Arquivo de janeiro 2008
¶ 31 de Janeiro de 2008
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
Alberto Caeiro
¶ 31 de Janeiro de 2008
Mas tu nunca vinhas com a noite
E eu sentada com casaco de estrelas.
Quando batiam à porta
Era o meu próprio coração.
Agora pendurado em todas as ombreiras,
Também na tua porta;
Entre touros rosa-de-fogo a extinguir-se
No castanho da grinalda.
Tingi-te o céu cor de amora
Com o sangue do meu coração.
Mas tu nunca vinhas com a noite
E eu de pé com sapatos dourados.
Else Lasker-Schuler
¶ 31 de Janeiro de 2008
Jo mai de tu no
n’eixirà el silenci.
Un eixam de paraules
et perseguirà arreu.
Esclava per sempre,
dels teus mots.
Montserrat Abelló i Soler
¶ 31 de Janeiro de 2008
Vulcano e Eolo, pintados no dealbar do século XVI
¶ 31 de Janeiro de 2008
Dava a última camisa por um poema.
Domingo ao fim da tarde só restam cinzas.
Todos. Tudo inteiramente consumido. Tudo, o quê?
Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira?
Terça
tão comprida como um ano
Quarta, outra vez a esperança
Não, sem poema não se pode viver!
Quinta a memória entra em pânico
A pouca claridade que restava anoiteceu
também na Sexta as vagonetas com o meu minério
perdem-se no túnel.
Sábado:
trabalho em vão!
Domingo tudo recomeça e voltava a dar
a última camisa por um poema
Jan Kostra, trad. de Ernesto Sampaio
¶ 31 de Janeiro de 2008
I would live all my life in nonchalance and insouciance
Were it not for making a living, which is rather a nouciance.
Ogden Nash
¶ 30 de Janeiro de 2008
As casas como as pessoas
guardam cicatrizes
expostas no rosto do tempo.
Às casas sempre voltamos
nelas a vida anda por trás do que passou
existem na existência indo embora.
As casas onde morei para viver
na afoitosa e lúdica adolescência
abrem rugas na face branca das paredes.
De dentro delas saltam sonhos
que não querem envelhecer
e o menino açoitando o vento nas curvas do rio
que se arrasta na carne azul da paixão.
Barros Pinho
¶ 30 de Janeiro de 2008
a lágrima é um ápice
a réstia um âmbito
a morte é um ritmo
o corpo uma oferenda
o beijo é uma núpcia
efêmera
Cândido Rolim
¶ 30 de Janeiro de 2008
um vestido da cor do entardecer
¶ 30 de Janeiro de 2008
A smile fell in the grass.
Irretrievable!
And how will your night dances
Lose themselves. In mathematics?
Such pure leaps and spirals ----
Surely they travel
The world forever, I shall not entirely
Sit emptied of beauties, the gift
Of your small breath, the drenched grass
Smell of your sleeps, lilies, lilies.
Their flesh bears no relation.
Cold folds of ego, the calla,
And the tiger, embellishing itself ----
Spots, and a spread of hot petals.
The comets
Have such a space to cross,
Such coldness, forgetfulness.
So your gestures flake off ----
Warm and human, then their pink light
Bleeding and peeling
Through the black amnesias of heaven.
Why am I given
These lamps, these planets
Falling like blessings, like flakes
Six sided, white
On my eyes, my lips, my hair
Touching and melting.
Nowhere.
Sylvia Plath
¶ 30 de Janeiro de 2008
The Sentence
Perhaps I can make it plain by analogy.
Imagine a machine, not yet assembled,
Each part being quite necessary
To the functioning of the whole: if the job is fumbled
And a vital piece mislaid
The machine is quite valueless,
The workers will not be paid.
It is just the same when constructing a sentence
But here we must be very careful
And lay stress on the extreme importance
Of defining our terms: nothing is as simple
As it seems at first regard.
"Sentence" might well mean to you
The amorous rope or twelve years" hard.
No, by "sentence" we mean, quite simply, words
Put together like the parts of a machine.
Now remember we must have a verb: verbs
Are words of action like Murder, Love, or Sin.
But these might be nouns, depending
On how you use them –
Already the plot is thickening.
Except when the mood is imperative; that is to say
A command is given like Pray, Repent, or Forgive
(Dear me, these lessons get gloomier every day)
Except, as I was saying, when the mood is gloomy –
I mean imperative
We need nouns, or else of course
Pronouns; words like Maid,
Man, Wedding or Divorce.
A sentence must make sense.Sometimes I believe
Our lives are ungrammatical.I guess that some of
you
Have misplaced the direct object: the longer I live
The less certain I feel of anything I do.
But now I begin
To digress.Write down these simple sentences:--
I am sentenced: I love: I murder: I sin.
Vernon Scannell
¶ 30 de Janeiro de 2008
porque a beleza aliada à inteligência é uma mistura divina
¶ 30 de Janeiro de 2008
(gentileza de Jaime Roriz)
Uma mulher caminha nua pelo quarto
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher que ao vê-la
nua no quarto pouco se sabe dela
a cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca
uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde: os sonhos, as axilas,
a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora
o homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.
Bruna Lombardi
¶ 29 de Janeiro de 2008
nostalgia, sob uma atmosfera de outono, ou o simbolismo russo
¶ 29 de Janeiro de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
a língua sobre a peleo arrepio
os teus dedos nas escadas do meu corpo
as lâminas do amoro fogoa espuma
a transbordar de ti na tua fuga
a palavra mordida entre lençóis
as cinzas de outro lume à cabeceira
da mesma esquina sempre o mesmo olhar:
nada do que era teu vou devolver
Alice Vieira
¶ 29 de Janeiro de 2008
A tarde é enevoada e indistinta.
(Muito enevoada, muito indistinta.)
Contudo há nela imagens,
(Contudo há nela vultos,
Que se agitam e brilham.
Sob a luz opaca,
Sob a luz difusa.)
Uma após outra vêm, e vão --
E não se sabe de onde,
Não se imagina para onde
Ou para quê:
Um velho
Chupando espinhas de peixe,
Um homem velho, um homem
Muito velho
Coberto de pó escuro
No fundo da minha mente
(Onde as palavras naufragam
E sobre elas se abate
Um sopro de lua gelada).
A lembrança agora
É apenas confusa
Agitação de entranhas.
E assim como o vento
Passa debaixo da porta,
Pelo caixilho da janela,
(Entre os vidros, levantando
Uma quase invisível poeira)
Assim o corpo respira,
Aqui e ali suspeita,
Imagina ou entrevê:
O que pode ser falado
Ainda não é o que devia
Ser pensado.
Paulo Franchetti
¶ 29 de Janeiro de 2008
No deserto da insônia
a mão, triste, me acena
nua de anéis e luvas.
Dedos gesto de adeus
anunciam o abandono
da matéria efêmera.
Dos campos do sono
a mesma mão me chama
cintilante de estrelas.
Tento alçar-me da cama
no encalço do convite
mas a carne me amarra.
E enquanto o corpo dura
fico entre a dor da perda
e o desejo do encontro.
Astrid Cabral
¶ 29 de Janeiro de 2008
um francês a pintar na Rússia, em finais do século XVIII
¶ 29 de Janeiro de 2008
The sea is calm tonight.
The tide is full, the moon lies fair
Upon the straits; on the French coast the light
Gleams and is gone; the cliffs of England stand,
Glimmering and vast, out in the tranquil bay.
Come to the window, sweet is the night air!
Only, from the long line of spray
Where the sea meets the moon-blanched land,
Listen! you hear the grating roar
Of pebbles which the waves draw back, and fling,
At their return, up the high strand,
Begin, and cease, and then again begin,
With tremulous cadence slow, and bring
The eternal note of sadness in.
Sophocles long ago
Heard it on the Ægæan, and it brought
Into his mind the turbid ebb and flow
Of human misery; we
Find also in the sound a thought,
Hearing it by this distant northern sea.
The Sea of Faith
Was once, too, at the full, and round earth's shore
Lay like the folds of a bright girdle furled.
But now I only hear
Its melancholy, long, withdrawing roar,
Retreating, to the breath
Of the night wind, down the vast edges drear
And naked shingles of the world.
Ah, love, let us be true
To one another! for the world, which seems
To lie before us like a land of dreams,
So various, so beautiful, so new,
Hath really neither joy, nor love, nor light,
Nor certitude, nor peace, nor help for pain;
And we are here as on a darkling plain
Swept with confused alarms of struggle and flight,
Where ignorant armies clash by night.
Matthew Arnold
¶ 29 de Janeiro de 2008
So there stood Matthew Arnold and this girl
With the cliffs of England crumbling away behind them,
And he said to her, "Try to be true to me,
And I'll do the same for you, for things are bad
All over, etc., etc."
Well now, I knew this girl. It's true she had read
Sophocles in a fairly good translation
And caught that bitter allusion to the sea,
But all the time he was talking she had in mind
the notion of what his whiskers would feel like
On the back of her neck. She told me later on
That after a while she got to looking out
At the lights across the channel, and really felt sad,
Thinking of all the wine and enormous beds
And blandishments in French and the perfumes.
