Arquivo de agosto 2008
¶ 31 de Agosto de 2008
agora o outono chega, nos seus plácidos
meneios pelas vinhas, um dos vizinhos passa
um cabaz de maçãs por sobre a vedação:
redondas, verdes, o seu perfume vai
dentro de quinze dias ser mais forte.
a noite cai mais cedo e apetece
guardar certos vermelhos da folhagem
e amarelos e castanhos nas ladeiras
de setembro. a rádio fala no tempo variável
que vem aí dentro de dias. talvez caia
uma chuvinha benfazeja, a pôr no ponto certo
os bagos de uva. e há poalhas morosas, mais douradas.
aproveita-se o outono no macio
enchimento dos frutos para colhê-lo a tempo.
devagar, devagar. é mais doce no outono a tua pele.
Vasco Graça Moura
¶ 31 de Agosto de 2008
o encanto de Minna Planer
¶ 31 de Agosto de 2008
A ausência aumenta sempre o amor não satisfeito e a filosofia não o mitiga.
Voltaire, in O ingénuo, trad. João Gaspar Simões
¶ 31 de Agosto de 2008
Dear, if you love me, hold me most your friend,
Chosen from out the many who would bear
Your gladness gladly - heavily your care;
Who best can sympathize, best comprehend,
Where others fail; who, breathless to the end,
Follows your tale of joy or of despair:
Hold me your counsellor, because I dare
To lift my hand to guide you, that I lend
My love to help you. And I would you knew
That I am fair enough to win men's hearts,
If so I willed; yet honor me above
All other women, since I am too true
To trap you with my sex's smaller arts.
Deem me all these, but love me as your love.
Alice Duer Miller
¶ 31 de Agosto de 2008
Leda e o cisne em tons neoclássicos, pela mão de Francisco Vieira de Matos
¶ 31 de Agosto de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
A minha amada possui a cintura esbelta e firme.
Já estive num avião e de cima ela parece mais pequena
mas ainda que eu fosse piloto assim me agradaria.
Ela própria lava a roupa, a espuma sonha e treme nos seus braços,
ajoelha-se como se rezasse, esfrega o chão
e, ao acabar, ri alegremente.
O seu riso é uma maçã cuja casca morde com estrépito
e também a maçã ri, então, às gargalhadas.
Quando amassa o pão levanta-se ao amanhecer
como os padeiros, parentes dos fornos de pão suave
que vigiam com as suas longas pás.
A farinha, ao derramar-se, voa até aos seus peitos livres
onde fica a dormir tranquilamente,
tal como a minha amada no leito perfumado,
depois de esfregar
e de abraçar, até limpar completamente, o meu coração.
A minha esposa será como ela se eu crescer e amadurecer como um homem
e casar-me-ei como o meu pai.
József Attila
¶ 31 de Agosto de 2008
Breeze of the night, across my pillow straying
Breeze of the night, of summer dews begot,
Salt from the sea-shore, where the waves are playing,
Slow, to and fro, my window curtains swaying
Cool my flushed cheeks, by recent sleep left hot.
Alice Duer Miller
¶ 31 de Agosto de 2008
(excerto)
olhares: o que vê
resulta na dúvida original
de que o todo e o nada
sejam entre os caminhos
irresolutos modos
de nos perdermos.
Pedro Du Bois
¶ 30 de Agosto de 2008
(...) os ímpetos de amor correm à rédea solta até se encontrarem com a razão ou com o desengano; (...) Esta formosura que tu dizes que eu tenho, que dizes estimar mais do que o sol e apreciar mais do que ao ouro, quem me diz que te não parecerá sombra se a tocares de perto, e, tocada de perto, te não parecerá alquimia?
Miguel de Cervantes, in A ciganita, trad. Augusto Casimiro
¶ 30 de Agosto de 2008
Retrato da bela Dojouji, cortesã famosa no Japão em finais do século XVIII.
¶ 30 de Agosto de 2008
De Abel a Zita, uma mão cheia de nomes ocupou muito deste espaço durante a quinzena que passou. Uma tarefa lúdica, sem pretensões, feita com gosto e, salvo duas ou três excepções, pretexto para relembrar figuras da preferência de quem teve o privilégio da escolha. Serviu para, em pesquisas colaterais, encontrar curiosidades - e sobretudo preencher dias que, perdida a agenda inicial por razões de força considerável, foram vividos em espaço confinado. Espero que os sempre generosos leitores do modus apreciem a série, que pode ser vista em conjunto a partir da secção criada para o efeito.
¶ 30 de Agosto de 2008
Zita Duarte
É um nome persa que significa “mantém-se virgem” e corresponde a uma mulher algo caprichosa e egoísta, mas com um forte instinto protector face à família ou pessoas de quem gosta. Zita é uma derivação de Felicitá; trata-se em regra de uma pessoa que vive ligada a memórias da infância ou ao seu passado emocional. Com a idade, modifica-se e torna-se mais terna.
¶ 30 de Agosto de 2008
com o mar de cor
¶ 30 de Agosto de 2008
Deve usar-se a poesia como jóia preciosa que o dono não traz todos os dias, nem mostra a toda a gente, nem a cada passo, mas só quando convém e há razão para mostrá-la. A poesia é uma virgem formosíssima, casta, honesta, discreta, inteligente, reservada, que se mantém dentro dos limites da mais alta modéstia. Amiga da solidão, entretêm-na as fontes, consolam-na as pradarias; sossegam-na as árvores, alegram-na as flores, enquanto ela deleita e ensina quantos com ela convivem.
Miguel de Cervantes, in A ciganita, trad. Augusto Casimiro
¶ 30 de Agosto de 2008
Now as at all times I can see in the mind's eye,
In their stiff, painted clothes, the pale unsatisfied ones
Appear and disappear in the blue depth of the sky
With all their ancient faces like rain-beaten stones,
And all their helms of Silver hovering side by side,
And all their eyes still fixed, hoping to find once more,
Being by Calvary's turbulence unsatisfied,
The uncontrollable mystery on the bestial floor.
William Butler Yeats
¶ 30 de Agosto de 2008
Vera Mantero
Vera é um nome latino que significa “verdadeira, confiável". Geralmente, são mulheres que têm uma noção clara dos problemas da vida. Além do mais, têm bom senso e são cuidadosas na forma de lidar com as pessoas de quem gostam. São criativas e muitas vezes cultivam as artes.
¶ 30 de Agosto de 2008
Pensar en ti es azul, como ir vagando
por un bosque dorado al mediodía:
nacen jardines en el habla mía
y con mis nubes por tus sueños ando.
Nos une y nos separa un aire blando,
una distancia de melancolía;
yo alzo los brazos de mi poesía,
azul de ti, dolido y esperando.
Es como un horizonte de violines
o un tibio sufrimiento de jazmines
pensar en ti, de azul temperamento.
El mundo se me vuelve cristalino,
y te miro, entre lámpara de trino,
azul domingo de mi pensamiento.
Eduardo Carranza
¶ 29 de Agosto de 2008
Vanessa Redgrave
Este é um nome inglês. Supõe-se que tenha sido o escritor Jonathan Swift (autor das “Viagens de Gulliver”) quem o tornou popular, tendo-o usado em honra de uma amiga no poema “Cadenus and Vanessa”. Designa um tipo de borboleta e indica uma mulher que gosta de conforto e harmonia; é dedicada mas um tanto ou quando volúvel no plano emocional, o que faz com que, na juventude, tenha frequentemente novas paixões. No plano profissional, é combativa, perfeccionista e bem conceituada.
¶ 29 de Agosto de 2008
Camino entre casas de cartón,
entre gentes sin alma.
Dentro de mí resuena la música del mar,
el viento de la estepa,
el rumor de árboles azotados.
Sólo tu nombre quiero decir alto,
decirlo muchas veces,
escucharlo volar como un pájaro ciego
rasgando las paredes;
repetirlo
como un rezo de salvación,
como un canto de amor,
cuando la soledad
con su voraz marea me derriba
y se quiebra la máscara
deshecha por mi llanto.
Eliana Navarro
¶ 29 de Agosto de 2008
Quem espera sentado
o inabalável tempo
das reconquistas
sente no rosto a poeira
áspera e seca
na concentração esperta
das sujeiras
o tempo não chega ao tempo
das minúcias e a espera
se apresenta em exposição
amaldiçoada das vertentes
levantar e sair da vida inviável
de incertezas postas aos lados
irrecusáveis das sentenças
povoadas ao interior melódico
como o vento se apresenta.
Pedro Du Bois
¶ 29 de Agosto de 2008
Thomas Mann
Tomás (ou Tomé) é um nome hebraico que significa “o irmão gémeo”. É uma pessoa que vive intensamente os desafios intelectuais; é eficiente e tem uma grande força de vontade, lucidez analítica e capacidade de reflexão.
¶ 29 de Agosto de 2008
Why do we fall in love? I do believe
That virtue is the magnet, the small vein
Of ore, the spark, the torch that we receive
At birth, and that we render back again.
That drop of godhood, like a precious stone,
May shine the brightest in the tiniest flake.
Lavished on saints, to sinners not unknown;
In harlot, nun, philanthropist, and rake,
It shines for those who love; none else discern
Evil from good; Men's fall did not bestow
That threatened wisdom; blindly still we yearn
After a virtue that we do not know,
Until our thirst and longing rise above
The barriers of reason—and we love.
Alice Duer Miller
¶ 29 de Agosto de 2008
Teresa Rita Lopes
É um nome grego que significa “a caçadora” ou "a que veio da ilha de Tera". Corresponde a uma mulher suave, dócil e conformista. Contudo, sabe gerir a resignação e supera a tendência para o comodismo com a facilidade que tem de se dedicar ao estudo ou ao trabalho.
¶ 29 de Agosto de 2008
Young and in love-how magical the phrase!
How magical the fact! Who has not yearned
Over young lovers when to their amaze
They fall in love and find their love returned,
And the lights brighten, and their eyes are clear
To see God's image in their common clay.
Is it the music of the spheres they hear?
Is it the prelude to that noble play,
The drama of Joined Lives? Ah, they forget
They cannot write their parts; the bell has rung,
The curtain rises and the stage is set
For tragedy-they were in love and young.
Alice Duer Miller
¶ 29 de Agosto de 2008
Susana Baca
Susana significa "lírio gracioso" e é o nome da personagem bíblica que encarna a castidade. Indica uma rapariga alegre e sociável, que tem sucesso quando supera a indolência que a caracteriza.
¶ 29 de Agosto de 2008
Guard yourself from the terrible empty light of space, the bottomless
Pool of the stars. (Expose yourself to it: you might learn something.)
Guard yourself from perceiving the inherent nastiness of man and woman.
(Expose yourself to it: you might learn something.)
Faith, as they now confess, is preposterous, an act of will.
Choose the Christian sheep-cote
Or the Communist rat-fight: faith will cover your head from the man-devouring stars.
Robinson Jeffers
¶ 29 de Agosto de 2008
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sofia é um nome grego que significa "sabedoria" e indica uma pessoa com uma enorme força de vontade. Também é muito cuidadosa, age sempre com calma e ponderação, já que desconfia da vitória fácil.
¶ 29 de Agosto de 2008
O Oficial comandante era um daqueles homens que se sentiam moral e quase fisicamente desconfortáveis ante a mera possibilidade de terem de desmascarar uma mentira. Fugia com tal desprezo e aversão de uma situação do género, sobretudo por se tratar mais de uma questão de temperamento do que de moral.
Joseph Conrad, in O Conto, trad. Bárbara Pinto Coelho
¶ 28 de Agosto de 2008
Sarah Afonso
Sara é um nome hebraico e significa "princesa". Na aparência, pode ser considerada uma mulher snobe, distante, mas no fundo é sensível e generosa, chegando ao ponto de sofrer com os problemas alheios.
¶ 28 de Agosto de 2008
O vento que se levanta
Durante o dia
Dura bastante tempo;
O vento nocturno
Em breve afrouxa.
Sun Tzu, in A arte da guerra, trad. Ricardo Silva
¶ 28 de Agosto de 2008
Samuel Beckett
Samuel é um nome hebraico que significa "aquele a quem Deus ouve" e corresponde a uma pessoa que age com determinação ese preocupa com a justiça. Não descansa enquanto não atingir os seus objectivos, sendo um trabalhador perseverante e exigente.
¶ 28 de Agosto de 2008
Nunca te movas
Excepto para obter vantagem;
Nunca te posiciones
Excepto para a vitória;
Nunca lutes
Excepto em apuros.
Sun Tzu, in A arte da guerra, trad. Ricardo Silva
¶ 28 de Agosto de 2008
Sandra Bullock
Sandra é uma variante italiana de Alexandra, que significa “defensora do homem”. Indica uma rapariga original, optimista e versátil. Também é ambiciosa, pragmática, despreocupada, podendo mesmo chegar a ser frívola.
¶ 28 de Agosto de 2008
A curiosidade é o grande motor do ódio e do amor.
Joseph Conrad, in O Conto, trad. Bárbara Pinto Coelho
¶ 28 de Agosto de 2008
Ruth Rendell
Rute é um nome hebraico que pode significar "cheia de beleza" ou “a companheira fiel”. A dona deste nome tem facilidade em aprender vários assuntos, dado o seu espírito vivo e atento, o que lhe oferece isso grandes hipóteses de triunfar profissionalmente. É arguta e directa.
¶ 28 de Agosto de 2008
Nada é mais inabalável no mundo do que o capricho de uma mulher.
Joseph Conrad, in O Conto, trad. Bárbara Pinto Coelho
¶ 28 de Agosto de 2008
Rita Lee
É um nome de origem latina e a forma reduzida de “Margarida”, ou seja, “a que é preciosa e valiosa como uma pérola”... Tem como principal característica a simplicidade no trato, sendo uma mulher pouco exigente e simpática.
¶ 28 de Agosto de 2008
Acordar, ser na manhã de Abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira.
Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, ou o quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja.
Eugénio de Andrade
¶ 27 de Agosto de 2008
Richard Dawkins
Ricardo é um nome germânico que significa “poderoso, forte como soberano”. Indica uma pessoa prática e decidida, interessada na realidade. É um homem equilibrado e seguro.
¶ 27 de Agosto de 2008
jogo de forças
¶ 27 de Agosto de 2008
Sinto que a minha mocidade refloresce.
Desejo aquele vinho que me dá calor e alegria...
Quero vinho...
Dizes que é amargo?
Não importa.
Tem o gosto da vida.
Omar Kháyyám, trad. Cecília Meireles
¶ 27 de Agosto de 2008
Pedro Burmester
São rapazes austeros e extremamente disciplinados que procuram uma realização sobretudo intelectual. Tem tendência para monopolizar as atenções e são quase sempre carismáticos. O seu nome deriva do latim e significa “que é firme como uma rocha” ou "pedra".
