Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

Arquivo de maio 2007


31 de Maio de 2007

Bijlert

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31 de Maio de 2007

In The Summer

In the summer I stretch out on the shore And think of you Had I told the sea What I felt for you, It would have left its shores, Its shells, Its fish, And followed me. Nizar Qabbani, translated by B. Frangieh And C. Brown


31 de Maio de 2007

The Pig

The pig, if I am not mistaken, Supplies us with sausage, ham, and bacon. Let others say his heart is big— I call it stupid of the pig. Ogden Nash


31 de Maio de 2007

Gainsborough

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31 de Maio de 2007

Soneto do amor extinto

Pior do que lembrar um bom passado perdido embora, porém bem vivido, é pensar tão-somente o quanto agora a vida já perdeu todo sentido. Pior que o sonho antigo e lisonjeiro é o medo do presente assim vazio daquela boa saudade agora ausente e do desejo que míngua a cada dia. É tão difícil falar do que não fala e emudeceu por trás da própria vida toda feita penumbra do que cala sem revolver feridas já fechadas sem reabrir as velhas cicatrizes que no lugar de sangue vertem nada. Adelaide Amorim


31 de Maio de 2007

Every Time

Every time I kiss you After a long separation I feel I am putting a hurried love letter In a red mailbox. Nizar Qabbani, translated by B. Frangieh and C. Brown


30 de Maio de 2007

Dou

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30 de Maio de 2007

Haicai

Pássaros cantam Ressoam dentro do peito Te espero Perfume e voz Flores e folhas voam Tronco despido Antonieta Raucci


30 de Maio de 2007

Apelo

Não mais o beijo, apenas a sombra dos teus lábios em mim. Nada do cio afora o grito incontínuo. Não mais teu sorriso, só o suor que vaga moribundo em minha pele. Nada do gesto além do pecado (incondicional). Não mais a nudez: apenas o eco do teu corpo em cópula. Agostina Akemi Sasaoka


30 de Maio de 2007

Conquista

Tua maré: sobe e inunda o porto o cais o veleiro e te deixa sabendo a sal. Aglaia Souza


30 de Maio de 2007

Maes

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29 de Maio de 2007

A Western Ballad

When I died, love, when I died my heart was broken in your care; I never suffered love so fair as now I suffer and abide when I died, love, when I died. When I died, love, when I died I wearied in an endless maze that men have walked for centuries, as endless as the gate was wide when I died, love, when I died. When I died, love, when I died there was a war in the upper air: all that happens, happens there; there was an angel by my side when I died, love, when I died. Allen Ginsberg


28 de Maio de 2007

Mediadora do Mutismo

Onde não começa o sopro no côncavo da língua muda o peso da sombra entre ruínas, falha que nunca coincide. Silêncio do incontível, como recusar a veemência desta cegueira? Antes da fuga Das formas, no sem fundo Inabitável. Artérias vivas, estrelas, relâmpagos, jorrarão da obscuridade vermelha? E as palavras serão o espaço Do grito, o espaço de nada, o espaço do espaço, a obscura dor da terra? António Ramos Rosa


28 de Maio de 2007

Columbano

columbano_t-braga-1.jpg Teófilo Braga


27 de Maio de 2007

Separação

Desmontar a casa e o amor. Despregar os sentimentos das paredes e lençóis. Recolher as cortinas após a tempestade das conversas. O amor não resistiu às balas, pragas, flores e corpos de intermeio. Empilhar livros, quadros, discos e remorsos. Esperar o infernal juizo final do desamor. Vizinhos se assustam de manhã ante os destroços junto à porta: -pareciam se amar tanto! Houve um tempo: uma casa de campo, fotos em Veneza, um tempo em que sorridente o amor aglutinava festas e jantares. Amou-se um certo modo de despir-se de pentear-se. Amou-se um sorriso e um certo modo de botar a mesa. Amou-se um certo modo de amar. No entanto, o amor bate em retirada com suas roupas amassadas, tropas de insultos malas desesperadas, soluços embargados. Faltou amor no amor? Gastou-se o amor no amor? Fartou-se o amor? No quarto dos filhos outra derrota à vista: bonecos e brinquedos pendem numa colagem de afetos natimortos. O amor ruiu e tem pressa de ir embora envergonhado. Erguerá outra casa, o amor? Escolherá objetos, morará na praia? Viajará na neve e na neblina? Tonto, perplexo, sem rumo um corpo sai porta afora com pedaços de passado na cabeça e um impreciso futuro. No peito o coração pesa mais que uma mala de chumbo. Affonso Romano de Sant'Anna


27 de Maio de 2007

Castelo de Sesimbra

castelo-sesimbra.jpg O castelo está cercado pelas montanhas do maciço da Arrábida, com excepção para uma abertura a sul, donde se avista o mar. Não é conhecida a origem da ocupação do local onde hoje se ergue o castelo. Durante a época muçulmana foi aí construído um castelo que protegia os agricultores das férteis terras envolventes. Pouco guarnecido e à margem das grandes rotas defensivas, foi tomado por D. Afonso Henriques após a conquista de Palmela. Em 1200, o rei D. Sancho I recupera definitivamente Sesimbra para a coroa portuguesa e manda reerguer o castelo. Em 1201, o rei concede foral aos moradores com o objectivo de fomentar o povoamento das terras. Em 1236, D. Sancho II entrega o castelo à Ordem de Sant'Iago. Se calhar, é melhor avisar o ministro - o esforço de povoamento já foi feito na margem sul... vai para uns oitocentos anitos.


27 de Maio de 2007

Castelo de Palmela

castelo%20palmela.jpg No final do reinado de D. Fernando (1367-1383), quando do cerco de Lisboa por tropas castelhanas (Março de 1382), os arrabaldes desta vila ao Sul também foram saqueados e incendiados: E tanto se atreveram [as tropas castelhanas], sem achando quem lho contradizer, que foram em batéis pelo rio de Coina acima, e ali saíram em terra, e foram queimar o arrabalde de Palmela, que são dali duas grandes léguas. Fernão Lopes


27 de Maio de 2007

Muralha do Castelo de Almada

almada.jpg Conquistado por D. Afonso Henriques, reconquistado por Al-Mansur em 1190, e novamente reconquistado por D. Sancho I em 1200.


27 de Maio de 2007

Igreja Matriz do Montijo

images_Bank_Igreja%20Matriz%20do%20Montijo.JPG Igreja Matriz do século XVII


27 de Maio de 2007

Margem Sul

Comecemos pela declaração de interesses, fundamento legítimo de um direito à indignação: nasci em Almada, tenho aqui vivido toda a minha vida (com uma breve interrupção de escassos dois anos em Lisboa). Do lado materno, há mesmo uma linha inquebrada de ascendentes que aqui nasceram, viveram e morreram desde os tempos mais imemoriais que os registos permitem. Tenho experimentado, ao longo das épocas que sucederam a revolução de Abril, por vagas sucessivas, diversas formas de sobranceria social pequeno-burguesa no olhar com que são vistas (serão?) as pessoas desta margem. Muito jovem ainda, no início dos tempos de Faculdade, frequentei a casa de uns tios do actual presidente do Tribunal de Contas (onde ele, aliás, então se distinguia pelo silêncio bem comportado), que expressavam o seu espanto por uma "menina que tocava piano e falava mais algumas línguas para além do requisito elementar do Francês" poder ser de Almada, esse antro do PREC. Só ficaram mais descansados porque, enfim, havia sólidos industriais de cortiça em antecedente próximo. Bem mais tarde, e durante uma década que, ela sim, foi um autêntico deserto no plano emocional, suportei graçolas pseudo-ignorantes, soberbas e preconceituadas por parte de um "intelectual de referência" sobre a margem sul, cujo momento maior consistia na falsa confusão entre Almada e Fernão Ferro - quando alguém que estuda com tanto rigor o comunismo deveria ter ao menos umas luzes de geografia... Mas estas eram situações pessoais, demonstrativas do carácter dos outros e da minha incapacidade de escolha de companhias que tivessem algum préstimo humano. Agora que um ministro de um governo que beneficiou de tantos votos de eleitores do "deserto" da margem sul se atreva a insultar a região e os seus habitantes ultrapassa esse âmbito privado e assume proporções de escândalo. Ou então é apenas a reprodução presente, na esfera pública, do meu desacerto passado de escolhas na esfera privada.