And then she got really angry. To have been brought
All the way down from London, and then be addressed
As sort of a mournful cosmic last resort
Is really tough on a girl, and she was pretty.
Anyway, she watched him pace the room
and finger his watch-chain and seem to sweat a bit,
And then she said one or two unprintable things.
But you mustn't judge her by that. What I mean to say is,
She's really all right. I still see her once in a while
And she always treats me right. We have a drink
And I give her a good time, and perhaps it's a year
Before I see her again, but there she is,
Running to fat, but dependable as they come,
And sometimes I bring her a bottle of Nuit d'Amour.
Anthony Hecht
¶ 28 de Janeiro de 2008
primeiro, existia o cossaco Borovik, pintor de ícones; mais tarde, já na viragem para o século XIX, torna-se Borovikovsky, pintor de retratos em São Petersburgo.
¶ 28 de Janeiro de 2008
Now, in twilight, on the palace steps
the king asks forgiveness of his lady.
He is not
duplicitous; he has tried to be
true to the moment; is there another way of being
true to the self?
The lady
hides her face, somewhat
assisted by the shadows. She weeps
for her past; when one has a secret life,
one's tears are never explained.
Yet gladly would the king bear
the grief of his lady: his
is the generous heart,
in pain as in joy.
Do you know
what forgiveness mean? it mean
the world has sinned, the world
must be pardoned --
Louise Glück
¶ 28 de Janeiro de 2008
o romantismo russo no século adequado
¶ 28 de Janeiro de 2008
I placed a jar in Tennessee,
And round it was, upon a hill.
It made the slovenly wilderness
Surround that hill.
The wilderness rose up to it,
And sprawled around, no longer wild.
The jar was round upon the ground
And tall and of a port in air.
It took dominion everywhere.
The jar was gray and bare.
It did not give of bird or bush,
Like nothing else in Tennessee.
Wallace Stevens
¶ 27 de Janeiro de 2008
He cometido el peor de los pecados
que un hombre puede cometer. No he sido
feliz. Que los glaciares del olvido
me arrastren y me pierdan, despiadados.
Mis padres me engendraron para el juego
arriesgado y hermoso de la vida,
para la tierra, el agua, el aire, el fuego.
Los defraudé. No fui feliz. Cumplida
no fue su joven voluntad. Mi mente
se aplicó a las simétricas porfías
del arte, que entreteje naderías.
Me legaron valor. No fui valiente.
No me abandona. Siempre está a mi lado
La sombra de haber sido un desdichado.
Jorge Luis Borges
¶ 27 de Janeiro de 2008
Caterina Sforza, senhora de Forlì e de Imola nos últimos anos do século XV.
¶ 27 de Janeiro de 2008
Others because you did not keep
That deep-sworn vow have been friends of mine;
Yet always when I look death in the face,
When I clamber to the heights of sleep,
Or when I grow excited with wine,
Suddenly I meet your face.
William Butler Yeats
¶ 27 de Janeiro de 2008
I
The stars were wild that summer evening
As on the low lake shore stood you and I
And every time I caught your flashing eye
Or heard your voice discourse on anything
It seemed a star went burning down the sky.
I looked into your heart that dying summer
And found your silent woman's heart grown wild
Whereupon you turned to me and smiled
Saying you felt afraid but that you were
Weary of being mute and undefiled
II
I spoke to you that last winter morning
Watching the wind smoke snow across the ice
Told of how the beauty of your spirit, flesh,
And smile had made day break at night and spring
Burst beauty in the wasting winter's place.
You did not answer when I spoke, but stood
As if that wistful part of you, your sorrow,
Were blown about in fitful winds below;
Your eyes replied your worn heart wished it could
Again be white and silent as the snow.
Galway Kinnell
¶ 27 de Janeiro de 2008
o impressionismo fin de siècle
¶ 27 de Janeiro de 2008
Es el mar mi ropaje: así desnuda
como una enorme ola a ti yo llego.
Mi ocasión la tormenta y los relámpagos,
y es la montura de mi amor el viento.
No retorno: yo voy pues son mis pasos
como a la hierba la pasión del fuego.
Soy la bestia de larga cabellera
que lame la otra lengua que es el beso.
En la forma de piedra me hallo a gusto
porque es así tan duro mi silencio
que no lo vencerá el dolor del mundo,
ni del odio la gota de veneno.
Es el mar mi ropaje: así desnuda
como una enorme ola a ti yo llego.
Brotaron en mis manos de agua sucia
las flores venenosas de estos versos.
Delfina Acosta
¶ 27 de Janeiro de 2008
Sobre os cotovelos a água olha o dia sobre
os cotovelos. batem folhas da luz
um pouco abaixo do silêncio. Quero saber
o nome de quem morre: o vestido de ar
ardendo, os pés e movimento no meio
do meu coração. O nome: madeira que arqueja, seca desde o fundo
do seu tempo vegetal coarctado.
E, ao abrir-se a toalha viva, o
nome: a beleza a voltar-se para trás, com seus
pulmões de algodão queimando.
Uma serpente de ouro abraça os quadris
negros e molhados. E a água que se debruça
olha a loucura com seu nome: indecifrável cego
Herberto Helder
¶ 26 de Janeiro de 2008
o olhar de um judeu russo, em pleno século XX
¶ 26 de Janeiro de 2008
(excerto)
Na superfície branca do deserto
na atmosfera ocre das distâncias
no verde breve da chuva de Novembro
deixei gravado meu rosto
minha mão
minha vontade e meu esperma;
prendi aos montes os gestos da entrega
cumpri as trajectórias do encontro
gravei nas águas a fúria da conquista
da devolução do amor.
Os calcários e os granitos desta terra
foram por mim pesados.
Dei-lhes afagos
leves olhares
insónias longas
impacientes esperas.
O zinco dos telhados cobriu-me solidões
e esperanças que tu sabes.
Ruy Duarte de Carvalho
¶ 26 de Janeiro de 2008
Relumbra el aire, relumbra,
el mediodía relumbra,
pero no veo al sol.
Y de presencia en presencia
todo se me transparenta,
pero no veo al sol.
Perdido en las transparencias
voy de reflejo a fulgor,
pero no veo al sol.
Y él en la luz se desnuda
y a cada esplendor pregunta,
pero no ve al sol.
Octavio Paz
¶ 26 de Janeiro de 2008
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Manuel Bandeira
¶ 26 de Janeiro de 2008
Seu corpo é uma praia deserta
onde uma música desperta
numa onda esperta e a deserda:
espumas a ferem como pétalas.
Desterra, em tradução infinita,
pérolas na orla do olhar, ilha
que ainda está por ser escrita.
Rodrigo Garcia Lopes
¶ 26 de Janeiro de 2008
sem véu
¶ 26 de Janeiro de 2008
(excerto)
Letra e poema
não necessitam
de pingo com pigarro.
Não dependem
de pingo de vela
resfriado.
Não precisam
de pingo de tinta
e de nenhum pingo
de pena.
A grafia banaliza
o pingo
e a gramática sacrifica
o poema.
Resta ao poeta
fazer sopa
de letras & palavras.
- Vogais na medida
e consoantes à gosto.
Depois tomar o poema
no canudinho
e a língua
da menina-dos-olhos
beber em conta-gotas.
Leônidas Arruda
¶ 26 de Janeiro de 2008
... é risco, rabisco
que quando sobe é dito
se cai escrito.
É disco, corisco
quando ensaio é postigo
se suscetível vertigo.
É visco, arisco
quando dissimulado é visto
se alvo menisco.
É cisco, pisco
quando começa é contido
se desata garrido.
É gládio, suicídio
quando perde é ferido
se ganha empedernido.
Lucila Issa
¶ 25 de Janeiro de 2008
Hic. On the grey sand beside the shallow stream
Under your old wind-beaten tower, where still
A lamp burns on beside the open book
That Michael Robartes left, you walk in the moon,
And, though you have passed the best of life, still trace,
Enthralled by the unconquerable delusion,
Magical shapes.
Ille. By the help of an image
I call to my own opposite, summon all
That I have handled least, least looked upon.
Hic. And I would find myself and not an image.
Ille. That is our modern hope, and by its light
We have lit upon the gentle, sensitive mind
And lost the old nonchalance of the hand;
Whether we have chosen chisel, pen or brush,
We are but critics, or but half create,
Timid, entangled, empty and abashed,
Lacking the countenance of our friends.
Hic. And yet
The chief imagination of Christendom,
Dante Alighieri, so utterly found himself
That he has made that hollow face of his
More plain to the mind's eye than any face
But that of Christ.
Ille. And did he find himself
Or was the hunger that had made it hollow
A hunger for the apple on the bough
Most out of reach? and is that spectral image
The man that Lapo and that Guido knew?
I think he fashioned from his opposite
An image that might have been a stony face
Staring upon a Bedouin's horse-hair roof
From doored and windowed cliff, or half upturned
Among the coarse grass and the camel-dung.
He set his chisel to the hardest stone.