¶ 27 de Agosto de 2008
Até então não me tinha apercebido de que era um homem na verdadeira acepção da palavra. Recordo os rostos exaustos, as figuras abatidas dos meus dois homens, e recordo a minha juventude e uma sensação que nunca mais tive - a sensação de que viveria para sempre, que sobreviveria ao mar, à terra, e a todos os homens; a sensação enganosa que nos conduz a alegrias, a perigos, ao amor, ao esforço inútil - à morte; a triunfante convicção da pujança, o calor da vida numa mão cheia de pó, a chama do coração que ano após ano se esvai, esfria, encolhe e se extingue - e extingue-se demasiado cedo, tão cedo - antes da própria vida.
Joseph Conrad, in Juventude, trad. Bárbara Pinto Coelho
¶ 27 de Agosto de 2008
Paul Newman
O homem que tem o nome de Paulo, com o mesmo significado da variante feminina (pequeno), revela ser uma pessoa comunicativa e amável, dotado de um optimismo contagiante e muito ambicioso nos projectos.
¶ 27 de Agosto de 2008
The pennycandystore beyond the El
is where i first
fell in love
with unreality
Jellybeans glowed in the semi-gloom
of that september afternoon
A cat upon the counter moved among
the licorice sticks
and tootsie rolls
and Oh Boy Gum
Outside the leaves were falling as they died
A wind had blown away the sun
A girl ran in
Her hair was rainy
Her breasts were breathless in the little room
Outside the leaves were falling
and they cried
Too soon! too soon!
Lawrence Ferlinghetti
¶ 27 de Agosto de 2008
Paula Rego
Paula significa "pequena" e corre o risco de não se destacar das outras mulheres, pois só presta atenção àquilo que lhe suscita verdadeiro interesse; se não encontrar um fulcro, torna-se facilmente superficial.
¶ 27 de Agosto de 2008
When lovely woman stoops to folly,
And finds too late that men betray,
What charm can soothe her melancholy,
What art can wash her guilt away?
The only art her guilt to cover,
To hide her shame from every eye,
To give repentance to her lover,
And wring his bosom, is—to die.
Oliver Goldsmith
¶ 27 de Agosto de 2008
Patricia Highsmith
Patrícia significa "fidalga" ou "de nobre estirpe" e indica uma mulher persistente, que sabe valorizar-se e que exige muito de si própria, revelando-se eficiente em tudo o que realiza.
¶ 27 de Agosto de 2008
Era Janeiro e o tempo estava glorioso: um glorioso tempo ensolarado de Inverno, mais encantador que o de Verão pelo que tem de inesperado e de revigorante, e por se saber que não vai, não pode, durar muito. É como uma herança inesperada, uma dádiva divina, um golpe de sorte.
Joseph Conrad, in Juventude, trad. Bárbara Pinto Coelho
¶ 26 de Agosto de 2008
Óscar Lopes
Este é um nome que indica uma pessoa tímida e introvertida, que sofre muito no movimento de expor os seus sentimentos e se sente bastante mais à vontade no mundo das ideias. Óscar significa "lança dos deuses".
¶ 26 de Agosto de 2008
Procuro o que sei encontrar
entre muros, na solidez da casa.
Dispenso o que está fora do alcance
determinado pela distância máxima
onde concentro a minha procura.
Esqueço o lado de fora
trabalho no avesso
abro as cortinas
a visão me enlouquece.
Procuro as coisas de sempre
nos mesmos lugares
até que o nada me imobilize.
Pedro Du Bois
¶ 26 de Agosto de 2008
Olga Roriz
É um nome de origem eslava e significa “a sublime” ou "feliz" e refere-se a uma pessoa inteligente, dotada de uma forte imaginação e gosto pelas artes. Por vezes, deixa-se levar pelos sonhos e tem dificuldade em ser prática.
¶ 26 de Agosto de 2008
He sembrado mi nombre
en la tierra dorada
donde habitan tus besos
y canta la esperanza.
Mujer de dulces frutos,
caída y levantada
una y mil veces más
por mi amor sin mañana.
He sembrado en tu vientre
mi infinita nostalgia,
y mis sueños perdidos,
para que en tus entrañas
sientas que noche y día
te canta mi esperanza.
Víctor Sandoval
¶ 26 de Agosto de 2008
Nuno Júdice
É um nome de origem latina e deriva de “nono”. É em regra um rapaz que tem uma grande necessidade de se afirmar até atingir um estatuto reconhecido, bem como de atender ao seu ego exigente. Pode ser possessivo com a amada se não tiver ultrapassado e superado completamente alguma insegurança adolescente.
¶ 26 de Agosto de 2008
Quando as chuvas a montante
Engolirem o rio,
Deixa que as águas acalmem
Antes de o atravessar.
Sun Tzu, in A arte da guerra, trad. Ricardo Silva
¶ 26 de Agosto de 2008
Nicolaus Copernicus
Nicolau significa "o que vence junto do povo". Os homens com este nome são trabalhadores incansáveis, simpáticos e têm uma grande capacidade de comunicação.
¶ 26 de Agosto de 2008
Yo,
un hijo del Caribe,
precisamente antillano.
Producto primitivo de una ingenua
criatura borinqueña
y un obrero cubano,
nacido justamente, y pobremente,
en suelo quisqueyano.
Recorrido de voces,
lleno de pupilas
que a través de las islas se dilatan,
vengo a hablarle a Walt Whitman,
un cosmos,
un hijo de Manhattan.
Preguntarán
¿quién eres tú?
Comprendo.
Que nadie me pregunte
quién es Walt Whitman.
Iría a sollozar sobre su barba blanca.
Sin embargo,
voy a decir de nuevo quién es Walt Whitman,
un cosmos,
un hijo de Manhattan.
Pedro Mir
¶ 26 de Agosto de 2008
Nélson Évora
Este nome tornou-se mais usado por ser o apelido do almirante inglês Horatio Nelson. É derivado do celta e significa “o filho de Neil”. Além de ser um excelente amigo, Nélson é um homem metódico e determinado que luta pelos seus objectivos.
¶ 25 de Agosto de 2008
First, I would have her be beautiful,
and walking carefully up on my poetry
at the loneliest moment of an afternoon,
her hair still damp at the neck
from washing it. She should be wearing
a raincoat, an old one, dirty
from not having money enough for the cleaners.
She will take out her glasses, and there
in the bookstore, she will thumb
over my poems, then put the book back
up on its shelf. She will say to herself,
"For that kind of money, I can get
my raincoat cleaned." And she will.
Ted Kooser
¶ 25 de Agosto de 2008
Natália Correia
Natália é um nome de origem latina que significa “a que nasceu no natal” e refere-se a uma mulher que, em criança, aparenta ser meiga e tranquila, mas na verdade tem uma personalidade marcada pela força de vontade e pela determinação. É desconfiada, muito observadora e selectiva.
¶ 25 de Agosto de 2008
Vienen las horas, horas de cielo azul,
y de verano, sobre la copa verde.
Vienen sobre las velas de la mar
del sur y luego sobre los hombres vienen.
Crujen al paso del timón y saltan,
y desde entonces saltan sobre los meses.
Y un caracol de manos entre la espuma
coge su mes de plata y lo desenvuelve.
(...)
Vienen las horas y yo quería un rápido
florecimiento de amor, una inminente
paz cuajada bajo los techos. ¡La vida
manda que pueble estos caminos oscuros!...
Yo quería una verde provincia de pan
y frutas erguida sobre un mapa reciente,
junto al agua de piedras que el puño alcanza,
y el afán alcanza y el sudor contiene...
La vida manda que pueble estos caminos:
manda que pueble estos caminos y entonces
sale esta voz de sombras y de raíces
amargas y de mariposas de fiebre,
de esta garganta tupida de raíces
amargas y de encendidas mariposas de fiebre.
Pedro Mir
¶ 25 de Agosto de 2008
Monica Bellucci
É um nome de origem grega que significa “a de vida recatada, a que ama estar só”. É uma mulher discreta, criativa e lúcida. Também é simpática, generosa e cativante. Nunca desiste dos seus ideais, mas sabe esperar a altura certa para agir.
¶ 25 de Agosto de 2008
Não estou presente ao começo
meu fim aproximado ao exato
esconderijo camuflado em palavras
ditas em línguas de encobrimentos
não me atormento pela ausência
ciente da oportunidade
jogada na lata de lixo:
o conhecimento faz a guarda
e sou prisioneiro
entre escamas e vísceras
peles e couros desprezados
não tenho espaço no matadouro próximo
e minhas necessidades são multiplicadas
em códigos sinalizados aos exteriores
não sou o louro da vitória
carregado fardo e descontrole
do lugar permitido aos arremedos
solitários: os esgares me fazem falta
e do fundo do novo me digo pronto
ao início desocupado.
Pedro Du Bois
¶ 25 de Agosto de 2008
Manuel Alegre
Manuel (ou Emanuel) significa "Deus está entre nós" e indica uma pessoa que é o oposto de um solitário, já que gosta de viver rodeada de amigos, tem um grande sentido de humor, gosta de brincar e prima pela simpatia e acuidade.
¶ 25 de Agosto de 2008
The cloakroom pegs are empty now,
And locked the classroom door,
The hollow desks are lined with dust,
And slow across the floor
A sunbeam creeps between the chairs
Till the sun shines no more.
Who did their hair before this glass?
Who scratched 'Elaine loves Jill'
One drowsy summer sewing-class
With scissors on the sill?
Who practised this piano
Whose notes are now so still?
Ah, notices are taken down,
And scorebooks stowed away,
And seniors grow tomorrow
From the juniors today,
And even swimming groups can fade,
Games mistresses turn grey.
Philip Larkin
¶ 25 de Agosto de 2008
Martha Stewart
Tem como significado "a senhora da casa" e corresponde a uma mulher apaixonada pelo método e pela organização. Procura ser exemplar e raramente critica o comportamento de outras pessoas.
¶ 25 de Agosto de 2008
Quando ele voltou
a moça do portão estava casada
o prefeito era uma cruz e uma placa
as aves mudaram de itinerário
como os ônibus
o irmão mais moço tomava ópio
para esquecer.
Quando ele voltou
o empregado da esquina respondera
a um processo
onde perdeu a esperança e os dedos
o pai fuzilara um estudante
a mãe fugira com um mascate.
Quando ele partiu
a primavera galopava nos rosais
os campos de begônia floresciam
o gado esturrava nos currais
a terra desafiada vicejava como
uma égua na véspera do galope.
Quando ele partiu
o alimento dos olhos era verdura
de paisagem além da cerca
as goiabas enchiam os cestos
as mulheres voltavam com os meninos
os velhos falavam de assombração
a lua espreitava o pátio e o quintal.
Quando ele voltou
o ministro citava o arquiteto
com a pretensão de restaurar
o tempo à revelia dos relógios
o muro substituía o horizonte
autoridades sonolentas distribuíam
o passaporte dos homens para o sanatório.
Quando ele voltou
as leis se haviam tornado ainda mais fósseis
as oligarquias muito mais poderosas
os poderosos mais astutos
o ministro lembrava ? a pá sob os escombros?
o menino relia as manchetes da guerra
os preconceitos rimavam com a economia.
Quando ele voltou
Havia uma encruzilhada e um alto falante
a moça do portão estava casada
o irmão caçula era um soldado velho.
Quando ele partiu
a primavera galopava nos rosais.
Quando ele voltou
o céu era só um galope amarelo.
Florisvaldo Mattos
¶ 25 de Agosto de 2008
Marie Curie
Maria é um nome hebraico com vários significados: a vidente ou a profeta, a estrela do mar, a eleita, a senhora. Nos países latinos, é tradicional o uso de Maria em nomes femininos compostos, como Maria de Fátima, Maria Imaculada, Maria de Jesus, Maria José, Maria de Lurdes, Maria do Rosário, etc. Quando adoptado sem combinação alguma, corresponde a uma mulher serena e muito rigorosa com os próprios erros. Tem grandes ambições de realização pessoal e sabe renunciarà vida mundana e viver só.
¶ 24 de Agosto de 2008
This morning the green fists of the peonies are getting ready
to break my heart
as the sun rises,
as the sun strokes them with his old, buttery fingers
and they open ---
pools of lace,
white and pink ---
and all day the black ants climb over them,
boring their deep and mysterious holes
into the curls,
craving the sweet sap,
taking it away
to their dark, underground cities ---
and all day
under the shifty wind,
as in a dance to the great wedding,
the flowers bend their bright bodies,
and tip their fragrance to the air,
and rise,
their red stems holding
all that dampness and recklessness
gladly and lightly,
and there it is again ---
beauty the brave, the exemplary,
blazing open.
Do you love this world?
Do you cherish your humble and silky life?
Do you adore the green grass, with its terror beneath?
Do you also hurry, half-dressed and barefoot, into the garden,
and softly,
and exclaiming of their dearness,
fill your arms with the white and pink flowers,
with their honeyed heaviness, their lush trembling,
their eagerness
to be wild and perfect for a moment, before they are
nothing, forever?
Mary Oliver
¶ 24 de Agosto de 2008
Mafalda Arnauth
Mafalda, forma popular de Matilde, é um nome de origem germânica que significa "força" ou "virgem poderosa na batalha". Mafalda procura ter um papel de mulher doce e intuitiva que se distingue por uma forma de agir muito habilidosa. É decidida, independente, paciente e tem uma imaginação muito fértil. Cultiva um espírito aberto e idealista.
¶ 24 de Agosto de 2008
a paixão resume
o sentimento: estar preso
ao destino, distribuir
o fogo trazido ao sacrifício
ao fim o fogo
transubstanciado
em cinzas
ressurge ao estar preso
a paixão prende o corpo
em grades transversas
onde a carne é ofendida
em músicas: estar aqui
e se ver do lado de fora
do lado de fora, esqueço.
Pedro Du Bois
¶ 24 de Agosto de 2008
Madeleine Albright
Madalena é um nome de origem hebraica e significa “A que vive só na torre, a magnífica”. Corresponde a uma pessoa serena, raramente impulsiva, e que distingue muito bem o certo do errado.
¶ 24 de Agosto de 2008
"Num sistema, pequena alterações nas condições iniciais podem provocar grandes alterações na condições finais".
José Mário Silva in Efeito Borboleta e Outras Histórias
¶ 24 de Agosto de 2008
Luís Miguel Cintra
De origem germânica, Luís significa "combatente glorioso" e corresponde a um homem criativo e inteligente, com grande capacidade para enfrentar desafios. A sua seriedade inspira admiração e confiança.