27 de Maio de 2007

Igreja Matriz de Alcochete

igreja_matriz_alcochete.jpg A Igreja Matriz de Alcochete é um local de culto antiquíssimo, construído sobre os alicerces de uma antiga mesquita, com características quatrocentistas. Foi sofrendo remodelações desde o início do século XVI até 1943. A sua fachada, portal e rosácea são de estilo gótico. No interior, existem três naves gótico-manuelinas e as paredes interiores possuem azulejos azuis e brancos do século XVIII.


27 de Maio de 2007

Breve flama

A flama frívola e breve apaga-se sem aviso, como se não houvera, mesmo antes de ser, era. A flama frívola esconde-se nas arestas incandescentes dos corações empobrecidos, fingindo-se chama infinita. De tal flama nascem os amores noturnos, que não resistem a luz do astro que queima. A flama frívola é fraca, calor quase inexistente, flama que não importa, perda que não se sente. Andre Merez


27 de Maio de 2007

Bijlert

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27 de Maio de 2007

O Navegador

Tempo não é o que passa, é sim o que fica, cercado em quatro paredes, prisioneiro da própria vida. Daí não haver saída, ou chegada até a margem. Viver não é ir, voltar; viver é viagem. André Joffily Abath


26 de Maio de 2007

Clouet

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26 de Maio de 2007

Clapp's Pond

By evening: rain. It pours down from the black clouds, lashes over the roof. The last acorns spray over the porch; I toss one, then two more logs on the fire. Mary Oliver


26 de Maio de 2007

Para a Minha Filha

(gentileza de Amélia Pais) Dai-me outra vida e estarei no Caffè Rafaella a cantar. Ou estarei sentado a uma mesa, simplesmente. Ou de pé, como um móvel no corredor, caso essa vida seja menos generosa que a anterior. Contudo, em parte porque nenhum século daqui em diante conseguirá passar sem jazz nem cafeína, aguentarei esse desplante, e pelas minhas rachas e poros, verniz e todo de pó coberto, observarei, daqui a vinte anos, como a tua flor se terá aberto. De um modo geral, lembra-te de que estou por ali. Ou melhor, que um objecto inanimado pode ser o teu pai, sobretudo se os objectos forem mais velhos do que tu, ou maiores. Não os percas de vista, pois, sem dúvida, te julgarão. Seja como for, ama essas coisas, haja ou não encontro. Além disso, pode ser que ainda te lembres duma silhueta, dum contorno, ao passo que eu até isso perderei, juntamente com a restante bagagem. Daí estes versos, algo toscos, na nossa comum linguagem. Joseph Brodsky,trad. Carlos Leite


25 de Maio de 2007

Antelación del amor

Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta ni la privanza de tu cuerpo, aún misterioso y tácito y de niña, ni la sucesión de tu vida situándose en palabras o acallamiento serán favor tan persuasivo de ideas como el mirar tu sueño implicado en la vigilia de mis ávidos brazos. Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria del sueño, quieta y resplandeciente como una dicha en la selección del recuerdo, me darás esa orilla de tu vida que tú misma no tienes, Arrojado a la quietud divisaré esa playa última de tu ser y te veré por vez primera quizás como Dios ha de verte, desbaratada la ficción del Tiempo sin el amor, sin mí. Jorge Luis Borges


25 de Maio de 2007

Baur

ariadnebacchus_baur_8.jpg Ariadne e Baco


25 de Maio de 2007

Da leveza

intacta liberdade amor é saber leveza no centro da tempestade Afonso Henriques Neto


25 de Maio de 2007

Fossilizações

o clarinete seu som punhal no interior nostálgico daquela música que fazer das pernas que foram minhas mas que nunca tive? imagina oh relação se te dissessem o que de ti me digo! o "a perder" por não confirmado na dúvida pra sempre embrulhado o fluir dos dias rompe o invólucro do "e agora"? Antero Barbosa


24 de Maio de 2007

Hooch

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24 de Maio de 2007

Parede

As ruas desta cidade são poucas. O mar, logo ali, é um muro frio. De manhã cedo, gaivotas. E noite alta, alguns velhos Que se amparam ao sair do bar. Como ontem, hoje é lua cheia. Ao deixar a rua principal, Caminhando de volta para casa, Ela é uma grande lanterna Contra a qual se estendem As árvores já secas. Paulo Franchetti


24 de Maio de 2007

Evolução

Seremos de tal lirismo que por descuido somente voltaremos ao instinto de comer os grãos de pólen. Tão luminosos seremos, de tal pureza divina, que em nós haverá tormento se o néctar for ingerido e mancharemos o amor se houver escolha de sumo e pesaremos o dobro com o perfume dos frutos. Adelaide Lessa


23 de Maio de 2007

Modigliani

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23 de Maio de 2007

Pergunta de poeta

Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio de asas. - Como quereis o equilíbrio? David Mourão-Ferreira


23 de Maio de 2007

Ressurreição dos oceanos

hoje peço o rumor do teu corpo de preferência antes do nascimento da lua minguante. Pode ser numa rede de renda encarnada esticada frente ao clarão da noite amiga depois posso penetrar no oceano para lavar a poeira do exílio. Mario Cezar


23 de Maio de 2007

Até quando te amarei

Até quando se ouvir a voz do vento E a vontade de ser e de existir Nem de leve me turve o sobrevir De teu nome na paz do pensamento. Até quando, feliz, puder seguir Em busca de teu vulto — e o juramento Ardente de te amar for o momento Mais doce a renovar e a repetir. Cá me encontro, Senhora, a te louvar. Assim, com muito agrado, seguirei A beleza, que tens, a celebrar. Porque se ao fim da tarde já cheguei, Sentindo que meus dias vão findar, Jovem — só por te amar — ainda serei. Artur Eduardo Benevides


23 de Maio de 2007

Ânsia

Os sentidos da vida que me chegam. Os sentidos da vida no momento. Porque no centro da alma há um castelo no qual escuto as confissões do vento. E bem no fundo da alma há uma tela muito mais bela ou igual à minha ânsia, porem a ânsia que sinto é um conflito muito maior que a nave da existência. Dimas Macedo


23 de Maio de 2007

The Carver

See, as the carver carves a rose, A wing, a toad, a serpent's eye, In cruel granite, to disclose The soft things that in hardness lie, So this one, taking up his heart, Which time and change had made a stone, Carved out of it with dolorous art, Laboring yearlong and alone, The thing there hidden—rose, toad, wing? A frog's hand on a lily pad? Bees in a cobweb?—no such thing! A girl's head was the thing he had, Small, shapely, richly crowned with hair, Drowsy, with eyes half closed, as they Looked through you and beyond you, clear To something farther than Cathay: Saw you, yet counted you not worth The seeing, thinking all the while How, flower-like, beauty comes to birth; And thinking this, began to smile. Medusa! For she could not see The world she turned to stone and ash. Only herself she saw, a tree That flowered beneath a lightning-flash. Thus dreamed her face—a lovely thing To worship, weep for, or to break . . . Better to carve a claw, a wing, Or, if the heart provide, a snake. Conrad Aiken