Being mocked by Guido for his lecherous life,
Derided and deriding, driven out
To climb that stair and eat that bitter bread,
He found the unpersuadable justice, he found
The most exalted lady loved by a man.
Hic. Yet surely there are men who have made their art
Out of no tragic war, lovers of life,
Impulsive men that look for happiness
And sing when t"hey have found it.
Ille. No, not sing,
For those that love the world serve it in action,
Grow rich, popular and full of influence,
And should they paint or write, still it is action:
The struggle of the fly in marmalade.
The rhetorician would deceive his neighbours,
The sentimentalist himself; while art
Is but a vision of reality.
What portion in the world can the artist have
Who has awakened from the common dream
But dissipation and despair?
Hic. And yet
No one denies to Keats love of the world;
Remember his deliberate happiness.
Ille. His art is happy, but who knows his mind?
I see a schoolboy when I think of him,
With face and nose pressed to a sweet-shop window,
For certainly he sank into his grave
His senses and his heart unsatisfied,
And made - being poor, ailing and ignorant,
Shut out from all the luxury of the world,
The coarse-bred son of a livery-stable keeper --
Luxuriant song.
Hic. Why should you leave the lamp
Burning alone beside an open book,
And trace these characters upon the sands?
A style is found by sedentary toil
And by the imitation of great masters.
Ille. Because I seek an image, not a book.
Those men that in their writings are most wise,
Own nothing but their blind, stupefied hearts.
I call to the mysterious one who yet
Shall walk the wet sands by the edge of the stream
And look most like me, being indeed my double,
And prove of all imaginable things
The most unlike, being my anti-self,
And, standing by these characters, disclose
All that I seek; and whisper it as though
He were afraid the birds, who cry aloud
Their momentary cries before it is dawn,
Would carry it away to blasphemous men.
William Butler Yeats
¶ 25 de Janeiro de 2008
Esculpo a página a lápis
e um cheiro de bosque
então me aparece.
Que a poesia é feita de romãs
daquilo que é eterno
e de tudo que apodrece.
Neide Archanjo
¶ 25 de Janeiro de 2008
quando o século XIX começava
¶ 25 de Janeiro de 2008
1
Quando,
ansiosa,
pela primeira vez
pisares
a terra que te ofereço,
estarei presente
para auscultar,
no ar,
a viração suave do encontro
da lua que transportas
com a sólida
a materna nudez do horizonte.
Quando,
ansioso,
te vir a caminhar
no chão de minha oferta,
coloco,
brandamente,
em tuas mãos,
uma quinda de mel
colhido em tardes quentes
de irreversível
votação ao Sul.
2
Trago
para ti
em cada mão
aberta,
os frutos mais recentes
desse Outono
que te ofereço verde:
o mês mais farto de óleos
e ternura avulsa.
E dou-te a mão
para que possas
ver,
mais confiante,
a vastidão
sonora
de uma aurora
elaborada em espera
e refletida
na rápida torrente
que se mede em cor.
3
Num mapa
desdobrado para ti,
eu marcarei
as rotas
que sei já
e quero dar-te:
o deslizar de um gesto,
a esteira fumegante
de um archote
aceso,
um tracejar
vermelho
de pés nus,
um corredor aberto
na savana,
um navegável
mar de plasma
quente.
Ruy Duarte de Carvalho
¶ 25 de Janeiro de 2008
E fora assim: literalmente aos pés caído!
Se não lhe dera dado dela ser o benfeitor,
Do hedonista, de arrasto, em chão batido,
Restara um servo branco em seu penhor.
Se nem lhe dera ser o incubo incumbido,
Quedou-se ao seu prazer, sorvendo o odor,
Sob o corpo quente, acobreado, despido:
Contrastes! Leite,chocolate; frenesi, torpor...
Contraste! A veia azul realça a débil alvura,
A veia azul pulsante e o branco escravo:
Contraste! Subjugado, tatuado à pele escura,
Em seu ofício, obstinado, fincado, um cravo,
Um vibrante dardo trespassando com doçura,
Como cuida a um bom criado com desbravo.
Vicente Bastos
¶ 25 de Janeiro de 2008
Love can do all but raise the Dead
I doubt if even that
From such a giant were withheld
Were flesh equivalent
But love is tired and must sleep,
And hungry and must graze
And so abets the shining Fleet
Till it is out of gaze.
Emily Dickinson
¶ 24 de Janeiro de 2008
Barbara Strozzi, pintada por Bernardo, parente afastado da compositora, no século XVII veneziano.
¶ 24 de Janeiro de 2008
No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.
Sophia de Mello Breyner Andresen
¶ 24 de Janeiro de 2008
Do barro escorrido entre os dedos
Moldei o pouco que ficou entre as palmas
E tomou forma:
E as frágeis mãos esculpidas envolveram as minhas,
As mãos de carne sobre as minhas mãos de argila,
E moldaram-me pacientemente
À imagem e semelhança: mão e luva.
Convivência:
Mistura de barro e tempo...
Daniel Mazza
¶ 23 de Janeiro de 2008
lembrança veneziana
¶ 23 de Janeiro de 2008
Nos vinhedos da memória
Colhidas e pisadas
As lembranças vermelhas.
As sombras do vinhaço
renascem nos vinhedos:
Das lembranças vêm lembranças.
A culpa amarga enche
O cálice do coração
Com remorso tinto
Daniel Mazza, in A Cruz e a Forca, Fortaleza, 2007.
¶ 23 de Janeiro de 2008
At night Chinamen jump
on Asia with a thump
while in our willful way
we, in secret, play
affectionate games and bruise
our knees like China's shoes.
The birds push apples through
grass the moon turns blue,
these apples roll beneath
our buttocks like a heath
full of Chinese thrushes
flushed from China's bushes.
As we love at night
birds sing out of sight,
Chinese rhythms beat
through us in our heat,
the apples and the birds
move us like soft words,
we couple in the grace
of that mysterious race.
Frank O'Hara
¶ 23 de Janeiro de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
Tenho saudades
do tempo em que
o mundo era pequeno.
Era só ali.
E eu cabia nos ramos
das acácias
e não sabia do longe que existia.
só do perto
que sentia.
Andrea Paes
¶ 22 de Janeiro de 2008
sem razão aparente, um outro olhar
¶ 22 de Janeiro de 2008
Una luna de alfanje corta el valle de Morna.
La húmeda niebla envuelve
el asiento trasero del destino.
Una hoguera de almendros
esclarecía el desamor.
El viento se acerca,
como una presencia
infinita.
La carretera serpea en la distancia,
como los cuerpos olvidados que van a dar al mar.
El fósforo de la tarde se dilata en los campos,
y el mar hace creer en otra vida.
Suenan, a lo lejos,
los tambores de la playa,
una pavana ausente,
el agua desamparada.
Las palabras comen de tu mano,
como gaviotas de fuego,
como úlceras de la madera.
Tañedor de cuerpos,
tu tez se ilumina en la brisa y en la pena,
aldaba de la lluvia.
Pero la isla se cierra, como un amante,
sobre sí misma.
Recordó la noche en que casi perdió la razón.
Beatriz Hernanz Angulo
¶ 22 de Janeiro de 2008
a Annibal Augusto Gama
Subia os degraus da escada
sem ver o que estava à frente
Subia falando sozinho
sem ver que ia acompanhado
Subia grudado à parede
por ver a infinita altura
Subia poeticamente homem
sem ver o escarro no asfalto
Ao fim desta escadaria
agarrado ao corrimão
seu lento olho arredondou-se
Mirante aos olhos abertos
a Vida entre céu e mar
Versos estrondeando telas
telas embuçando versos
Toda parte cavaletes
todo lado papéis penas
Mal contida a harmonia
razia de poetas e pintores
Pincéis na mão contra os versos
fios de versos contra as tintas
No alto da filáucia, a máquina
do mundo há muito o esperava
Mesa posta só para ele
pães vinhos sonhos quimeras
Banquete aos olhos oferto
toda a vida a descoberto
Que me adianta ver além
do horto, se este cisco no olho?
E vazando incredulidade
à Tela e ao Texto imposto
a vista fez-se em negativas
Muros no Alto de Pinheiros
Bela Vista e saturados
olhos sobre o fim do mundo
Não sou o primeiro nem o último
a negar-se a ver o Todo?
Ao retirar do olho o cisco
voejaram letras borrões
Pergaminhos quase afônicos
pinturas precipitando-se
toda paisagem pela escada
paredes e altura abaixo
Marco Aqueiva, do livro inédito Passagens em Paisagem Obrigatória.
¶ 21 de Janeiro de 2008
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
¶ 21 de Janeiro de 2008
o dia em chiaro-oscuro
¶ 21 de Janeiro de 2008
Yo que sentí el horror de los espejos
no sólo ante el cristal impenetrable
donde acaba y empieza, inhabitable,
un imposible espacio de reflejos
sino ante el agua especular que imita
el otro azul en su profundo cielo
que a veces raya el ilusorio vuelo
del ave inversa o que un temblor agita
Y ante la superficie silenciosa
del ébano sutil cuya tersura
repite como un sueño la blancura
de un vago mármol o una vaga rosa,
Hoy, al cabo de tantos y perplejos
años de errar bajo la varia luna,
me pregunto qué azar de la fortuna
hizo que yo temiera los espejos.