¶ 24 de Agosto de 2008
He dug what she said:
bright jellies, smooth marmalade
spread on warm brown bread.
"Jazz" from drowsy lips
orchids lift to honeybees
floating on long sips.
"Jazz": quick fingerpops
pancake on a griddle-top
of memories. Stop.
"Jazz": mysterious
as nutmeg, missing fingers,
gold,Less serious.
"Jazz": cool bannister.
Don't need no stair.Ways to climb
when the sax is there.
James A. Emanuel
¶ 24 de Agosto de 2008
Leonor Silveira
Leonoré um nome que deriva do grego e significa “Forte, mas compassiva e misericordiosa”. A beleza física e a graciosidade são muitas vezes apanágio das mulheres assim chamadas.
¶ 24 de Agosto de 2008
Ben Zoma disse: Quem é sábio? Quem aprende com todos. Quem é forte? Quem domina a yetzer hara*. Quem é rico? Quem está satisfeito com aquilo que tem.
*inclinação para o mal
¶ 23 de Agosto de 2008
Laura Esquível
Lauraé um nome latino que significa “coroada de louros, triunfadora ou digna de louros” e indica uma pessoa que não necessita esforçar-se muito para ser amável e agradável com os outros. A alusão ao louro, como símbolo de vitória, corresponde a uma natureza persistente.
¶ 23 de Agosto de 2008
Who says that all must vanish?
Who knows, perhaps the flight
of the bird you wound remains,
and perhaps flowers survive
caresses in us, in their ground.
It isn't the gesture that lasts,
but it dresses you again in gold
armor --from breast to knees--
and the battle was so pure
an Angel wears it after you.
Rainer Maria Rilke translated by A. Poulin
¶ 23 de Agosto de 2008
José Cardoso Pires
José é um nome hebraico relacionado com algo divino, já que o seu significado é "Deus acrescenta". Em regra, José é um homem sensível, confiante e generoso.
¶ 23 de Agosto de 2008
começar outro dia
¶ 23 de Agosto de 2008
By a departing light
We see acuter, quite,
Than by a wick that stays.
There's something in the flight
That clarifies the sight
And decks the rays.
Emily Dickinson
¶ 22 de Agosto de 2008
João Lobo Antunes
João significa "agraciado por Deus" e indica um homem com forte espírito de liderança, por vezes bastante impulsivo, generoso e capaz de compromissos.
¶ 22 de Agosto de 2008
Voici venir les temps où vibrant sur sa tige
Chaque fleur s'évapore ainsi qu'un encensoir;
Les sons et les parfums tournent dans l'air du soir;
Valse mélancolique et langoureux vertige!
Chaque fleur s'évapore ainsi qu'un encensoir;
Le violon frémit comme un coeur qu'on afflige;
Valse mélancolique et langoureux vertige!
Le ciel est triste et beau comme un grand reposoir.
Le violon frémit comme un coeur qu'on afflige,
Un coeur tendre qui hait le néant vaste et noir!
Le ciel est triste et beau comme un grand reposoir;
Le soleil s'est noyé dans son sang qui se fige.
Un coeur tendre qui hait le néant vaste et noir,
Du passé lumineux receuille tout vestige!
Le soleil s'est noyé dans son sang qui se fige ...
Ton souvenir en moi luit comme un ostensoir!
Charles Baudelaire
¶ 22 de Agosto de 2008
Ivone Lara
De origem germânica, Ivone significa "a que usa o arco para combater". É uma pessoa combativa e persistente que não tem falta de energia nem de criatividade para vencer na vida, sobretudo na área dos negócios.
¶ 22 de Agosto de 2008
(excerto)
...
verdade
dúzias de rosas vermelhas e a lapela
ostenta o lenço dos velhos tempos
templos de acordos
mãos que se beijam
sensualmente sobre as luvas
a curva sonhada
o dorso da mão
e os dedos isentos
de migalhas
...
Pedro Du Bois
¶ 22 de Agosto de 2008
Isabelle Huppert
Isabel é um nome hebraico que significa “a que ama Deus”. Tal como Inês, também significa "casta" e "pura". É uma mulher que possui elevada capacidade de autocrítica e um forte desejo de ajudar o próximo.
¶ 22 de Agosto de 2008
Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como um bosque.
É a hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas na luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso
a quem se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus olhos
ser toda a nostalgia das areias.
Eugénio de Andrade
¶ 22 de Agosto de 2008
Inês de Medeiros
De origem grega, significa "casta" e "pura" e indica uma pessoa que tem muita coragem e capacidade de raciocínio, principalmente para tomar decisões. Apesar de saber liderar bastante bem um grupo, pode ser um tanto ou quanto dominadora.
¶ 22 de Agosto de 2008
Desembarcar subitamente no meio do mar.
Surpresa e contentamento de te ver e não saber
o teu nome nem a distância que vai dos lábios às rosas,
a sua diferença subtil - desembarcar no mar e
largar os navios à sua longa vagem, porque uma voz
nos chama, e não sabemos que voz nos chama,
e ser a tua voz sem saber que é teu o rasto
dos pássaros, o que resta das marés.
Francisco José Viegas
¶ 22 de Agosto de 2008
No teu rosto começa a madrugada.
Luz abrindo,
de rosa em rosa,
transparente e molhada.
Melodia
distante mas segura,
irrompendo da terra,
quente, redonda, madura.
Mar imenso,
praia deserta, horizontal e calma.
Sabor agreste.
Rosto da minha alma.
Eugénio de Andrade
¶ 22 de Agosto de 2008
Hugo Pratt
Este nome deriva de uma raizgermânica e significa "inteligente". É uma pessoa afectiva, leal e sincera. Porém, Hugo tende a ser vaidoso e egoísta, pelo que os pais devem ensiná-lo a dar mais atenção ao lado positivo daquilo que o cerca, corrigindo o seu egocentrismo.
¶ 22 de Agosto de 2008
Outra vez o pátio vidrado da manhã.
Vais surgir e dizer: eu vi um barco.
Era quando aos lábios me chegava
a porosa argila doutros lábios.
Estava então a caminho de ser ave.
Eugénio de Andrade
¶ 21 de Agosto de 2008
Maria Helena Vieira da Silva
Helena significa "luz" e revela uma pessoa que parece estar a olhar para dentro de si própria, em busca da sua verdadeira personalidade. Introspectiva e sensível, foge das actividades mundanas sempre que pode.
¶ 21 de Agosto de 2008
A pressa
com que se despe
Nem na alma lheapetece
qualquer veste
A pressa
com que se despe
Até da carne e da pele
se pudesse
David Mourão-Ferreira
¶ 21 de Agosto de 2008
Gonçalo Ribeiro Telles
Gonçalo é um nome que deriva do germânico e significa "aquele que se preserva no combate". Trata-se de uma pessoa que luta até alcançar os seus objectivos e que não se deixa seduzir por causas que não sejam suas. A verticalidade é uma das suas características.
¶ 21 de Agosto de 2008
As primeiras chuvas estavam tão perto
de ser música
que esquecemos que o verão acabara:
uma súbita alegria,
súbita e bárbara, subia e coroava
a terra de água,
e deus, que tanto demorara,
ardia no coração da palavra.
Eugénio de Andrade
¶ 21 de Agosto de 2008
Gabriel Garcia Marquez
Este nome tem origem hebraica, com o significado de anjo ou "homem de Deus", ou ainda "o meu protector é Deus". É uma pessoa que impõe respeito e confiança às outras, um bom conselheiro e um excelente pai de família.
¶ 21 de Agosto de 2008
modelos, arquétipos, fantasmas?
¶ 21 de Agosto de 2008
Estas são as mulheres, levando
nas mãos os castiçais de fogo da sua manhã,
subindo uma escada de silêncio para dentro
das casas de onde vieram, empurrando
as portas dos rios mais fundos para entrarem
nos palácios do abismo, e os iluminarem
com as lâmpadas nuas dos seus corpos. Ouço
as suas vozes crescerem no interior
dos montes, num fulgor amarelo de flores
vagarosas como as mãos que nascem
dos seus braços. Estas mulheres são imensas
como as nuvens que atravessam a paisagem,
e escrevem na página do céu o nome
dos deuses que as amaram, transformando-as
em árvores, em astros, em animais
incalculáveis num prado breve como
a sua eternidade. Dizem-me que as suas vozes
são roucas, que os seus cabelos cobrem
os arvoredos do horizonte, que os seus dedos
contam os amantes na exaustão da madrugada. E
empurro-as para o corredor da memória,
para que se percam numa vociferação de sombras,
como se não soubessem o caminho do átrio
onde as espero, e não viessem tapadas
por um manto de orvalho, gota a gota escorrendo
dos seus lábios.
Nuno Júdice
¶ 21 de Agosto de 2008
Leve então
O resto desta ilusão
E todos os cuidados meus
Brinquedos dos caprichos
É pena porque foi tão lindo amar
Sentir você sonhar tão junto a mim,
Ouvir tanta promessa,
Fazer tanta esperança,
Pra hoje ver lembrança, tudo enfim
Não passou
De um triste desencanto, amor,
E desde então eu canto a dor
Que eu não soube chorar
Chico Buarque
¶ 21 de Agosto de 2008
Francisco Buarque de Holanda (aka Chico Buarque)
Francisco significa humilde ou pobre. Não está definida com inteiro rigor a sua origem, podendo ser um nome francês ou italiano. São pessoas de carácter firme e audaz, mas que demonstram alguns problemas de diplomacia nas suas relações sociais.
¶ 21 de Agosto de 2008
É um lugar ao sul, um lugar onde
a cal
amotinada desafia o olhar.
Onde viveste. Onde às vezes no sono
vives ainda. O nome prenhe de água
escorre-te da boca.
Por caminhos de cabras descias
à praia, o mar batia
naquelas pedras, nestas sílabas.
Os olhos perdiam-se afogados
no clarão
do último ou do primeiro dia.
Era a perfeição.
Eugénio de Andrade
¶ 20 de Agosto de 2008
Philip K. Dick
Filipe deriva do grego: aquele que gosta de cavalos é o significado deste nome, cujo detentor revela uma enorme afinidade com a natureza e com a comunidade. Em regra, tem uma grande criatividade e capacidade de adaptação a novas situações.
¶ 20 de Agosto de 2008
noite em tons de coral
¶ 20 de Agosto de 2008
Late have I called &
late my
beloved
was blessing me
I was covering
my breasts with my arms
"Those doves"
you said
In the sun
I took my arms away
Jean Valentine
¶ 20 de Agosto de 2008
Agora abandonado sem sentimento algum
de ter valido a pena ou de não isso,
de olhos abertos mais, assumo e amo,
encordoado como não sei que bicho,
de pé-coxinho como não sei que homem.
Olho A e B, e a ti, porém contando
com posição de mar roçando a praia alheia,
tão marginal mas útil de outra forma,
tão mar e marginal, desfeito mas fazendo.
O lar sonhado não é aqui, mas onde
não sonhe mais por ele. Vivo
de pé, completo com aquilo
que outro vento não tive que me desse,
e mais ainda, com o que não tenho agora
nem pretendo rever: o dia é grande,
a morte igual, a voz silente.
Não posso pedir mais que o dom da sede.
Pedro Tamen
¶ 20 de Agosto de 2008
Fernando Assis Pacheco
Provém do germânico e significa audaz ou atrevido. Indica uma pessoa batalhadora, que leva até ao fim tudo aquilo que começa. Outras características são as ideias inspiradoras e o amor à liberdade.
¶ 20 de Agosto de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
O coração não pulsa a clave dura
Cantando a rosa de si mesma urdida,
Seu tempo esculpe a aurora sem medida
Sobre as orlas da carne que amadura.
Nenhuma fonte aqui nos inaugura
Com a floração de água surpreendida,
Revolvemos os campos onde a vida
Pendoa-se e aos seus dias transfigura.
Confluência de vento e flauta rústica,
Em nosso lábio colhem outra acústica
Os pássaros moldados pela tarde.
Entanto, despojando-se de tudo
O amor ainda se apura e, embora mudo,
Faz do silêncio a fórmula de alarde.
Affonso Celso D' Ávilla
¶ 20 de Agosto de 2008
Eduardo Prado Coelho
Deriva do latim "Eduardus" e do inglês "Ead" (rico) e "Weard" (guardião), convergindo no nome Eadweard. Significa guarda das riquezas e indica uma pessoa com muito talento e dinamismo. É em regra alguém que se realiza em trabalhos que estimulem o pensamento e a investigação.
¶ 20 de Agosto de 2008
De neve nada sei, de sol também,
de milhares de sossegos acordados,
da subida do teu rosto atrás dos ombros,
da mão ardente, da vista da sacada
nada sei.
Ponho palavras como coisas feitas:
só entre elas, enquanto jogam, leves,
seu rodado sem cor nem qualidades,
minha ciência existe, e já não minha,
ou só tão minha como tua e delas,
ar entre os dedos, sumo de verdades.
Pedro Tamen
¶ 20 de Agosto de 2008
Diogo Freitas do Amaral
Deriva do latim "Didacus". Significa instruído e refere-se a uma pessoa dotada de forte presença e magnetismo, que se preocupa com o bem-estar colectivo. De acordo com uma crença popular, Diogo é um dos nomes usados pelo diabo.
¶ 19 de Agosto de 2008
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Carlos Drummond de Andrade
¶ 19 de Agosto de 2008
Carlos Drummond de Andrade
Este nome tem origem no germânico “Karl”, ou seja, homem viril. Em latim significa Homem – "Carolus". Carlos prima pela emotividade e tudo faz para conquistar afecto e admiração, o que não é difícil dado o seu encanto e sociabilidade. Trata-se de uma pessoa pragmática e optimista, dotada de uma grande dose de criatividade. Apaixonado pela justiça, Carlos é geralmente um bom juiz.
¶ 19 de Agosto de 2008
A calmaria antecede o estado incandescente
do espírito, o reinício dos tormentos diante
do corpo que se mostra e se esconde, frestas
abertas ao espelhado vidro dos sortilégios
na leitura diuturna das mensagens arremetidas
aos extremos e ao exterior da alma, a brisa
envolve os ares e retira a força
com que cresce a intensidade das paixões
e ardores, o que queima a irracionalidade
acesa dos pesares: o que vem depois de cessada
a hora das apresentações e dos cumprimentos
com que brindamos aos inimigos o espaço
cedido na comodidade do emprego, algumas
horas de prazer e horror, o intermezzo
interrompido em agudos gritos, a chegada
acelerada da idade na animosidade
das refregas: estar aqui como espantalho
de pássaros azedados aos negócios
Pedro Du Bois
¶ 19 de Agosto de 2008
Katharine Hepburn
Provem do latim medieval Catharina e do grego Katharós, uma derivação do nome da deusa Ekáte e significa "puro". Trata-se de um nome ao qual se atribui um espírito inseguro e sonhador. Vive de acordo com as emoções do momento, o que lhe confere a particularidade de tão depressa estar contente, como assustada. Joga a seu favor uma grande dose de intuição e de persistência, bem como uma excelente capacidade de persuasão e feminilidade.