23 de Maio de 2007

Mosnier

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22 de Maio de 2007

Penélope

mais do que um sonho: comoção! sinto-me tonto, enternecido, quando, de noite, as minhas mãos são o teu único vestido. e recompões com essa veste, que eu, sem saber, tinha tecido, todo o pudor que desfizeste como uma teia sem sentido; todo o pudor que desfizeste a meu pedido. mas nesse manto que desfias, e que depois voltas a pôr, eu reconheço os melhores dias do nosso amor. David Mourão-Ferreira


22 de Maio de 2007

Blessing

A feel of warmth in this place. In winter air, a scent of harvest. No form of prayer is needed, When by sudden grace attended. Naturally, we fall from grace. Mere humans, we forget what light Led us, lonely, to this place. John Montague


22 de Maio de 2007

Mieris

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22 de Maio de 2007

Poesia sem nome

Vísceras amorfas despertam a ira dos anjos E o cheiro de naftalina emprega o ritmo das horas Por todos os cantos o pó reveste o que havia de límpido E enquanto a garganta engasga o grito, as folhas sujas do jardim balançam ao vento. Vássia Silveira


22 de Maio de 2007

El enamorado

Lunas, marfiles, instrumentos, rosas, lámparas y la línea de Durero, las nueve cifras y el cambiante cero, debo fingir que existen esas cosas. Debo fingir que en el pasado fueron Persépolis y Roma y que una arena sutil midió la suerte de la almena que los siglos de hierro deshicieron. Debo fingir las armas y la pira de la epopeya y los pesados mares que roen de la tierra los pilares. Debo fingir que hay otros. Es mentira. Sólo tú eres. Tú, mi desventura y mi ventura, inagotable y pura. Jorge Luis Borges


22 de Maio de 2007

The spirit likes to dress up

The spirit likes to dress up like this: ten fingers, ten toes, shoulders, and all the rest at night in the black branches, in the morning in the blue branches of the world. It could float, of course, but would rather plumb rough matter. Airy and shapeless thing, it needs the metaphor of the body, lime and appetite, the oceanic fluids; it needs the body's world, instinct and imagination and the dark hug of time, sweetness and tangibility, to be understood, to be more than pure light that burns where no one is -- so it enters us -- in the morning shines from brute comfort like a stitch of lightning; and at night lights up the deep and wondrous drownings of the body like a star. Mary Oliver


21 de Maio de 2007

Clouet

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21 de Maio de 2007

Mantra

torno-me puro meu puro encontro o corpo se limpa a mente se areja palavras tão simples em becos escusos alertam da vida a luz e o amor não se perde nas veias o sagrado fluído... em horas banidas corredores e ruas resgatam o tempo a infinitude de ser ao torno de mim o puro retorna ao simples afável de cada manhã a cada calenda torna-se puro sentido da vida o verso do ser Camilo Mota


21 de Maio de 2007

Happy The Man

Happy the man, and happy he alone, He who can call today his own: He who, secure within, can say, Tomorrow do thy worst, for I have lived today. Be fair or foul or rain or shine The joys I have possessed, in spite of fate, are mine. Not Heaven itself upon the past has power, But what has been, has been, and I have had my hour. John Dryden


21 de Maio de 2007

Vasarely

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21 de Maio de 2007

As Solas do Sol

Dividias os gomos da fruta em aposentos da casa. A cortina do sumo leveda o sol levantado. O zodíaco do molde supre o gérmen do quarto. E o bafio estala a lareira das esferas na sala de estar da semente. Fabrício Carpinejar


20 de Maio de 2007

Poética da reinvenção

Para entender nós temos dois caminhos: [o da sensibilidade que é o entendimento do corpo; e o da inteligência que é o entendimento do espírito. Eu escrevo com o corpo. Poesia não é para compreender, [mas para incorporar. Entender é parede; procure ser árvore. Manoel de Barros


20 de Maio de 2007

Por trás da palavra há o caos

o caos antecede o tempo o tempo antevê o homem o homem antepara o caos o caos antecede o tempo antevê o homem antepara o caos o caos antepara o homem antevê o tempo antecede o caos Camilo Mota


20 de Maio de 2007

Bijlert

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20 de Maio de 2007

Farewell

Farewell, ungrateful traitor! Farewell, my perjur'd swain! Let never injur'd woman Believe a man again. The pleasure of possessing Surpasses all expressing, But 'tis too short a blessing, And love too long a pain. 'Tis easy to deceive us In pity of your pain, But when we love, you leave us To rail at you in vain. Before we have descried it, There is no joy beside it, But she that once has tried it Will never love again. The passion you pretended Was only to obtain, But once the charm is ended, The charmer you disdain. Your love by ours we measure Till we have lost our treasure, But dying is a pleasure When living is a pain. John Dryden


19 de Maio de 2007

Bingham

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19 de Maio de 2007

Ausência

O tempo escoa infinito entre dedos pálidos sem ódio e impotentes ao frio que faz lá fora... Um sonho em minha lembrança acaricia os minutos, afasta o perto, traz secretamente o longe, promove a dúvida e deixa o incerto como única resposta. Mágoa de quem tem as mãos atadas, braços que envolveriam o mundo excluindo o perdido passado que rola escadas, atravessa desfiladeiros e mergulha no fundo. Buscas trilhas enquanto flutuo pelos ares. Agarras formas enquanto encontro significado. Caminhas sobre as ondas enquanto sou tragada pelos mares... Enxergo sem ver teu passo solitário. Te adivinho e, assim, sonhas o meu sonho do futuro irrealizado, arbitrário. Adrianne Fontoura


19 de Maio de 2007

Pronúncia

A palavra é falível posta em outra boca: o horizonte deitou o fuzil dos pássaros. Volta, pai, que a fundura não está nos passos, a tapera dispersa a caça e o paradeiro das pegadas. A queda atalha a subida, o homem permanece uma pronúncia inacabada. Tantas vezes caí em teu lugar, que descobri o inferno ao repetir a salvação. Tantas vezes caíste em meu lugar, que descobriste a salvação ao repetir o inferno. Fabrício Carpinejar


19 de Maio de 2007

Fable

Oh, there once was a lady, and so I've been told, Whose lover grew weary, whose lover grew cold. "My child," he remarked, "though our episode ends, In the manner of men, I suggest we be friends." And the truest of friends ever after they were- Oh, they lied in their teeth when they told me of her! Dorothy Parker


18 de Maio de 2007

Sombras reais

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18 de Maio de 2007

As primeiras coisas

(gentileza de Amélia Pais) As primeiras coisas eram verdes ou azuis, com água pela cintura; duras esmeraldas umas, outras animais, vibrantes quando lhes toca a luz; o mais das vezes encostados à parede do estábulo, com grandes olhos húmidos e um precipício ao fundo (e as nuvens são o seu bafo). E no entanto, visto à distância exacta, tudo se transforma: o cenário do mundo é só um infinito espaço cheio de coisa nenhuma, e a luz o puro efeito de dois deuses menores que marcam o compasso. É certo que, na chuva, o teu corpo anuncia com seu distante olhar, um prazer que não cabe na estreiteza da fábula; um céu, não duvidemos, acolhe o terno gesto que não foi. Já na parede a meio branca traço, a contragosto, o tempo mal passado que apodrece; e ruminante encosto ao tampo da água o bico ou pincel fosco onde surgira, de repente, nada. Os portões oscilam, e a erva adianta, se nos aproximamos. Claramente vejo como te divides num infinito número simultâneo de mundos. As palavras celebram, mudas, a água na paisagem, verde ou azul, conforme desejaste. Avanço imóvel, descalço sobre a erva, e quando fecho os olhos invade-me a luz por dentro compacta, completa, como as coisas primeiras. António Franco Alexandre


18 de Maio de 2007

Le vent, le cri

como uma finíssima dor aguda de fio de cabelo e de punhal gume a música alastra e rompe progressivamente destruindo o sentimento acumulado e cristalizado derrubando com seu árido vento o cimo das dunas infectadas música aliada do ténue resfolegar do peito quase morto dos braços caídos como trança de rapariga cortada da febre sobre os lábios secos e incapazes de construir como conviria para que alguma calma a ele sobreviesse o grito Antero Barbosa


18 de Maio de 2007

Rysselberghe

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18 de Maio de 2007

Rosto arrefecido

no rosto arrefecido do dia como um choro doente a incompletude cinge-se aos afectos torturados pelo tempo e invertidos mão que não chega ao ramo e de repente como a sinusóide da folha cai contra o chão Antero Barbosa


18 de Maio de 2007

Partida

Uma pedra vermelha e redonda Foi jogada no fundo do lago A sombra em volta espia Enquanto tua imagem se desfaz. Vássia Silveira


17 de Maio de 2007

Mosteiro da Serra do Pilar

mosteirodaserradopilar.jpg Ontem, por esta hora.