Espejos de metal, enmascarado
espejo de caoba que en la bruma
de su rojo crepúsculo disfuma
ese rostro que mira y es mirado,
Infinitos los veo, elementales
ejecutores de un antiguo pacto,
multiplicar el mundo como el acto
generativo, insomnes y fatales.
Prolonga este vano mundo incierto
en su vertiginosa telaraña;
a veces en la tarde los empaña
el Hálito de un hombre que no ha muerto.
Nos acecha el cristal. Si entre las cuatro
paredes de la alcoba hay un espejo,
ya no estoy solo. Hay otro. Hay el reflejo
que arma en el alba un sigiloso teatro.
Todo acontece y nada se recuerda
en esos gabinetes cristalinos
donde, como fantásticos rabinos,
leemos los libros de derecha a izquierda.
Claudio, rey de una tarde, rey soñado,
no sintió que era un sueño hasta aquel día
en que un actor mimó su felonía
con arte silencioso, en un tablado.
Que haya sueños es raro, que haya espejos,
que el usual y gastado repertorio
de cada día incluya el ilusorio
orbe profundo que urden los reflejos.
Dios (he dado en pensar) pone un empeño
en toda esa inasible arquitectura
que edifica la luz con la tersura
del cristal y la sombra con el sueño.
Dios ha creado las noches que se arman
de sueños y las formas del espejo
para que el hombre sienta que es reflejo
y vanidad. Por eso no alarman.
Jorge Luis Borges
¶ 20 de Janeiro de 2008
Poderia dizer-te dos tendões e das mãos onde eles percorrem
o seu destino. Poderia dizer-te dos olhos se quisesse ser fácil
este verso, dizer-te do mar e ser evidente, ou das órbitas onde
gravito em cada sorriso teu e construir metáforas. Do fascínio
que as sobrancelhas me impõem nos dedos, dizer-te das nossas
conversas na faculdade, entre as teóricas e a foz, entre os
livros de ecologia dois e a tua ternura enquanto dissecavas,
tão gentilmente, o polvo. Dizer-te da lula, não do polvo, quis
mentir para esbracejar versos como tentáculos, manter viva
a tinta, a inteligência mais reconhecida. Ou dizer-te do choco
– era, isso sim, um choco de carapaça dura com que percorrias
o bisturi e onde mantinha o meu dedo segurando-lhe a pele e
entregando, desde cedo, o meu corpo ao teu cuidado. Poderia
dizer-te do sangue no corte profundo dos meus tendões, mas
quero saber o leitor focado antes nos teus, nas mãos com que
disse o primeiro verso. Vou dizer-te: os lábios. Como quem
diz nariz mas não pode, os poemas em que se dizem faces não
permitem outra pele que não a dos lábios, outro cheiro que não
o teu, outra boca que não a tua, próxima, interrompendo frases
e subindo colinas como só estes versos longos sobem. Poderia
dizer-te tudo mas tudo ficaria inaudito. Não há poema, em cinco
séculos de literatura, que te compare a elegância nos versos.
Nem Camões, nem Florbela, nem a nossa Rosário sussurrando-nos
a voz que conhecemos nos ouvidos quando a lemos, ninguém.
Pretensão enorme a minha, portanto, ultrapassar o feito e
inaugurar linguagem – aquela que te descreva como deve.
Poderia dizer-te se o soubesse como; ou o pudesse, pelo menos,
trazer dos versos do Ruy Belo como empréstimo, elaborar o meu
Elogio de Maria Teresa mudando-lhe o destinatário e em muito
as suas palavras. Poderia dizer-te se essas mesmas palavras
permitissem impor uma mulher no centro de uma vida, uma
menina inglesa, trazida também de Cambridge, quem sabe, uma
elegância alta e vertical e desejada, um cabelo e os óculos escuros,
poderia dizer-te. Mas não. Que a minha memória desafia o
leitor a imaginar os versos que não escrevo, dizer-te poema
final e definitivo, da completude dizer-te amor.
Jorge Reis-Sá
¶ 20 de Janeiro de 2008
I have come to bury Love
Beneath a tree,
In the forest tall and black
Where none can see.
I shall put no flowers at his head,
Nor stone at his feet,
For the mouth I loved so much
Was bittersweet.
I shall go no more to his grave,
For the woods are cold.
I shall gather as much of joy
As my hands can hold.
I shall stay all day in the sun
Where the wide winds blow, --
But oh, I shall cry at night
When none will know.
Sara Teasdale
¶ 20 de Janeiro de 2008
a imagem em si
¶ 20 de Janeiro de 2008
Terrível é o homem em quem o senhor
desmaiou o olhar furtivo das searas
ou reclinou a cabeça
ou aquele disposto a virar decisivamente a esquina
Não há conspiração de folhas que recolha
a sua despedida. Nem ombro para o seu ombro
quando caminha pela tarde acima
A morte é a grande palavra para esse homem
não há outra que o diga a ele próprio
É terrível ter o destino
da onda anónima morta na praia
Ruy Belo
¶ 20 de Janeiro de 2008
(excerto)
Al pan yo no le pido que me enseñe
sino que no me falte
durante cada día de la vida.
Yo no sé nada de la luz, de dónde
viene ni dónde va,
yo sólo quiero que la luz alumbre,
yo no pido a la noche
explicaciones,
yo la espero y me envuelve,
y así tú, pan y luz
y sombra eres.
Has venido a mi vida
con lo que tú traías,
hecha
de luz y pan y sombra te esperaba,
y así te necesito,
así te amo,
y a cuantos quieran escuchar mañana
lo que no les diré, que aquí lo lean,
y retrocedan hoy porque es temprano
para estos argumentos.
Mañana sólo les daremos
una hoja del árbol de nuestro amor, una hoja
que caerá sobre la tierra
como si la hubieran hecho nuestros labios,
como un beso que cae
desde nuestras alturas invencibles
para mostrar el fuego y la ternura
de un amor verdadero.
Pablo Neruda
¶ 19 de Janeiro de 2008
Cuando el silencio de las noches
envuelve en el descanso
las vidas agitadas
por los trajines del día.
Cuando al alba, al despertar,
los primero rayos del sol
nos anuncian que sigue la vida.
Cuando todo está en silencio
allí están esas voces,
con rostros inventados,
con cuerpos de fantasía,
que transmiten sensaciones
y nos brindan compañía.
Cuando todo está en penumbras
allí estan esas voces,
que amigas del viento y del tiempo
se esconden en los rincones
de corazones solitarios
que buscan esa voz amiga...
esa voz...
que con cuerpo imaginario
cruza mares y cielos
para llegar al corazón
de todo el mundo y de cada pueblo.
Teresa Aburto Uribe
¶ 19 de Janeiro de 2008
à espera que o tempo passe....
¶ 19 de Janeiro de 2008
sólo la sed
el silencio
ningún encuentro
cuídate de mí amor mío
cuídate de la silenciosa en el desierto
de la viajera con el vaso vacío
y de la sombra de su sombra
Alejandra Pizarnik
¶ 19 de Janeiro de 2008
A flower was offered to me;
Such a flower as May never bore.
But I said I've a Pretty Rose-tree.
And I passed the sweet flower o'er.
Then I went to my Pretty Rose-tree:
To tend her by day and by night.
But my Rose turnd away with jealousy:
And her thorns were my only delight.
William Blake
¶ 19 de Janeiro de 2008
a pin up desenhada em Bolonha
¶ 19 de Janeiro de 2008
(a Ruy Belo)
Este homem procura as cores mais secas do nosso entendimento;
vai connosco até à rua; responde-nos
um cigarro primeiro, uma construção na areia, depois um ferro
a espetar nas dunas e no mar
enquanto o mar houver e a paz durar;
come connosco à nossa própria mesa; ama a nossa mulher
e experimenta o odor da nossa casa aonde os nossos filhos
lhe entram pelos joelhos, o cobrem de carícias, lhe atiram
a satisfeitíssima bola de brincarmos aos adultos quando é tarde
ou os dias apresentam um cariz de pouca chuva.
Divide o nosso frango, a frugal fruta, as sobras do almoço
e sai-nos portas dentro quando o pôr-do-sol, a solução
do sol, o sol
das terras de portugal e das noites de madrid
dialoga connosco, connosco estabelece a nítida fronteira
entre aeroportos, casas – oh as casas – e a mulher que,
podendo ser a de um estivador, do camisola amarela, desse
irreverente basquetebolista que por um grande azar
não é das nossas relações,
foi, é, será sempre a mulher
encontrada e perdida na poeira, nas arcas,
nas infâncias multicoloridas
que parcimoniosamente nos excedem.