¶ 19 de Agosto de 2008
Não falo de palavras, nem de goivos,
mas de horas atadas ao pescoço.
Poema verdadeiro é sermos noivos:
saber tirar a pele e o caroço
ao grito entre a morte e outra morte
que nos mantenha lassos e despertos
até que venha o talhe que nos corte
e nos retire os poços e desertos.
Por isso, meu amor, o que te dou,
beijo beijado em corpo claro e vivo,
é mais que o verso que te dizem, ou
aliterante, agudo ou conjuntivo.
Colado a tudo, mesmo a contragosto,
o rio inventa o verso, e não assim
como se ao espelho visse o próprio rosto,
mas tu além-palavra, ao pé de mim.
Pedro Tamen
¶ 19 de Agosto de 2008
Caetano Veloso
Do latim “Caietanus”, define os habitantes ou naturais de Caieta, em Itália. O encanto, a delicadeza e o espírito poético definem este sonhador. É senhor de uma espontaneidade quase infantil e revela-se muitas vezes inconformista. Apesar de intuitivo e impulsivo, tem tendência para alguma instabilidade emocional.
¶ 19 de Agosto de 2008
Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Carlos Drummond de Andrade
¶ 18 de Agosto de 2008
Beatriz Batarda
Deriva latim “beare”, ou seja, aquela que traz felicidade. Inimiga da ociosidade, está muitas vezes insatisfeita com o mundo. Sofre e revolta-se com a injustiça e a miséria, pelo que só tem duas alternativas: a primeira consiste em encontrar o seu princípe encantado, e esperar na sua torre de marfim; a segunda alternativa é dedicar-se a uma causa que defenda a dignidade humana. Seja como for, Beatriz vive em função do amor, a única coisa que a compensa.
¶ 18 de Agosto de 2008
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espectáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
¶ 18 de Agosto de 2008
O cordão que nos abre
aos acres ventos de humidade e sombra,
a luva dura nos abriga
ou é que nos enforca, nos afoga?
Mal saltamos à terra,
dela nos soltam como às aves
da espécie das galinhas.
Mas o fantasma duma linha cinza,
esse nos fecha os olhos
e diz: saltai à corda.
E é questão então a de saber
se temos pés azuis
ou sangue negro e goma
que nos cape. O pé direito sobe,
oh, que vitória, no verdadeiro ar.
Mas que invisível fio
o puxa e traz à pequenez do outro?
Que terror canaliza
cada comparação? De que margem,
de que maresia mesmo o cheiro nos agrada?
Que pátria e que dolores?
Que malfeição?
(Um aceno insular
habita o nosso olhar.
Uma pílula pink
dá-se ao dente que a trinque.
E que ternura é esta,
rosa de sal, giesta,
serra aberta de pinhas,
toque de campainhas?)
Pedro Tamen
¶ 18 de Agosto de 2008
Barbara Hendricks
Provém do latim “barbara”, que significa estrangeira. Este nome provoca algum receio e evoca uma pessoa auto-suficiente que despreza quem a rodeia. Trata-se de alguém que se isola no seu feudo onde se dedica à reflexão. É uma mulher inteligente e dotada, conseguindo descobrir soluções que lhe permitem comunicar com o comum dos mortais sem descer do seu pedestal. As pessoas sentem-se cativadas pela sua autenticidade e generosidade, mas mesmo quando é adorada não perde tempo com demagogias baratas, razão pela qual pode, por vezes, arranjar inimigos.
¶ 18 de Agosto de 2008
Te vi de pronto
como un deslumbramiento
ante la aurora
y reconocí tu piel
como el amanecer reconoce
la noche que termina
Leticia Luna
¶ 18 de Agosto de 2008
Artur Rubinstein
Do celta Art (urso) e Ur (grande). A imaginação ocupa um lugar de destaque para Artur, que muitas vezes confunde os sonhos com a realidade. Tem uma personalidade complexa e uma grande vivacidade de espírito. Vive o presente em busca do futuro, mas o passado pode muitas vezes reservar-lhe memórias e sequelas desagradáveis, das quais tenta desenvencilhar-se. Encontra a realização e a paz de espírito na arte.
¶ 18 de Agosto de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
Eu nunca fui dos que a um sexo o outro
No amor ou na amizade preferiram.
Por igual a beleza apeteço
Seja onde for, beleza.
Pousa a ave, olhando apenas a quem pousa
Pondo querer pousar antes do ramo;
Corre o rio onde encontra o seu retiro
E não onde é preciso.
Assim das diferenças me separo
E onde amo, porque o amo ou não amo,
Nem a inocência inata quando se ama
Julgo postergada nisto.
Não no objecto, no modo está o amor
Logo que a ame, a qualquer cousa amo.
meu amor nela não reside, mas
Em meu amor.
Os deuses que nos deram este rumo
Também deram a flor pra que a colhêssemos
com melhor amor talvez colhamos
O que pra usar buscamos.
Ricardo Reis
¶ 18 de Agosto de 2008
Anna Magnani
Ana vem do hebraico “hanna”, que significa graciosa. Consciente das responsabilidades, pode à primeira vista parecer um pouco fria. Na verdade, envolve-se de forma profunda, mas selectiva. Prefere a solidão aos laços medíocres, a verdade às noções enganadoras. Ana é uma pessoa com um espírito analítico e moralizador, mas quando encontra um companheiro à altura defende o seu direito à felicidade com tenacidade. Trata-se de uma pessoa capaz, procura as coisas que duram e que tendem a melhorar com o tempo, a paz interior, a sabedoria e a serenidade.
¶ 18 de Agosto de 2008
Cuando el manto de la noche
besa los labios de la arena
un aliento de mar
de nubes
de tus manos
surge como navío nuevo
mi barca es una playa
y un verano que germina
tu cuerpo un dios
donde se acuesta el alba
Leticia Luna
¶ 17 de Agosto de 2008
Álvaro Cunhal
Do germânico Adalvar, significa nobre guerreiro. Este nome caracteriza uma pessoa com os pés assentes na terra e com um grande espírito de sacrifício. Todavia exige dos outros na mesma proporção do que lhes dá. Gosta comunicar, de dar conselhos e empenha-se de facto em compreender as outras pessoas. Senhor de uma inteligência aguda, é também bastante firme relativamente às suas aspirações. Tem um bom sentido de humor.
¶ 17 de Agosto de 2008
La primera palabra se anuncia en el silencio.
Es un pliegue del aire, un resquicio del tiempo
y no sabe si es agua, o pájaro o estrella,
y si nombra, si llama, si se niega o espera.
La sustancia del viento se resuelve en un signo:
las farolas, el libro, la cuna, las estatuas.
Y el mundo que se inventa de nuevo en la mañana
para hacerse y rehacerse como ilusión de río.
Hilandera de nubes en la arena impasible,
se cierra la escritura como azul entramado.
Los anillos de savia intentan un suspiro
en los leños que arden en la tarde apacible.
Las palabras se pierden en decires lejanos
Y vuelve la tristeza que acumula artificios.
Teresa Martín Taffarel
¶ 17 de Agosto de 2008
Albert Camus
Deriva de dois termos germânicos, “adal” e “berth”, que significa nobre célebre e/ou conselheiro dos espíritos. Estamos perante um pensador solitário que abomina os aspectos frívolos da vida. Trata-se de uma pessoa racional com uma grande capacidade de trabalho e que acredita apenas naquilo que vê. Porém, na intimidade pode ser sentimental e fiel nas amizades.
¶ 17 de Agosto de 2008
A noite que se insinua entre refolhos
mais escuros, compreendeu o segredo
do tempo, do espaço que divide.
A verdade está talvez nessa fímbria
que se adelgaça, no toco do cigarro,
ressurge naquele fundo de garrafa
abandonado à margem da ressaca.
O resto não passa mesmo de um pretexto
para sentir-se vivo e menos só.
Eugenio Montale, trad. de Ivo Barroso
¶ 17 de Agosto de 2008
Yo soy una señora: tratamiento
arduo de conseguir, en mi caso, y más útil
para alternar con los demás que un título
extendido a mi nombre en cualquier academia.
Así, pues, luzco mi trofeo y repito:
yo soy una señora. Gorda o flaca
según las posiciones de los astros,
los ciclos glandulares
y otros fenómenos que no comprendo.
Rubia, si elijo una peluca rubia.
O morena, según la alternativa.
(En realidad, mi pelo encanece, encanece.)
Soy más o menos fea. Eso depende mucho
de la mano que aplica el maquillaje.
Mi apariencia ha cambiado a lo largo del tiempo
—aunque no tanto como dice Weininger
que cambia la apariencia del genio—. Soy mediocre.
Lo cual, por una parte, me exime de enemigos
y, por la otra, me da la devoción
de algún admirador y la amistad
de esos hombres que hablan por teléfono
y envían largas cartas de felicitación.
Que beben lentamente whisky sobre las rocas
y charlan de política y de literatura.
Amigas... hmmm... a veces, raras veces
y en muy pequeñas dosis.
En general, rehuyo los espejos.
Me dirían lo de siempre: que me visto muy mal
y que hago el ridículo
cuando pretendo coquetear con alguien.
Soy madre de Gabriel: ya usted sabe, ese niño
que un día se erigirá en juez inapelable
y que acaso, además, ejerza de verdugo.
Mientras tanto lo amo.
Escribo. Este poema. Y otros. Y otros.
Hablo desde una cátedra.
Colaboro en revistas de mi especialidad
y un día a la semana publico en un periódico.
Vivo enfrente del Bosque. Pero casi
nunca vuelvo los ojos para mirarlo. Y nunca
atravieso la calle que me separa de él
y paseo y respiro y acaricio
la corteza rugosa de los árboles.
Sé que es obligatorio escuchar música
pero la eludo con frecuencia. Sé
que es bueno ver pintura
pero no voy jamás a las exposiciones
ni al estreno teatral ni al cine-club.
Prefiero estar aquí, como ahora, leyendo
y, si apago la luz, pensando un rato
en musarañas y otros menesteres.
Sufro más bien por hábito, por herencia, por no
diferenciarme más de mis congéneres
que por causas concretas.
Sería feliz si yo supiera cómo.
Es decir, si me hubieran enseñado los gestos,
los parlamentos, las decoraciones.
En cambio me enseñaron a llorar. Pero el llanto
es en mí un mecanismo descompuesto
y no lloro en la cámara mortuoria
ni en la ocasión sublime ni frente a la catástrofe.
Lloro cuando se quema el arroz o cuando pierdo
el último recibo del impuesto predial.
Rosario Castellanos
¶ 17 de Agosto de 2008
Adelaide Cabete
Adelaide vem dos termos germânicos “adal” (nobre) e “haidu” (qualidade). O conformismo passa-lhe ao lado e pauta a sua vida pela versatilidade e sociabilidade. Trata-se de uma pessoa bastante feminina, para quem o teatro e os jogos de sedução não têm segredos. Gosta de voos altos, mas volta à terra com a maior facilidade. Os seus pontos fortes assentam sobretudo na adaptabilidade, originalidade e facilidade de comunicação. Por outro lado, pode ter também um carácter volúvel, superficial e oportunista.
¶ 17 de Agosto de 2008
Digam que foi mentira, que não sou ninguém,
que atravesso apenas ruas da cidade abandonada
fechada como boca onde não encontro nada:
não encontro respostas para tudo o que pergunto nem
na verdade pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum
Nuno Júdice
¶ 16 de Agosto de 2008
e um olhar perdido é tão difícil de encontrar
como o é congregar ventos dispersos pelo mar
Ruy Belo
¶ 16 de Agosto de 2008
Abraham Lincoln
Em hebraico, significa progenitor de uma grande descendência. A sua vida rege-se por um lema: Nada é impossível. Detentor de uma curiosidade e ousadia dignas do maior dos aventureiros, é ainda corajoso e determinado como um guerreiro. Senhor de um grande espírito de liderança, ninguém fica indiferente na sua presença.
¶ 16 de Agosto de 2008
Se eu voltasse a nascer, e
as minhas mãos me ensinassem o caminho
que vai do coração ao mundo, e
os meus olhos me abrissem o círculo
que o mar desenha no horizonte,
e o meu nariz respirasse a luz que a manhã
solta de dentro da névoa, e os meus lábios
pedissem o pão de estrelas que as aves
trocam entre si, e os meus passos me conduzissem
para onde ninguém precisa de voltar,
o tecido da minha vida seria transparente
como o vidro da janela que não abro,
o fio que vou puxando seria eterno
como os números que contam os dias de um deus,
a tesoura da noite ficaria na caixa
que não precisei de abrir. Se eu voltasse
a nascer, e as velas do sonho me envolvessem
com o linho do seu vento.
Nuno Júdice
¶ 16 de Agosto de 2008
I sit in the top of the wood, my eyes closed.
Inaction, no falsyfing dream
Between my hooked head and hooked feet:
Or in sleep rehearse perfect kills and eat.
The convenience of the high trees!
The air's buoyancy and the sun's ray
Are of advantage to me;
And the earth's face upward for my inspection.
My feet are locked upon the rough bark.
It took the whole of Creation
To produce my foot, my each feather:
Now I hold Creation in my foot
Or fly up, and revolve it all slowly—
I kill where I please because it is all mine.
There is no sophistry in my body:
My manners are tearing off heads—
The allotment of death.
For the one path of my flight is direct
Through the bones of the living.
No arguments assert my right:
The sun is behind me.
Nothing has changed since I began.
My eye has permitted no change.
I am going to keep things like this.
Ted Hughes
¶ 16 de Agosto de 2008
Abel Manta
Do hebraico Hével (efémero) ou derivado do assírio Ablu (filho), significa vaidade. Segundo filho de Adão e Eva, veio a ser assassinado pelo seu irmão Caim. Este nome define uma pessoa sensível, terna, sonhadora e receptiva. Gosta de viver em harmonia e abomina a competição e as batalhas. A segurança afectiva é uma necessidade e só assim encontra o seu equilíbrio, que se canaliza em criatividade e fantasia. Desta combinação pode resultar um artista.
¶ 16 de Agosto de 2008
Amor que vida pones en mi muerte
como una milagrosa primavera:
ido ya te creí, porque en la espera,
amor, desesperaba de tenerte.
era el sueño tan largo y tan inerte,
que si con vigor tanto no sintiera
tu renacer, dudara, y te creyera,
amor, sólo un engaño de la suerte.