17 de Maio de 2007

Amanhã será assim

O espaço, maior que o destino, abarcava alguns em desatino estampando dor em inteireza. As flores exalavam silêncio... De perfume acre, em lacre fremiam no incêndio. O ambiente abafado e triste lembrava-me a mim, com dedo em riste: agora você existe! Amanhã será assim. Juscelino Vieira Mendes


17 de Maio de 2007

Transição

Expressar. Esquecer os atalhos, os desvios, a fuga. Este é o lugar : fincar raízes em solos aéreos, improváveis. Decifrar imagens no espelho esmerilhado por desastrado gesto. Cirandas na ausência, mãos tateando o escuro, o turvo elemento, o verbo, que depende. Como depende. Essa linguagem perseguindo a atenção do silêncio. Signos anunciam, seio conhecido, Vita nuova: "Amar-te-ei em excesso após a morte. Ninguém cantará teu amor como eu". Cantor de improviso, de onde vens e de onde extrais essa sabedoria imprudente? Começa agora outro dia. O poeta canta. O poeta canta. Por males que não espanta. Maria da Conceição Paranhos


17 de Maio de 2007

Tempo

Sábio e grave senhor desta esfera Alerta e instiga nossa medida Brilha, reluz, a face que o encara Salteador cigano em densa neblina Vela enfunada em tanta tormenta rasga fronteiras, singra e ilumina Vã sentinela, cáustica e atenta Mago obstruso que a si determina Nas vagas de dor, aqui e agora É quem traz resposta, no éter perdido Entre legiões de anos, tão preciso Cala e ofusca o cal desta hora Elizabeth Lorenzotti


17 de Maio de 2007

Le Sueur

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17 de Maio de 2007

Descoberta

O acalanto da noite Espanta o bisonho pássaro Abrindo sobre mim as asas De insanos desejos. No desalento das horas O tique-taque do relógio Invade o último pedaço De chão e terra de minha alma. Sobram em mim os devaneios Da vida e da morte Um manto singelo Que esconde a verdade dos demônios. Vássia Silveira


16 de Maio de 2007

The Supreme Fiction

Poetry is the supreme fiction, madame. Take the moral law and make a nave of it And from the nave build haunted heaven. Thus, The conscience is converted into palms, Like windy citherns hankering for hymns. We agree in principle. That's clear. But take The opposing law and make a peristyle, And from the peristyle project a masque Beyond the planets. Thus, our bawdiness, Unpurged by epitaph, indulged at last, Is equally converted into palms, Squiggling like saxophones. And palm for palm, Madame, we are where we began. Allow, Therefore, that in the planetary scene Your disaffected flagellants, well-stuffed, Smacking their muzzy bellies in parade, Proud of such novelties of the sublime, Such tink and tank and tunk-a-tunk-tunk, May, merely may, madame, whip from themselves A jovial hullabaloo among the spheres. This will make widows wince. But fictive things Wink as they will. Wink most when widows wince. Wallace Stevens


15 de Maio de 2007

Cesari

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15 de Maio de 2007

Fazer de conta

(gentileza de Amélia Pais) Posso escrever um poema todas as noites Descalçar os sapatos, pôr os pés no parapeito Ao fresco da noite, dos choupos, dos pinheiros Posso abrir um livro, fumar um cigarro Enquanto os olhos vagueiam, posso interrogar-me Sentir a culpa ou o devaneio Um riso ontem, a dor de estar longe Mas o mundo irremediavelmente Não me cabe na caixa do correio Tampouco o amor. E posso literalmente fazer de conta. Carlos Bessa


15 de Maio de 2007

O Colorido das Amoras Novas

O sexo é o conspirar da vida, o meio dia, a faísca no coração das sombras, a voz de junho no avassalar dos castelos sobre a água que bebe o céu. O amor é a sina, o papel em branco no enamorar das digitais no ar, o delineado da paisagem que a vista não alcança, a tormenta no acariciar das cordas nem sempre bem afinadas do lidar das emoções. No meio a linha tênue, o colorido das amoras novas o sustenido, o assombro, o respirar da rocha, o cantinho que Deus escolheria para habitar: poesia. Cissa de Oliveira


15 de Maio de 2007

Cidades III

Subo as mulheres aos degraus. Seus pedregulhos perante Deus. É a vida futura tocando o sangue de um amargo delírio. Olho de cima a beleza genial de sua cabeça ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se no meu pensamento quente. Herberto Helder


15 de Maio de 2007

Vocação de lume

Há palavras que sem te aperceberes poisam nos lábios. Não sabes a direcção mas decerto vêm de sul. Deves soltá-las. Se o não fizeres encaminhar-se-ão para o interior queimando com seu lume primeiro a garganta. Agora tens que optar. Entre um incêndio. E outro. Antero Barbosa


14 de Maio de 2007

Breughel

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14 de Maio de 2007

The Dance

In Breughel's great picture, The Kermess, the dancers go round, they go round and around, the squeal and the blare and the tweedle of bagpipes, a bugle and fiddles tipping their bellies, (round as the thick- sided glasses whose wash they impound) their hips and their bellies off balance to turn them. Kicking and rolling about the Fair Grounds, swinging their butts, those shanks must be sound to bear up under such rollicking measures, prance as they dance in Breughel's great picture, The Kermess William Carlos Williams


14 de Maio de 2007

Cidades II

Há cidades esquecidas pelas semanas fora. Emoções onde vivo sem orelhas nem dedos. Onde consumo uma amizade bárbara. Um amor levitante. Zona que se refere aos meus dons desconhecidos. Há fervorosas e leves cidades sob os arcos pensadores. Para que algumas mulheres sejam cândidas. Para que alguém bata em mim no alto da noite e me diga o terror de semanas desaparecidas. Eu durmo no ar dessas cidades femininas cujos espinhos e sangues me inspiram o fundo da vida. Nelas queimo o mês que me pertence. o minha loucura, escada sobre escada. Herberto Helder


14 de Maio de 2007

Sótão

Por interstícios das malas abertas de quando éramos crianças gritam as bocas sem nenhum eco das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal lugar do coração está ainda a palpitar. O bojo do peito de celulóide, como o meu, pede-nos perdão pela saudade que nos devora. Fiama Hasse Pais Brandão


14 de Maio de 2007

Clouet

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14 de Maio de 2007

A Lament

O World! O Life! O Time! On whose last steps I climb, Trembling at that where I had stood before; When will return the glory of your prime? No more -Oh, never more! Out of the day and night A joy has taken flight: Fresh spring, and summer, and winter hoar Move my faint heart with grief, but with delight No more -Oh, never more! Percy Bysshe Shelley