Procura, sim, procura as cores do nosso entendimento;
bebe do nosso vinho; vai à missa connosco; veste-nos
a pele de lobos esfaimados nesta selva de ratos onde os ratos
se confundem com navalhas, intelectuais empalhados, inquiridores
por conta d'outrem (e própria), só para que o amor
um pouco sobreviva, exíguo e tenso, ri
às bandeiras despregadas como só um menino, como só
alguém que sabe da poda pode rir
enquanto os táxis, o choro, as dores de consciência
– que afinal não há, embora os cais... – atravessam o meio-dia,
desesperadamente.
Ah, este homem procura as cores mais secas
do nosso entendimento; limpa-se
às nossas toalhas; chega
ao extremo de utilizar a escova privada da nossa privadíssima
higiene; rompe
os nossos sapatos (meias inclusive); joga
à pancada connosco, ao eixo; e rouba-nos a carteira
como só quem sabe sorrir pode roubar-nos, pode assinar
de cruz por nós, solucionar
o problema da nossa talvez habitação
sem prestígio nenhum, ao menos uma praia de consolação
em que morrer
com o mesmo à vontade, modéstia e alegria
deste homem que procura,
procura as cores mais secas do nosso entendimento.
Amadeu Baptista
¶ 18 de Janeiro de 2008
entre Ferrara e Bolonha, no renascimento italiano.
¶ 18 de Janeiro de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
pode nem sempre ser assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
nesse silêncio que eu sei, ou nessas
palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;
se assim for, eu digo se assim for ?
tu do meu coração, manda-me um recado;
que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.
e. e. cummings, trad. Jorge Fazenda Lourenço
¶ 18 de Janeiro de 2008
É um frio tremendo.
A água gela nas torneiras, a solidão
cresce com uma unha, uma sombra
atrai todas as camisas de silêncio, arde, é uma noite
encerrando os perigos da perdição, os ferros agudíssimos
do silêncio.
É um frio tremendo.
Perde-se o caminho de casa, a luz extingue-se,
pergunta-se pelo sangue e o sangue não responde, o sangue
perde-se aos borbotões na vida, não há caminho, não há
regresso, a sereia canta
no denso nevoeiro, mas não há esperança, a tempestade
é o único lugar, o único lençol, a voz velocíssima
entregando-nos sem rendição, entregando-nos.
Como uma agulha fecha-nos os lábios, ata-nos
as mãos, como uma agulha de silêncio, feroz, terrível,
cose-nos
contra as paredes e os olhos saltam, saltam, é um frio tremendo
onde tudo arde,
arde antiquíssimo, flecha no coração, solidão
descendo o braço, descendo devagar, espraiando-se
na terrível superfície do silêncio.
Amadeu Baptista
¶ 18 de Janeiro de 2008
Fame is a fickle food
Upon a shifting plate
Whose table once a
Guest but not
The second time is set.
Whose crumbs the crows inspect
And with ironic caw
Flap past it to the
Farmer's Corn—
Men eat of it and die.
Emily Dickinson
¶ 18 de Janeiro de 2008
manhã cedo, a cor do dia
¶ 17 de Janeiro de 2008
Se eu vos disser que o mar que agora encaro
me faz um bem supremo ou mal me ampara,
é vero que o seu sal, de gosto extremo,
talvez vos teça a fé que me declara
ser tão feliz que a morte a mim me esqueça
ou sofrimento é só com que deparo.
Mas neste mesmo mar, se eu ponho o vento
vagando pelas crispas das marolas,
haveis de crer que sinto ser mais brando
o que já imaginais das priscas horas;
o que antes era júbilo é só paz,
não passa de um queixume o tal lamento.
E se eu não venho a por escuro ou lume
na tela que o sentido me extravasa,
é que vos trago a forma mais singela
de respeitar o céu que vos abrasa:
deixando, pra tintura do papel
o vosso sentimento que nos une.
Jaumir Valença da Silveira
¶ 17 de Janeiro de 2008
Com o acre mel do deserto
De ouro veste-se o nome
Pronunciado na guerra.
O sol fecunda as espadas
Retesa o arco certeiro
E o sete nasce da pedra
No silêncio alumioso
Da noite mal-assombrada
Mistura o grito viçoso
Eis a palavra afiada
Nos pastos da solidão
Dentro do silêncio limpo
Voz de toda precisão
Janice Japiassu
¶ 17 de Janeiro de 2008
Dois olhos cerrados.
Dois lábios suaves e sábios,
tremendo, calados...
Jairo de Raguna Cabral
¶ 17 de Janeiro de 2008
entre o sonho e a vigília
¶ 17 de Janeiro de 2008
Se me va de los dedos la caricia sin causa,
se me va de los dedos... En el viento, al pasar,
la caricia que vaga sin destino ni objeto,
la caricia perdida ¿quién la recogerá?
Pude amar esta noche con piedad infinita,
pude amar al primero que acertara a llegar.
Nadie llega. Están solos los floridos senderos.
La caricia perdida, rodará... rodará...
Si en los ojos te besan esta noche, viajero,
si estremece las ramas un dulce suspirar,
si te oprime los dedos una mano pequeña
que te toma y te deja, que te logra y se va.
Si no ves esa mano, ni esa boca que besa,
si es el aire quien teje la ilusión de besar,
oh, viajero, que tienes como el cielo los ojos,
en el viento fundida, ¿me reconocerás?
Alfonsina Storni
¶ 16 de Janeiro de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
Deito fora as imagens.
Sem ti, para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.
Raul de Carvalho
¶ 16 de Janeiro de 2008
para reconocer en la sed mi emblema
para significar el único sueño
para no sustentarme nunca de nuevo en el amor
he sido toda ofrenda
un puro errar
de loba en el bosque
en la noche de los cuerpos
para decir la palabra inocente
Alejandra Pizarnik
¶ 16 de Janeiro de 2008
São Cristóvão, ou a dificuldade dos caminhos
¶ 16 de Janeiro de 2008
Olhou para o espelho
Com as lâmpadas acesas
E sentiu que perdera o desejo antigo
De ver claro através de si mesma.
Que diferença fazia, afinal,
Saber quem era?
Ou quem não era?
Também já não lhe interessava saber
Se era o seu espírito que agia sobre seu corpo,
Ou o contrário,
Como chegara a temer.
Afastou-se do espelho
E seu olhar encontrou
O olhar do homem sorridente,
Deitado em sua cama.
Brotou em seu coração uma clareza
Quente e doce,
Como açúcar queimado.
Compreendeu que a força de uma alma
Está nos momentos de ventura
Que se vive,
Como o brilho de aceitação
No olhar de quem se ama.
Luiz Bello
¶ 15 de Janeiro de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
Que saia a última estrela
da avareza da noite
e a esperança venha arder
venha arder em nosso peito
E saiam também os rios
da paciência da terra
É no mar que a aventura
tem as margens que merece
E saiam todos os sóis
que apodrecem no céu
dos que não quiseram ver
-mas que saiam de joelhos
E das mãos que saiam gestos
de pura transformação
Entre o real e o sonho
seremos nós a vertigem
Alexandre O' Neill
¶ 15 de Janeiro de 2008
há dias feitos assim...
¶ 15 de Janeiro de 2008
a vida toda busquei estrelas
sorrisos fartos, vida prazerosa
sem saber que de fato a mim um amor
bastava.
Alceu Brito Correa
¶ 14 de Janeiro de 2008
De manhã eu sei que o sol vai morrer
depois das dezoito horas.
Mas não me apavoro.
Ele pode morrer antes, se quiser.
Há muito tempo que a minha vida é uma sucessão de expectativas.
Nenhuma delas realizada.
Por isso espero o sol morrer depois das dezoito horas
e ele morre.
Uma tarde, quando o sol era uma estrela cadente,
eu pedi para uma bailarina nascer no lugar da lua.
Mas não nasceu.
Primeiro porque nenhuma bailarina vai nascer no lugar da lua.
Depois porque, se nascesse, não seria uma bailarina.
Mas uma deusa. Eu ri. Não porque fosse impossível
uma deusa nascer no lugar da lua.
Mas porque as deusas não nascem mais.
Elas se afogaram nos Lusíadas e nunca mais emergiram.
Estão lá, no fundo de um poema,
presas às barbas e aos cabelos de Netuno.
Camões que o diga. Ele que teceu
os raios de luar no rosto de Netuno
e deu-lhe o nome de Vasco da Gama.
Natalício Barroso
¶ 14 de Janeiro de 2008
graça antiga
¶ 14 de Janeiro de 2008
Uma palavra, outra mais, e eis um verso,
doze sílabas a dizer coisa nenhuma.
Trabalho, teimo, limo, sofro e não impeço
que este quarteto seja inútil como a espuma.
Agora é hora de ter mais seriedade,
para essa rima não rumar até o inferno.
Convoco a musa, que me ri da imensidade,
mas não se cansa de acenar um não eterno.
Falar de amor, oh pastor, é o que eu queria,
porém os fados já perseguem teu poeta,
deixando apenas a promessa da poesia,
matéria bruta que não coube no terceto.
Se o deus frecheiro me lançasse a sua seta,
eu tinha a chave pra trancar este soneto.