Mas te conozco bien, y tan sabido
mi corazón, te tiene, que, dolido,
sonríe y quiere huirte y no halla modo.
Amor que tornas, entra. Te aguardaba.
Temía tu regreso, y lo deseaba.
Toma, no pidas, porque tuyo es todo.
Manuel Magallanes Moure
¶ 16 de Agosto de 2008
Figueira
ó árvore que irrompes da tua secura
suportando o penoso desdobrar de teus ramos
amaldiçoada
ofereces ainda a doçura de teus frutos
a sombra de tuas folhas
a firmeza do teu apego à terra
Ó dura bruta forma
heroína da escassez
ó teimosa
que insistes e insistes
e nos ensinas
que a vida é feita de incessantes mortes
e que a nós
suas futuras vítimas
nos aguarda
a todo o momento
a derrocada do templo
sem nenhum outro fruto
além da amargura
Ó doçura
porque amargas tanto
a nossa tentação de florir
ao mesmo tempo sendo tudo
e nada ?
Ana Hatherly
¶ 16 de Agosto de 2008
da máxima relevância
¶ 16 de Agosto de 2008
Overnight, very
Whitely, discreetly,
Very quietly
Our toes, our noses
Take hold on the loam,
Acquire the air.
Nobody sees us,
Stops us, betrays us;
The small grains make room.
Soft fists insist on
Heaving the needles,
The leafy bedding,
Even the paving.
Our hammers, our rams,
Earless and eyeless,
Perfectly voiceless,
Widen the crannies,
Shoulder through holes. We
Diet on water,
On crumbs of shadow,
Bland-mannered, asking
Little or nothing.
So many of us!
So many of us!
We are shelves, we are
Tables, we are meek,
We are edible,
Nudgers and shovers
In spite of ourselves.
Our kind multiplies:
We shall by morning
Inherit the earth.
Our foot's in the door.
Sylvia Plath
¶ 15 de Agosto de 2008
Cuando ella o él te dejen, no perdones,
niégate a comprenderlo.
Cultiva bien tu odio, nunca seas
generoso en palabras o en olvido.
Cuando ella o él te dejen, nunca digas
adiós, o qué vamos a hacerle.
Maldice cada letra de su nombre.
Y júrale odio eterno mirándole a los ojos.
Cuando ella o él te dejen, nunca creas
ni justificaciones ni promesas
y busca las palabras más hirientes
el insulto más infame que conozcas.
Cuando ella o él te dejen, nunca juegues
a ser Rick perdido en Casablanca.
Provoca llanto, dolor, remordimientos
y que el adiós te corte igual que una cuchilla.
Porque cuando ella o él te dejan, habrá alguien
tarde o temprano esperando en otra esquina
y volverán a gozar en otros brazos
y dirán 'te amo'. Y 'ven, dámelo todo'.
Y olvidarán. ¿Para qué, entonces,
mentir? Que ella o él se lleven
-aunque dure bien poco- nuestro odio
igual que una bandera. Para siempre.
Rodolfo Serrano
¶ 15 de Agosto de 2008
na vertical do olhar
¶ 15 de Agosto de 2008
there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late
and there's nothing worse
than
too late.
Charles Bukowski
¶ 15 de Agosto de 2008
São plátanos palmeiras castanheiros
jacarandás amendoeiras e até as
oliveiras que
quando a noite cai na infância formam uma
cortina escura na estrada frente à casa
árvores apagando os dias que a memória
avidamente esconde
no corpo do seu gémeo Penetra inutilmente
na terra essa raiz do branco plátano
adolescente
e o campo do tempo onde as palmeiras eram
pilares do corpo nu símbolo de
si mesmo, à luz
do dia fixo, já se estende
na húmida manhã dos castanheiros
Esquecimento que tudo enfim possuis
e geras
a ofuscante luz igual à da
memória, do tempo como ela
filho, construtor da ausência,
em vão te invoco Tu
que mudas a roxa amendoeira
em brancas flores do jacarandá
entrega a minha vida às árvores
que foram na manhã e no crepúsculo
no meio-dia e na noite, palavra
clara que traz o dia em si fechado
Gastão Cruz
¶ 15 de Agosto de 2008
hora do banho
¶ 15 de Agosto de 2008
Es verdad, pues: reprimamos
esta fiera condición,
esta furia, esta ambición,
por si alguna vez soñamos.
Y sí haremos, pues estamos
en mundo tan singular,
que el vivir sólo es soñar;
y la experiencia me enseña,
que el hombre que vive, sueña
lo que es, hasta despertar.
Sueña el rey que es rey, y vive
con este engaño mandando,
disponiendo y gobernando;
y este aplauso, que recibe
prestado, en el viento escribe
y en cenizas le convierte
la muerte (¡desdicha fuerte!):
¡que hay quien intente reinar
viendo que ha de despertar
en el sueño de la muerte!
Sueña el rico en su riqueza,
que más cuidados le ofrece;
sueña el pobre que padece
su miseria y su pobreza;
sueña el que a medrar empieza,
sueña el que afana y pretende,
sueña el que agravia y ofende,
y en el mundo, en conclusión,
todos sueñan lo que son,
aunque ninguno lo entiende.
Yo sueño que estoy aquí,
destas prisiones cargado;
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.
Pedro Calderón de la Barca
¶ 14 de Agosto de 2008
tela ideal
¶ 14 de Agosto de 2008
A flor conversa pétalas em versos
águas noturnas
orvalham as folhas
inundam caules
levam formigas pelos caminhos
de flores fixadas em solos
transversos. Da conversa da flor
resta o perfume espalhado
em mim. A formiga refeita
do susto passa
em carreira de trabalhos.
Pedro Du Bois
¶ 14 de Agosto de 2008
Entraram na casa da bruma.
Aos poucos seus olhos acomodaram-se
aos contornos imprecisos. Estava
tudo sombrio, era tudo difuso.
Também se viam um ao outro
sem contrastes, seus rostos não mudavam
suas expressões eram sempre as mesmas,
sempre encobertas pela mesma névoa.
Esqueceram-se do mundo que havia lá fora,
da luz, da dor, da alegria,
da mentira, a emoção, os beijos,
da amizade e do amor. Negaram
qualquer verdade ou perfil ameaçadores.
E ficou-se-lhes o coração ambíguo.
Amalia Bautista
¶ 14 de Agosto de 2008
cores vindas do século XVII
¶ 14 de Agosto de 2008
Deixa-me ser assim, assim humanamente,
que faça dos meus versos montanhas de promessas
com ondas de esperança, algumas já dispersas
no rio que me envolve na força da torrente.
Nasci para sofrer, e vivo a reflectir
orgulhos, preconceitos... e tudo que seduz,
não sou senão a sombra em busca duma luz
no mundo que se esvai de mim sempre a fugir.
Sofri desilusões, agruras e torpezas;
nasci para ser pobre e quero ser assim,
o meu orgulho é este: ser só senhor de mim,
alheio a preconceitos, desprezando riquezas.
Deixai que a morte seja torre de marfim
e leve no seu manto meus sonhos de tristeza,
ficando só no tempo um facho de beleza
dos versos magoados, sentidos só por mim.
António Baptista
¶ 14 de Agosto de 2008
em casa
¶ 14 de Agosto de 2008
Quando morrer nenhuma herança deixarei,
por junto, um nome sobre um livro só terei.
Na noite revoltosa que partindo
de meus ancestrais a ti chegou,
através de abismos e profundos fossos
que de rojo treparam meus avós,
e que, jovem ainda, deverás subir,
o meu livro, filho, é um degrau.
Pousa-o com fé à tua cabeceira.
Testemunho é da voz primeira
dos servos de rudes vestes, pleno
de seus ossos em mim vertidos.
Para que hoje pela primeira vez se mude
a enxada em pena, em tinteiro o sulco,
entre os bois acumularam nossos maiores
do trabalho de séculos os suores.
Dos ásperos apelos aos rebanhos
recolhi harmonia para meus versos
e canções de embalar do futuro.
Amassando o tempo longo e duro
dei-lhe a forma de ídolos e de sonhos.
Fiz jóias e coroas dos farrapos.
O destilado veneno converti em mel
deixando intacta a sua doce força.
Às vezes tomei o fio do insulto
e com ele teci a lisonja ou a injúria.
A cinza dos mortos recolhi da lareira
e no Deus de pedra a transformei.
Nessa alta fronteira de dois mundos
foi meu dever vigiar das alturas.
A nossa dor surda e amarga
num único violino a acumulei
para ao seu ritmo o senhor espernear
como um carneiro que fosse a degolar.
Das chagas, do musgo e do lodo
beleza fiz renascer e valores novos.
O látego de ontem tornou-se na palavra
que castiga e redime devagar
os filhos de hoje pelo crime de todos.
É a justiça reclamada pelo obscuro ramo
que da selva sai e a uma estrela ruma
e anuncia, como um cacho de verrugas,
o fruto da eterna dor humana.
Languidamente estendida no sofá,
a princesa sofre no meu livro.
Palavras de fogo e de ferraria
neste livro se casam e se fundem
como ferro ardente no aperto da tenaz.
O servo o escreveu, o senhor o lê,
sem saber que nele se concentra
a cólera dos meus antepassados.
Tudor Arghezi, trad. Paulo Rato
¶ 14 de Agosto de 2008
(excerto)
I am content to live it all again
And yet again, if it be life to pitch
Into the frog-spawn of a blind man's ditch,
A blind man battering blind men;
Or into that most fecund ditch of all,
The folly that man does
Or must suffer, if he woos
A proud woman not kindred of his soul.
I am content to follow to its source
Every event in action or in thought;
Measure the lot; forgive myself the lot!
When such as I cast out remorse
So great a sweetness flows into the breast
We must laugh and we must sing,
We are blest by everything,
Everything we look upon is blest.
William Butler Yeats
¶ 13 de Agosto de 2008
da harmonia
¶ 13 de Agosto de 2008
tu és tão frágil
com os teus braços esticados
devido ao peso dos sacos
de compras feitas no Migros
há certas coisas que são sempre
iguais em todo o lado
também não fugíamos disso
eu levo os sacos
disse-lhe
a caminho de casa
temos conversas sérias
conseguimos detectar estranhos facilmente
crianças alegres passam por nós
em trotinetes
neste bloco de apartamentos as rendas são baixas
e não havia ninguém do nosso país
quando o telefone raramente toca
tu atendes
usando o teu nome de família Eslavo
com todos esses ? e ?
Bojan Rada?inovi?
¶ 13 de Agosto de 2008
Is it too late to touch you, Dear?
We this moment knew—
Love Marine and Love terrene—
Love celestial too—
Emily Dickinson
¶ 13 de Agosto de 2008
da suprema importância
¶ 13 de Agosto de 2008
A árvore recobre
a terra em horas secas.
O medo duplica o instante
em que a imagem se realiza.
Apenas isso. Os passos no andar acima
determinam a chegada.
Esfriam as relações, estações passadas.
A árvore não se ilumina em festas.
O frio do corpo que não se entrega.
Sou eu no quarto iluminado de lembranças.
Você na fotografia sorri o instante.
Não há o que nos acaricie e socorra.
O tempo sinaliza as vezes
em que a nave passa. O relâmpago
ilumina o próximo dia.
Pedro Du Bois
¶ 13 de Agosto de 2008
painel em tons variáveis, como a vida
¶ 13 de Agosto de 2008
Tu voz
Vibración de espacio sellado
no me ata a la luz de la noche
Nada dice del viaje
por los siete cielos
ni sobre los círculos del mar
Distante como erupción de diáspora
batalla para unir las puntas de la hora
Los pies no se han desprendido
pero los ojos hace mucho pisaron
las arenas de Odiseo
y en el vuelo las sirenas fueron cómplices
Edipo oráculo
y Delphos sólo rastro de «lirio»
Tensas la cuerda
para elevarte en canto
y en un fragmento de aire
te echas a cuesta los montes
Desgastadas tus sandalias
me preguntas si el amor
fue algún día nuestro
Entonces recuerdo los ojos de Helena
y el oro de una manzana
convertido en moneda de cobre
con la cual compraste la muralla de Troya.
Mariana Bernárdez
¶ 12 de Agosto de 2008
Deixa que os outros cantem o teu corpo
que dizem feiticeiro e sedutor,
e, na volúpia vã do pitoresco,
entoem madrigais à tua dor.
Deixa que os outros cantem teus requebros
nos passos de massemba e quilapanga,
e teus olhos onde há noites de luar,
e teus beiços que têm sabor de manga.
Deixa que os outros cantem os teus usos
como aspectos formais da tua graça,
nessa conquista fácil do exotismo
que dizem descobrir na nossa raça.
Deixa que os outros cantem o teu corpo,
na captação atónita do viço
e fiquem sempre, toda a vida, a olhar
um muro de mistério e de feitiço...
Deixa que os outros cantem o teu corpo
- que eu canto do mais fundo do teu ser,
ó minha amada, eu canto a própria África,
que se fez carne e alma em ti, mulher!
Geraldo Bessa Victor
¶ 11 de Agosto de 2008
serena beleza
¶ 11 de Agosto de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
Atrás da cerca havia
um limoeiro - era nosso-
Os seus frutos amarelos brilhavam como lanternas,
as flores espalhavam o seu perfume no bairro.
Atrás da cerca havia
um limoeiro - era nosso!-
Mas era preciso enfeitar a filha da minha Censura,
que a sua cabeleira fosse perfumada e tivesse...um diadema.
Então cortaram os nossos limoeiros
e a primavera tombou-nos dos olhos!
Mahmoud Darwish, trad. de Albano Martins
¶ 11 de Agosto de 2008
He de alcanzar
Señor mío
prometo
la abnegación total
la obediencia irrestricta
la perfecta docilidad
la mortificación a toda costa
la castidad incorrupta
la soledad contenta
la paciencia con los locos
la pobreza entre los pobres
la perpetua clausura
el mayor desposeimiento
el olvido de la carne
y sobre todo
y para siempre
acallar
las injustificadas palabras
y así
el perfecto silencio.
Márgara Russotto
¶ 11 de Agosto de 2008
a cidade em frente
¶ 11 de Agosto de 2008
Não sei
o que é um espírito. Ninguém
conhece a fundo a luz do seu abismo
enquanto o vento, à noite, vai abrindo
as infinitas portas de uma casa
vazia. A minha voz
procura responder a outra voz,
ao choro dos espectros que celebram
a sua missa negra, o seu eterno
sobressalto. Num ermo
da cidade magoada escuto ainda
o rumor de um oráculo,
a febre de um adeus que se prolonga
no estertor dos ponteiros de um relógio,
nesse ritmo feroz, na pulsação
do meu sangue exilado que recorda
um abrigo divino. pai nosso, que estás
entre o céu e a terra, conduz-me
ao precipício onde hibernou a alma
e ensina-me a romper a madrugada
como se a minha face fosse
um estilhaço da tua
e nela derretessem, por milagre,
estas gotas de gelo ou de cristal
que não sabem ser lágrimas.