13 de Maio de 2007

Cidades

Há cidades cor de pérola onde as mulheres existem velozmente. Onde às vezes param, e são morosas por dentro. Há cidades absolutas, trabalhadas interiormente pelo pensamento das mulheres. Lugares límpidos e depois nocturnos, vistos ao alto como um fogo antigo, ou como um fogo juvenil. Vistos fixamente abaixados nas águas celestes. Há lugares de um esplendor virgem, com mulheres puras cujas mãos estremecem. Mulheres que imaginam num supremo silêncio, elevando-se sobre as pancadas da minha arte interior. Herberto Helder


13 de Maio de 2007

Bijlert

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13 de Maio de 2007

Crescente

Os céus escurecem. De um touro as antenas de ouro no poente aparecem. Barroso Gomes


13 de Maio de 2007

Mutatis Mutandis

Tomo a forma do mar. Se é preciso que em minhas águas navegue o vento e em mim o sol refaça caminhos de impulsos e chamas verdes não me furto ao compromisso que hoje me impõe esta manhã. Minhas águas de sal e segredo ferem-se na aspereza dos corais e por não ser lâmina e por não ser espinho não tenho como revidar. Deixo que minha dor em mim desabe. Recolho meu grito de incertezas e convicções. E quando a última gaivota da tarde no poente pousar a sombra do seu cansaço só então serei quem fui. Assim sobre penhascos e dunas não mais depositarei lembranças e sargaços. Bartyra Soares


13 de Maio de 2007

Molenaer

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13 de Maio de 2007

Aviso prévio

o sonho uma borboleta quando menos se espera a gente acorda e vai-se embora sem deixar aviso prévio Barros Pinho


12 de Maio de 2007

Estátua submersa

A palavra é uma estátua submersa, um leopardo que estremece em escuros bosques, uma anémona sobre uma cabeleira.Por vezes é uma estrela que projecta a sua sombra sobre um torso. Ei-la sem destino no clamor da noite, cega e nua, mas vibrante de desejo como uma magnólia molhada.Rápida é a boca que apenas aflora os raios de uma outra luz. Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes e vejo uma água límpida numa concha marinha. É sempre um corpo amante e fugidio que canta num mar musical o sangue das vogais. António Ramos Rosa


12 de Maio de 2007

Clouet

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12 de Maio de 2007

Mediadora da Palavra

Um rumor irrompe das nocturnas margens. Sombras deslumbrantes. Um fulgor que desnuda e que despoja. Campo de água ágil. Dança Imóvel. Uma cegueira arde Incendiando o tempo. Pátria áspera de delicado alento. Soberano marulhar do inexplorável. Unânime é a pedra. Selvagem a palavra despedaça a língua. Um silêncio central domina e orienta A substancia primária. A palavra inicia. Rapidez da água entre resíduos obscuros. Talvez o diadema. Talvez a obscura dança aérea. O leve poder do fogo, as suas marcas ácidas. Pulsação dos poros. Ardor do silêncio no nocturno centro. Fulgor do desejo. Uma deusa de água espraia-se nas palavras. António Ramos Rosa


12 de Maio de 2007

Não foi de propósito...

O modus vivendi completa hoje quatro longos anos de blogosférica existência. À escala da vida humana, calculo que valham umas boas quatro décadas, embora a conversão seja difícil de fazer. E, mera coincidência, antes de iniciar este pequeno texto, vi que tinha publicado o respeitávelnúmero de 3500 entradas - e esta contagem exclui o primeiro ano e meio, ainda no blogspot. O modus começou por ser uma janela aberta por onde se escapavam as palavras indizíveis, as interrogações arranhadas por dentro da pele; mercê do milagre da transfiguração amorosa, tornou-se no que é agora: uma clareira na floresta de afazeres vários que, todos os dias, acolhe palavras que iluminam ou questionam, imagens que consolam ou enriquecem o olhar. É o momento que abre o dia, o olhar atento ao sabor dos poemas, a luz a nascer de dentro na imagem que marca a página invisível. E, símbolo de tudo o que este espaço me trouxe desde o início, uma rosa vermelha oferecida entre a noite e a madrugada com o mais terno dos sorrisos. Obrigada, João.


12 de Maio de 2007

somewhere i have never travelled

somewhere i have never travelled, gladly beyond any experience, your eyes have their silence: in your most frail gesture are things which enclose me, or which i cannot touch because they are too near your slightest look easily will unclose me though i have closed myself as fingers, you open always petal by petal myself as Spring opens (touching skilfully, misteriously) her first rose or if your wish be to close me, i and my life will shut very beautifully, suddenly, as when the heart of this flower imagines the snow carefully everywhere descending; nothing we are to perceive in this world equals the power of your intense fragility: whose texture compels me with the colour of its countries, rendering death and forever with each breathing (i do not know what it is about you that closes and opens; only something in me understands the voice of your eyes is deeper than all roses) nobody, not even the rain, has such small hands e.e. cummings


11 de Maio de 2007

A noite chega com todos os seus rebanhos

Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo Há um íman que nos atrai para o interior da montanha. Os navios deslizam nos estuários do vento. Alguma coisa ascende de uma região negra. Alguém escreve sobre os espelhos da sombra. A passageira da noite vacila como um ser silencioso. O último pássaro calou-se.As estrelas acenderam-se. As ondas adormeceram com as cores e as imagens. As portas subterrâneas têm perfumes silvestres. Que sedosa e fluida é a água desta noite! Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos. Alguém me habita como uma árvore ou um planeta. Estou perto e estou longe no coração do mundo. António Ramos Rosa


11 de Maio de 2007

The crow

The crow walks along there as if it were tilling the field. Kobayashi Issa, translated by Robert Hass


11 de Maio de 2007

Summer

Remember the days of our first happiness, how strong we were, how dazed by passion, lying all day, then all night in the narrow bed, sleeping there, eating there too: it was summer, it seemed everything had ripened at once.And so hot we lay completely uncovered. Sometimes the wind rose; a willow brushed the window. But we were lost in a way, didn't you feel that? The bed was like a raft; I felt us drifting far from our natures, toward a place where we'd discover nothing. First the sun, then the moon, in fragments, stone through the willow. Things anyone could see. Then the circles closed.Slowly the nights grew cool; the pendant leaves of the willow yellowed and fell.And in each of us began a deep isolation, though we never spoke of this, of the absence of regret. We were artists again, my husband. We could resume the journey. Louise Glück


11 de Maio de 2007

Bega

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11 de Maio de 2007

Carta sem selo (inédito)

A fama do desnível que sentis em vós, são agulhas enamoradas por alfinetes. No tecto preto da vida, está presente no teu sorrir. Quem se contenta com um riso... Alarmes tocam em presença dos escaravelhos, da batata podre e dos alhos franceses. A honraria vai baixa e os cogumelos tem bolor. Ardem as pantufas de quem não as calçou. Cinzas cobrem os defuntos da vida e da ocasião. Amigos só no além, se esses souberem falar. Amordaçamos os vivos e calamos os mortos. Eis a lei da vida na camarata. Avio e aglutino sem dó as terras altas, como se daqui nascessem correntes de água doce. Mas só vejo ferro fundido e enferrujado, em forma de lâminas de miséria. Assim me despeço de vós, com toda a infinidade do sofrimento, e do tormento das águas vertidas, pelas minhas humildes pálpebras. Adeus. Ricardo Graça


11 de Maio de 2007

Trova

Todo Ano Novo promete mudanças e recomeços mas como pagar os preços? mas como pagar os fretes? Clevane Pessoa de Araújo