Antonio Carlos Secchin
¶ 13 de Janeiro de 2008
soleil de nuit, uma imagem hoje politicamente incorrecta.... pelo cigarro, claro.
¶ 13 de Janeiro de 2008
todas as palavras são pretas
todos os gatos são tardos
todos os sonhos são póstumos
todos os barcos são gélidos
à noite são os passos todos trôpegos
os músculos são sôfregos
e as máscaras, anêmicas
todos pálidos, os versos
todos os medos são pânicos
todas as frutas são pêssegos
e são pássaros todos os planos
todos os ritmos são lúbricos
são tônicos todos os gritos
todos os gozos são santos
Antonio Carlos Secchin
¶ 13 de Janeiro de 2008
Tão logo os macacos chegam gagos
qualquer papagaio de crista verde
e azuis penas, cheio do marginado
limo – o muro de arrimo que o prende
não torna a declamar direito
com mesmo prazer do azul quimérico
se o beco esvaziado do verde
for higienicamente amarelo
não apreende o irreverente belo
se mal for do paredão além
fizer da conveniência estridência
Marco Aqueiva
¶ 13 de Janeiro de 2008
They sentenced me to twenty years of boredom
For trying to change the system from within
I'm coming now, I'm coming to reward them
First we take Manhattan, then we take Berlin.
I'm guided by a signal in the heavens
I'm guided by this birthmark on my skin
I'm guided by the beauty of our weapons
First we take Manhattan, then we take Berlin.
I'd really like to live beside you, baby
I love your body and your spirit and your clothes
But you see that line there moving through the station?
I told you, I told you, told you, I was one of those
Ah you loved me as a loser, but now you're worried that I just might win
You know the way to stop me, but you don't have the discipline
How many nights I prayed for this, to let my work begin
First we take Manhattan, then we take Berlin
I don't like your fashion business mister
And I don't like these drugs that keep you thin
I don't like what happened to my sister
First we take Manhattan, then we take Berlin
I'd really like to live beside you, baby
I love your body and your spirit and your clothes
But you see that line there moving through the station?
I told you, I told you, told you, I was one of those
And I thank you for those items that you sent me
The monkey and the plywood violin
I practiced every night, now I'm ready
First we take Manhattan, then we take Berlin
Remember me? I used to live for music
Remember me? I brought your groceries in
Well it's Father's Day and everybody's wounded
First we take Manhattan, then we take Berlin
Leonard Cohen
¶ 13 de Janeiro de 2008
(excerto)
Que caminhos terei de percorrer
para chegar à cauda do arco-íris?
Despachei emissários
soprei clarins
pus os fins pelos meios
e os meios pelos fins
abusando dos golpes temerários.
Da aurora descem as mulas com a farinha
partem do ocaso os trens em disparada
cheios de mimos
os navios reboam suas buzinas
na bruma densa
cavalgo uma águia branca sobre o vale.
Juarez Leitão
¶ 13 de Janeiro de 2008
jogo de sombras
¶ 13 de Janeiro de 2008
no fim, tudo é uma questão de pele
centímetros quadrados de sensibilidade
em busca da possibilidade de toque ou de dor
depois os pêlos
a dobrar em arrepios ao quase contato
beijar o fogo e sentir seus dentes com a língua
beber teu líquido como mel
esculpir rosas na carne de minhas costas
corações e entrelaçados celtas
tuas unhas
bisturis de queratina escarnada
escorpiões com ferrões de fogo
a correr da nuca aos calcanhares
quando acordar e for embora
não esqueça de trancar a porta
para que a rua não possa entrar neste quarto azul
Edson Bueno de Camargo
¶ 13 de Janeiro de 2008
Volcanoes be in Sicily
And South America
I judge from my Geography—
Volcanos nearer here
A Lava step at any time
Am I inclined to climb—
A Crater I may contemplate
Vesuvius at Home.
Emily Dickinson
¶ 12 de Janeiro de 2008
o eterno dragão, prestes a ser vencido, ou a libertação de Andrómeda
¶ 12 de Janeiro de 2008
este poema
fragmento de estrela
mergulhando em um buraco-negro
na sua extrema agonia
da gravidade presa na palavra
da língua inflamada em gazes estelares
da gangrena da sintaxe e do léxico
de cálculos de astrônomos imprecisos
que o juntar de letras
lapidadas em pedras
é desalento e desterro
e estas dormentes nos signos obscuros
se perdem entre o significado e significando
poço que percorre os diversos mundos e as dimensões
de tão escuro que absorve toda a luz
Edson Bueno de Camargo
¶ 12 de Janeiro de 2008
Eu,
que venho de tempestades,
anuncio a calmaria.
A violência
que existia em mim
rasguei na bala.
José Inácio Vieira de Melo
¶ 12 de Janeiro de 2008
Rasgo a língua em pedaços:
este amor e as palavras
sangram.
Coisa cheia de vida,
a linguagem: vinho.
Venha.
Yêda Schmaltz
¶ 12 de Janeiro de 2008
Eu não vim para molestar o sentimento
daqueles que perderam o caminho das lágrimas.
Nem tampouco para ulcerar a dignidade sacra
do pão sobre a mesa. Eu vim, amigo, para falar
desta ferramenta fundamental que é a vida,
destes olhos naufragados na rebelião de um pranto,
da tristeza sem fim de minha mãe
que toma remédio de hora em hora,
do cansaço comprido de seus olhos
pedindo sossego pro mundo —
sobretudo, amigo, para falar
do regresso imponderável de todas as manhãs
da estrela magnífica que clareia
como espuma
nos olhos da lavadeira,
daqueles que trabalham com os mortos
e sabem de cor a numeração das lágrimas,
dos que constroem apartamentos
e dormem em camas de zinco,
dos que tiram fotografias
ao lado dos políticos,
da poesia, sobretudo da poesia,
que é mais forte que um boi
na canga de seu ofício,
da poesia
que é mais vulgar
que um beijo no prostíbulo
da poesia
que cancela o desespero
que maltrata o sofrimento
que proclama a paz
da poesia
que navega em nosso corpo
como um grito numa mansão deserta
da poesia
que é mais bela
que um trem na mata
da poesia
que é mais bela
que um cantil cheio d'água
da poesia
sobretudo da poesia,
que é como a presença de um rio
entrando pela noite dos escombros,
— ave muito clara, ternura,
deixa-me morrer
entre as estrelas.
Gabriel Nascente
¶ 12 de Janeiro de 2008
o beijo
¶ 12 de Janeiro de 2008
Water in the millrace, through a sluice of stone,
plunges headlong into that black pond
where, absurd and out-of-season, a single swan
floats chaste as snow, taunting the clouded mind
which hungers to haul the white reflection down.
The austere sun descends above the fen,
an orange cyclops-eye, scorning to look
longer on this landscape of chagrin;
feathered dark in thought, I stalk like a rook,
brooding as the winter night comes on.
Last summer's reeds are all engraved in ice
as is your image in my eye; dry frost
glazes the window of my hurt; what solace
can be struck from rock to make heart's waste
grow green again? Who'd walk in this bleak place?
Sylvia Plath
¶ 11 de Janeiro de 2008
What, younger, felt
was possible, now knows
is not - but still
not chanted enough -
Walked by the sea,
unchanged in memory -
evening, as clouds
on the far-off rim
of water float,
pictures of time,
smoke, faintness -
still the dream.
I want, if older,
still to know
why, human, men
and women are
so torn, so lost,
why hopes cannot
find better world
than this.
Shelley is dead and gone,
who said,
"Taught them not this -
to know themselves;
their might could not repress
the mutiny within,
And for the morn
of truth they feigned,
deep night
Caught them ere evening . . ."
Robert Creeley
¶ 11 de Janeiro de 2008
o tempo gravado no rosto
¶ 11 de Janeiro de 2008
Quando até sobre o tarde navegavam
a luz que dentro vinha sobrepunha
a lantejoula aguda de outro sol
ao passo opaco, idêntico, cercando
os braços intranquilos, a surpresa
que só de pressentida lhes doía.
Ao frio sal que sob os pés sentiam
e à escuridão mais fundo, ao sonolento
e bruto som da corda e da madeira,
às dores de fome e ao gemido fraco
duma saudade parda, à solidão
sem espelho, à gula insaciada, ao medo
- a tudo combatia uma paixão
neles tão nova, nevoenta outrora,
qual a de ver, de ver de olhos abertos
até sentir no roçagar dos dedos,
a mínima paisagem, mais total
que os montes lerdos, pátrios e trocados:
a crispação da vela, o peixe lento
de súbito surgindo, ignotas flores,
cores purulentas, vasto e escasso espaço
para estrídulos pássaros abertos
e outra vida mor,
e ainda bruma
que não sabem se é deste ou doutro sonho.
Pedro Tamen
¶ 11 de Janeiro de 2008
antemanhã
¶ 11 de Janeiro de 2008
Escrevo-te de perto, como se a mão
te fosse objecto breve aflorado,
como se da rua te chegasse
a certeza pequena para a compra
dos minutos seguintes. De perto
como o sol, como a cigarra.