Fernando Pinto do Amaral
¶ 10 de Agosto de 2008
(excerto)
Y ahora no brinques o te perderás. No hables o te perderás.
No atiendas al bramar de la tierra o te perderás. Es cuestión de ausentarse. Se trata
de fundar un vacío.
Mercedes Roffé
¶ 10 de Agosto de 2008
do movimento
¶ 10 de Agosto de 2008
O que é prejudicial para ti, não o faças ao próximo. Esta é a Torá completa, tudo o resto é comentário, agora vai e estuda.
Maggie Anton, in Joheved, trad. Andreia Mendonça
¶ 10 de Agosto de 2008
Um fio de luz:
tesoura que baste ,
para tornar nítido
o que
sobre a cômoda,
sobre a mesa:
um lápis, uma pêra,
um cálice,
que nossos olhos
podem anotar
sem complicação,
sem gula ou fastio.
Mesmo da morte a repentina
ternura, se vista de tal modo:
num vaso, haste, pétala
que cede.
Sobre a cômoda, sobre a mesa,
belezas que um nosso gesto
pode anexar ao peito
sem grande peso.
Ou, ainda, o peso nenhum
de quando nenhum atavio:
tábua
sem nada em cima.
Eucanaã Ferraz
¶ 10 de Agosto de 2008
Na varanda sem paz eu vejo o mar
mas já não vejo junto desses olhos
que viam o mar amordaçar-me.
A varanda, todavia, ainda traz
na ondulação, nas maresias
a ilusão de um silêncio
em que tu pretendias: aqui,
nesta lei tão dura, senti
que nada mais terei do que ser de ti.
A varanda continua a sua conjura,
eu continuo o desgaste do mar
só que noutra jura a tua vida dura
e até o mar te deixou de esperar.
O vário vento que vem e que voa
sobre argolas com vasos de gerânios
que tombam vagarosos e rosas
sobre ruas ruidosas de Lisboa
toca ao de leve no copo por que bebo
esquecido e sozinho ali
onde dantes vinhas com o maior apego
ouvir ao fim da tarde eu olhar para ti.
Ao alto dessas ruas que Lisboa já não tem
havia um andar quase arruinado
com o estilhaço, a cólera, o fermento
de quem se resignava também
a que não valesse a pena nada.
No vagar desse desmoronamento
essa ruína foi tua e foi minha,
o seu reboco de cal, a pele refém,
a cisterna petrificada.
Amávamo-nos entre eléctricos que passavam
do nascer do dia até ao nascer do dia.
Não há nada que se peça que nos seja dado
mesmo quando gritamos alto por perdão.
Merecemos tudo o que ficou fragmentado
no pensamento que não sabe inebriar-se
quando os sentidos perderam o condão.
Essas ruas de Lisboa que findaram
como findaram os dedos que prenderam
o bordão de ternura
que tantos outros nos cortaram.
Tal qual o prédio caímos
e apenas o pó
desenha entre o que nem persigo
um resto que sabe que está só
porque nenhuma solidão vem ter consigo.
Joaquim Manuel Magalhães
¶ 10 de Agosto de 2008
manhã cedo
¶ 10 de Agosto de 2008
Também nós amamos a vida quando podemos
Dançamos entre dois mártires e no meio deles
erguemos um minarete de violetas ou uma
palmeira.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Ao bicho? da - seda roubamos um fio para tecer o
nosso céu e estancar este êxodo.
Abrimos a porta do jardim para que o jasmim saia
para a rua como um dia bonito.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Na morada que escolhemos, cultivamos plantas
vivazes e recolhemos os mortos.
Sopramos na flauta a cor da distância,
desenhamos um relincho no pó do caminho.
E escrevemos os nossos nomes, pedra a pedra. Tu,
ó raio, ilumina a nossa noite, ilumina-a um
pouco.
Também nós amamos a vida quando podemos.
Mahmoud Darwish,trad. de Albano Martins
¶ 9 de Agosto de 2008
They did not recognize me in the shadows
That suck away my color in this Passport
And to them my wound was an exhibit
For a tourist Who loves to collect photographs
They did not recognize me,
Ah . . . Don’t leave
The palm of my hand without the sun
Because the trees recognize me
Don’t leave me pale like the moon!
All the birds that followed my palm
To the door of the distant airport
All the wheatfields
All the prisons
All the white tombstones
All the barbed Boundaries
All the waving handkerchiefs
All the eyes
were with me,
But they dropped them from my passport
Stripped of my name and identity?
On soil I nourished with my own hands?
Today Job cried out
Filling the sky:
Don’t make and example of me again!
Oh, gentlemen, Prophets,
Don’t ask the trees for their names
Don’t ask the valleys who their mother is
From my forehead bursts the sward of light
And from my hand springs the water of the river
All the hearts of the people are my identity
So take away my passport!
Mahmoud Darwish
¶ 9 de Agosto de 2008
a modernidade do século passado
¶ 9 de Agosto de 2008
O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final.
João Cabral de Melo Neto
¶ 9 de Agosto de 2008
O mar dentro da árvore, as nuvens
dentro da terra sem fim,
a luz. A luz dentro doutra luz
que limitava as mãos e as abria
para outras mãos dentro de um olhar.
Batem na fornalha os ventos.
Um cálice de vidro grosso com o licor
de fermentação caseira. Um prato
com avelãs e nozes e folhas de medronho.
Nas margens as portadas corridas
ganham um halo de candeeiros de rua
que se difunde na fluorescência do televisor,
na palidez rubra das pequenas luzes do rádio.
A última claridade do dia mistura-se
à primeira da noite.
Este vento na auto-estrada onde rebenta a chuva
não me vai forçar o coração; nem estas sebes
ladeadas de cimento suspenderão o voo
do que sou até ao que não és. Mas será
a carícia que no cinto treme, o calor do pescoço
descoberto, os vimes da cadeira donde te levantas
quando estou quase para me sentar.
Entre veios de relva desigual,
valados por cuidar abrigam
máquinas de desolação.
Formações de patos atravessam
o vidro polido do postigo.
O dia bate no jornal pousado
sobre a manta castanha que prende
os joelhos no silêncio de interior.
Outras vezes, as persianas já corridas,
um globo de lona ilumina o livro
na pequena mesa, um arame de flores
pendurado numa trave e o armário
com os objectos de estanho e meditação.
A vida acumulou-se em roldanas ao redor de tudo,
um fumo que sobe durante a noite sobre os mapas
enrolados na parede despida, há tanto nos esquecemos
de os desdobrar, de por eles chegar aos confins
do nosso mundo. E já estamos a desaparecer.
Joaquim Manuel Magalhães
¶ 9 de Agosto de 2008
Se equivocó la paloma,
se equivocaba.
Por ir al norte fue al sur,
creyó que el trigo era el agua.
Creyó que el mar era el cielo
que la noche la mañana.
Que las estrellas rocío,
que la calor la nevada.
Que tu falda era tu blusa,
que tu corazón su casa.
(Ella se durmió en la orilla,
tú en la cumbre de una rama.)
Rafael Alberti
¶ 9 de Agosto de 2008
o eterno combate
¶ 9 de Agosto de 2008
Estala na mudez universal das coisas
estrídulo tropel de cascos sobre pedras
e naquela assonância ilhada no silêncio
o cataclismo irrompe arrebatadamente.
O doer infernal das folhas urticantes
corta a região maninha das caatingas
fazendo vacilar a marcha dos exércitos
sob uma irradiação de golpes e de tiros.
Por fim tudo se esgota e a situação não muda,
lembrando um bracejar imenso, de tortura,
em longo apelo triste, que parece um choro.
Num prodigalizar inútil de bravura
desaparecem sob as formações calcáreas
as linhas essenciais do crime e da loucura.
Augusto de Campos
¶ 9 de Agosto de 2008
La vida es así.
Tú y yo.
Pero
por muy corta
que sea la distancia
de tu corazón
al mío,
tú no puedes sentir
mi sed,
mi doler,
mi hambre;
no puedes
reír mi risa
ni llorar
mis lágrimas
(Hay sociedades benéficas,
almas caritativas,
generosos filántropos…)
En la arena cálida
de las playas,
y a dos pasos
tan sólo
del agua
boca arriba
mirando al cielo,
está vacío
y seco,
el caparazón de la tortuga.
Marina Romero
¶ 9 de Agosto de 2008
duplicidades
¶ 9 de Agosto de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
As árvores do outono sobrepõem-se sob o alpendre esculpido
inumeráveis nuvens floridas escoltam o sapo de jade
alguns fios de perfume nocturno atravessam a cortina bordada
ela espera escondida
a porta meio aberta
meio fechada
Zhang Kejiu, trad. de Albano Martins
¶ 8 de Agosto de 2008
Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu Império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.
John Donne, trad. Augusto de Campos
¶ 8 de Agosto de 2008
Disseste: eu te amo,
verdade, como os dias
frios de outono, instáveis
entre os valores deixados
e o inverno próximo,
os olhos fixos no rosto
repetiam a fala definitiva
são únicas e definitivas
as declarações de amor,
sentimentos emoldurados:
o calor do verão queima os corpos
expostos nas tempestades.
Pedro Du Bois
¶ 8 de Agosto de 2008
pintura generosa
¶ 8 de Agosto de 2008
(gentileza de Zeferino M. Silva)
Disponho do vento disponho do sol disponho da árvore
arranjo pássaros arranjo crianças
tenho mesmo à minha disposição o mar
talvez com tudo isto possa formar uma tarde
uma tarde azul e calma onde me possa refugiar
Mas e as ideias as doutrinas os problemas?
Se nem resolvi ainda o problema da unha do dedo mínimo
como pretender ter resolvido o mínimo problema?
E as ideias, que só servem para dividir?
As ideias têm úmeros inúmeros
e é difícil caminhar no meio da multidão
Podia dizer (mas não me deixa descansado):
Sou novo. Tenho por isso a razão pelo meu lado
Deixai os pássaros cantar as crianças brincar
o tempo não urge o coração não arde
Quem sou eu? Eu só e minha tarde
As crianças com as suas vozes brancas
riscam alegremente o céu azul
passam as aves em seu voo rasante
desde Sá de Miranda até Jorge de sena
E o tempo passa assim. Sou eu e o passado
Era novo. Não tenho a razão pelo meu lado
Ruy Belo
¶ 8 de Agosto de 2008
Yo no te pido que me bajes
una estrella azul
sólo te pido que mi espacio
llenes con tu luz.
Yo no te pido que me firmes
diez papeles grises para amar
sólo te pido que tú quieras
las palomas que suelo mirar.
De lo pasado no lo voy a negar
el futuro algún día llegará
y del presente
qué le importa a la gente
si es que siempre van a hablar.
Sigue llenando este minuto
de razones para respirar
no me complazcas no te niegues
no hables por hablar.
Yo no te pido que me bajes
una estrella azul
sólo te pido que mi espacio
llenes con tu luz.
Mario Benedetti
¶ 8 de Agosto de 2008
repouso do olhar
¶ 8 de Agosto de 2008
“O pessimismo é uma profecia que se cumpre.”
João Lobo Antunes
¶ 8 de Agosto de 2008
Ese amor que cada mañana canta
y silba, temeroso, matutino, inútil
(también silba)
bajo las húmedas tejas de los más solitarios corazones
-¡Ave María Purísima!-
y rosas son, o escudos, o pajaritas recién paridas,
te aseguro que escupe, amoroso
(también escupe)
en ese pozo en el que la mirada se sobresalta.
Sabes por donde voy:
tan temeroso
tan tarde ya
(también tan sin objeto).
Y amargas o semiamargas voces que todos oyen
llenos de sentimiento,
no han de ser suficientes para convertirme en ese dichoso,
caracol al que renuncio
(también atentamente).
Un ojo por insignia,
un torpe labio,
y ese pez que navega nuestra sangre.
Los signos de oprobio nacen dulces
(también llenos de luz)
y gentiles.
Eran
-me horroriza decirlo-
muchos los años que volqué en la mar
(también como las venas de tu garganta, teñida de un tímido color).
Eran
-¿por qué me lo preguntas?-
dos las delgadas piernas que devoré.
Quisiera peinar fecundos ríos en la barba
(también acariciarlos)
e inmensas cataratas de lágrimas
sin sosiego,
desearía, lleno de ardor, acunar allí mismo donde nadie se atreve a
levantar la vista.
Un muerto es un concreto
(también se ríe)
pensamiento que hace señas al aire.
La mariposa,
aquella mariposa ruin que se nutría de las más privadas
sensaciones,
vuela y revuela sobre los altos campanarios
(también hollados campanarios)
aún sin saber,
como no sabe nadie,
que ese amor que cada día grita
y gime, temeroso, matutino, inútil
(también gime)
bajo las tibias tejas de los corazones,
es un amor digno de toda lástima.
Camilo José Cela
¶ 7 de Agosto de 2008
As vantagens da democracia são
assaz evidentes nas Berlengas.
A liberdade de expressão é aí perfeita,
muito embora a conversa das gaivotas
possa parecer um pouco frívola e gutural.
Mas liberalmente mergulham sem entraves
na liberdade similar dos carapaus.
Melhor só mesmo o caso das Desertas,
onde os lobos-marinhos são poetas
na república do oceano a meditar.
Graça Videira Lopes
¶ 7 de Agosto de 2008
A veces la vida viene como la carta más baja
rozamos con otros transeúntes
la suciedad en las aceras
habitamos los árboles, los pájaros
pedimos el pan como los pobres.
A veces
la vida viene como la vileza.
Entonces nos aferramos a la suerte
frenéticamente.
Martha Kornblith
¶ 7 de Agosto de 2008
doçura ao fim da tarde
¶ 7 de Agosto de 2008
Many times man lives and dies
Between his two eternities,
That of race and that of soul,
And ancient Ireland knew it all.
Whether man die in his bed
Or the rifle knocks him dead,
A brief parting from those dear
Is the worst man has to fear.
Though grave-diggers' toil is long,
Sharp their spades, their muscles strong.
They but thrust their buried men
Back in the human mind again.