11 de Maio de 2007

Bijlert

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11 de Maio de 2007

Ma Vie

(gentileza de Amélia Pais) Tu t'en vas sans moi, ma vie. Tu roules. Et moi j'attends encore de faire un pas. Tu portes ailleurs la bataille. Tu me désertes ainsi. Je ne t'ai jamais suivie. Je ne vois pas clair dans tes offres. Le petit peu que je veux, jamais tu ne l'apportes. A cause de ce manque, j'aspire à tant. A tant de choses, à presque l'infini... A cause de ce peu qui manque, que jamais tu n'apportes. Henri Michaux


10 de Maio de 2007

Cinco minutos

Pessoas turvas a direita um deus com cabeça de elefante; escada turva corredor estreito quartos ocupados paredes pichadas espelhos quebrados a direita um deus com cabeça de elefante a dose desce amarga na estante poetas cheios de pó velas acesas sobre o chão a direita um deus com cabeça de elefante moedas incenso no ar tapetes decorados sorrisos e rostos em convulsão ninguém vai além de si mesmo gotas carmim sono turvo a picada certa diante desse deus a hipnotizar Roberto Gobatto


10 de Maio de 2007

Bega

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10 de Maio de 2007

Poeira

Vejo de longe as dunas, Poeira levanta, Lua fria Límpidas pessoas É tudo uma romaria. Andréa Santos


10 de Maio de 2007

Soneto de contrastes

E fora assim: literalmente aos pés caído! Se não lhe dera dado dela ser o benfeitor, Do hedonista, de arrasto, em chão batido, Restara um servo branco em seu penhor. Se nem lhe dera ser o incubo incumbido, Quedou-se ao seu prazer, sorvendo o odor, Sob o corpo quente, acobreado, despido: Contrastes! Leite,chocolate; frenesi, torpor... Contraste! A veia azul realça a débil alvura, A veia azul pulsante e o branco escravo: Contraste! Subjugado, tatuado à pele escura, Em seu ofício, obstinado, fincado, um cravo, Um vibrante dardo trespassando com doçura, Como cuida a um bom criado com desbravo. Vicente Bastos


10 de Maio de 2007

Rysselberghe

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10 de Maio de 2007

The Rose Of The World

Who dreamed that beauty passes like a dream? For these red lips, with all their mournful pride, Mournful that no new wonder may betide, Troy passed away in one high funeral gleam, And Usna's children died. We and the labouring world are passing by: Amid men's souls, that waver and give place Like the pale waters in their wintry race, Under the passing stars, foam of the sky, Lives on this lonely face. Bow down, archangels, in your dim abode: Before you were, or any hearts to beat, Weary and kind one lingered by His seat; He made the world to be a grassy road Before her wandering feet. William Butler Yeats


10 de Maio de 2007

Deer Tracks

Beautiful, sobbing high-geared fucking and then to lie silently like deer tracks in the freshly-fallen snow beside the one you love. That's all. Richard Brautigan


9 de Maio de 2007

Dia da Europa

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9 de Maio de 2007

Dia da Europa: Unida na Diversidade

Em 9 de Maio de 1950, Robert Schuman apresentou uma proposta de criação de uma Europa organizada de forma comunitária. Esta proposta, conhecida como "Declaração Schuman", é considerada o começo da criação do que é hoje a União Europeia. Actualmente, o dia 9 de Maio tornou-se um símbolo europeu que, juntamente com a bandeira, o hino, a divisa e a moeda única (o euro), identifica a identidade política da União Europeia.


9 de Maio de 2007

Ainda Sobre Nuvens

Se tudo já foi dito Eu me calo Mas calado não ecôo Não ecoando o dito se perde Tudo se anula Se amordaça Quem deseja mais impedimentos "Impeachment" nos versos? Saturados estamos todos Ou quase todos Porém sempre há um tolo (ou um poeta) Disposto a dizer que viu uma nuvem Todas as nuvens já passaram Há milhões de anos elas passam Infinitamente diferentes entre si Embora sempre nuvens Como os poemas Sempre homens Diferentes entre si Ricardo Alfaya


9 de Maio de 2007

Hooch

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9 de Maio de 2007

The Good-Morrow

I wonder, by my troth, what thou and I Did, till we loved?were we not weaned till then, But sucked on country pleasures, childishly? Or snorted we in the seven sleepers' den? 'Twas so; but this, all pleasures fancies be. If ever any beauty I did see, Which I desired, and got, 'twas but a dream of thee. And now good morrow to our waking souls, Which watch not one another out of fear; For love all love of other sights controls, And makes one little room an everywhere. Let sea discovers to new worlds have gone, Let maps to others, worlds on worlds have shown: Let us possess one world; each hath one, and is one. My face in thine eye, thine in mine appears, And true plain hearts do in the faces rest; Where can we find two better hemishperes, Without sharp North, without declining West? Whatever dies was not mixed equally; If our two loves be one, or thou and I Love so alike that none do slacken, none can die. John Donne


9 de Maio de 2007

Rysselberghe

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9 de Maio de 2007

Margem

Vou andando para a beira desse porto, entre cheiros de cigarra e de sardinha E um desejo líquido de partir. Meu olhar desliza no horizonte, querendo saber a que distância um nome deixa de doer. Teu nome, marcado em minha boca como a polpa de uma pêra . O navio enorme avisa que vai embora. Escrevo a palavra salto, e paro no sal, e não chego ao alto. A noite está boiando num óleo grosso de silêncio e luz. Molho os pés, penso em teu nome: gozo de um poço tapado. Perfil de musgos na beira das águas redondas. Me vejo na ponta do cais, cacos de luz abrindo a cara do mar. Destroços de palavras, pedaços de teu nome, sílabas que batem contra os cacos. Estou parado na beira de um porto, azul e morte no oco do ar. AntônioCarlosSecchin


9 de Maio de 2007

Geografia

sombras ancestrais claras manhãs em que margem ? ainda que a memória esbata as horas o que há são espaços perdidos uma casa uma viagem cabelos soltos em minhas mãos Júlio CastañonGuimarães


8 de Maio de 2007

La Hyre

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8 de Maio de 2007

The Mask Of Evil

On my wall hangs a Japanese carving, The mask of an evil demon, decorated with gold lacquer. Sympathetically I observe The swollen veins of the forehead, indicating What a strain it is to be evil. Bertolt Brecht


8 de Maio de 2007

Iluminar o infinito

(gentileza de Amélia Pais) Com um só fósforo ilumino o infinito. E muitas vezes o infinito é algo muito próximo, um livro, uma chávena de chá, o teu rosto escondido na penumbra, o retrato de alguém desconhecido que de uma praça, acena, um fio de tabaco, um monograma num lenço muito branco. O infinito o mais das vezes é não mais do que o que toca o coração, uma leve poeira pelo ar, um ponto fixo que a mão ousa tocar, esta chama que de repente amplia a escuridão e me torna visível a quem passa e no clarão acende o seu cigarro. Amadeu Baptista


8 de Maio de 2007

Apperley

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7 de Maio de 2007

Arte Poética

Palavras, só palavras, nada mais que a vã matéria, o seu sentido eco de muitos ecos, repetido reflexo de poderes tão irreais como essas emoções graças às quais terei de vez em quando pretendido dizer um só segredo a um só ouvido ciente de que nunca são iguais os segredos e ouvidos que procuro às cegas neste mar sempre obscuro onde a voz desagua como um rio sem nascente nem foz - apenas uma incerta confidencia que se esfuma e só foi minha enquanto me fugiu. Fernando Pinto do Amaral


7 de Maio de 2007

Prudon

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7 de Maio de 2007

Success is counted sweetest

Success is counted sweetest By those who ne'er succeed. To comprehend a nectar Requires sorest need. Not one of all the purple Host Who took the Flag today Can tell the definition So clear of Victory As he defeated—dying— On whose forbidden ear The distant strains of triumph Burst agonized and clear! Emily Dickinson