Como um silêncio cheio
que te viesse aos olhos de manhã
e amar-te fosse a roupa
escolhida ao começar o dia.
Pedro Tamen
¶ 10 de Janeiro de 2008
o vento
acaricia o dia
na relva sonolenta
lentamente
o dia caminha
a trilha do tempo
o silêncio da luz
sorriso-escuro sem força
e o chão
José Geraldo Neres
¶ 10 de Janeiro de 2008
Lady Hamilton, novamente
¶ 10 de Janeiro de 2008
Falo de ti
sob os ásperos semáforos
da rua que quase enlouqueceu.
E rememoro tuas pernas e teus braços
e ponho a mão onde puseste o passo
eco da antiga claridade que era assim.
E abrindo a tampa do oblíquo alçapão,
sob todos os cílios, baixo as pálpebras
acossada por centenas de pássaros
cheirando a ervas ruminadas
na boca trêmula da dupla lua.
Eu transeunte, embora,
de uma outra,
nesta rua louca, perdida, impregnada,
dobro a esquina onde uma rapariga se esfuma
guarida alhures, lá, pelas bandas do mar.
Então, rouca, choro e saúdo uma nova lua
clara, tão clara, tão rara!
Onde se avivam rastros de mim.
Inez Figueredo
¶ 10 de Janeiro de 2008
O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.
Pedro Tamen
¶ 10 de Janeiro de 2008
O último impulso do segundo antes
ao projetar-se no após segundo
risca no tempo cicatrizes, fendas...
(o largo corte invariável, sempre)
que esculpe a forma virtual do instante
no confundível e abstrato mármore,
imagem sólida do momento único.
Majela Colares
¶ 10 de Janeiro de 2008
Sonho-te real, em lágrimas de mar,
refaço as mãos, tuas raízes verdes,
conto e reconto as horas que passámos.
Repiso os passos, rasgo a estrada branca,
renasço em cada gesto que fizemos,
beijo-te outra vez, ajoelhado...
Enquanto longos, dolorosos versos
nas veias vão doendo
Pedro Tamen
¶ 10 de Janeiro de 2008
as três graças de Grien a iluminar um dia com sol dentro
¶ 9 de Janeiro de 2008
Meia face de sol - a tarde finda
nos limites do céu e da calçada.
Uma tarde partida, quando ainda
refletida entre cores, desbotada.
Aquarela dispersa - morte linda.
(Colorido de tez avermelhada)
mas o tempo ilusório fez infinda
meia face de sol desfigurada.
Murchas pétalas de horas finge o monte
rente a linha deserta do horizonte
feito rosa pendida... rosa-flores.
Nos limites da sombra projetada
nos contornos da noite aproximada
percebo o tempo farejando as cores.
Majela Colares
¶ 9 de Janeiro de 2008
a imagem imaginada
¶ 9 de Janeiro de 2008
Aprendi na coincidência dos encontros
Na voz da hierarquia
Na cama de estranhos
No copo das bebidas
No cheiro do cigarro e do perfume
Do sexo
Da noite
E
Do dia
Aprendi a observar tantas vidas
E por sentir pena ou rir de tanta ironia
Aprendi a canonizar minha alma progressiva
Profeta
Artista e navegador
Conquistei um tanto por nada
Na topografia
Na concessão de favores
Na obstinação de prazeres
No orgulho de minha frota
Da carne deixei marcas
Sem penar
Meu pêndulo penitência
De todas investidas
Sérgio Godoy
¶ 9 de Janeiro de 2008
A luz antepassada se insinua
pelo longo percurso dos meus mortos.
Eu era no ancestral pressentimento.
Tange-me um brilho em noites abissais.
Sou e contemplo a cor do sempre-tempo.
Eles se foram no ontem, devagar.
Cavaleiros velozes, já regressam.
Fui dos meus ancestrais sangue futuro.
Luciano Maia
¶ 9 de Janeiro de 2008
The heart can think of no devotion
Greater than being shore to the ocean—
Holding the curve of one position,
Counting an endless repetition.
Robert Frost
¶ 8 de Janeiro de 2008
¶ 8 de Janeiro de 2008
A mim pouco me importa
aberta ou fechada a porta,
vou entrar.
E pouco me importa estar
sendo amada ou não amada:
vou amar.
Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!
A mim pouco me importa
se a tua amada é doente,
se a tua esperança é morta.
E me importa muito menos
se aceitas solenemente
nossa vida parca e torta.
Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.
A mim pouco me importa
se a lira quebrou a corda:
vou cantar.
E pouco me importa estar
no picadeiro do circo:
vou rodar.
Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!
A mim pouco me importa
se estamos todos presos
por uma invisível corda.
E me importa muito menos
sermos todos indefesos
ante o destino que corta.
Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.
Yêda Schmaltz
¶ 8 de Janeiro de 2008
¶ 8 de Janeiro de 2008
O teu centauro te espera,
monta em seu dorso
e vê o mundo pelos olhos da esfinge:
és o enigma, não o decifrador.
A gente se enche de calo,
a gente pensa que sabe,
a gente se desespera até,
mas não abre mão de estar aqui.
O teu centauro te espera
e o mundo é tudo o que a gente percebe:
é só sair por aí descobrindo
o que nunca vai ser teu.
E quando for noite alta
e os acordes de uma aquarela
luzirem dentro de teu espírito,
deixa o centauro que habita em ti
galopar, galopar, galopar
e transcender a ti e as tuas explicações.
Há de existir um lugar
onde os teus mistérios possam descansar.
José Inácio Vieira de Melo
¶ 7 de Janeiro de 2008
Buonarroti, o renascentista florentino
¶ 7 de Janeiro de 2008
Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.
Clarice Lispector
¶ 7 de Janeiro de 2008
¶ 7 de Janeiro de 2008
Do not because this day I have grown saturnine
Imagine that lost love, inseparable from my thought
Because I have no other youth, can make me pine;
For how should I forget the wisdom that you brought,
The comfort that you made? Although my wits have gone
On a fantastic ride, my horse's flanks are spurred
By childish memories of an old cross Pollexfen,
And of a Middleton, whose name you never heard,
And of a red-haired Yeats whose looks, although he died
Before my time, seem like a vivid memory.
You heard that labouring man who had served my people.He said
Upon the open road, near to the Sligo quay -
No, no, not said, but cried it out - 'You have come again,
And surely after twenty years it was time to come.'
I am thinking of a child's vow sworn in vain
Never to leave that valley his fathers called their home.
William Butler Yeats
¶ 6 de Janeiro de 2008
a noite já desceu sobre este dia de Reis; fechando a época de Natal, a pintura de um espanhol "tenebrista".
¶ 6 de Janeiro de 2008
Night closed my windows and
The sky became a crystal house
The crystal windows glowed
The moon
shown through them
through the whole house of crystal
A single star beamed down
its crystal cable
and drew a plough through the earth
unearthing bodies clasped together
couples embracing
around the earth
They clung together everywhere
emitting small cries
that did not reach the stars
The crystal earth turned
and the bodies with it
And the sky did not turn
nor the stars with it
The stars remained fixed
each with its crystal cable
beamed to earth
each attached to the immense plough
furrowing our lives
Lawrence Ferlinghetti
¶ 6 de Janeiro de 2008
do corpo, a força visível
¶ 6 de Janeiro de 2008
Ah, são as mulheres que nos prendem à terra, a velha terra-mãe, eu sei, eu sei! São elas que nos salvam do silêncio implacável, do esquecimento definitivo, elas que nos transportam ao futuro, à imortalidade na espécie (nem teremos outra) pelo fruto bendito do seu ventre (eu sei, eu sei...)
Luiz Pacheco (1925-2008), in Comunidade
¶ 6 de Janeiro de 2008
gravura oitocentista, de Gustave Doré, nascido num dia de reis em Estrasburgo.
¶ 6 de Janeiro de 2008
Love is my sin, and thy dear virtue hate,
Hate of my sin, grounded on sinful loving,
O, but with mine, compare thou thine own state,
And thou shalt find it merits not reproving,
Or if it do, not from those lips of thine
That have profaned their scarlet ornaments
And sealed false bonds of love as oft as mine,
Robbed others' beds' revenues of their rents.
Be it lawful I love thee as thou lov'st those
Whom thine eyes woo as mine importune thee.
Root pity in thy heart, that when it grows
Thy pity may deserve to pitied be.
If thou dost seek to have what thou dost hide,
By self-example mayst thou be denied!
William Shakespeare
¶ 5 de Janeiro de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
As coisas importantes só olhas uma vez
mas sua imagem se repete muitas vezes dentro de ti
como um eco.
As coisas importantes que estão dentro de ti
e se repetem constantemente
já não estão presas ao que olhaste atento
mas no silêncio que tens dentro
se libertaram e tornaram incertas.
As coisas importantes no teu dentro
só já a ti pertencem
e nada do que está fora de ti as lembra agora.
As coisas importantes metes numa caixa
que com paciência vais abrindo aos poucos
para esqueceres as muralhas de outro tempo.