William Butler Yeats
¶ 7 de Agosto de 2008
o amor não é uma saga cruel:
vejo-a cuidar das plantas no jardim,
brincam as filhas com lápis e papel
e eu escrevo sossegado. é bom assim.
na relva, um melro a saltitar, vilão
pretíssimo, esfuzia à cata de algum resto,
ou da mosca azarada: passa lesto
entre duas roseiras. já é verão.
mas o melro demanda outro quintal
e do poema, sem jeito e sem disfarce,
sai de bico amarelo em diagonal
desajeitada: esvoaça sem maneiras
como um pingo de tinta a escapar-se.
de verde prateado, as oliveiras.
Vasco da Graça Moura
¶ 7 de Agosto de 2008
outro dia, a mesma luz?
¶ 7 de Agosto de 2008
I know I have been happiest at your side;
But what is done, is done, and all's to be.
And small the good, to linger dolefully-
Gayly it lived, and gallantly it died.
I will not make you songs of hearts denied,
And you, being man, would have no tears of me,
And should I offer you fidelity,
You'd be, I think, a little terrified.
Yet this the need of woman, this her curse:
To range her little gifts, and give, and give,
Because the throb of giving's sweet to bear.
To you, who never begged me vows or verse,
My gift shall be my absence, while I live;
But after that, my dear, I cannot swear.
Dorothy Parker
¶ 6 de Agosto de 2008
Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humanidade das bocas.
Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os lábios cheguem à altura dos beijos.
Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os monstros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita os cabelos.
Vem serenidade,
com o país veloz e virginal das ondas,
com o martírio leve dos amantes sem Deus,
com o cheiro sensual das pernas no cinema,
com o vinho e as uvas e o frémito das virgens,
com o macio ventre das mulheres violadas,
com os filhos que os pais amaldiçoam,
com as lanternas postas à beira dos abismos,
e os segredos e os ninhos e o feno
e as procissões sem padre, sem anjos e, contudo,
com Deus molhando os olhos
e as esperanças dos pobres.
Vem, serenidade,
com a paz e a guerra
derrubar as selvagens
florestas do instinto.
Vem, e levanta
palácios na sombra.
Tem a paciência de quem deixa entre os lábios
um espaço absoluto.
Vem, e desponta,
oriunda dos mares,
orquídea fresca das noites vagabundas,
serena espécie de contentamento,
surpresa, plenitude.
Vem dos prédios sem almas e sem luzes,
dos números irreais de todas as semanas,
dos caixeiros sem cor e sem família,
das flores que rebentam nas mãos dos namorados,
dos bancos que os jardins afogam no silêncio,
das jarras que os marujos trazem sempre da China,
dos aventais vermelhos com que as mulheres esperam
a chegada da força e da vertigem.
Vem, serenidade,
e põe no peito sujo dos ladrões
a cruz dos crimes sem cadeia,
põe na boca dos pobres o pão que eles precisam,
põe nos olhos dos cegos a luz que lhes pertence.
Vem nos bicos dos pés para junto dos berços,
para junto das campas dos jovens que morreram,
para junto das artérias que servem
de campo para o trigo, de mar para os navios.
Vem, serenidade!
E do salgado bojo das tuas naus felizes
despeja a confiança,
a grande confiança.
Grande como os teus braços,
grande serenidade!
E põe teus pés na terra,
e deixa que outras vozes
se comovam contigo
no Outono, no Inverno,
no Verão, na Primavera.
Vem, serenidade,
para que não se fale
nem de paz nem de guerra nem de Deus,
porque foi tudo junto
e guardado e levado
para a casa dos homens.
Vem, serenidade,
vem com a madrugada,
vem com os anjos de oiro que fugiram da Lua,
com as nuvens que proíbem o céu,
vem com o nevoeiro.
Vem com as meretrizes que chamam da janela,
volume dos corpos saciados na cama,
as mil aparições do amor nas esquinas,
as dívidas que os pais nos pagam em segredo,
as costas que os marinheiros levantam
quando arrastam o mar pelas ruas.
Vem serenidade,
e lembra-te de nós,
que te esperamos há séculos sempre no mesmo sítio,
um sítio aonde a morte tem todos os direitos.
Lembra-te da miséria dourada dos meus versos,
desta roupa de imagens que me cobre
corpo silencioso,
das noites que passei perseguindo uma estrela,
do hálito, da fome, da doença, do crime,
com que dou vida e morte
a mim próprio e aos outros.
Vem serenidade,
e acaba com o vício
de plantar roseiras no duro chão dos dias,
vício de beber água
com o copo do vinho milagroso do sangue.
Vem, serenidade,
não apagues ainda
a lâmpada que forra
os cantos do meu quarto,
papel com que embrulho meus rios de aventura
em que vai navegando o futuro.
Vem, serenidade!
E pousa, mais serena que as mãos de minha Mâe,
mais húmida que a pele marítima da cais,
mais branca que o soluço, o silêncio, a origem,
mais livre que uma ave em seu voo,
mais branda que a grávida brandura do papel em que escrevo,
mais humana e alegre que o sorriso das noivas,
do que a voz dos amigos, do que o sol nas searas.
Vem serenidade,
para perto de mim e para nunca.
De manhã, quando as carroças de hortaliça
chiam por dentro da lisa e sonolenta
tarefa terminada,
quando um ramo de flores matinais
é uma ofensa ao nosso limitado horizonte,
quando os astros entregam ao carteiro surpreendido
mais um postal da esperança enigmática,
quando os tacões furados pelos relógios podres,
pelas tardes por trás das grades e dos muros,
pelas convencionais visitas aos enfermos,
formam, em densos ângulos de humano desespero,
uma nuvem que aumenta a vã periferia
que rodeia a cidade,
é então que eu peço como quem pede amor:
Vem serenidade!
Com a medalha, os gestos e os teus olhos azuis,
vem, serenidade!
Com as horas maiúsculas do cio,
com os músculos inchados da preguiça,
vem, serenidade!
Vem, com o perturbante mistério dos cabelos,
o riso que não é da boca nem dos dentes
mas que se espalha, inteiro,
num corpo alucinado de bandeira.
Vem serenidade,
antes que os passos da noite vigilante
arranquem as primeiras unhas da madrugada,
antes que as ruas cheias de corações de gás
se percam no fantástico cenário da cidade,
antes que, nos pés dormentes dos pedintes,
a cólera lhes acenda brasas nos cinco dedos,
a revolta semeie florestas de gritos
e a raiva vá partir as amarras diárias.
Vem, serenidade,
leva-me num vagon de mercadorias,
num convés de algodão e borracha e madeira,
na hélice emigrante, na tábua azul dos peixes,
na carnívora concha do sono.
Leva-me para longe
deste bíblico espaço,
desta confusão abúlica dos mitos,
deste enorme pulmão de silêncio e vergonha.
Longe das sentinelas de mármore
que exigem passaporte a quem passa.
A bordo, no porão,
conversando com velhos tripulantes descalços,
crianças criminosas fugidas à polícia,
moços contrabandistas, negociantes mouros,
emigrados políticos que vão
em busca da perdida liberdade.
Vem, serenidade
e leva-me contigo.
Com ciganos comendo amoras e limões,
e música de harmónio, e ciúme, e vinganças,
e subindo nos ares o livre e musical
facho rubro que une os seios da terra ao Sol.
Vem, serenidade!
Os comboios nos esperam.
Há famílias inteiras com o jantar na mesa,
aguardando que batam, que empurrem, que irrompam
pela porta levíssima,
e que a porta se abra e por ela se entornem
os frutos e a justiça.
Serenidade, eu rezo:
Acorda minha mãe quando ela dorme,
quando ela tem no rosto a solidão completa
de quem passou a noite perguntando por mim,
de quem perdeu de vista o meu destino.
Ajuda-me a cumprir a missão de poeta,
a confundir, numa só e lúcida claridade,
a palavra esquecida no coração do homem.
Vem serenidade
leva os vencidos,
regulariza o trânsito cardíaco dos sonhos
e dá-lhes nomes novos,
novos ventos, novos portos, novos pulsos.
E recorda comigo o barulho das ondas,
as mentiras da fé, os amigos medrosos,
os assombros da Índia imaginada,
o espanto aprendiz da nossa fala,
ainda nossa, ainda bela, ainda livre
destes montes altíssimos que tapam
as veias ao Oceano.
Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.
E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.
E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome,
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros,
na chaminé do sangue.
Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retrácteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.
Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.
Vem, com teu frio de esquecimento,
com a tua alucinante e alucinada mão,
e põe, no religioso ofício do poema,
a alegria, a fé, os milagres, a luz!
Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é demais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.
Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente
Serenidade, és minha.
Raul de Carvalho
¶ 6 de Agosto de 2008
a importância da luz
¶ 6 de Agosto de 2008
Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.
Passem rios, estrelas, que o passar
é ficar sempre, mesmo se é esquecida
a dor de ao vento vê-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.
Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que não morra nunca este momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.
Fez-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura.
Lêdo Ivo
¶ 6 de Agosto de 2008
XIII
Mansamente a música
cobre as palavras ditas
de maneira inconfessa
não há espaço
onde se percam notas
repetidas
não há compasso
a sobrecarregar o processo
estéril
não há sobras
disponíveis nos afetos
perdidos
a música em mansidão
desliza sons ininteligíveis
fossem diversas as palavras.
Pedro Du Bois
¶ 6 de Agosto de 2008
Aprendí a conocer a la inconstancia
y a alargar el instante que me daba,
fui viviendo a medida que llegaba
el tiempo en el reloj: mágica instancia.
Tiempo de arena. Tiempo detenido
en mi mano alfarera que soñaba
aprisionar al viento que flotaba
sobre mi piel en beso convertido.
Abrí los ojos. Era un nuevo día,
a lo lejos el viento se mecía
en la barca de un tiempo sin frontera.
Ha de volver un día a mi ventana,
la tarde lo traerá, talvez mañana
suspendido en el hilo de mi espera.
María Cristina Orantes
¶ 6 de Agosto de 2008
banho matinal
¶ 6 de Agosto de 2008
Os rostos que emergem dos campos perguntam-me
pelo regresso.
O meu grito não perturba a andorinha
pousada no ramo partido. Sombria
é a minha alma, que o vento impele
para o mar, a fim de cheirar o sal da terra.
A minha lenda é mortal.
Debaixo da árvore, que é semelhante ao meu irmão,
conto as estrelas dos mareantes.
Thomas Bernhard, trad. José A. Palma Caetano
¶ 6 de Agosto de 2008
hoje (já) é outro dia
¶ 6 de Agosto de 2008
(para F.L., que merece belos sonhos, a condizer com o sorriso)
Contémplala: es muy bella, su risa golpea
la costa,
toda de iras y espumas. Pero no intentes
decirle lo que piensas. Ella está en otro mundo
(tú no eres más que un extranjero de sus ojos,
de su edad)
Dile, en todo caso, que te gustan sardinas fritas,
sobre todo una tarde en que llueve un inolvidable
vino blanco. Háblale del hermoso fuego
de tu patria.
Ella es clara y oscura como la lluvia
en que reina
su ciudad. Sus ojos se detienen en un punto
movedizo
entre la estación del amor y un tiempo
imprevisible.
Claro que a veces olvidas (por un instante,
es cierto)
tu oficio de notario, y, como ser humano al fin,
te pones a hablar líricamente de política.
Lo mejor
que puedes hacer es convencerte de que la poesía
te completa,
comprobar que has cruzado el lindero del horror
y la angustia,
escribir que una tarde recorriste
la bella ciudad empedrada
para encontrar lo que no podía ser el amor
sino el poco de sueño
que recuerda un gran sueño.
Fayad Jamís
¶ 5 de Agosto de 2008
recordação com vontade de (re)partir
¶ 5 de Agosto de 2008
I am a miner. The light burns blue.
Waxy stalactites
Drip and thicken, tears
The earthen womb
Exudes from its dead boredom.
Black bat airs
Wrap me, raggy shawls,
Cold homicides.
They weld to me like plums.
Old cave of calcium
Icicles, old echoer.
Even the newts are white,
Those holy Joes.
And the fish, the fish----
Christ! They are panes of ice,
A vice of knives,
A piranha
Religion, drinking
Its first communion out of my live toes.
The candle
Gulps and recovers its small altitude,
Its yellows hearten.
O love, how did you get here?
O embryo
Remembering, even in sleep,
Your crossed position.
The blood blooms clean
In you, ruby.
The pain
You wake to is not yours.
Love, love,
I have hung our cave with roses.
With soft rugs----
The last of Victoriana.
Let the stars
Plummet to their dark address,
Let the mercuric
Atoms that cripple drip
Into the terrible well,
You are the one
Solid the spaces lean on, envious.
You are the baby in the barn.
Sylvia Plath
¶ 5 de Agosto de 2008
Después de todo -pero después de todo-
sólo se trata de acostarse juntos,
se trata de la carne,
de los cuerpos desnudos,
lámpara de la muerte en el mundo.
Gloria degollada, sobreviviente
del tiempo sordomudo,
mezquina paga de los que mueren juntos.
A la miseria del placer, eternidad,
condenaste la búsqueda, al injusto
fracaso encadenaste sed,
clavaste el corazón a un muro.
Se trata de mi cuerpo al que bendigo,
contra el que lucho,
el que ha de darme todo
en un silencio robusto
y el que se muere y mata a menudo.
Soledad, márcame con tu pie desnudo,
aprieta mi corazón como las uvas
y lléname la boca con su licor maduro.
Jaime Sabines
¶ 5 de Agosto de 2008
(excerto)
o mesmo lado: sirenes, gritos, alcovas
envelhecidas nos mesmos gestos; aviões
sobre o espaço interditado aos amores
espreitam corpos em movimento
continuado, da lateralidade da visão
respingam acontecimentos menores
o mesmo lado: certeza, dúvida, ansiosa
espera pelas manobras de acoplamento
quando as naves se tornarão única
e as máquinas acompanharão
o ritmo dos corações isolados
no cósmico espaço de cada um
Pedro Du Bois
¶ 5 de Agosto de 2008
perfil de Madame Clément Boulanger, nascida Marie-Élizabeth Blavot, e que mais tarde se tornou Madame Edmond Cavé.
¶ 5 de Agosto de 2008
As claridades mansas das areias
na sombra do obscuro do calor
abismo da extensa
nudez da luz em terra de firmeza
contente magoada
árvores ervas claridades danos
ligeiras claridades das areias
a que na sombra da nudez do corpo
de luz um fogo seco
novo choro procura e novo dano
As claridades não se encontra dano
que no áspero choro a luz não fira
nem as extensas arcadas fracas
claridades do mar
nem as escuras praias enganadas
A mansidão das praias os abismos
do fogo serenados
enfraquecidas luzes e obscuras
e nuas claridades
vivemos na tristeza sossegados
mas se o escuro
agita contra nós tranquilo e falso
o lume vão das dunas o da terra
árido ardente pó acumulado
é o calor da mágoa que a inerte
acumulada vida obscura rasga
As claridades brandas não enganam
do sangue o pó a morte a estranheza
confusa troca da extensão da praia
da luz fraca da tarde
só dos banhos se mudam verdadeiros
dia a dia do fogo os mesmos danos
e se renova o pranto de firmeza
descontente magoado da nudez
De claridades vive em terra estranha
a extensa cinza fraca luz das praias
de firmeza canção rasgando o fogo
magoado contente da nudez
Gastão Cruz
¶ 5 de Agosto de 2008
(excerto)
Suenan las flautas de la noche.