7 de Maio de 2007

Caixa coral

Adiei o mundo que no escuro preparava o bote – coral na caixa preta do destino Sem descobrir o código – cobertor de ruído sobre o túnel – acordei diante do trem em direção ao corpo preso na ferrugem Nenhum desvio salvou-me do som despedaçado do violino Adeus dos outros, feito pão mofado na mesa posta de um cortiço Acolheu-me a musa no lado oposto à vida com o olhar mortiço para quem ficou encarando a minha sorte Ela escolhe e fisga o coração de quem não morre Para o resto – o inconformismo em mar de inveja repulsivo – ela tem o olhar que petrifica Fósseis na mira da Medusa fogem do Tempo, rosto final do Medo, que assoma como surda carruagem Enquanto somem, a seiva interminável cobre o sonho que guardei no bolso Carne oferecida à eternidade Nei Duclós


7 de Maio de 2007

Rysselberghe

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7 de Maio de 2007

Lenço de Distâncias

Batem contra o solo os cascos dos alazões. Impacientes, querem retesar mais uma vez as cordas do corpo desse alferes, o tal de Tiradentes. Amanheceu. O verdeprimo pio do nambu madureceu sob o ronco aterrador do trovão. Choveu e estiou na estação. Qual? Alguém lavrou e plantou. Nada se colheu? Há tempo e não há tempo em teus átrios, tua rude canção, tua faina nas auroras, tua indizível, absconsa inquietação. Uma casa, um pode de água fresca, um coração. Eu te mando este cartão postal e te aceno com meu lenço de distâncias, branco de adeus e resignação. Eu parto e permaneço. Estás e estiveste. É na marra que me desvencilho de tuas saúvas, de tuas cigarras, de tuas lavras, de teu gado nubente, de tuas águas trancadas, de tuas coivaras de milho. Pátena e cálix, diamante, melro, arrozal. Estão submersos os teus homens, as dadivosas, graciosas e florais mulheres, os prestos meninos e as pudicas meninas. Emersos, para teu uso exclusivo, só os adjetivos. Nas águas abissais desse teu mar inda florescem oiro e cafezais; há séculos um estigma de dor rui e rói o teu futuro. Entanto, tu te ofertas à eternidade, condenada a ficar cifrada em teu próprio ato de inquisição. Milenar, vetusta, defesa à invasão e à morada, ó minha Minas sitiada! São Paulo, Boston, Lisboa, Tóquio, aí vão os teus filhos evadidos. De tuas vidas, de teus óbitos, não existe assento nos tabeliães. Tuas possessões atestam que em ti ninguém morre e nada medra. Na pedra que tu és a vida se anulou com medo. Esse o teu único segredo. Erorci Santana


6 de Maio de 2007

Canção inaudível

Catar palavras tentar achar o lugar certo de encaixá-las fazê-las parecidas com o sol ou simplesmente seduzidas pela lua. A poesia é isso. A árdua tarefa de juntar o que não faz sentido... como a vida que a gente pensa que leva, mas leva a gente. Só isso. Se hoje sou triste, pouco importa. Daqui a pouco, sento-me diante da máquina e vou tecendo alegrias inventadas. Se estou insone, coloco um filme longo e chato e logo transformo a fita numa canção de ninar. No mais, nada. Uma saudade, talvez, que vem de longe, que encolhe dentro de mim e, sem que eu possa fazer nada, ecoa pela casa. Poetas, poetas... são almas penadas neste mundo repleto de Cidades de Deus, de comícios, farpas. São os olhos cegos do amor que perdemos na esquina, a dura e intrigante abnegação de si mesmo. O resto é pó. Pó de palavras queimadas pela falta de ouvidos e assuntos, pó de móvel esquecido de limpar e eu nada sei sobre poemas e poesias, apenas costuro letras como se tocasse uma canção inaudível. Iza Calbo


6 de Maio de 2007

Le Sueur

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6 de Maio de 2007

Eco

Vagas são as promessas e ao longe, muito longe, uma estrela. Cruel foi sempre o seu fulgor: sonâmbulas cidades, ruas íngremes, passos que dei sem onde. Era esse o meu reino, e era talvez essa a voz da própria lua. Aí ficou gravada a minha sede. Aí deixei que o fogo me beijasse pela primeira vez. Agora tenho as mãos vazias, regresso e sei que nada me pertence - - nenhum gesto do céu ou da terra. Apenas o rumor de breves sombras e um nome já incerto que por mágoa não consigo esquecer. Fernando Pinto do Amaral


6 de Maio de 2007

Palavra(s) favorita(s)

Numa conversa recente acerca da dificuldade de escolher uma palavra favorita (ou mesmo várias...), acabei por ficar com a certeza de que há duas que me são fundamentais - não porque ocupem exactamente uma posição ex aequo, mas antes porque uma e outra se confundem como alfa e ómega que se tocam no infinito poder/dever contido em cada uma: mãe e liberdade, água e luz da vida toda.


6 de Maio de 2007

La Hyre

Laurent%20de%20la%20Hyre.jpg Dia da Mãe


6 de Maio de 2007

Mudar de casa

É bom mudar de casa, de janela, arrumar de outra maneira as ilusões, tratar de coisas puras como tintas e sofás, pôr ordem entre os livros e a vida, simular a liberdade. Parece-nos possível voltar a acreditar na mão que nos estende um pé de salsa, na pechincha da beleza, quando passa no poente da razão. Apetece cometer uma loucura, comprar um telescópio, decorar o canto nono dos Lusíadas, subir umas escadas do avesso, pensar que nunca mais teremos frio. José Miguel Silva


5 de Maio de 2007

Matisse

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5 de Maio de 2007

Vento da vida

Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo. Pablo Neruda


5 de Maio de 2007

Cuidados

(gentileza de Amélia Pais) meu amor está triste e enche-me de cuidados. Onde está a almofada dos bilros? Já provaste os dendêns com açúcar? Não reduzas a valsa a um cheese-burguer num pub desconhecido! Ele disse-me - não canses os olhos nos bilros. O meu amor está triste e enche-me de cuidados. Maria Alexandre Dáskalos


4 de Maio de 2007

Mary Cassatt

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4 de Maio de 2007

Vestígios de magia IV

Não é do sono que nasce nem de obscuras palavras mas da luz que me ilumina os braços, olhos e face. Nasce de estranhos presságios submersos nos meus sentidos esta encantação de pássaros que voam da minha fala. Nasce talvez dos meus gestos de recônditos segredos e são as minhas secretas alegrias e meus medos. São meus transes, meus instantes que me possuem com a beleza de extrair corpos e plumas das tábuas da minha mesa. São minhas múltiplas horas de alucinados prazeres em que me assistem transidos o anoitecer e as auroras. Ah dom de inventar-me alado e voar com os meus vocábulos sem espaços que limitem meus pés no chão repousados. F. Castro Chamma


4 de Maio de 2007

O Carimbo da Noite

Manhã luz em frestas na cama desfeita os desenhos do sono segredos nas dobras do travesseiro Fábio Weintraub


3 de Maio de 2007

Vestígios de magia III

De que curva das trevas, de que ponta o negro voo treme e o ar trespassa e bate nos sentidos suas asas para acordar o canto, vil presságio de sujo enigma, este susto e espanto? Uma treva sem trégua, uma perdida face escondida se desprende e foge atrás de si para encontrar-se ao lado de quem renega e aceita. Ser sem nome, cujo dom é nutrir-se de seus passos como o corvo se nutre com seu voo da solidão que o habita, sem receio, rompe com o bico a negridão e surge nas páginas abertas deste espaço. F. Castro Chamma