Jall Sinth Hussein
¶ 5 de Janeiro de 2008
penúltima desta série, uma sagrada família ao gosto do barroco
¶ 5 de Janeiro de 2008
(soneto sonolento, ao acordar)
Quando a luz da manhã penetra pelas fímbrias
da cortina, eu percebo a escuridão de tudo
sumindo pouco a pouco; em pouco tempo, o mundo
invade a solidão e rouba ao sonho a vida.
Quando a sombra de tudo assoma e expõe o corpo
e a mente ao modo cru, entre o sono e a vigília,
não há nada a versar, pois que já testa a língua
o amargo amanhecer para um poema roto.
Na sombra-e-luz do dia, a escuridão se abriga
sob os meus olhos, livre e plena de sentidos,
embora nem eu saiba o que isto significa.
À luz do dia, fecho os olhos, sonho e vejo:
se este verso pudesse, enfim, levar-me além
de mim, a escuridão saciaria o desejo.
Luís Antonio Cajazeira Ramos
¶ 5 de Janeiro de 2008
(Bic Poem)
gosto de me sentir vivo,
de ver a vida se depositando,
como a tinta da caneta,
no traço indeciso do poema,
misterioso como as palavras,
que eu não sei de onde vieram
Mauro Mendes
¶ 5 de Janeiro de 2008
É simples meu legado:
muito mais aprendi cada vez que ensinei.
O que fui, esqueci; só lembro do que fiz.
Perdi tudo que tive, só ganhei o que dei,
e nas vezes que amei, foi que me fiz amado.
Osmard Andrade Faria
¶ 4 de Janeiro de 2008
a mesma Simonetta, relembrada por Sandro em retrato póstumo, depois de ter sido modelo do pintor no célebre Nascimento de Vénus.
¶ 4 de Janeiro de 2008
One that is ever kind said yesterday:
'Your well-beloved's hair has threads of grey,
And little shadows come about her eyes;
Time can but make it easier to be wise
Though now it seems impossible, and so
All that you need is patience.'
Heart cries, 'No,
I have not a crumb of comfort, not a grain.
Time can but make her beauty over again:
Because of that great nobleness of hers
The fire that stirs about her, when she stirs,
Burns but more clearly.O she had not these ways
When all the wild Summer was in her gaze.'
Heart! O heart! if she'd but turn her head,
You'd know the folly of being comforted.
William Butler Yeats
¶ 4 de Janeiro de 2008
Simonetta Cattaneo Vespucci, La Sans Pareille de Florença quatrocentista.
¶ 4 de Janeiro de 2008
I live in the Twentieth Century
and you lie here beside me. You
were unhappy when you fell asleep.
There was nothing I could do about
it. I felt hopeless. Your face
is so beautiful that I cannot stop
to describe it, and there's nothing
I can do to make you happy while
you sleep.
Richard Brautigan
¶ 3 de Janeiro de 2008
Today, from a distance, I saw you
walking away, and without a sound
the glittering face of a glacier
slid into the sea. An ancient oak
fell in the Cumberlands, holding only
a handful of leaves, and an old woman
scattering corn to her chickens looked up
for an instant. At the other side
of the galaxy, a star thirty-five times
the size of our own sun exploded
and vanished, leaving a small green spot
on the astronomer's retina
as he stood on the great open dome
of my heart with no one to tell.
Ted Kooser
¶ 3 de Janeiro de 2008
a onda
¶ 3 de Janeiro de 2008
I cannot be ashamed
Because I cannot see
The love you offer—
Magnitude
Reverses Modesty
And I cannot be proud
Because a Height so high
Involves Alpine
Requirements
And Services of Snow.
Emily Dickinson
¶ 3 de Janeiro de 2008
(excerto)
Sonda teu elemento com perícia mas denodo,
Não deixes o recôndito esquecido,
Nele há tesouros que ainda não fulguram
Por lhes faltarem olhos que os vejam.
Vai mais fundo, explora os teus recursos mais íntimos,
A força potencial que jaz nestas escamas
Que tatalaram como virgens rêmiges,
Um dia nas alturas.
Usa teus olhos oblíquos para veres na sombra
O que muitos não vêem em pleno dia,
Sê tu mesmo, sabendo bem que podes
Ser outro, muitos mais, ser legião, miríade
Sem trair o que de mais teu trazes contigo.
Amanhã, serás outro meu amigo.’
E ouvindo o Poeta descobri que havia
Algo de mais recôndito na imagem:
Além de toda essa mitologia,
Há no peixe uma última mensagem.
A de que é a Poesia um peixe-alado
E o Poeta um ser que busca o vir-a-ser.
Vive para dar vida ao Incriado,
Que a missão do Poeta é transcender.
Ivo Barroso
¶ 3 de Janeiro de 2008
a beleza suave de Margarida, condessa de Blessington
¶ 3 de Janeiro de 2008
Noutro lugar de mim
mas mesmo assim
ainda em mim,
tu, um deus,
vizinho em mim,
por tênues tabiques separado,
trazes as cadeiras e as mesas,
os lençóis e as frutas do jardim.
Embora o cão rosne,
a lâmpada do poste se apiede
dos fantasmagóricos signos da calçada
ainda assim, tu, isto em mim,
instala–te na clareira, barroso chão,
apodera-te da única cadeira
e em mim navegas
naquela madeira à deriva, poeira,
do porão do meu rosto.
Inez Figueredo
¶ 3 de Janeiro de 2008
A single photograph
--portrait of the moment--
is an inexhaustible epic,
a living tale beyond words
superior to a hundred volumes
written and fixed.
A photograph
is consciousness painting,
the instant's art that opens
on the unbounded vistas
of the inner life.
Daisaku Ikeda
¶ 2 de Janeiro de 2008
um dos favoritos, este belo presépio, delicado e discreto.
¶ 2 de Janeiro de 2008
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.
Mario Benedetti
¶ 2 de Janeiro de 2008
what if a much of a which of a wind
gives the truth to summer's lie;
bloodies with dizzying leaves the sun
and yanks immortal stars awry?
Blow king to beggar and queen to seem
(blow friend to fiend: blow space to time)
-when skies are hanged and oceans drowned,
the single secret will still be man
what if a keen of a lean wind flays
screaming hills with sleet and snow:
strangles valleys by ropes of things
and stifles forests in white ago?
Blow hope to terror; blow seeing to blind
(blow pity to envy and soul to mind)
-whose hearts are mountains, roots are trees,
it's they shall cry hello to the spring
what if a dawn of a doom of a dream
bites this universe in two,
peels forever out of his grave
and sprinkles nowhere with me and you?
Blow soon to never and never to twice
(blow life to isn't: blow death towas)
-all nothing's only our hugest home;
the most who die, the more we live.
e.e. cummings
¶ 2 de Janeiro de 2008
a cor, de novo
¶ 2 de Janeiro de 2008
Dove sta amore
Where lies love
Dove sta amore
Here lies love
The ring dove love
In lyrical delight
Hear love's hillsong
Love's true willsong
Love's low plainsong
Too sweet painsong
In passages of night
Dove sta amore
Here lies love
The ring dove love
Dove sta amore
Here lies love
Lawrence Ferlinghetti
¶ 1 de Janeiro de 2008
adoração na primeira noite do ano
¶ 1 de Janeiro de 2008
Só a leve esperança em toda a vida
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é mais a existência resumida
que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos
árvore milagrosa que sonhamos
toda arriada de dourados pomos
existe sim; mas nós não a encontramos,
porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos.
Vicente de Carvalho
¶ 1 de Janeiro de 2008
que farei com este ano...
¶ 1 de Janeiro de 2008
Sou tão frágil, meu bem, que um som, de leve
pode ser-me fatal como o teu beijo:
qualquer música brega, qualquer frase
pode ser-me fatal. E, assim, não deve
a brisa andar tão próxima à tormenta,
como não deve o ritmo da valsa
transformar-se em punhais; a vida é breve
e aquilo que é demais logo arrebenta.
Sou tão frágil, meu bem, que nada pode
separar-me de ti. Teu nome é um sonho
que navega em meu sonho. Tenho pena
de tudo, algo me aflige e me sacode.
Desliga esse Gardel, bota um canário
em vez do som, da voz que me condena.
Jorge Tufic
¶ 1 de Janeiro de 2008
Razors pain you;
Rivers are damp;
Acids stain you;
And drugs cause cramp.
Guns aren't lawful;
Nooses give;
Gas smells awful;
You might as well live.
Dorothy Parker
¶ 1 de Janeiro de 2008
que as graças brilhem este ano: Tália (a que traz flores), Aglaia (brilho e esplendor) e Eufrosine (júbilo e alegria).
¶ 1 de Janeiro de 2008
Talvez esse choro perfure
meu peito e, palmo a palmo
escave o tempo e suma
enfim, em todo caso
Talvez por isso não o leve
a sério: por fazer-me
desamar o homem
crê-lo sem esperanças
Em todo caso, diante dele -
e sem mais nem menos -
os lábios ganham um
riso incurável. Não sem
antes rastrear nos olhos -
num sentido que beira
a uma surda manhã -
o mais terrível céu azul
Jorge Lúcio de Campos