El mundo duerme y canta.
Canta dormido el mar;
ojo que tiembla absorto,
el cielo es un espejo donde el mundo se contempla,
lecho de transparencia para su desnudez.
Él marcha solo, infatigable,
encarcelado en su infinito,
como un solitario pensamiento,
como un fantasma que buscara un cuerpo.
Octavio Paz
¶ 4 de Agosto de 2008
A roupa envolve-nos
a paragem do mar cresce contigo
a língua e o sentido tudo anda
tão ocupado tão cansado e destruído
que a roupa em
torno morre como um foco de ruído
O movimento cerca esta mudez
o mar desidratado é o abismo
onde revives
Viste os vales instáveis do mar
mas para que é perguntar senão que se fez de ti
O fogo sob as vozes que não ouves
A língua vive ainda?
Inscrevo na memória tumefacta
mais uma imagem
Esses corpos nascem
O que posso dizer para cobri-los?
Ouves? Está comigo
a mortalidade da tua vida
Como falar contigo? Mas o som
produzido era tanto
que as cordas se formavam com a sua saída
retomavam a forma destruída
enquanto
tudo o que te dizia dividia
um som tempestuoso
Na ocasião da queda
desses algum
olha as áreas correspondentes no mar
volta transforma-se
é um sinal de
contradição
e sob a chuva contínua de relâmpagos revive
Porém o som inibe-te prossegues
sem segurança o canto a turva cítara
vence-te não o canto repetido
Essas cordas do peito já distensas
submetem-se ao silêncio poderias
escolhê-las porém sempre repetes
os nomes desses corpos a mudez
intimida-te assim a poesia
nasce com o rumor dos próprios corpos
com o bater dos nomes entre os ombros
tão dóceis mar de músculos
mudos
o coração do corpo
repetindo os nomes turvos
Como é possível termos esquecido a linguagem?
Comparámos os corpos Se os descrevo
agora que deixámos de falar
esqueço a igualdade e nela cessa
a possibilidade de falar
É um erro a cidade alguma vez a
cantaste?
Mas já não é possível a verdade é que
definitivamente nela morres
Por isso escolherás o teu estilo
de novo por palavras errarás
Na praia exterminada não pudemos
cantar a liberdade
sobre o teu corpo correm turvas asas
de entre as pedras
levantas a cabeça enquanto cais
Depois a roupa gera e espalha a escuridão
cada corpo isolado se transforma
sob as asas que
o cobrem
Desencontramo-nos
a terra recomeça a deter-te
preciso de dizer
esse teu nome
Mas não ouças a minha fala transformada
Gastão Cruz
¶ 4 de Agosto de 2008
Ando como liberta por la calle,
sin marca, sin collar y sin el nombre
de mi dueño, clavado a sangre y fuego.
Circulo libre por el cuerpo que amo,
sin limitar el tiempo ni el espacio.
¿Necesitas mi hálito de vida,
fue suficiente pagar con el impuesto
de los años indefensos y tiernos,
de los oscuros pozos llenos de amor
a todo trance, de héroes desnudos
que me amaban aún sin esperanza?
Un tiempo sin cartílagos, ni huesos,
que se deshace espectral y amarillo
como el recuerdo de un antiguo baile.
Adiós mi amo, la cinta de mi cuello,
rota en la liza de los brazos que aman,
hoy, en mi alcoba, ya no la encontrarás.
Verónica Pedemonte
¶ 4 de Agosto de 2008
São Jerónimo posto em sossego aparente, no seu scriptorium
¶ 4 de Agosto de 2008
Vi-te passar, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;
Ias de luto, doce, tutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma, sedutora negra;
Depois, cativa de invisível laço,
(o teu encanto, a que ninguém resiste)
Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu, longe de mim, distante,
Como uma estátua de ébano ambulante.
Caetano da Costa Alegre
¶ 4 de Agosto de 2008
Podrá nublarse el sol eternamente;
Podrá secarse en un instante el mar;
Podrá romperse el eje de la tierra
Como un débil cristal.
¡todo sucederá! Podrá la muerte
Cubrirme con su fúnebre crespón;
Pero jamás en mí podrá apagarse
La llama de tu amor.
Gustavo Adolfo Bécquer
¶ 4 de Agosto de 2008
a cidade à espera...
¶ 4 de Agosto de 2008
O poeta tem os seus dias
contados,
como todos os homens; mas quanto,
quanto mais variados!
As horas do dia e as quatro estações,
um tanto menos de sol ou mais de vento,
são o devaneio, o acompanhamento
sempre diverso para suas paixões,
sempre as mesmas; e o tempo que faz,
ao levantar-se, eis o grande acontecimento
do dia, sua alegria assim que desperta.
Nada como as luzes contrárias o alegra,
nada como os belos dias
movimentados,
e em longas histórias multidões imersas,
onde o azul e a tempestade duram pouco,
onde se alternam searas de infortúnio
e de vitória.
Com um rubro crepúsculo se entusiasma;
e com as nuvens muda de cor,
ainda que lhe não mude a alma.
O poeta tem os seus dias
contados,
como todos os homens; mas quanto,
quanto mais abençoados!
Umberto Saba
¶ 4 de Agosto de 2008
Pensando, enredando sombras en la profunda soledad.
Tú también estás lejos, ah más lejos que nadie.
Pensando, soltando pájaros, desvaneciendo imágenes,
enterrando lámparas.
Campanario de brumas, qué lejos, allá arriba!
Ahogando lamentos, moliendo esperanzas sombrías,
molinero taciturno,
se te viene de bruces la noche, lejos de la ciudad.
Tu presencia es ajena, extraña a mí como una cosa.
Pienso, camino largamente, mi vida antes de ti.
Mi vida antes de nadie, mi áspera vida.
El grito frente al mar, entre las piedras,
corriendo libre, loco, en el vaho del mar.
La furia triste, el grito, la soledad del mar.
Desbocado, violento, estirado hacia el cielo.
Tú, mujer, qué eras allí, qué raya, qué varilla
de ese abanico inmenso? Estabas lejos como ahora.
Incendio en el bosque! Arde en cruces azules.
Arde, arde, llamea, chispea en árboles de luz.
Se derrumba, crepita. Incendio. Incendio.
Y mi alma baila herida de virutas de fuego.
Quien llama? Qué silencio poblado de ecos?
Hora de la nostalgia, hora de la alegría, hora de la soledad,
hora mía entre todas!
Bocina en que el viento pasa cantando.
Tanta pasión de llanto anudada a mi cuerpo.
Sacudida de todas las raíces,
asalto de todas las olas!
Rodaba, alegre, triste, interminable, mi alma.
Pensando, enterrando lámparas en la profunda soledad.
Quién eres tú, quién eres?
Pablo Neruda
¶ 3 de Agosto de 2008
ou a ocultação tornada arte
¶ 3 de Agosto de 2008
Tanto o pó de outro dia destruíra
o último sossego novamente
este cheiro de vida embora andasse
a tarde sobre tudo sem sossego
engano
escasso vento
o pó levando ainda de outro dia
Do abrigo do dia novamente
lançados sobre a áspera cratera
dos enganos lavrada do sossego
no uso dos enganos tão ciente
ar doce do amor que leva o pó
do abrigo do dia sobre tudo
frágil disperso fora com o vento
lançados do engano do sossego
Somente já de vida mantivera
não da gruta da tarde as vãs lembranças
o pó do dia
as nuvens os enganos
desabridos da tarde enfim de vida
as crateras apenas despejadas
assim o pó ardia novamente
surdo cansado espesso pó da terra
Não trazia lembranças
sem sossego abrigava de outro dia
da tarde sossegada a escassa vida
De destroços canção somente a vida
não reduz do sossego destruído
de outro dia a lembrança ao pó que a traz
Gastão Cruz
¶ 3 de Agosto de 2008
Eu sou bela, ó mortais, como um sonho de pedra,
E meu seio, onde todos vêm buscar a dor,
É feito para ao poeta inspirar esse amor
Mudo e eterno que no ermo da matéria medra.
No azul, qual uma esfinge, eu reino indecifrada;
Conjugo o alvor do cisne a um coração de neve;
Odeio o movimento e a linha que o descreve,
E nunca choro nem jamais sorrio a nada.
Os poetas, diante de meus gestos de eloquência,
Aos das estátuas mais altivas semelhantes,
Terminarão seus dias sob o pó da ciência;
Pois que disponho, para tais dóceis amantes,
De um puro espelho que idealiza a realidade:
O olhar, meu largo olhar de eterna claridade!
Charles Baudelaire, trad. Ivan Junqueira
¶ 3 de Agosto de 2008
São Pedro com olhar dominical
¶ 3 de Agosto de 2008
(gentileza de Amélia Pais)
a mesa é feia e baixa, a cozinha escura e alta.
e elas? são duas, mulheres, estranhamente longuilíneas.
O tampo limpo. Os copos secos. A lâmina mal enroscada
A roupa a bater nos vidros.
Batem à porta. Deixa entrar. É só o vento. Deixa passar.
amanhã é domingo
Ana Paula Inácio
¶ 3 de Agosto de 2008
I've wiped your face off my face
Ripped your shadow off my shadow
Leveled the hills in you
Turned your plains into hills
Set your seasons quarreling
Turned all the ends of the world from you
Wrapped the path of my life around you
My impenetrable my impossible path
Just try to meet me now
Vasko Popa trans. by Anne Pennington
¶ 3 de Agosto de 2008
"Tanios disse-me: todas as voluptuosidades se pagam, não desdenhes aquelas que dizem o seu preço."
Amin Maalouf, in O Rochedo de Tanios, trad. Maria da Graça Morais Sarmento
¶ 3 de Agosto de 2008
noite em branco
¶ 2 de Agosto de 2008
I did the dragon's will until you came
Because I had fancied love a casual
Improvisation, or a settled game
That followed if I let the kerchief fall:
Those deeds were best that gave the minute wings
And heavenly music if they gave it wit;
And then you stood among the dragon-rings.
I mocked, being crazy, but you mastered it
And broke the chain and set my ankles free,
Saint George or else a pagan Perseus;
And now we stare astonished at the sea,
And a miraculous strange bird shrieks at us.
William Butler Yeats
¶ 2 de Agosto de 2008
"Disse a Tanios, quando estávamos juntos em cima do rochedo: Se as portas se fecharem novamente sobre ti, diz a ti próprio que não é o fim da tua vida, mas apenas o fim da primeira das tuas vidas, e que há uma outra impaciente por começar. Embarca então num navio, uma cidade te espera."
Amin Maalouf, in O Rochedo de Tanios, trad. Maria da Graça Morais Sarmento
¶ 2 de Agosto de 2008
o brilho da cidade, celebrando a melhor quinzena do ano para estar em Lisboa
¶ 2 de Agosto de 2008
First having read the book of myths,
and loaded the camera,
and checked the edge of the knife-blade,
I put on
the body-armor of black rubber
the absurd flippers
the grave and awkward mask.
I am having to do this
not like Cousteau with his
assiduous team
aboard the sun-flooded schooner
but here alone.
There is a ladder.
The ladder is always there
hanging innocently
close to the side of the schooner.
We know what it is for,
we who have used it.
Otherwise
it is a piece of maritime floss
some sundry equipment.
I go down.
Rung after rung and still
the oxygen immerses me
the blue light
the clear atoms
of our human air.
I go down.
My flippers cripple me,
I crawl like an insect down the ladder
and there is no one
to tell me when the ocean
will begin.
First the air is blue and then
it is bluer and then green and then
black I am blacking out and yet
my mask is powerful
it pumps my blood with power
the sea is another story
the sea is not a question of power
I have to learn alone
to turn my body without force
in the deep element.
And now: it is easy to forget
what I came for
among so many who have always
lived here
swaying their crenellated fans
between the reefs
and besides
you breathe differently down here.
I came to explore the wreck.
The words are purposes.
The words are maps.
I came to see the damage that was done
and the treasures that prevail.
I stroke the beam of my lamp
slowly along the flank
of something more permanent
than fish or weed
the thing I came for:
the wreck and not the story of the wreck
the thing itself and not the myth
the drowned face always staring
toward the sun
the evidence of damage
worn by salt and away into this threadbare beauty
the ribs of the disaster
curving their assertion
among the tentative haunters.
This is the place.
And I am here, the mermaid whose dark hair
streams black, the merman in his armored body.
We circle silently
about the wreck
we dive into the hold.
I am she: I am he
whose drowned face sleeps with open eyes
whose breasts still bear the stress
whose silver, copper, vermeil cargo lies
obscurely inside barrels
half-wedged and left to rot
we are the half-destroyed instruments
that once held to a course
the water-eaten log
the fouled compass
We are, I am, you are
by cowardice or courage
the one who find our way
back to this scene
carrying a knife, a camera
a book of myths
in which
our names do not appear.
Adrienne Rich
¶ 2 de Agosto de 2008
memória do ocaso
¶ 2 de Agosto de 2008
não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos. desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo no peito os que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara.
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana, úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos, a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos por ti.
Hans Magnus Enzensberger, trad. Jorge de Sena
¶ 2 de Agosto de 2008
Water, is taught by thirst.
Land—by the Oceans passed.
Transport—by throe—
Peace—by its battles told—
Love, by Memorial Mold—
Birds, by the Snow.
Emily Dickinson
¶ 1 de Agosto de 2008
quase de partida...
¶ 1 de Agosto de 2008
Vi,
na outra margem
do rio,
uma garça
rindo
pra mim.
Em tempo,
confirmo:
menti.
Entrevi
o que sei dessa imagem
esgarçada
no imaginário,
rindo
de mim.
Antônio Mariano
¶ 1 de Agosto de 2008
viagem de regresso a casa, a partir do livro de horas do Duque de Berry
¶ 1 de Agosto de 2008
Além do gesto, senhora, a importância
decide a vida. Estrangula o choro,
refaz o sentido.
Senhora, o choro retrai
a angústia em restante medo.
Fosse o sono a dedilhar
a corda imensurável da música
de fundo, senhora. O choro
é o carrilhão desabalado do relógio
ao findar da corda.
Pedro Du Bois