3 de Maio de 2007

Rysselberghe

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3 de Maio de 2007

Fronteira

É doce a tentação do labirinto assim que o sono chega e se propaga ao contorno das coisas. mal as sinto quando confundo a onda sempre vaga deste falso cansaço que regressa ao som da minha estranha e dócil fala cada vez mais submersa como essa pequena luz da rua que resvala plo interior da noite. É quase um sonho A respirar lá fora enquanto o quarto se dilui na fronteira que transponho e afoga a consciência de onde parto agora sem direito nem avesso no incerto momento em que adormeço. Fernando Pinto do Amaral


3 de Maio de 2007

Vestígios de magia II

Este voo de cor voo caído, pano guardado no ar preso por mãos perdidas de sua forma: voo ruído, que traços traz, que letras, que mistura que nem chega a compor-se nos sentidos? Atrás desse tremor coloco o ouvido, atrás do ouvido as mãos, busco a figura do súcubo no escuro. Qual seu dom? de assaltar-me e fugir, de ser perdido acúmulo de sombra, assombração? Vejo os dedos; agulhas distribuídas, multiplicam-se quietas, trazem linha nas unhas - aparecem resguardadas no enleio derramado dos sorrisos. F. Castro Chamma


3 de Maio de 2007

Happiness

So early it's still almost dark out. I'm near the window with coffee, and the usual early morning stuff that passes for thought. When I see the boy and his friend walking up the road to deliver the newspaper. They wear caps and sweaters, and one boy has a bag over his shoulder. They are so happy they aren't saying anything, these boys. I think if they could, they would take each other's arm. It's early in the morning, and they are doing this thing together. They come on, slowly. The sky is taking on light, though the moon still hangs pale over the water. Such beauty that for a minute death and ambition, even love, doesn't enter into this. Happiness. It comes on unexpectedly. And goes beyond, really, any early morning talk about it. Raymond Carver


2 de Maio de 2007

Retrato de um Amor

Iluminas a sombra dos meus dias neste mundo que abrimos devagar entre o corpo e a alma, sempre mais secretos no abismo que os devora. Maior do que este amor nada haverá até ao fim dos tempos: os teus olhos respondem ao destino, à sua eterna graça que paira sobre as nossas vidas agora a transbordarem numa única razão feita de luz. a tua boca inunda a minha língua com o sabor de todos os sentidos que mergulham a noite numa água sem retorno. Para ti absorvo o hálito de um verão em cada beijo cego, surdo e mudo respirando de súbito em uníssono: enigma revelado num só frémito, insónia submersa que , em silêncio, regressa pouco a pouco aos nossos braços afogados na espuma do seu mar. Perto do teu sorriso há uma fonte embriagada e pura- meu amor, dá-me esse coração, essa primeira raiz de todo o fogo, esse relâmpago onde cresce para nós a flor de um grito; segreda-me às escuras mais um sonho antes de adormeceres sobre o meu ombro. Fernando Pinto do Amaral


2 de Maio de 2007

A Um Deus Surdo

Ó quem me dera ter outra vez vint’anos navegar no ignoto sem portulanos o peito feito para os da vida enganos era sensacional ó hermanos quem dera o brandy com castelo o dedo ao arrepio do pêlo o romanticismo do desvelo e tudo isto fingindo um grande anelo quem dera agora uma vez mais o rápido de Irún no cais a solicitude quente dos pais ai eu tirando de ouvido muitos ais óquem dera e outra vez viera e dera a ruminante paciência que há na espera o mistério lento da Primavera o emblema desenhado pela namorada: uma hera Fernando Assis Pacheco


2 de Maio de 2007

Bellini

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2 de Maio de 2007

The Voice Of The Ancient Bard

Youth of delight, come hither, And see the opening morn, Image of truth new born. Doubt is fled, & clouds of reason, Dark disputes & artful teazing. Folly is an endless maze, Tangled roots perplex her ways, How many have fallen there! They stumble all night over bones of the dead, And feel they know not what but care, And wish to lead others when they should be led. William Blake


2 de Maio de 2007

Vestígios de magia I

Leia os traços cruzados neste rosto cercado de silêncio: pedra viva em movimento. A boca cresce esquiva e ri branca e despida para dentro no rumo dos seus lábios. São os dentes a cerca protegida, são a vida as sombras de cabelo derramadas pelo corpo calado. Leia os traços da fala - a mão repele, vibra, grita no barbante seu nó para outra boca acesa em pensamento: porta aberta às grades do sorriso, cerca estreita ao alcance da recta ameaçada e o rumor pelo susto sacudido. F. Castro Chamma


2 de Maio de 2007

Carpioni

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2 de Maio de 2007

A Grande Solidão

do político ex-cassado do pierrot lunar do escritor ex-maldito do poirot no luna bar da mulher do poeta embriagado da estrela cadente do revolucionário milionário do espelho demente da multidão solitária do cachorro sem penas da faca sem lâmina do fugitivo da penitenciária do poeta arlequinal do povo sem voz da voz sem vez da vez sem nós Jomard Muniz de Britto


1 de Maio de 2007

The Fitful Alternations Of The Rain

The fitful alternations of the rain, When the chill wind, languid as with pain Of its own heavy moisture, here and there Drives through the gray and beamless atmosphere Percy Bysshe Shelley


1 de Maio de 2007

Rysselberghe

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1 de Maio de 2007

Soneto

Largo espectro de plata conmovida el viento de la noche suspirando, abrió con mano gris mi vieja herida y se alejó: yo estaba deseando. Llaga de amor que me dará la vida perpetua sangre y pura luz brotando. Grieta en que Filomela enmudecida tendrá bosque, dolor y nido blando. ¡Ay qué dulce rumor en mi cabeza! Me tenderé junto a la flor sencilla donde flota sin alma tu belleza. Y el agua errante se pondrá amarilla, mientras corre mi sangre en la maleza mojada y olorosa de la orilla. Federico García Lorca


1 de Maio de 2007

Bingham

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1 de Maio de 2007

Um Homem na Cidade

Agarro a madrugada como se fosse uma criança, uma roseira entrelaçada, uma videira de esperança. Tal qual o corpo da cidade que manhã cedo ensaia a dança de quem, por força da vontade, de trabalhar nunca se cansa. Vou pela rua desta lua que no meu Tejo acendo cedo, vou por Lisboa, maré nua que desagua no Rossio. Eu sou o homem da cidade que manhã cedo acorda e canta, e, por amar a liberdade, com a cidade se levanta. Vou pela estrada deslumbrada da lua cheia de Lisboa até que a lua apaixonada cresce na vela da canoa. Sou a gaivota que derrota tudo o mau tempo no mar alto. Eu sou o homem que transporta a maré povo em sobressalto. E quando agarro a madrugada, colho a manhã como uma flor à beira mágoa desfolhada, um malmequer azul na cor, o malmequer da liberdade que bem me quer como ninguém, o malmequer desta cidade que me quer bem, que me quer bem. Nas minhas mãos a madrugada abriu a flor de Abril também, a flor sem medo perfumada com o aroma que o mar tem, flor de Lisboa bem amada que mal me quis, que me quer bem. José Carlos Ary dos Santos


1 de Maio de 2007

Escrever

O português são dois, o outro, mistério. Carlos Drummond de Andrade Escrever: Descobrir coisas que não sabia. Melhor: Que não sabia que sabia. Melhor: Que nunca saberia... Escrever: Ato de busca, de desvelamento, de auto-encontro. Escrever: Ler, perplexo, Os escaninhos da alma, Os fugidios escaninhos da alma... Escrever: Aprendizagem fácil, Tremendamente difícil. Escrever: Esfinge bifronte: Assaltar as arcas do verbo, Permitir que a palavra nos encontre. J. Romero Antonialli


1 de Maio de 2007

Rysselberghe

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