecer para um poema roto. Na sombra-e-luz do dia, a escuridão se abriga sob os meus olhos, livre e plena de sentidos, embora nem eu saiba o que isto significa. À luz do dia, fecho os olhos, sonho e vejo: se este verso pudesse, enfim, levar-me além de mim, a escuridão saciaria o desejo. Luís Antonio Cajazeira Ramos


5 de Janeiro de 2008

Sentimento

(Bic Poem) gosto de me sentir vivo, de ver a vida se depositando, como a tinta da caneta, no traço indeciso do poema, misterioso como as palavras, que eu não sei de onde vieram Mauro Mendes


5 de Janeiro de 2008

Legado

É simples meu legado: muito mais aprendi cada vez que ensinei. O que fui, esqueci; só lembro do que fiz. Perdi tudo que tive, só ganhei o que dei, e nas vezes que amei, foi que me fiz amado. Osmard Andrade Faria


4 de Janeiro de 2008

Botticelli

443px-Sandro_Botticelli_066.jpg a mesma Simonetta, relembrada por Sandro em retrato póstumo, depois de ter sido modelo do pintor no célebre Nascimento de Vénus.


4 de Janeiro de 2008

The Folly Of Being Comforted

One that is ever kind said yesterday: 'Your well-beloved's hair has threads of grey, And little shadows come about her eyes; Time can but make it easier to be wise Though now it seems impossible, and so All that you need is patience.' Heart cries, 'No, I have not a crumb of comfort, not a grain. Time can but make her beauty over again: Because of that great nobleness of hers The fire that stirs about her, when she stirs, Burns but more clearly.O she had not these ways When all the wild Summer was in her gaze.' Heart! O heart! if she'd but turn her head, You'd know the folly of being comforted. William Butler Yeats


4 de Janeiro de 2008

Piero di Cosimo

430px-Piero_di_Cosimo_043.jpg Simonetta Cattaneo Vespucci, La Sans Pareille de Florença quatrocentista.


4 de Janeiro de 2008

In The Twentieth Century

I live in the Twentieth Century and you lie here beside me. You were unhappy when you fell asleep. There was nothing I could do about it. I felt hopeless. Your face is so beautiful that I cannot stop to describe it, and there's nothing I can do to make you happy while you sleep. Richard Brautigan


3 de Janeiro de 2008

After Years

Today, from a distance, I saw you walking away, and without a sound the glittering face of a glacier slid into the sea. An ancient oak fell in the Cumberlands, holding only a handful of leaves, and an old woman scattering corn to her chickens looked up for an instant. At the other side of the galaxy, a star thirty-five times the size of our own sun exploded and vanished, leaving a small green spot on the astronomer's retina as he stood on the great open dome of my heart with no one to tell. Ted Kooser


3 de Janeiro de 2008

Maillol

maillol-onda-420.jpg a onda


3 de Janeiro de 2008

I cannot be ashamed

I cannot be ashamed Because I cannot see The love you offer— Magnitude Reverses Modesty And I cannot be proud Because a Height so high Involves Alpine Requirements And Services of Snow. Emily Dickinson


3 de Janeiro de 2008

O peixe de Neruda

(excerto) Sonda teu elemento com perícia mas denodo, Não deixes o recôndito esquecido, Nele há tesouros que ainda não fulguram Por lhes faltarem olhos que os vejam. Vai mais fundo, explora os teus recursos mais íntimos, A força potencial que jaz nestas escamas Que tatalaram como virgens rêmiges, Um dia nas alturas. Usa teus olhos oblíquos para veres na sombra O que muitos não vêem em pleno dia, Sê tu mesmo, sabendo bem que podes Ser outro, muitos mais, ser legião, miríade Sem trair o que de mais teu trazes contigo. Amanhã, serás outro meu amigo.’ E ouvindo o Poeta descobri que havia Algo de mais recôndito na imagem: Além de toda essa mitologia, Há no peixe uma última mensagem. A de que é a Poesia um peixe-alado E o Poeta um ser que busca o vir-a-ser. Vive para dar vida ao Incriado, Que a missão do Poeta é transcender. Ivo Barroso


3 de Janeiro de 2008

Romney

464px-Maguerite%2C_Countess_of_Blessington.jpg a beleza suave de Margarida, condessa de Blessington


3 de Janeiro de 2008

Noutro lugar de mim

Noutro lugar de mim mas mesmo assim ainda em mim, tu, um deus, vizinho em mim, por tênues tabiques separado, trazes as cadeiras e as mesas, os lençóis e as frutas do jardim. Embora o cão rosne, a lâmpada do poste se apiede dos fantasmagóricos signos da calçada ainda assim, tu, isto em mim, instala–te na clareira, barroso chão, apodera-te da única cadeira e em mim navegas naquela madeira à deriva, poeira, do porão do meu rosto. Inez Figueredo


3 de Janeiro de 2008

Beyond words

A single photograph --portrait of the moment-- is an inexhaustible epic, a living tale beyond words superior to a hundred volumes written and fixed. A photograph is consciousness painting, the instant's art that opens on the unbounded vistas of the inner life. Daisaku Ikeda


2 de Janeiro de 2008

Petrus Christus

Christus%20P-2_jpg.jpg um dos favoritos, este belo presépio, delicado e discreto.


2 de Janeiro de 2008

Amor de tarde

Es una lástima que no estés conmigo cuando miro el reloj y son las cuatro y acabo la planilla y pienso diez minutos y estiro las piernas como todas las tardes y hago así con los hombros para aflojar la espalda y me doblo los dedos y les saco mentiras. Es una lástima que no estés conmigo cuando miro el reloj y son las cinco y soy una manija que calcula intereses o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas o un oído que escucha como ladra el teléfono o un tipo que hace números y les saca verdades. Es una lástima que no estés conmigo cuando miro el reloj y son las seis. Podrías acercarte de sorpresa y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos yo con la mancha roja de tus labios tú con el tizne azul de mi carbónico. Mario Benedetti


2 de Janeiro de 2008

the most who die, the more we live

what if a much of a which of a wind gives the truth to summer's lie; bloodies with dizzying leaves the sun and yanks immortal stars awry? Blow king to beggar and queen to seem (blow friend to fiend: blow space to time) -when skies are hanged and oceans drowned, the single secret will still be man what if a keen of a lean wind flays screaming hills with sleet and snow: strangles valleys by ropes of things and stifles forests in white ago? Blow hope to terror; blow seeing to blind (blow pity to envy and soul to mind) -whose hearts are mountains, roots are trees, it's they shall cry hello to the spring what if a dawn of a doom of a dream bites this universe in two, peels forever out of his grave and sprinkles nowhere with me and you? Blow soon to never and never to twice (blow life to isn't: blow death towas) -all nothing's only our hugest home; the most who die, the more we live. e.e. cummings


2 de Janeiro de 2008

Macke

macke_lady.jpg a cor, de novo


2 de Janeiro de 2008

Dove Sta Amore

Dove sta amore Where lies love Dove sta amore Here lies love The ring dove love In lyrical delight Hear love's hillsong Love's true willsong Love's low plainsong Too sweet painsong In passages of night Dove sta amore Here lies love The ring dove love Dove sta amore Here lies love Lawrence Ferlinghetti


1 de Janeiro de 2008

Escola italiana

Nicola%20di%20Credi_jpg.jpg adoração na primeira noite do ano


1 de Janeiro de 2008

Esperança

Só a leve esperança em toda a vida disfarça a pena de viver, mais nada; nem é mais a existência resumida que uma grande esperança malograda. O eterno sonho da alma desterrada, sonho que a traz ansiosa e embevecida, é uma hora feliz, sempre adiada e que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos árvore milagrosa que sonhamos toda arriada de dourados pomos existe sim; mas nós não a encontramos, porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos. Vicente de Carvalho


1 de Janeiro de 2008

Godward

godward.jpg que farei com este ano...


1 de Janeiro de 2008

Restinga's Bar

Sou tão frágil, meu bem, que um som, de leve pode ser-me fatal como o teu beijo: qualquer música brega, qualquer frase pode ser-me fatal. E, assim, não deve a brisa andar tão próxima à tormenta, como não deve o ritmo da valsa transformar-se em punhais; a vida é breve e aquilo que é demais logo arrebenta. Sou tão frágil, meu bem, que nada pode separar-me de ti. Teu nome é um sonho que navega em meu sonho. Tenho pena de tudo, algo me aflige e me sacode. Desliga esse Gardel, bota um canário em vez do som, da voz que me condena. Jorge Tufic


1 de Janeiro de 2008

Resumo

Razors pain you; Rivers are damp; Acids stain you; And drugs cause cramp. Guns aren't lawful; Nooses give; Gas smells awful; You might as well live. Dorothy Parker


1 de Janeiro de 2008

Raffaello Sanzio

raffael-420.jpg que as graças brilhem este ano: Tália (a que traz flores), Aglaia (brilho e esplendor) e Eufrosine (júbilo e alegria).


1 de Janeiro de 2008

Antes e depois da ciência

Talvez esse choro perfure meu peito e, palmo a palmo escave o tempo e suma enfim, em todo caso Talvez por isso não o leve a sério: por fazer-me desamar o homem crê-lo sem esperanças Em todo caso, diante dele - e sem mais nem menos - os lábios ganham um riso incurável. Não sem antes rastrear nos olhos - num sentido que beira a uma surda manhã - o mais terrível céu azul Jorge Lúcio de Campos